Do Tratado “sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, bispo e mártir

(Nn. 26-27)
(Séc. III)

Vigiai e orai

Ao diabo é concedido poder sobre nós com um duplo objetivo: dar-nos castigo, se pecarmos; a glória, se superarmos a prova. É o que aconteceu no caso de Jó; Deus disse a Satanás: Tudo o que ele tem está em teu poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa (Jó 1,12). No Evangelho, diz o Senhor, no tempo de Sua paixão: Nenhum poder terias contra mim, se não te fosse dado do alto (Jo 19,11).

Rogando para não cair em tentação, lembramo-nos de nossa fraqueza e miséria e, desse modo, não nos ensoberbamos e não assumimos posturas orgulhosas e insolentes, glorificando-nos pela nossa piedade e por nosso espírito de mortificação. Pois, ensinando-nos a humildade, diz o Senhor: Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41). A confissão humilde e submissa da nossa fraqueza nos faz atribuir a Deus tudo aquilo que, com amor e temor, almejamos a fim de obtê-lo da sua misericórdia.

Concluindo a oração, uma síntese brevíssima resume todos os nossos pedidos e súplicas. Dizemos em último lugar: Livrai-nos do mal (Mt 6,13), abrangendo com esta frase as adversidades que o inimigo possa maquinar contra nós neste mundo. Contra todas as suas tramas, estaremos firmes e seguros com o socorro de Deus: só Ele pode delas nos livrar, dando ouvidos às nossas súplicas. Tendo dito: Livrai-nos do mal, nada nos resta mais a pedir. Conseguida essa proteção, estamos seguros e tranquilos contra as maquinações do diabo e do mundo. Com efeito, que se poderá temer no mundo, se temos Deus por guardião?

Cardeal Brandmüller faz duras críticas ao documento do Sínodo da Amazônia, e pede que os bispos o rejeitem

Cardeal e renomado historiador Walter Brandmuller publicou texto em que disse que o documento preparatório do Sínodo da Amazônia é herético, apóstata e é intrusão agressiva ao Brasil, pediu que os bispos o rejeitem.

Uma crítica ao “Instrumentum laboris” para o sínodo da Amazônia

de Walter Brandmüller

Introdução

De fato, pode causar espanto que, em contraste com as assembleias anteriores, desta vez o sínodo dos bispos se ocupe exclusivamente de uma região da terra cuja população é apenas a metade daquela da Cidade do México, ou seja, 4 milhões. Isto também causa suspeita no tocante às verdadeiras intenções que alguns gostariam de ver implementadas sub-repticiamente. Mas, acima de tudo, devemos nos perguntar quais são os conceitos de religião, de cristianismo e de Igreja que são a base do recém-publicado “Instrumentum laboris”. Tudo isso será examinado com o apoio de elementos individuais do texto.

Por que um sínodo nessa região?

Para começar, precisamos nos perguntar por que um sínodo de bispos deveria tratar de temas que — como é o caso de três quartos do “Instrumentum laboris” — têm só marginalmente algo relacionado com os Evangelhos e a Igreja. Obviamente, que a partir deste sínodo de bispos, realiza-se uma intromissão agressiva em assuntos puramente mundanos do Estado e da sociedade do Brasil. Há que se perguntar: o que a ecologia, a economia e a política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja?

E acima de tudo: que competência profissional e autoridade tem um sínodo eclesial de bispos para emitir declarações nesses campos?

Se o sínodo dos bispos realmente o fizesse, isso constituiria uma invasão e uma presunção clerical, que as autoridades estatais teriam todo motivos para repelir.

Sobre as religiões naturais e a inculturação

Há outro elemento a se levar em conta, que é encontrado em todo o “Instrumentum laboris”: vale dizer, a avaliação muito positiva das religiões naturais, incluindo práticas curativas indígenas e similares, bem como práticas e formas de cultos mítico-religiosos. No contexto do chamado à harmonia com a natureza, fala-se até de diálogo com os espíritos (nº 75).

Não é apenas o ideal do “bom selvagem” esboçado por Rousseau e pelo Iluminismo, que aqui é comparado com o decadente homem europeu. Essa linha de pensamento vai além, até o século XX, culminando com uma idolatria panteísta da natureza.

