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A Trindade é só amor, recorda Bento XVI

Vaticano, 07 Jun. 09 / 09:49 am (ACI).- Milhares de fiéis e peregrinos se encontraram na Praça de São Pedro a pesar do mau tempo para rezar o Ângelus dominical com o Papa Bento XVI, quem nas suas palavras introdutórias afirmou que tudo no mundo provém do amor, tende ao amor e se move impulsionado pelo amor”.

“Deus é amor, ‘não na unidade de uma só pessoa a não ser na Trindade de uma só substância’: é Criador e Pai misericordioso; é Filho Unigênito, eterna Sabedoria encarnada, morto e ressuscitado por nós; é finalmente Espírito Santo, que tudo move, cosmos e história, para a plena recapitulação final”, disse o Pontífice ao refletir sobre o mistério da Trindade.

Do mesmo modo, ressaltou que “as três Pessoas são um só Deus porque o Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito é amor”, e que “é tudo e só amor, amor muito puro, infinito e eterno”.

Mais adiante meditou sobre a criação qual manifestação da Trindade divina, assim que “todo o ser, até suas últimas partículas, é ser em relação, e assim faz ver o Deus-relação. Tudo provém do amor, tende ao amor e se move impulsionado pelo amor”.

“A maior prova de que somos feitos à imagem da Trindade é esta: só o amor nos faz felizes, porque vivemos em relação, e vivemos para amar e para ser amados”, concluiu o Santo Padre.

O Papa também recordou aos fiéis que depois do tempo pascal “a liturgia prevê três solenidades do Senhor: hoje, a Santíssima Trindade; na próxima quinta-feira a do Corpus Domini, que em muitos países é celebrada no próximo domingo; e, finalmente, na sexta-feira sucessiva, a festa do Sagrado Coração do Jesus. Cada uma destas evidencia uma perspectiva desde a qual se abraça a totalidade do mistério da fé cristã”.

“A Virgem María –continuou o Papa- acolheu a vontade do Pai, concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela o Onipotente construiu para si um templo digno Dele, e o tem feito o modelo e a imagem da Igreja, mistério e casa de comunhão para todos os homens”.
Depois de rezar o Ângelus o Papa saudou os presentes em diversos idiomas e repartiu sua Bênção Apostólica.

Papa explica importância do Batismo das crianças

«Não são propriedade privada dos pais, estes devem ajudá-las a ser filhas de Deus»

Por Inma Alvarez

CIDADE DO VATICANO, domingo, 11 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa explicou a importância do Batismo das crianças, ao batizar hoje 13 bebês na Capela Sixtina, como é tradição na Solenidade do Batismo do Senhor, e afirmou que com ele «restituímos a Deus o que veio d’Ele».

«A criança não é propriedade dos pais, mas foi confiada pelo Criador a sua responsabilidade, livremente e de uma forma sempre nova, para que estes as ajudem a ser livres filhas de Deus», explicou o Papa.

Sobre estas crianças, afirmou, «pousa hoje a “complacência” de Deus».

«Desde quando o Filho unigênito do Pai se fez batizar, o céu se abriu realmente e continua se abrindo, e podemos confiar cada nova vida que nasce às mãos d’Aquele que é mais poderoso que os poderes obscuros do mal», afirmou o Papa.

Em primeiro lugar, Bento XVI assinalou a importância de que Deus se tenha feito uma criança pequena, que é precisamente o centro da celebração do tempo litúrgico do Natal, que se encerra com a Solenidade do Batismo do Senhor.

«O Criador assumiu em Jesus as dimensões de uma criança, de um ser humano como nós, para poder fazer-se ver e tocar. Ao mesmo tempo, abaixando-se até a impotência inerme do amor, Ele nos mostra o que é a verdadeira grandeza, o que quer dizer ser Deus», afirmou.

Agradecendo a oportunidade de poder batizar nesta ocasião, o Papa fez notar sobretudo a importância do papel dos pais e dos padrinhos para fazê-los compreender o sacramento que um dia receberam.

