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Sintonizando o Espírito

Haydn e Bernini em Pentecostes

ROMA, segunda-feira, 1 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Como despertar para o chamado do Espírito alguém que possa estar cansado e até mesmo temeroso? Cerca de 1.967 anos atrás, Deus usou o som do vento e línguas de fogo. Neste domingo de Pentecostes, o Papa Bento XVI tentou com Haydn e Bernini.

Dia 31 de março marcou o 200º aniversário da morte de Joseph Haydn, compositor austríaco conhecido por seu papel na formação da moderna sinfonia, assim como por seu extraordinário acervo de música sacra. Para celebrar este grande compositor católico, a liturgia de Pentecostes do Papa Bento XVI irá utilizar a missa orquestrada de Haydn, cantada pelo Coro da Catedral de Colônia.

Joseph Haydn, nascido em Rohrau, Áustria, passou os primeiros 30 anos da sua carreira trabalhando para a nobre família Eszterházy, quando produziu um grande número de composições de música de câmara para sinfonias, aperfeiçoando seu estilo.

Os contatos de Haydn com os outros músicos brilhantes de seu tempo enriqueceram seus talentos. Teve amigos como Mozart e um antigo professor de Beethoven. Sua obra “a Criação” é uma das mais célebres e amadas da história da música.

Haydn nasceu em uma família católica devota e permaneceu católico toda a sua vida. Quando estava em processo criativo, sempre tomava o Rosário. Ele abria cada composição com “in nomine Domini” (em nome do Senhor) e terminava com “Laus Deo” (Louvado seja Deus).

Durante os 77 anos da sua vida, Haydn produziu 14 missas, um Stabat Mater, dois Te Deums, e 34 outras peças sagradas – um tesouro para a Igreja. Sem dúvida o Papa Bento XVI, um pianista, também aprecia Haydn e suas sonatas.

A majestade da música de Haydn será complementada no domingo pela arte barroca de Bernini na abside da Basílica de São Pedro. Mesmo tendo trabalhado um século e meio antes, Bernini também buscou captar o esplendor do Espírito Santo, no altar da Catedral.

A janela oval, radiante com a luz dourada, imagens do Espírito Santo – representado por uma pomba – com querubins e serafins que parecem derramados a partir desta abertura nos céus.

Os abençoados fiéis presentes na missa papal terão a visão espetacular de Bernini emoldurada pela gloriosa música de Haydn. Uma festa para os olhos, ouvidos e alma.

(Por Elizabeth Lev – professora de arte e arquitetura cristã no campus romano da Universidade de Duquesne e na Universidade São Tomás)

Papa explica que quem está em Cristo «não tem medo de nada nem de ninguém»

O senhorio de Cristo sobre o cosmos é a «chave» para uma relação correta com o Criador

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O cristão «não tem medo de nada nem de ninguém», pois Cristo, cabeça da Igreja, é o Senhor do cosmos, assegurou Bento XVI nesta quarta-feira, durante a audiência geral realizada na Sala Paulo VI.

Continuando com o ciclo sobre São Paulo, no bimilênio de seu nascimento, o Papa explicou um aspecto da doutrina paulina contido nas cartas aos Colossenses e aos Efésios – duas cartas «quase gêmeas», explicou – que é a consideração de Cristo como «cabeça» da Igreja e de todo o cosmos, e as implicações que isso tem para a vida dos cristãos.

Este «senhorio de Cristo» sobre «as potências celestes e o cosmos inteiro» constitui «uma mensagem altamente positiva e fecunda» para o homem pagão de ontem e de hoje, explicou aos mais de quatro mil peregrinos que participaram do encontro.

«Para o mundo pagão, que acreditava em um mundo cheio de espíritos, em grande parte perigosos e contra os quais era preciso defender-se, aparecia como uma verdadeira libertação o anúncio de que Cristo era o único vencedor e de que quem estava com Cristo não tinha que temer ninguém.»

O Papa acrescentou que «o mesmo vale para o paganismo de hoje, porque também os atuais seguidores destas ideologias veem o mundo cheio de poderes perigosos. A estes é necessário anunciar que Cristo é vencedor, de modo que quem está com Cristo, quem permanece unido a Ele, não deve temer nada nem ninguém».

Iswo é importante também para os cristãos, acrescentou: «devemos aprender a enfrentar todos os medos, porque Ele está acima de toda dominação, é o verdadeiro Senhor do mundo».