Hermann Claudius (1913) criou o hino do movimento operário socialista: “Quando andamos lado a lado …”, e numa estrofe se lê: “Verde das bétulas e verde das sementes, que a velha Mãe Terra semeia com as mãos cheias, com um gesto de súplica para que o homem se torne seu … “. Vale notar que este texto foi posteriormente copiado no livro de cânticos da Juventude Hitlerista, provavelmente porque correspondia ao mito do “sangue e solo” nacional-socialista. Esta proximidade ideológica deve ser enfatizada: esta rejeição anti-racional da cultura “ocidental” que sublinha a importância da razão, é típica do “Instrumentum laboris”, que fala respectivamente da “Mãe Terra” no n. 44 e do “grito da terra e dos pobres” no n.101.

Consequentemente, o território – isto é, as florestas da região amazônica – pasmem, vem até declarado como um “locus theologicus”, uma fonte especial de revelação divina. Nela haveria lugares de uma epifania em que se manifestam as reservas de vida e sabedoria do planeta e que falam de Deus (nº 19). Além disso, a conseqüente regressão do Logos ao Mythos é elevada a um critério do que o “Instrumentum laboris” chama de inculturação da Igreja. O resultado é uma religião natural com uma máscara cristã.

A noção de inculturação é aqui virtualmente distorcida, pois na verdade significa o oposto do que a Comissão Teológica Internacional havia apresentado em 1988 e diferente do que havia ensinado anteriormente o decreto “Ad Gentes” do Concílio Vaticano II, sobre a atividade missionária da Igreja.

Sobre a abolição do celibato e a introdução de uma sacerdócio feminino

É impossível esconder o fato de que esse “sínodo” é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambicionados e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diáconas. Em todo caso, trata-se de “levar em conta o papel central que as mulheres desempenham hoje na Igreja da Amazônia” (nº 129 a3). E da mesma forma, é uma questão de “abrir novos espaços para se recriar os ministérios adequados a este momento histórico. Chegou a hora de ouvir a voz da Amazônia … “(n. 43).

Mas aqui se omite o fato de que, conclusivamente, até mesmo João Paulo II já havia afirmado, com a mais alta autoridade magistral, que não está no poder da Igreja administrar o sacramento da ordem às mulheres. De fato, em dois mil anos, a Igreja nunca administrou o sacramento da ordem a uma mulher. O pedido que se coloca em oposição direta a este fato mostra que a palavra “Igreja” é agora usada exclusivamente como termo sociológico pelos autores do “Instrumentum laboris”, implicitamente negando o caráter sacramental-hierárquico da Igreja.

Sobre a negação do caráter hierárquico-sacramental da Igreja

De maneira semelhante – embora com expressões bastante passageiras – o n. 127 contém um ataque direto à constituição hierárquico-sacramental da Igreja, quando se pergunta se não seria oportuno “reconsiderar a idéia de que o exercício da jurisdição (poder do governo) deve estar conectado em todas as áreas (sacramental, judicial, administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem”. É a partir dessa visão tão errada que surge no n. 129, o pedido para se criar novos ofícios que correspondam às necessidades dos povos amazônicos.

Todavia, é no campo da liturgia e do culto, no qual a ideologia de uma inculturação falsamente entendida encontra sua expressão de maneira particularmente espetacular. Aqui, algumas formas das religiões naturais são assumidas positivamente. O “Instrumentum laboris” (n. 126) não se retrai em pedir que “os povos pobres e simples” possam expressar “a sua (!) Fé através de imagens, símbolos, tradições, ritos e outros sacramentos (!!)” .

Isto certamente não corresponde aos preceitos da constituição “Sacrosanctum Concilium” e nem aos do decreto “Ad gentes” sobre a atividade missionária da Igreja, e mostra uma compreensão puramente horizontal da liturgia.

Conclusão

“Summa summarum”: o “Instrumentum laboris” acusa o sínodo dos bispos e, definitivamente, o próprio papa de uma violação grave do “Depositum Fidei”, que significa como consequência, a autodestruição da Igreja ou a transformação do “Corpus Christi Mysticum” em uma espécie de ONG secular com um papel ecológico-social-psicológico.