«Só se os pais amadurecerem esta consciência conseguirão encontrar o justo equilíbrio entre a pretensão de poder dispor dos próprios filhos como se fossem uma propriedade privada, formando-os em base às próprias idéias e desejos, e a postura libertadora que se expressa em deixá-los crescer em autonomia plena, satisfazendo cada um de seus desejos e aspirações», explicou.

Por outro lado, batizar as crianças pequenas, explicou o Papa, não é «fazer uma violência», mas «dar-lhes a riqueza da vida divina na qual se enraíza a verdadeira liberdade que é própria dos filhos de Deus».

Esta liberdade, acrescentou, «deverá ser educada e formada com o amadurecer dos anos, para que as faça capazes de eleições pessoais responsáveis».

Com respeito à educação na fé dos pequenos, o Papa explicou que «se com este sacramento, o batizando se converte em filho adotivo de Deus, objeto de seu amor infinito que o tutela e defende das forças obscuras do maligno, é necessário ensiná-los a reconhecer a Deus como seu Pai e a saber se relacionar com Deus com atitude de filho».

Também, o batismo, afirmou, introduz as crianças em «uma nova família, maior e estável, mais aberta e numerosa que a vossa: refiro-me à família dos crentes, à Igreja, uma família que tem Deus por Pai e na qual todos se reconhecem irmãos em Jesus Cristo».

Confiando estas crianças «à bondade de Deus, que é potência de luz e de amor», estas, «ainda nas dificuldades da vida, não se sentirão abandonadas, se permanecerem unidas a Ele».

«Preocupados portanto em educá-las na fé, em ensiná-las a rezar e a crescer como fazia Jesus e com sua ajuda, em sabedoria, idade e graça perante Deus e os homens», concluiu.

Depois, durante sua alocução no Ângelus, o Papa voltou a assinalar a importância deste sacramento, pelo qual o homem «recebe a vida eterna».

«Esta é a estupenda realidade: a pessoa humana, mediante o Batismo, insere-se na relação única e singular de Jesus com o Pai, de forma que as palavras que ressoaram no céu sobre o Filho Unigênito se fazem verdadeiras para cada homem e toda mulher que renasce na água e do Espírito Santo: Tu és meu Filho, o amado», acrescentou.

A santidade fica ao alcance de todos, lembra o Papa

VATICANO, 01 Nov. 08 / 08:17 am (ACI).- Milhares de fiéis assistiram na Praça de São Pedro no dia da Solenidade de todos os Santos para rezar o Ângelus dominical com o Papa Bento XVI, quem em suas palavras iniciais descreveu o espetáculo da santidade como meta espiritual para a que todos os batizados devem caminhar mediante o caminho das bem-aventuranças evangélicas.

“Todos os Santos trazem impresso o ‘selo’ de Jesus, quer dizer a pegada de seu amor, testemunhado através da Cruz. Todos estão no gozo, em uma festa sem fim, mas como Jesus, esta meta foi conquistada mediante a fadiga e a prova, confrontando cada um a própria parte do sacrifício para participar da glória da ressurreição”, disse o Papa ao falar dos Santos.

O Pontífice ilustrou a realidade dos Santos dizendo: “ao visitar um jardim botânico, ficamos surpresos perante a variedade de plantas e de flores, e espontaneamente pensamos na fantasia do Criador que fez da terra um maravilhoso jardim. Um sentimento análogo nos enche a alma quando consideramos o espetáculo da santidade: o mundo aparece como um ‘jardim’, onde o Espírito de Deus suscitou com grande fantasia uma multidão de santos e santas, de toda idade e condição social, de toda língua, povo e cultura. Cada um é diverso do outro, com a singularidade da própria personalidade humana e do próprio carisma espiritual”.