Cristo, explicou o Papa, «não tem que temer nenhum eventual competidor, porque é superior a qualquer forma de poder que tentar humilhar o homem. Só Ele ‘nos amou e entregou a si mesmo por nós’ (Ef 5, 2). Por isso, se estamos unidos a Cristo, não devemos temer nenhum inimigo e nenhuma adversidade; mas isso significa também que devemos permanecer bem unidos a Ele, sem soltar!».

Isso tem outra implicação, assinalou, e é que o cosmos «tem sentido»: «não existe, por uma parte, o grande mundo material e por outra esta pequena realidade da história da nossa terra, o mundo das pessoas: tudo é um em Cristo».

Esta visão não só é «racional», mas é inclusive «a mais universalista»: «a Igreja reconhece que Cristo é maior que ela, dado que seu senhorio se estende também além de suas fronteiras».

«Tudo isso significa que devemos positivamente considerar as realidades terrenas, porque Cristo as recapitula em si, e ao mesmo tempo, devemos viver em plenitude nossa identidade específica eclesial, que é a mais homogênea à identidade do próprio Cristo», acrescentou o Papa.

Desta consciência vem aos cristãos «a força de atuar de forma reta», tanto diante dos demais como com a criação, explicou.

«Estas duas cartas são uma grande catequese, da qual podemos aprender não só como ser bons cristãos, mas também como chegar a ser realmente homens. Se começamos a entender que o cosmos é a marca de Cristo, aprendemos nossa relação reta com o cosmos, com todos os problemas de sua conservação.»

Assim também «aprendemos a vê-los com a razão, mas com uma razão movida pelo amor, e com a humildade e o respeito que permitem atuar de forma correta», acrescentou.

Por outro lado, «se pensamos que a Igreja é o Corpo de Cristo, que Cristo se deu a si mesmo por ela, aprendemos como viver com Cristo o amor recíproco, o amor que nos une a Deus e que nos faz ver ao outro como imagem de Cristo, como Cristo mesmo».

Diante deste «mistério de Cristo», afirmou o Papa, «as meras categorias intelectuais são insuficientes».

«Reconhecendo que muitas coisas estão além de nossas capacidades racionais, devemos confiar na contemplação humilde e gozosa não só da mente, mas também do coração. Os pais da Igreja, por outro lado, nos dizem que o amor compreende muito mais que a razão apenas», concluiu.

São Gregório de Nissa

Por Papa Bento XVI
Tradução: Zenit
Fonte: Vaticano/Zenit

Queridos irmãos e irmãs:

Nas últimas catequeses, falei de dois grandes doutores da Igreja do século IV, Basílio e Gregório de Nazianzeno, bispo em Capadócia, na atual Turquia. Hoje falaremos de um terceiro, o irmão de Basílio, São Gregório de Nisa, homem de caráter meditativo, com grande capacidade de reflexão e uma inteligência desperta, aberta à cultura de seu tempo. Converteu-se assim em um pensador original e profundo da história do cristianismo.

Nasceu por volta do ano 335; sua formação cristã foi atendida particularmente por seu irmão Basílio, definido por ele como «pai e mestre» (Epístola 13, 4:SC 363, 198), e por sua irmã Macrina. Em seus estudos, gostava particularmente da filosofia e da retórica. Em um primeiro momento, ele se dedicou ao ensino e se casou. Depois, como seu irmão e sua irmã, entregou-se totalmente à vida ascética. Mais tarde, foi eleito bispo de Nisa, convertendo-se em pastor zeloso, conquistando a estima da comunidade. Acusado de malversações econômicas por seus adversários hereges, teve de abandonar brevemente sua sede episcopal, mas depois regressou triunfantemente (cF. Epístola 6:SC 363, 164-170), e continuou comprometendo-se na luta por defender a autêntica fé.

Após a morte de Basílio, recolhendo sua herança espiritual, cooperou sobretudo no triunfo da ortodoxia. Participou de vários sínodos; procurou dirimir os enfrentamentos entre as Igrejas; participou na reorganização eclesiástica e, como «coluna da ortodoxia», foi um dos protagonistas do Concílio de Constantinopla do ano 381, que definiu a divindade do Espírito Santo.