Depois dessas observações, naturalmente, abrem-se outras questões: pode-se encontrar aqui, especialmente no que diz respeito à estrutura hierárquica sacramental da Igreja, uma ruptura decisiva com a Tradição Apostólica como constitutiva da Igreja, ou melhor, os autores têm noção do desenvolvimento da doutrina que está sendo teologicamente substituído, a fim de justificar as rupturas acima mencionadas?

Este parece ser realmente o caso. Estamos testemunhando uma nova forma do Modernismo clássico do início do século XX. Na época, deu-se início a uma abordagem decididamente evolucionista e depois foi apoiada a idéia de que, no curso do contínuo desenvolvimento do homem a níveis mais elevados, seriam encontrados igualmente níveis mais elevados de consciência e cultura, o que significaria que o que era falso ontem poderia ser verdade hoje. Essa dinâmica evolutiva também foi aplicada à religião, isto é, à consciência religiosa com suas manifestações na doutrina, no culto e, naturalmente, também na moralidade.

Mas aqui, então, pressupõe-se uma compreensão do desenvolvimento do dogma que é claramente oposto ao entendimento católico genuíno. Este último compreende o desenvolvimento do dogma e da Igreja não como uma mudança, mas sim como um desenvolvimento orgânico de um assunto que permanece fiel à sua identidade.

É isso que os Concílios Vaticano I e II nos ensinam em suas constituições “Dei Filius”, “Lumen Gentium” e “Dei Verbum”.

Portanto, deve ser dito hoje com força que o “Instrumentum laboris” contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como um documento herético. Dado que mesmo o fato da revelação divina é aqui questionado, ou mal entendido, deve-se também falar, que além disso, é apóstata.

Isto é ainda mais justificado à luz do fato de que o “Instrumentum laboris” usa uma noção puramente imanentista da religião e considera a religião como o resultado e a forma de expressão da experiência espiritual pessoal do homem. O uso de palavras e noções cristãs não consegue esconder que elas são simplesmente usadas como palavras vazias, independentemente do seu significado original.

O “Instrumentum laboris” para o sínodo da Amazônia constitui um ataque aos fundamentos da fé, de uma forma que até hoje não foi considerado possível. E, portanto, deve ser rejeitado com a máxima firmeza.

Je vous salue Marie – Incêndio de Notre Dame

https://www.youtube.com/watch?v=J_oVrMg_SJg

Canto entoado pelos franceses em 15 de abril de 2019, no incêndio da Catedral de Notre Dame e ao longo de toda a bela história da fé católica na França.

Crédito de edição: Alexandre Felipe Présente

LETRA:
L’ange du Seigneur apporta l’annonce à Marie,
O anjo do Senhor anunciou a Maria
-Et elle conçut du Saint-Esprit.
E ela concebeu do Espírito Santo
Je vous salue Marie, comblée de grâce.
Ave Maria, cheia de graça
Le Seigneur est avec vous.
O Senhor é convosco
Vous êtes bénie entre toutes les femmes
Bendita sois vós dentre as mulheres
et Jésus, votre enfant est béni.
E bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus
Sainte Marie, Mère de Dieu,
Santa Maria, Mãe de Deus
priez pour nous pauvres pécheurs,
rogai por nós, pobres pecadores
maintenant et à l’heure de notre mort.
Agora e na hora de nossa morte
Amen, Amen, Alléluia.
Amém, amém, Aleluia

Voici la Servante du Seigneur,
Eis aqui a Serva do Senhor
Qu’il me soit fait selon ta parole.
Faça-se em mim segundo sua palavra
Ave Maria, cheia de graça
Le Seigneur est avec vous.
O Senhor é convosco
Vous êtes bénie entre toutes les femmes
Bendita sois vós dentre as mulheres
et Jésus, votre enfant est béni.
E bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus
Sainte Marie, Mère de Dieu,
Santa Maria, Mãe de Deus
priez pour nous pauvres pécheurs,
rogai por nós, pobres pecadores
maintenant et à l’heure de notre mort.
Agora e na hora de nossa morte
Amen, Amen, Alléluia.
Amém, amém, Aleluia