Também fez notar que “a Solenidade de Todos os Santos se afirmou durante o primeiro milênio cristão como uma celebração coletiva dos mártires”, e que tal martírio pode ser considerado em sentido amplo, quer dizer “como o amor por Cristo sem reservas, amor que se expressa no dom total de si a Deus e aos irmãos. Esta meta espiritual a que todos os batizados devem dirigir-se, alcança-se seguindo o caminho das ‘bem-aventuranças’ evangélicas, que a liturgia nos indica na hodierna solenidade”.

“Trata-se –disse o Papa- do mesmo caminho indicado por Jesus, que tantos Santos se esforçaram em percorrer, conscientes de seus limites humanos. Na existência terrena foram pobres em espírito, sentiram a dor pelos seus pecados, mansos, famintos e sedentos de justiça, misericordiosos, puros de coração, operários da paz, perseguidos. E Deus os fez partícipes de sua própria felicidade: a pré-gostaram neste mundo e a gozam em plenitude no além. É agora que são consolados, herdeiros da terra, satisfeitos, perdoados, vêem Deus. Em uma palavra: ‘deles é o Reino dos Céus’”.

O Papa terminou suas palavras iniciáis exortando a reavivar “em nós a atração para o Céu, que nos impulsiona e apressa o passo do nosso peregrinar terreno. Sentimos acender-se em nossos corações o desejo de nos unir por sempre à família dos Santos, da que já somos parte”. Seguidamente se rezou o Ângelus, o Papa cumprimentou os presentes em diversos idiomas e deu sua Bênção Apostólica.

Pregador do Papa: Espírito Santo atua no mundo

Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do domingo de Pentecostes

ROMA, sexta-feira, 25 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, solenidade de Pentecostes.

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Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra

Domingo de Pentecostes
Atos 1, 1-11; Romanos 8, 8-17; João 14, 15-16.23b-26

Na tarde de Páscoa, Jesus no cenáculo «soprou sobre eles [seus discípulos] e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo’» [Jo 20, 19-23, ndr.]. Este sopro de Cristo evoca o gesto de Deus que, na criação, «soprou sobre o homem, feito de pó do chão, um alento de vida, e tornou-se o homem um ser vivente» (Gn 2, 7). Com aquele gesto, Jesus vem dizer, portanto, que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, como deu vida à primeira criação. O Salmo responsorial sublinha este tema: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra» [Sal 103, 1-34. ndr.].

Proclamar que o Espírito Santo é criador significa dizer que sua esfera de ação não se restringe só à Igreja, mas se estende a toda a criação. Nenhum tempo, nenhum lugar estão privados de sua presença ativa. Ele atua na Bíblia e fora dela; atua antes de Cristo, no tempo de Cristo e depois de Cristo, ainda que nunca separadamente d’Ele. «Toda verdade, de onde quer que venha dita — escreveu Santo Tomás de Aquino –, vem do Espírito Santo». Certo: a ação do Espírito de Cristo fora da Igreja não é a mesma que dentro da Igreja e nos sacramentos. Lá Ele atua por poder, aqui por presença, em pessoa.

O mais importante, a propósito do poder criador do Espírito Santo, não é compreendê-lo ou explicar suas implicações, mas experimentá-lo. E o que significa experimentar o Espírito como criador? Para descobrir isso, partimos do relato da criação. «No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra era caos e escuridão acima do abismo, e um vento de Deus soprava sobre as águas» (Gn 1, 1-2). Deduz-se que o universo já existia no momento em que o Espírito intervém, mas ainda era informe e tenebroso, caos. É depois de sua ação quando o criado assume contornos precisos; a luz se separa das trevas, a terra do mar, e tudo adquire uma forma definida.