Teve vários encargos oficiais por parte do imperador Teodósio, pronunciou importantes homilias e discursos fúnebres, compôs várias obras teológicas. No ano 394 voltou a participar de um sínodo que se celebrou em Constantinopla. Desconhece-se a data de sua morte.

Gregório expressa com clareza a finalidade de seus estudos, objetivo supremo ao que dedica seu trabalho teológico: não entregar a vida a coisas banais, mas encontrar a luz que permita discernir o que é verdadeiramente útil (cf. «In Ecclesiasten hom. »1: SC 416, 106-146).

Encontrou este bem supremo no cristianismo, graças ao qual é possível «a imitação da natureza divina» («De professione christiana»: PG 46, 244C). Com sua aguda inteligência e seus amplos conhecimentos filosóficos e teológicos, defendeu a fé cristã contra os hereges, que negavam a divindade do Espírito Santo (como Eunômio e os macedônios), ou questionavam a perfeita humanidade de Cristo (como Apolinário). Comentou a Sagrada Escritura, meditando na criação do homem. A criação era para ele um tema central. Ele via na criatura um reflexo do Criador e a partir daí encontrava o caminho para Deus.

Mas também escreveu um importante livro sobre a vida de Moisés, a quem apresenta como homem em caminho para Deus: esta ascensão para o Monte Sinai se converte para ele em uma imagem de nossa ascensão na vida humana para a verdadeira vida, para o encontro com Deus. Interpretou também a oração do Senhor, o Pai Nosso e as Bem-aventuranças. Em seu «Grande discurso catequético» («Oratio catechetica magna»), expôs as linhas fundamentais da teologia, não de uma teologia acadêmica, fechada em si mesma, mas ofereceu aos catequistas um sistema de referência para seus ensinamentos, como uma espécie de padrão no qual se move depois a interpretação pedagógica da fé.

Gregório também é insigne por sua doutrina espiritual. Sua teologia não era uma reflexão acadêmica, mas a expressão de uma vida espiritual de uma vida de fé vivida. Como grande «padre de mística», apresentou em vários tratados – como o «De professione christiana» e o «De perfectione christiana» – o caminho que os cristãos têm de empreender para alcançar a verdadeira vida, a perfeição.

Exaltou a virgindade consagrada («De virginitate»), e propôs um modelo insigne na vida de sua irmã Macrina, que foi para ele sempre uma guia, um exemplo (cf. «Vita Macrinae»). Pronunciou vários discursos e homilias, escreveu numerosas cartas. Comentando a criação do homem, Gregório sublinha que Deus, «o melhor dos artistas, forja nossa natureza de maneira que seja capaz do exercício da realeza. Por causa da superioridade da alma, e graças à própria conformação do corpo, faz que o homem seja realmente idôneo para desempenhar o poder régio» («De hominis opificio» 4: PG 44, 136B).

Mas vemos como o homem, na rede dos pecados, com freqüência abusa da criação e não exerce a verdadeira realeza. Por este motivo, para desempenhar uma verdadeira responsabilidade ante as criaturas, tem de ser penetrado por Deus e viver em sua luz. O homem, de fato, é um reflexo dessa beleza original que é Deus: «Tudo o que Deus criou era ótimo», escreve o santo bispo. E acrescenta: «A narração da criação testemunha isso (cf. Gêneses 1, 31). Entre as coisas ótimas também se encontrava o homem, dotado de uma beleza muito superior à de todas as coisas belas. Que outra coisa podia ser tão bela como a que era semelhante à beleza pura e incorruptível?… Reflexo e imagem da vida eterna, ele era realmente belo, mais ainda, belíssimo, com o sinal radiante da vida em seu rosto» («Homilia in Canticum» 12: PG 44, 1020).

O homem foi honrado por Deus e colocado acima de toda criatura: «O céu não foi feito à imagem de Deus, nem a lua, nem o sol, nem a beleza das estrelas, nem nada do que aparece na criação. Só tu (alma humana) foste feita à imagem da natureza que supera toda inteligência, semelhante à beleza incorruptível, marca da verdadeira divindade, espaço de vida bem-aventurada, imagem da verdadeira luz, e ao contemplar-te te convertes no que Ele é, pois por meio do raio refletido que provém de tua pureza tu imitas aquele que brilha em ti. Nada do que existe é tão grande que possa ser comparado à tua grandeza» («Homilia in Canticum 2»: PG 44, 805D).