Et le Verbe s’est fait chair,
E o Verbo se fez carne
Et il a habité parmi nous.
E habitou entre nós
Priez pour nous, sainte Mère de Dieu,
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus
Afin que nous soyons rendus dignes des promesses du Christ.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Prions.
Oremos
Que ta grâce, Seigneur notre Père,
Que sua graça, Senhor nosso Pai,
se répande en nos cœurs.
seja espalhada em nossos corações
Par le message de l’ange,
Através da mensagem do anjo
tu nous as fait connaître l’incarnation de ton Fils bien-aimé,
Vós nos fizestes conhecer a encarnação do Seu amado Filho
conduis-nous, par sa passion et par sa croix,
conduzindo-nos pela sua paixão e pela sua cruz
jusqu’à la gloire de la Résurrection.
para a glória da ressurreição
Par Jésus, le Christ, notre Seigneur. Amen.
Por Jesus, Cristo, nosso Senhor. Amém.

O Sínodo da Amazônia e a impossibilidade da ordenação sacerdotal de mulheres

Já que está “na ordem do dia”, eis uma pequena contribuição ao vindouro Sínodo da Amazônia: sobre a impossibilidade da ordenação sacerdotal de mulheres, um Bispo católico do século IV (famoso por combater duramente as heresias que tentavam ingressar pela porta dos fundos na Igreja) *ensina ortodoxamente* aos Bispos e Presbíteros de hoje que adotam indevidamente as “posições inovadoras” e sempre infundadas da Teologia da Libertação:

– “Para começar, para quem isto não for imediatamente óbvio, se investigar todo o escopo do passado (…) nunca, em momento nenhum, uma mulher ofereceu sacrifícios a Deus: Eva, embora tivesse caído em transgressão, não se atreveu a empreender tal impiedade, assim como nenhuma de suas filhas o fizeram. (…) E em nenhum lugar [do Antigo Testamento] uma mulher jamais ofereceu sacrifícios. Também no Novo Testamento, se [de fato] fosse ordenado por Deus que as mulheres oferecessem sacrifícios ou viessem a ter qualquer função canônica na Igreja, a própria [Virgem] Maria deveria ter atuado como sacerdotisa, eis que ela foi considerada digna de carregar em seu ventre o Rei de todos, o Deus celeste, o Filho de Deus; seu ventre tornou-se um Templo e, pela bondade de Deus, um incrível mistério foi preparado para ser a morada da natureza humana do Senhor. Porém, não foi da vontade de Deus que ela fosse uma sacerdotisa. Ela sequer foi incumbida da administração do batismo, para que Cristo fosse batizado por ela e não por João [Batista]. (…) Sucessores do episcopado e do presbiterato na Casa de Deus foram nomeados (…) e em nenhum lugar uma mulher foi designada. As Escrituras dizem: ‘Filipe, o evangelista, teve quatro filhas que profetizaram’, mas com certeza elas não foram sacerdotisas. E ‘Ana, filha de Fanuel, era uma profetisa’, porém o sacerdócio não lhe foi confiado. (…) É verdade que há uma ordem de diaconisas na Igreja, mas esta [ordem] não permite a prática do sacerdócio ou qualquer função litúrgica. Existe por uma questão de modéstia feminina, para o momento do batismo ou o exame de alguma condição ou problema, quando o corpo de uma mulher pode ser desnudado, de modo que não venha a ser vista pelos padres, mas pela mulher assistente designada pelo sacerdote para essa ocasião, para cuidar temporariamente dela no momento em que o seu corpo é descoberto” (Santo Epifânio de Salamina [*310/+403], Panarion 79,2,3-79,3,6).

 

Yahvé ou Jeová? O Nome de Deus

Autor: José Manuel Raccamarich

Para nós, como seres humanos, foi necessário, desde o início, estabelecer uma relação com o que nos rodeia, com o que cremos e com o que somos. É por isso que dentro da nossa existência foi inevitável dar nome a tudo aquilo com o que nos relacionávamos. Desde a Criação, por vontade divina, foi estabelecido que o homem desse nome a todos os animais criados por Deus para que não estivesse sozinho (Gênesis 2,19-20).