O Espírito Santo é, portanto, Aquele que permite passar — a criação — do caos ao cosmos, o que faz assim algo belo, ordenado, limpo (cosmos vem da mesma raiz que cosmético, e quer dizer belo!), realiza assim um «mundo», segundo o duplo significado dessa palavra. A ciência nos ensina hoje que este processo durou bilhões de anos, mas o que a Bíblia quer dizer-nos, com linguagem simples e imaginativa, é que a lenta evolução da vida e a ordem atual do mundo não ocorreu por acaso, obedecendo a impulsos cegos da matéria, mas por um projeto aplicado nele, desde o início pelo criador.

A ação criadora de Deus não se limita ao instante inicial; Ele está sempre em ato de criar. Aplicado ao Espírito Santo, isso significa que Ele é sempre o que faz passar do caos ao cosmos, isto é, da desordem à ordem, da confusão à harmonia, da deformidade à beleza, da velhice à juventude. Isso em todos os níveis: no macrocosmos e no microcosmos, ou seja, no universo inteiro assim como em cada homem.

Devemos crer que, apesar das aparências, o Espírito Santo atuando no mundo e o faz progredir. Quantos novos descobrimentos, não só no campo físico, mas também no moral e social! Um texto do Concílio Vaticano II diz que o Espírito Santo está atuando na evolução da ordem social do mundo («Gaudium et spes», 26). Não é só o mal que cresce, mas também o bem, com a diferença de que o mal se elimina, termina consigo mesmo, enquanto que o bem se acumula, permanece. Certamente ainda existe muito caos ao nosso redor: caos moral, político social; o mundo tem ainda muita necessidade do Espírito Santo; por isso não devemos cansar-nos de invocá-lo com as palavras do Salmo: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra!».

[Tradução realizada por Zenit]

«Quem crê nunca está só»: Homilia do Papa na multitudinária missa de Ratisbona

RATISBONA, quarta-feira, 13 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a homilia que Bento XVI pronunciou nesta terça-feira, durante a santa missa que presidiu ante mais de 250.000 pessoas na explanada do Islinger Feld de Ratisbona.

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Queridos irmãos e irmãs!

«Quem crê nunca está só» é o lema destes dias. Nós o vemos aqui realizado. A fé nos reúne e nos doa uma festa. Nos doa o gozo em Deus, o gozo pela criação e por estar juntos. Sei que esta festa exigiu muita fadiga e muito trabalho prévio. Através das notícias dos jornais, pude perceber um pouco de quantas pessoas comprometeram seu tempo e suas forças para preparar esta explanada de forma tão digna; graças a eles, a Cruz está sobre a colina como sinal de Deus para a paz do mundo; os caminhos de acesso e de saída estão livres; a segurança e a ordem estão garantidas; prepararam-se alojamentos etc. Não podia imaginar — de fato, agora sei só sucintamente — quanto trabalho, até os mínimos detalhes, foi necessário para que possamos reunir-nos. Por tudo isso, só posso dizer: «Obrigado de coração!». Que o Senhor vos recompense e que o gozo que agora podemos experimentar graças à vossa preparação, seja devolvido multiplicado por cem a cada um de vós. Eu me comovi quando escutei todas as pessoas, em particular das escolas profissionais de Leiden e Amberg, assim como companhias e pessoas, homens e mulheres, colaboraram para embelezar minha casa e meu jardim. Estou um tanto desconcertado ante tanta bondade, e posso neste caso também dizer somente um humilde «obrigado!» por este esforço. Não fizestes tudo isto somente por um homem, por minha pobre pessoa; vós o fizestes na solidariedade da fé, deixando-vos guiar pelo amor ao Senhor e à Igreja. Tudo isto é um sinal de verdadeira humanidade, que nasce de ter sido tocados por Jesus Cristo.