Meditemos neste elogio do homem. Vejamos também como o homem foi degradado pelo pecado. E procuremos voltar à grandeza originária: somente se Deus está presente, o homem alcança sua verdadeira grandeza.

O homem, portanto, reconhece dentro de si o reflexo da luz divina: purificando seu coração, volta a ser, como era no início, uma imagem límpida de Deus, Beleza exemplar (cf. «Oratio catechetica 6»: SC 453, 174). Deste modo, o homem, purificando-se, pode ver Deus, como os puros de coração (cf. Mateus 5, 8):«Se, com um estilo de vida diligente e atento, lavas as fealdades que se depositaram em teu coração, resplandecerá em ti a beleza divina… Contemplando-te a ti mesmo, verás em ti o desejo de teu coração e serás feliz» («De beatitudinibus, 6»:PG 44, 1272AB). Portanto, é preciso lavar as fealdades que se depositaram em nosso coração e voltar a encontrar em nós mesmos a luz de Deus.

O homem tem como fim, portanto, a contemplação de Deus. Só nela poderá encontrar sua plenitude. Para antecipar em certo sentido este objetivo já nesta vida, tem de avançar incessantemente a uma vida espiritual, uma vida de diálogo com Deus. Em outras palavras – e esta é a lição importante que São Gregório de Nisa nos deixa – a plena realização do homem consiste na santidade, em uma vida vivida no encontro com Deus, que deste modo se torna luminosa também para os demais, também para o mundo.

ENSINAMENTOS

Eu vos proponho alguns aspectos da doutrina de São Gregório de Nisa, de quem já falamos na quarta-feira passada. Antes de tudo, Gregório manifesta uma concepção muito elevada da dignidade do homem. O fim do homem, diz o santo bispo, é o de tornar-se semelhante a Deus, e este fim se alcança sobretudo através do amor, do conhecimento e da prática das virtudes, «raios luminosos que descendem da natureza divina» («De beatitudinibus» 6: PG 44, 1272C), com um movimento perpétuo de adesão ao bem, como o corredor que tende para frente.

Gregório utiliza neste sentido uma imagem eficaz, que já estava presente na carta de Paulo aos Filipenses: «épekteinómenos» (3, 13), ou seja, «tendendo-me» para o que é maior, para a verdade e o amor. Esta expressão plástica indica uma realidade profunda: a perfeição que queremos encontrar não é algo que se conquista para sempre; perfeição é seguir o caminho, é uma contínua disponibilidade para seguir adiante, pois nunca se alcança a plena semelhança com Deus; sempre estamos a caminho (cf. «Homilia in Canticum 12»: PG 44, 1025d). A história de cada alma é a de um amor que é cumulado em cada ocasião, e que ao mesmo temo está aberto a novos horizontes, pois Deus dilata continuamente as possibilidades da alma para torná-la capaz de bens sempre maiores. O próprio Deus semeou em nós sementes de bem e d’Ele surge toda iniciativa de santidade, «modela o bloco… Limando e polindo nosso espírito forma, Cristo em nós» («In Psalmos 2», 11: PG 44, 544B).

Gregório declara: «Não é obra nossa, e não é tampouco o êxito de uma potência humana o chegar a ser semelhantes à Divindade, mas o resultado da generosidade de Deus, que desde sua origem ofereceu à nossa natureza a graça da semelhança com Ele» («De virginitate 12», 2:SC 119, 408-410). Para a alma, portanto, «não se trata de conhecer algo de Deus, mas de ter Deus em si» («De beatitudinibus 6»: PG 44,1269c). De fato, constata agudamente Gregório, «a divindade é pureza, é libertação das paixões e remoção de todo mal: se tudo isso está em ti, Deus realmente está em ti» («De beatitudinibus 6»: PG 44,1272C).

Quando temos Deus em nós, quando o homem ama Deus, por essa reciprocidade que é própria da lei do amor, quer o que Deus mesmo quer (cf. «Homilia in Canticum 9»: PG 44,956ac), e, portanto, coopera com Deus para modelar em si a imagem divina, de maneira que «nosso nascimento espiritual é o resultado de uma opção livre, e nós somos em certo sentido os pais de nós mesmos, criando-nos de uma opção livre, e nós mesmos queremos ser, e formando-nos por nossa vontade segundo o modelo que escolhemos» («Vita Moysis 2», 3: SC 1bis, 108).