Em nossos dias, se contam grande quantidade de religiões em diversos países e regiões do mundo, cada uma com deuses diferentes e cada um destes deuses com nome próprio. Mas quando Deus, o único e verdadeiro, começou a se revelar aos homens, após a queda dos nossos primeiros pais Adão e Eva, foi necessário, nesse momento, conhecer o seu nome:

– “Set também teve um filho e lhe colocou o nome de Enós, que foi o primeiro a invocar o nome de Deus” (Gênesis 4,26).

Contudo, o Gênesis não nos revela qual nome Enós invocou. Mas Deus revelou o seu nome quando Moisés lhe perguntou. Deus respondeu: “Eu sou aquele que sou” (Êxodo 3,14).

– “Eu sou YHWH. Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó como Deus todopoderoso; e a nenhum deles revelei o meu nome: YHWH” (Êxodo 6,2-3).

Pois bem, o que são estas quatro letras: YHWH? Essas quatro letras são chamadas “Tetragrama”, termo que provém do grego “tetra-grammaton”, que significa “quatro letras”.

Para compreendermos se o Nome de Deus é Jeová ou Yahvé, é necessário que nos ambientemos no contexto histórico da pergunta “por que existem estes dois nomes e qual foi a sua origem?”.

O rei Nabucodonosor II conquistou Jerusalém no ano 587 a.C. e suprimiu a independência dos hebreus (os judeus antigos); também o belíssimo Templo de Salomão, orgulho nacional dos hebreus, foi totalmente arrasado. O rei levou em cativeiro toda Jerusalém, todos os príncipes e todos os homens valentes, cerca de 10.000 cativos, e todos os oficiais e ferreiros. Não restou ninguém, exceto os pobres do povo da terra (cf. 2Reis 24,14). Mas o Cativeiro afetou apenas as classes altas hebreias? Sim, esta era a ideia: os vencedores tinham interesse em impedir que ressurgisse ali um poder político forte e, para isso, levaram à força a classe dirigente vencida e capaz de liderar uma revolta.

Mas o que tem a ver o Cativeiro da Babilônia com o nome de Deus? Após o Cativeiro da Babilônia, levando em conta estritamente o texto de Êxodo 20,7, restou proibido aos judeus pronunciar o nome de Deus, para que não fosse profanado pelos pagãos. Assim, quando faziam a leitura da Lei e dos Profetas nas sinagogas, ao encontrarem o Tetragrama YHWH, faziam uma pausa silenciosa e depois prosseguiam com a leitura.

Com o transcorrer dos anos e das gerações, o nome de Deus deixou de ser pronunciado e já ninguém mais sabia qual era a pronúncia correta. De todo modo, a tradição das sinagogas, de fazer uma pausa e prosseguir a leitura ao encontrar a palavra YHWH, continuou até os tempos de Jesus. Não vemos Jesus dizendo em momento nenhum no Evangelho qual era o nome de Deus.

Então, com o passar do tempo, prosseguiu-se com a proibição?

Algo interessante que ocorreu antes do Cativeiro da Babilônia foi uma separação que se deu entre os judeus: os judeus samaritanos, ao considerarem os demais povos e Jerusalém pouco ortodoxos e impuros em relação à Lei, provocaram o rompimento das relações antes do ano 597 a.C. Mas o que é interessante nisso? O notável é que, ao cortar as relações com os demais judeus, não se aplicou a eles a proibição de se pronunciar o nome de Deus. E eles pronunciavam “Yahvé” e continuaram pronunciando assim por gerações… e até hoje eles dizem “Yahvé” e escutamos “Javé”.

No séc. VII d.C., os mestres rabínicos da Escola de Tiberíades, chamados “massoretas”, decidiram colocar vogais nas palavras das Sagradas Escrituras (pois eram escritas sem vogais e cada vez mais aumentava a confusão sobre a pronúncia das palavras). No tocante ao tetragrama YHWH, como nunca era pronunciado, ninguém sabia quais vogais deveriam usar. Pegaram, então, as vogais da palavra “Adonai” (a-o-a), que era a palavra lida em substituição ao tetragrama: a letra “i” no fim de Adonai não foi contada porque, para os hebreus, trata-se de consoante e não de vogal; também mudaram o primeiro “a” para “e” por razões de fonética semítica (conforme o sistema inventado pelos massoretas, a consoante “Y”, primeira letra do tetragrama, por ser consoante forte, não poderia ser seguida pela vogal “a”, por ser fraca, devendo assim ser mudada para a vogal “e”, que é uma vogal forte). Não obstante a este trabalho dos massoretas, o nome YHWH continuou sendo substituído nas leituras pela palavra Adonai.

