Autor: José Manuel Raccamarich
Para nós, como seres humanos, foi necessário, desde o início, estabelecer uma relação com o que nos rodeia, com o que cremos e com o que somos. É por isso que dentro da nossa existência foi inevitável dar nome a tudo aquilo com o que nos relacionávamos. Desde a Criação, por vontade divina, foi estabelecido que o homem desse nome a todos os animais criados por Deus para que não estivesse sozinho (Gênesis 2,19-20).
Em nossos dias, se contam grande quantidade de religiões em diversos países e regiões do mundo, cada uma com deuses diferentes e cada um destes deuses com nome próprio. Mas quando Deus, o único e verdadeiro, começou a se revelar aos homens, após a queda dos nossos primeiros pais Adão e Eva, foi necessário, nesse momento, conhecer o seu nome:
– “Set também teve um filho e lhe colocou o nome de Enós, que foi o primeiro a invocar o nome de Deus” (Gênesis 4,26).
Contudo, o Gênesis não nos revela qual nome Enós invocou. Mas Deus revelou o seu nome quando Moisés lhe perguntou. Deus respondeu: “Eu sou aquele que sou” (Êxodo 3,14).
– “Eu sou YHWH. Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó como Deus todopoderoso; e a nenhum deles revelei o meu nome: YHWH” (Êxodo 6,2-3).
Pois bem, o que são estas quatro letras: YHWH? Essas quatro letras são chamadas “Tetragrama”, termo que provém do grego “tetra-grammaton”, que significa “quatro letras”.
Para compreendermos se o Nome de Deus é Jeová ou Yahvé, é necessário que nos ambientemos no contexto histórico da pergunta “por que existem estes dois nomes e qual foi a sua origem?”.
O rei Nabucodonosor II conquistou Jerusalém no ano 587 a.C. e suprimiu a independência dos hebreus (os judeus antigos); também o belíssimo Templo de Salomão, orgulho nacional dos hebreus, foi totalmente arrasado. O rei levou em cativeiro toda Jerusalém, todos os príncipes e todos os homens valentes, cerca de 10.000 cativos, e todos os oficiais e ferreiros. Não restou ninguém, exceto os pobres do povo da terra (cf. 2Reis 24,14). Mas o Cativeiro afetou apenas as classes altas hebreias? Sim, esta era a ideia: os vencedores tinham interesse em impedir que ressurgisse ali um poder político forte e, para isso, levaram à força a classe dirigente vencida e capaz de liderar uma revolta.
Mas o que tem a ver o Cativeiro da Babilônia com o nome de Deus? Após o Cativeiro da Babilônia, levando em conta estritamente o texto de Êxodo 20,7, restou proibido aos judeus pronunciar o nome de Deus, para que não fosse profanado pelos pagãos. Assim, quando faziam a leitura da Lei e dos Profetas nas sinagogas, ao encontrarem o Tetragrama YHWH, faziam uma pausa silenciosa e depois prosseguiam com a leitura.
Com o transcorrer dos anos e das gerações, o nome de Deus deixou de ser pronunciado e já ninguém mais sabia qual era a pronúncia correta. De todo modo, a tradição das sinagogas, de fazer uma pausa e prosseguir a leitura ao encontrar a palavra YHWH, continuou até os tempos de Jesus. Não vemos Jesus dizendo em momento nenhum no Evangelho qual era o nome de Deus.
Então, com o passar do tempo, prosseguiu-se com a proibição?
Algo interessante que ocorreu antes do Cativeiro da Babilônia foi uma separação que se deu entre os judeus: os judeus samaritanos, ao considerarem os demais povos e Jerusalém pouco ortodoxos e impuros em relação à Lei, provocaram o rompimento das relações antes do ano 597 a.C. Mas o que é interessante nisso? O notável é que, ao cortar as relações com os demais judeus, não se aplicou a eles a proibição de se pronunciar o nome de Deus. E eles pronunciavam “Yahvé” e continuaram pronunciando assim por gerações… e até hoje eles dizem “Yahvé” e escutamos “Javé”.
No séc. VII d.C., os mestres rabínicos da Escola de Tiberíades, chamados “massoretas”, decidiram colocar vogais nas palavras das Sagradas Escrituras (pois eram escritas sem vogais e cada vez mais aumentava a confusão sobre a pronúncia das palavras). No tocante ao tetragrama YHWH, como nunca era pronunciado, ninguém sabia quais vogais deveriam usar. Pegaram, então, as vogais da palavra “Adonai” (a-o-a), que era a palavra lida em substituição ao tetragrama: a letra “i” no fim de Adonai não foi contada porque, para os hebreus, trata-se de consoante e não de vogal; também mudaram o primeiro “a” para “e” por razões de fonética semítica (conforme o sistema inventado pelos massoretas, a consoante “Y”, primeira letra do tetragrama, por ser consoante forte, não poderia ser seguida pela vogal “a”, por ser fraca, devendo assim ser mudada para a vogal “e”, que é uma vogal forte). Não obstante a este trabalho dos massoretas, o nome YHWH continuou sendo substituído nas leituras pela palavra Adonai.
Então, o que os massoretas do século VII fizeram foi pronunciar o tetragrama como Yahveh, valendo-se do hebraico antigo, para assimilar sua pronúncia ao hebraico Adonai (o Senhor). Se a tese da Escola Francesa de Línguas, do séc. XVIII, tiver razão ao afirmar que todo idioma vai se modificando e mutando pelo uso e pelo abuso, isso também ocorreu com o hebraico. Desse modo, encontramos hoje, em todas as Bíblias hebraicas, a pronúncia do tetragrama indicada como “Yehovah”, pelo uso e abuso do idioma através dos séculos.
Pois bem: vejamos alguns nomes dados a Deus pelas Sagradas Escrituras:
– Adonai: quer dizer “Senhor”; transcrito como “Kyrios” no grego;
– Elohim: quer dizer “Senhor Deus”;
– El: é um dos nomes mais antigos usados pelos israelitas, inclusive antes da redação do Êxodo, que foi o primeiro livro escrito da Bíblia. Este nome significa “Ser forte”, “o Supremo”, ou simplesmente “Deus”;
– El Shadai: quer dizer “o Altíssimo” ou “Todo poderoso”. Deus se apresentou com este nome diante dos patriarcas (Êxodo 6,2-3);
– Yahweh Shebaoth: quer dizer “Deus dos exércitos”. Não aparece na Lei judaica (Pentateuco), mas nos livros proféticos;
– Ganna: quer dizer “Deus zeloso”;
– El Hai: quer dizer “Deus vivente”.
Quanto ao “Aleluia”, o que significa? “Glorificado seja Yahvé” (Halalayah). Se o nome de Deus fosse Jeová, se pronunciaria “Aleluyeh”, o que jamais ocorreu em nenhum escrito em hebraico, aramaico, nem foi traduzido para o grego, pois o grego traz “Aleluia” e não “Aleluie” (cf. Apocalipse 19,1.4.6).
Não podemos saber, com certeza absoluta, qual é a pronúncia correta do Nome de Deus, mas sabemos que a pronúncia mais próxima do Nome de Deus é “Yahvé”.
– “E foi concedido a Jesus um Nome superior a todo Nome, para que no Nome do Senhor Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos, e que toda língua confesse que Jesus é o Senhor” (Filipenses 2,9-11).
- Fonte: Revista Vox Veritas nº 3
- Tradução: Carlos Martins Nabeto