Nazismo e comunismo: o mal como distorção do bem

Nazismo e Comunismo

Ao contrário do que pensam as várias correntes gnósticas, que sustentam um irreal maniqueísmo, o mal não é um oponente do bem com a mesma envergadura deste, tampouco surge do nada, com total e absoluta independência. Longe das definições dualísticas, o mal é, segundo Santo Tomás de Aquino, a distorção do bem, uma “ausência de um bem qualquer que deveria estar presente em determinado ser.” (Papa João Paulo II. Memória e identidade, p. 13)

O diabo mesmo, para a tradição judaico-cristã, é um anjo que se revolta, é uma simples criatura, não um equivalente negativo de Deus, o Criador. Com isso, sem embargo, não se rejeita a existência de um mal objetivo a combater, nem se a relativiza ou a seus erros. Apenas ressalta-se que, mera expressão desvirtuada do bem, está fadado naturalmente ao fracasso.

Quanto mais a mentira do mal se parece com a verdade do bem, mais ela é perigosa. O heroísmo, v.g., a evocação de tradições guerreiras, o patriotismo, são coisas boas que, desnaturadas, foram pontos básicos do horrendo programa nazista. A fraternidade e a justiça social, por sua vez, são bens que, modificados seus conceitos a serviço do mal, preenchem o discurso comunista.

Vemos a realização histórica daquela sentença no pensamento iluminista, que varreu a Europa após a Idade Média, contribuindo para sua atual união política sem referência à fé cristã que a moldou. O Iluminismo, de fato, toma como carro-chefe de sua doutrina um grande valor, a liberdade. Ocorre que seu conceito de liberdade é equivocado, e dele surge a conclusão que tanto o bem quanto o mal tem os mesmos direitos, eis que a verdade iluminista é relativa. Intrínseco ao pensamento iluminista é o liberalismo, o qual não demoraria, em tese, a transformar-se em bagunça. Para evitar essa funesta conseqüência, estabelecem seus próceres outro mito obtido da deformação de um bem: a democracia. No liberalismo iluminista, é a maioria democrática quem escolhe o que é bem e o que é mal, em última instância, e o que é verdade e o que é mentira.

Filósofos que se debruçaram detidamente sobre a crise do pensamento europeu nos séculos XVIII e XIX, como, por exemplo, Paul Hazard, e Ortega y Gasset, estão plenamente convencidos da afiliação doutrinária dos modernos comunismo e nazismo ao Iluminismo. Por mais que pareça contraditório, o totalitarismo tem origem filosófica no liberalismo: todos partem da idéia da relatividade da verdade, e tanto faz, por isso, que quem faz a escolha seja a maioria (liberalismo), o Estado (fascismo), o proletariado representado teoricamente pelo partido (comunismo), ou a raça “pura” (nazismo). Nesses sistemas, em que o mal é a deturpação do bem “o que é um grande fator de atração dos incautos seduzidos pelas migalhas de verdade”, o erro é a matriz essencial: a rejeição do absoluto, da verdade, do próprio Deus, no fim das contas.

Autor: Dr. Rafael Vitola Brodbeck
Fonte: Veritatis Splendor

Sim, Nossa Senhora também foi salva pela graça

Nossa Senhora foi salva por Cristo, ao contrário do que os protestantes alardeiam ser a fé católica. Mas a maneira como a Santíssima Virgem foi salva é que pode ser chamada especial. A nós, que fomos concebidos com o pecado original, Jesus Cristo nos salvou removendo-nos do pecado. A Santíssima Virgem Maria, por sua vez, foi salva pelo mesmo Cristo, pelos mesmos méritos conquistados na Cruz, mas antes de ela cair no pecado. Nós fomos levantados após a queda, ao passo em que Nossa Senhora foi impedida de cair.

Longe de diminuir a graça de Deus, a Imaculada Conceição da Mãe de Deus é um hino de louvor à misericórdia e ao poder do Senhor.