Então, o que os massoretas do século VII fizeram foi pronunciar o tetragrama como Yahveh, valendo-se do hebraico antigo, para assimilar sua pronúncia ao hebraico Adonai (o Senhor). Se a tese da Escola Francesa de Línguas, do séc. XVIII, tiver razão ao afirmar que todo idioma vai se modificando e mutando pelo uso e pelo abuso, isso também ocorreu com o hebraico. Desse modo, encontramos hoje, em todas as Bíblias hebraicas, a pronúncia do tetragrama indicada como “Yehovah”, pelo uso e abuso do idioma através dos séculos.

Pois bem: vejamos alguns nomes dados a Deus pelas Sagradas Escrituras:

– Adonai: quer dizer “Senhor”; transcrito como “Kyrios” no grego;
– Elohim: quer dizer “Senhor Deus”;
– El: é um dos nomes mais antigos usados pelos israelitas, inclusive antes da redação do Êxodo, que foi o primeiro livro escrito da Bíblia. Este nome significa “Ser forte”, “o Supremo”, ou simplesmente “Deus”;
– El Shadai: quer dizer “o Altíssimo” ou “Todo poderoso”. Deus se apresentou com este nome diante dos patriarcas (Êxodo 6,2-3);
– Yahweh Shebaoth: quer dizer “Deus dos exércitos”. Não aparece na Lei judaica (Pentateuco), mas nos livros proféticos;
– Ganna: quer dizer “Deus zeloso”;
– El Hai: quer dizer “Deus vivente”.

Quanto ao “Aleluia”, o que significa? “Glorificado seja Yahvé” (Halalayah). Se o nome de Deus fosse Jeová, se pronunciaria “Aleluyeh”, o que jamais ocorreu em nenhum escrito em hebraico, aramaico, nem foi traduzido para o grego, pois o grego traz “Aleluia” e não “Aleluie” (cf. Apocalipse 19,1.4.6).

Não podemos saber, com certeza absoluta, qual é a pronúncia correta do Nome de Deus, mas sabemos que a pronúncia mais próxima do Nome de Deus é “Yahvé”.

– “E foi concedido a Jesus um Nome superior a todo Nome, para que no Nome do Senhor Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos, e que toda língua confesse que Jesus é o Senhor” (Filipenses 2,9-11).

  • Fonte: Revista Vox Veritas nº 3
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

A “Manopla do Infinito” e sua verdadeira história

Neste mundo nada se cria, tudo se copia! (em grande parte da Igreja Católica)

Relíquia da mão de Santa Teresa de Ávila à esquerda, a Manopla Infinito à direita.

Saiba mais sobre a Relíquia da Mão esquerda de Santa Teresa D’Ávila

A Ordem dos Carmelitas Descalços nasceu da reforma da Ordem do Carmo, em meados do séc. XVI, impulsionada por Santa Teresa de Jesus, inspirada pela austeridade vivida nos primeiros conventos dos eremitas do Monte Carmelo, em Jerusalém (séc. XII). Reformado o ramo feminino a partir do Convento de Ávila, Teresa de Jesus empreendeu a reforma do masculino. O projecto foi aprovado pelo Papa Pio V e confirmado por Gregório XIII, dando-se a separação completa dos Carmelitas Descalços em relação aos Calçados em 1593.

Enviado por Santa Teresa a Portugal, Frei Ambrósio Mariano funda o primeiro convento de Carmelitas Descalços, em Lisboa, a 15 de Outubro de 1581, com apoio de Filipe II, e três anos depois o primeiro feminino, o Convento de Santo Alberto, também em Lisboa, este último, no local onde hoje se situa o Museu Nacional de Arte Antiga às Janelas Verdes, anexo ao Palácio Alvor/Távora .

Em terras portuguesas, a descalcez carmelitana (também designada por Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo e Ordem Carmelitana Descalça) remonta a 1581, ano em que se funda em Lisboa, sob a invocação de S. Filipe, o primeiro convento masculino de Carmelitas Descalços, beneficiando do clima de favorecimento que, em contexto pós tridentino, se dispensava às ordens reformadas.