Para ascender a Deus, o homem deve purificar-se: «A vida que reconduz a natureza humana ao céu não é mais que se afastar dos maus deste mundo… Tornar-se semelhante a Deus significa chegar a ser justo, santo e bom… Se, portanto, segundo o Eclesiastes (5,1), ‘Deus está no céu’ e se, segundo o profeta (Salmo 72, 28), vós ‘estais com Deus’, isso quer dizer necessariamente que tendes de estar ali onde está Deus, pois estais unidos a Ele. Dado que Ele vos ordenou que, quando rezardes, deveis chamar Deus de Pai, está vos dizendo que sejais semelhantes ao vosso Pai celestial, com uma vida digna de Deus, como o Senhor nos ordena com mais clareza em outro momento, quando diz: ‘Sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celestial’ (Mateus 5, 48)» («De oratione dominica 2»: PG 44, 1145ac).

Neste caminho de ascensão espiritual, Cristo é o modelo e o mestre que nos permite ver a bela imagem de Deus (cf. «De perfectione christiana»: PG 46,272a ). Cada um de nós, contemplando-O, se converte no «pintor da própria vida», fazendo que a vontade seja a realizadora do trabalho e as virtudes, como as pinturas das quais pode servir-se (ibidem: PG 46, 272b). Portanto, se o homem é considerado digno do nome de Cristo, como deve comportar-se? Gregório responde assim: tem de «examinar sempre em sua intimidade os pensamentos, as palavras e as ações, para ver se estão dirigidos a Cristo ou se afastam dele» (ibidem: PG 46,284c). E este ponto é importante para o valor que dá à palavra «cristão». Cristão é quem leva o nome de Cristo e, portanto, deve assemelhar-se a Ele também na vida. Nós, os cristãos com o Batismo, assumimos uma grande responsabilidade.

Pois bem, Cristo, recorda Gregório, está presente também nos pobres, de maneira que eles jamais podem ser ultrajados: «Não desprezeis aqueles que estão prostrados, como se por este motivo não valessem nada. Considera quem são e descobrirás qual é a sua dignidade: representam a Pessoa do Salvador. E assim é, pois o Senhor, em sua bondade, lhes prestou sua própria Pessoa para que, através dela, tenham compaixão por aqueles que são duros de coração e inimigos dos pobres» («De pauperibus amandis»: PG 46,460bc). Gregório, como dizíamos, fala de uma ascensão: ascensão a Deus na oração através da pureza de coração; mas ascensão a Deus também mediante o amor ao próximo. O amor é a escada que leva a Deus. Portanto, Gregório de Nisa exorta vivamente aos que o escutavam: «Sê generoso com estes irmãos, vítimas da desventura. Dá ao faminto o que tiras do teu estômago» (ibidem: PG 46,457c).

Com muita clareza, Gregório recorda que todos nós dependemos de Deus, e por isso exclama: «Não penseis que tudo é vosso! Tem de haver também uma parte para os pobres, os amigos de Deus. A verdade, de fato, é que tudo procede de Deus, Pai universal, e que somos irmãos, e pertencemos a uma mesma estirpe» (Ibidem:PG 46, 465b). Então, o cristão deve examinar-se, continua insistindo Gregório: «Mas, de que te serve jejuar e fazer abstinência, se depois com tua maldade não fazes mais que dano a teu irmão? O que ganhas, ante Deus, pelo fato de não comer do teu, se depois, atuando injustamente, arrancas das mãos do pobre o que é seu?» (Ibidem: PG 46,456a).

Concluamos nossas catequeses sobre os três grandes padres da Capadócia recordando mais uma vez esse aspecto importante da doutrina espiritual de Gregório de Nisa, que é a oração. Para avançar no caminho para a perfeição e acolher Deus em si, levando em si o Espírito de Deus, o amor de Deus, o homem tem de dirigir-se com confiança a Ele na oração: «Através da oração conseguimos estar com Deus. E quem está com Deus, está longe do inimigo. A oração é apoio e defesa da castidade, freio da ira, sossego e domínio da soberba. A oração é custódia da virgindade, proteção da fidelidade no matrimônio, esperança para quem vela, abundância de frutos para os agricultores, segurança para os navegantes» («De oratione dominica 1»:PG 44,1124A-B).