“A Santíssima Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua concepção, por um único dom da graça e privilégio do Deus Altíssimo, em vistas dos méritos de Jesus Cristo, o Redentor do gênero humano, preservada isenta de toda a mancha do pecado original.” (Bula Ineffabilis Deus, in Denz., 1641)

O Intróito Gaudens Gadebo, do próprio da Missa da Solenidade da Imaculada Conceição, bem revela, pela boca do profeta Isaías (cf. 61,10), o estado de espírito da Santíssima Virgem ao ver-se preservada de todo pecado, desde sua concepção: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias.” (Missal Romano; Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora; Antífona da Entrada)

A Virgem Maria alegra-se em Deus, por considerar o grande prodígio pelo Criador operado ao preservá-la do pecado, ao salvá-la por antecipação já no exato instante em que foi concebida por São Joaquim e Sant´Ana, em atenção à graça conquistada por Cristo na Cruz, mediante Seu sacrifício expiatório. Sim, Jesus é o Salvador de Nossa Senhora, pois foram Seus méritos, os mesmos que nos salvam estando nós vivendo no pecado, que a salvaram, impedindo-a de ser tocada pela mancha original. Para Deus não há limitação temporal que O impeça de agir no passado pela previsão de fatos futuros: logo a morte de Cristo, ocorrida historicamente anos mais tarde, foi ocasião de salvação não só para os que viveram depois dela, para os pósteros de Jesus, senão também para Sua Santíssima Mãe, redimida no tempo pretérito em relação àquela obra sacrifical no Calvário.

O grande feito de Deus em Nossa Senhora é atestado pela palavra de Isaías, recolhida pelo Missal, que atribui profeticamente à Virgem a confissão de que foi revestida com justiça e com salvação. A justiça, estado perdido por nossos primeiros pais, Adão e Eva, quando, pecando, desobedecendo a Deus, foi ministrada à Mãe do Salvador. Nossa Senhora é justa pela graça de Cristo a ela imputada já na concepção – e esse é o sentido da solenidade que estamos a comemorar: festejar o dom de Maria ser preservada do pecado original. Antes que alguém refute essa preservação, conhecida teologicamente como Imaculada Conceição, alegando que ela coloca Nossa Senhora fora do redil dos salvos por Cristo, eis que, por tal privilégio, não teve ela pecado, logo não necessitando da salvação, defendemos: a Igreja nunca deixou de acreditar nessa proposição, ainda determinados contornos de sua explicitação não tenha sido por todos os teólogos percebidos e que só tenha sido declarada dogma pela fórmula solene do Papa Beato Pio IX, em 1854, o que demonstra a confirmação do adágio de São Vicente de Lérins, segundo o qual deve ser crido como verdade católica tudo aquilo que sempre foi crido, por todos e em todo lugar. Mais: a preservação de Maria, constante em que ela não tivesse pecados, nem mesmo o original, aquele recebido como herança adâmica, não a isenta da salvação merecida por Cristo para nós. É justamente pela graça de Cristo que Nossa Senhora recebe tal privilégio; a Santíssima Virgem foi salva por Jesus, seu filho; somente que essa redenção, em Maria, deu-se de maneira diferente de como operou-se em nós: fomos salvos após receber o pecado original, e Maria foi salva antes de ser contaminada com ele; fomos salvos por sermos tirados do pecado, e Maria foi salva antes de nele cair, por preservação. O texto do Evangelho da Missa de hoje é taxativo ao mostrar como o arcanjo São Gabriel saúda a Santíssima Virgem como a “cheia de graça” (Lc 1,28), a gratia plena da tradução latina de São Jerônimo, ou a kecharitômene do original grego (e essa plenitude da graça indica ausência total de mancha).

A salvação de Maria, continua o Intróito, é como as jóias de uma noiva. A Santíssima Virgem, noiva do Espírito Santo, reveste-se de suas jóias – a justiça e a salvação, segundo o texto da antífona citada –, e apresenta-se a Deus e a nós como a perfeita realização da promessa do Criador à serpente: poria o Senhor inimizade entre Satanás e Nossa Senhora, entre os filhos do diabo e o filho de Maria, Nosso Senhor, Rei e Salvador, Jesus Cristo (cf. Gn 3,15)

Autor: Dr. Rafael Vitola Brodbeck
Fonte: Veritatis Splendor

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