«A famosa cidade de Lisboa, afeiçoada do trato dos filhos de Sta. Teresa, desejava casa das filhas, não se prometendo menos delas do que via neles». É nestes termos que a Crónica de Carmelitas Descalços redigida pelo portugûes Fr. Belchior de Santa Ana apresenta o contexto da primeira fundação de descalças femininas em Portugal. Vários nobres se organizaram para pedir ao Prior de S. Filipe, Fr. Ambrósio Mariano, «procurasse trazer religiosas àquela cidade, que mais que qualquer outra de Espanha era acomodada para elas». Os mais activos em todo este processo foram D. Duarte de Castel-Branco, Conde do Sabugal, com especial referência à nora, D. Luísa Coutinho, D. Luís de Lencastre, Comendador-Mor de Avis e D. João Lobo, Barão de Alvito. Nesse sentido, a 16 de Outubro de 1584, parte para Sevilha Fr. Ambrósio Mariano, e a 19 de Janeiro de 1585 fundava-se em Lisboa o primeiro convento de carmelitas descalças, tendo como fundadora a Madre Maria de San José Salazar, uma discípula de Santa Teresa e talvez uma das suas religiosas mais emblemáticas.
Este projecto fundacional estivera desde muito cedo nos desejos da Santa, a quem o contexto da fundação portuguesa fora apresentado em revelação, associado justamente à figura de Maria de San José, então prioresa do convento de descalças de Sevilha.

Santa Teresa de Jesus morreu na noite de 04 de Outubro de 1582, curiosamente no mesmo dia em que o calendário juliano foi substituído pelo calendário gregoriano, de modo que o dia passou a ser sexta-feira 15 Outubro. Seu corpo, enterrado no convento da Anunciação, em Alba de Tormes, Espanha, foi exumado em 25 de Novembro de 1585 (a 04 de Julho de 1583 de acordo com outras fontes). Segundo a lenda, ao abrir o caixão, o corpo estava inteiro e incorrupto. O Padre Carmelita Jerónimo Gracián, cortou-lhe então a mão esquerda entregando-a como relíquia sagrada às Madres Carmelitas do Convento de San José de Ávila, em Espanha, não sem antes guardar para si o dedo mindinho da Santa.

Começa aqui, em 1599, a história da relíquia da Mão esquerda de Santa Teresa de Jesus (ou D’Ávila) em Portugal, altura em que foi trazida e mantida no primeiro Convento Carmelita feminino fundado em Lisboa, Convento de Sto.Alberto.

Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834 e após a morte da última freira em 1890 o convento é definitivamente encerrado. Vão por essa altura lentamente desaparecendo os dez mosteiros que Portugal contava à época, à excepção do de Coimbra que é encerrado com o advento da República.
A mão permaneceu em Portugal de 1599 até 1920. Nesta data, as freiras que a guardavam, fugindo da revolução que depôs a monarquia em 1910, levaram-na de volta para a Espanha. Em 1924, foi transferida para o convento recentemente aberto dos Carmelitas Descalços de Ronda. No início da Guerra Civil em Espanha, a 29 de Agosto de 1936, a mão foi requisitada pelos republicanos. Em Fevereiro de 1937, quando as tropas golpistas tomaram Málaga, encontraram “uma relíquia esquecida” na mala do republicano Coronel José Villalba Riquelm, e em vez de a devolverem aos seus proprietários, levaram-na para Burgos, onde Franco não hesitou em se apropriar dela. O Capelão do asilo, Padre Rendon, tentando justificar a apropriação indevida da Relíquia, consolou os Carmelitas com a seguinte frase:
“La mano no se pierde, se va con el Caudillo para guiarle en la conducción de la Patria”.

Franco, enquanto viveu, nunca se separou da Relíquia, incorporando-a mesmo na sua comitiva oficial, incluindo-a durante as viagens oficiais, e nas férias de Verão em San Sebastian ou em Pazo de Meiras.

Depois da sua morte, a mão de Santa Teresa foi devolvida à congregação religiosa, e está actualmente no convento da cidade Merced de Ronda, Málaga, não tendo nunca mais regressado a Portugal, onde tinha permanecido durante mais de três séculos.