O cristão reza inspirando-se sempre na oração do Senhor: «Se, portanto, queremos pedir que desça sobre nós o Reino de Deus, pedimos com a potência da Palavra: que eu seja afastado da corrupção, que seja libertado da morte e das correntes do erro; que nunca reine sobre mim a morte, que não tenha nunca poder sobre nós a tirania do mal, que não me domine o adversário nem me torne seu prisioneiro com o pecado, mas que venha a mim teu Reino para que se afastem de mim, ou melhor ainda, se anulem as paixões que agora me dominam» (ibidem 3:PG 44,1156d-1157a).

Terminada sua vida terrena, o cristão poderá dirigir-se com serenidade a Deus. Falando disso, são Gregório pensa na morte de sua irmã Macrina e escreve que ela, no momento da morte, rezava a Deus com estas palavras: «Tu, que tens na terra o poder de perdoar os pecados, perdoa-me para que possa ter descanso (cf. Salmo 38, 14), e para que me apresente em tua presença sem mancha, no momento no qual fico despojada de meu corpo (cf. Colossenses 2, 11), de maneira que meu espírito, santo e imaculado (cf. Efésios 5, 27) seja acolhido em tuas mãos, ‘como incenso ante ti’ (Salmo 140,2)» («Vita Macrinae 24»: SC 178, 224). Este ensinamento de São Gregório continua sendo válido sempre: não podemos somente falar de Deus, mas levar Deus em nós mesmos. E o fazemos com o compromisso da oração e vivendo no espírito de amor por todos os nossos irmãos.

Representante vaticano denuncia horror de embrião híbrido humano-animal

bispo Sgreccia comenta uma nova lei britânica

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 20 de maio de 2008 (ZENIT.org).- O presidente da Academia Pontifícia para a Vida, o bispo Elio Sgreccia, confessou sua consternação ao receber a notícia da decisão do parlamento britânico de permitir a criação de embriões híbridos de homens e animais.

Os deputados britânicos aprovaram na segunda-feira à noite a utilização de embriões híbridos, criados mediante a introdução do DNA humano em óvulos de animais. Estas operações deveriam promover o desenvolvimento da medicina, segundo a proposta.

A medida foi tomada quando a Câmara dos Comuns rejeitou por 336 votos a 176 uma emenda que pretendia proibir a criação de embriões híbridos.

A proposta, segundo o prelado, é particularmente grave do ponto de vista ético, pois «antes de tudo se une através da clonagem o núcleo humano que fecunda o óvulo animal. Esta união busca uma fecundação utilizando o elemento masculino, que é o núcleo, e o elemento feminino, que é o óvulo, um do homem e outro do animal».

Este procedimento, adverte em declarações à «Rádio Vaticano», «constitui uma ofensa para a dignidade do homem. É uma tentativa de fecundação entre espécies que até agora estava proibida por todas as leis sobre fecundação artificial.

«A união homem-animal, ainda que não seja sexual, representa um dos horrores que sempre provocaram a rejeição da ética», declara, sublinhando que «cada vez que se quebrou a barreira homem-animal se viram conseqüências muito graves, inclusive involuntariamente».

Segundo a lei aprovada, os embriões híbridos à base de material genético humano e animal devem ser destruídos no máximo depois de 14 dias de desenvolvimento e sua implantação no útero de uma mulher está proibido.

Isso significa, declara o prelado, que para esta lei, os embriões que têm menos de 15 dias «não valem nada, algo que é falso desde o ponto de vista científico».

E se decidisse deixá-los em vida, «poderiam dar lugar a monstruosidades, ou promover infecções, pois a passagem do DNA humano ao DNA animal pode criar incógnitas».

O fato de que desde o ponto de vista «destas células possa sair remédio para doenças como o Parkinson ou o Alzheimer é uma hipótese que ainda não tem fundamento. Também se sabe que por outro caminho, o das células-tronco adultas, existem melhores provas científicas favoráveis.

Diante essa situação, segundo o bispo, «deve-se pedir uma espécie de conversão dos meios de comunicação: em vez de obedecer às indicações dos grupos interessados, devem obedecer à verdade. Para que criar ilusões, com objetivos de compaixão humana, sobre caminhos que não ofereceram ainda nenhum resultado?».

Assim será o consistório no qual Papa criará vinte e três novos cardeais

Dezoito serão eleitores em um eventual conclave

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 22 de novembro de 2007 (ZENIT.org).- No sábado 24, às 10h30, começará o Consistório Ordinário Público que o Santo Padre celebrará para a criação de 23 novos cardeais, 18 deles eleitores.