Não se pense no entanto que é a única relíquia preservada de Santa Teresa D’Ávila: o mesmo convento também tem o seu olho esquerdo. O pé direito e parte da mandíbula superior está em Roma, o braço esquerdo e coração, na Igreja da Anunciação, em Alba de Tormes. No altar-mor da mesma igreja, é preservado o que resta de seu corpo numa arca de mármore. Dedos e pedaços de carne estão espalhados por Espanha e outros países.

Conta o jornal “El Mundo” uma anedota curiosa sobre o outro braço da Santa, não corrompido: numa peregrinação carmelita que viajou para o Estados Unidos em visita aos frades Carmelitas daquele país, resolveram levar consigo o Relicário contendo o Braço de Santa Teresa D’Ávila. Quando o navio chegou a Nova York, tiveram que preencher um questionário na alfândega, e não existindo nenhuma clausula onde se pudesse incluir a designação de “Relíquias Religiosas”, fez com que o zeloso funcionário da alfândega, assinalasse com uma cruz a alínea correspondente a “enlatados e salgados”.

Fontes:
http://patrimoniocultural.cm-lisboa.pt/
http://www.lavozdegalicia.es/
http://coscorronderazon.blogspot.pt/
serzisanz.wordpress.com
http://ler.letras.up.pt/artigo12701.pdf

Abusos Litúrgicos

“Parece-me que não havia coisa mais desagradável do que ver a diversidade das cerimônias com que se celebravam a Missa. Uns começavam o santo sacrifício pelo Pater noster; outros, enquanto se revestiam da casula, recitavam o Introibo. Lembro-me de que, um dia, estando em Saint-Germain-en-Laye, notei que sete ou oito padres celebravam a Missa de modo diferente: um fazia de um modo, outro de modo diverso; era uma variedade que provocava lágrimas”.

Assim descrevia São Vicente de Paulo (1581-1660) os abusos litúrgicos de sua época, que ele procurou corrigir. Estamos nos séculos XVI e XVII, portanto, depois da reforma litúrgica feita por São Pio V, em cumprimento do estabelecido pelo Concílio de Trento.
Nesse tempo, explica o livro da vida de São Vicente, também em consequência das guerras de religião demorou a entrar em prática a disciplina eclesiástica estabelecida pelo Concílio Tridentino. “O relaxamento do clero era deplorável… praticavam mal as cerimônias dos sacramentos… muitos padres não usavam batina, nem hábito eclesiástico para celebrar a Missa, e ministravam os sacramentos em traje secular”.

São Paulo apóstolo (1Cor 11) invectivava contra os abusos litúrgicos que já havia entre os primeiros cristãos. Portanto, não são exclusividade da nossa época. Mas a fé e o respeito devidos à Eucaristia nos impelem a não nos conformarmos com esses desmandos.

O Cardeal Virgílio Noé, cerimoniário da Santa Sé, explicou que, com a célebre expressão “fumaça de Satanás no templo de Deus”, Paulo VI se referia aos abusos litúrgicos pós-conciliares: “A fumaça de Satanás não era outra coisa que a mentalidade que queria distorcer as regras tradicionais e litúrgicas da cerimônia Eucarística… Ele condenava o espírito de protagonismo e delírio de onipotência que se seguiram à liturgia do Concílio” (14/5/2008).

O Cardeal Joseph Ratzinger, hoje o Papa emérito, dizia: “a crise eclesial, na qual nos encontramos hoje, depende em grande parte do desmoronamento da Liturgia” (La mia vita, pag. 113). O Papa São João Paulo II na Encíclica Ecclesia de Eucharistia escreve: “Não há dúvida que a reforma litúrgica do Concílio trouxe grandes vantagens… A par destas luzes, não faltam sombras, infelizmente… Num contexto eclesial ou outro, existem abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento. Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e valor de um encontro fraterno ao redor da mesa… A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções…” (n. 10). “Temos a lamentar, infelizmente, que, sobretudo a partir dos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos…” (n. 52). “O mistério eucarístico – sacrifício, presença, banquete – não permite reduções nem instrumentalizações…” (n. 61).

Dom Fernando Rifan, bispo da Administração Apóstolica Pessoal São João Maria Vianney.

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