Seguirá o rito introduzido no Consistório de 28 de junho de 1991. Nele se prevê que, após a saudação litúrgica, o Papa leia a fórmula de criação e proclame solenemente os nomes dos novos cardeais.

O primeiro deles se dirigirá então ao Santo Padre em nome de todos.

A seguir, acontecerá a Liturgia da Palavra, a homilia do Papa, a Profissão de fé e o Juramento.

Cada novo cardeal se aproximará do Papa e se ajoelhará ante ele para receber o capelo cardinalício e a designação de um Título ou Diaconia.

Quando o Papa colocar o capelo sobre a cabeça do novo cardeal, dirá, entre outras palavras: «[Isto é] vermelho como sinal da dignidade do ofício de cardeal, e significa que estás preparado para atuar com fortaleza até o ponto de derramar teu sangue pelo crescimento da fé cristã, pela paz e harmonia entre o povo de Deus, pela liberdade e a extensão da Santa Igreja Católica Romana».

O fato de que o Papa designe a cada cardeal uma igreja de Roma («Título» ou «Diaconia») responde ao sinal de sua participação no cuidado pastoral do Papa pela cidade.

O Santo Padre também entregará a Bula de criação de cardeais, designará o Título ou Diaconia e intercambiará o beijo da paz com os novos membros do Colégio Cardinalício. Os purpurados também intercambiarão o mesmo sinal entre eles.

O rito concluirá com a oração dos fiéis, a oração do Pai Nosso e a bênção final.

Pela tarde, às 16h30, os novos purpurados receberão todos que desejarem ir às visitas de cortesia. Estão previstas em diversos pontos da Sala Paulo VI, do Palácio do Governo, do Palácio da Canônica – Fábrica de São Pedro e do Palácio Apostólico.

No dia seguinte, domingo 25 de novembro – Solenidade de Jesus Cristo, Rei do universo –, Bento XVI presidirá a Santa Missa na Praça de São Pedro, concelebrada pelos novos cardeais.

Durante a celebração eucarística, ele lhes entregará o anel cardinalício. É um presente do Santo Padre aos novos cardeais como sinal da nova dignidade, da solicitude pastoral e de uma comunhão mais sólida com a Sede de Pedro.

O Papa entrega o anel a cada cardeal dizendo: «Recebe o anel da mão de Pedro e sê conhecedor de que com o amor do Príncipe dos Apóstolos se reforça teu amor para com a Igreja».

Na segunda-feira, 26 de novembro, Bento XVI receberá em audiência, às 11h, na Sala Paulo VI, os novos cardeais com suas famílias e peregrinos.

Corresponde aos cardeais da Santa Igreja Romana eleger o Romano Pontífice – estabelece o Código de Direito Canônico; igualmente, assistem o Papa tanto colegialmente, quando são convocados para tratar juntos questões de mais importância, como pessoalmente, mediante os diferentes ofícios que desempenham ajudando o Papa sobretudo em seu governo cotidiano da Igreja universal.

Os cardeais pertencem às diferentes Congregações romanas: são considerados Príncipes do sangue, com o título de Eminência.

A Basílica de São Pedro começará a ser ornamentada na manhã da sexta-feira. Os Jardins Vaticanos contarão com a colaboração da Cooperativa Social «Il Camino» na ornamentação floral; já estão preparadas oito mil rosas e seis mil cravos junto a uma abundante seleção de plantas para abrigá-las.

Os salões reservados aos cardeais também serão decorados com outro tipo de rosas, dedicadas a Nossa Senhora.

Pregador do Papa: Espírito Santo atua no mundo

Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do domingo de Pentecostes

ROMA, sexta-feira, 25 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, solenidade de Pentecostes.

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Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra

Domingo de Pentecostes
Atos 1, 1-11; Romanos 8, 8-17; João 14, 15-16.23b-26

Na tarde de Páscoa, Jesus no cenáculo «soprou sobre eles [seus discípulos] e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo’» [Jo 20, 19-23, ndr.]. Este sopro de Cristo evoca o gesto de Deus que, na criação, «soprou sobre o homem, feito de pó do chão, um alento de vida, e tornou-se o homem um ser vivente» (Gn 2, 7). Com aquele gesto, Jesus vem dizer, portanto, que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, como deu vida à primeira criação. O Salmo responsorial sublinha este tema: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra» [Sal 103, 1-34. ndr.].

Proclamar que o Espírito Santo é criador significa dizer que sua esfera de ação não se restringe só à Igreja, mas se estende a toda a criação. Nenhum tempo, nenhum lugar estão privados de sua presença ativa. Ele atua na Bíblia e fora dela; atua antes de Cristo, no tempo de Cristo e depois de Cristo, ainda que nunca separadamente d’Ele. «Toda verdade, de onde quer que venha dita — escreveu Santo Tomás de Aquino –, vem do Espírito Santo». Certo: a ação do Espírito de Cristo fora da Igreja não é a mesma que dentro da Igreja e nos sacramentos. Lá Ele atua por poder, aqui por presença, em pessoa.

O mais importante, a propósito do poder criador do Espírito Santo, não é compreendê-lo ou explicar suas implicações, mas experimentá-lo. E o que significa experimentar o Espírito como criador? Para descobrir isso, partimos do relato da criação. «No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra era caos e escuridão acima do abismo, e um vento de Deus soprava sobre as águas» (Gn 1, 1-2). Deduz-se que o universo já existia no momento em que o Espírito intervém, mas ainda era informe e tenebroso, caos. É depois de sua ação quando o criado assume contornos precisos; a luz se separa das trevas, a terra do mar, e tudo adquire uma forma definida.

O Espírito Santo é, portanto, Aquele que permite passar — a criação — do caos ao cosmos, o que faz assim algo belo, ordenado, limpo (cosmos vem da mesma raiz que cosmético, e quer dizer belo!), realiza assim um «mundo», segundo o duplo significado dessa palavra. A ciência nos ensina hoje que este processo durou bilhões de anos, mas o que a Bíblia quer dizer-nos, com linguagem simples e imaginativa, é que a lenta evolução da vida e a ordem atual do mundo não ocorreu por acaso, obedecendo a impulsos cegos da matéria, mas por um projeto aplicado nele, desde o início pelo criador.

A ação criadora de Deus não se limita ao instante inicial; Ele está sempre em ato de criar. Aplicado ao Espírito Santo, isso significa que Ele é sempre o que faz passar do caos ao cosmos, isto é, da desordem à ordem, da confusão à harmonia, da deformidade à beleza, da velhice à juventude. Isso em todos os níveis: no macrocosmos e no microcosmos, ou seja, no universo inteiro assim como em cada homem.

Devemos crer que, apesar das aparências, o Espírito Santo atuando no mundo e o faz progredir. Quantos novos descobrimentos, não só no campo físico, mas também no moral e social! Um texto do Concílio Vaticano II diz que o Espírito Santo está atuando na evolução da ordem social do mundo («Gaudium et spes», 26). Não é só o mal que cresce, mas também o bem, com a diferença de que o mal se elimina, termina consigo mesmo, enquanto que o bem se acumula, permanece. Certamente ainda existe muito caos ao nosso redor: caos moral, político social; o mundo tem ainda muita necessidade do Espírito Santo; por isso não devemos cansar-nos de invocá-lo com as palavras do Salmo: «Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra!».

[Tradução realizada por Zenit]

Bento XVI considera que Brasil pode oferecer novo modelo de desenvolvimento

Uma «reconciliação» entre o homem e a criação, graças à relação com Deus

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 23 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Bento XVI está certo de que o Brasil, o país com o maior número de católicos, pode dar testemunho de um novo modelo de desenvolvimento.

Ao fazer um balanço de sua visita a São Paulo e Aparecida, de 9 a 13 de maio, o pontífice rememorou alguns dos momentos que trouxe em seu coração a Roma, agradecendo por isso a todo o povo brasileiro, em particular seu presidente, Luis Inácio Lula da Silva.

O Brasil, disse, é «uma nação que pode propor ao mundo o testemunho de um novo modelo de desenvolvimento: a cultura cristã pode inspirar uma ‘reconciliação’ entre os seres humanos e a criação, a partir da recuperação da dignidade pessoal na relação com Deus Pai».

Neste sentido, apresentou como modelo a Fazenda da Esperança, perto de Aparecida, que deu vida a «uma rede de comunidades de recuperação para jovens que querem sair do túnel tenebroso das drogas».

Em particular, recordou que essa comunidade conta com a presença de um mosteiro de religiosas clarissas.

«Isso me pareceu emblemático para o mundo de hoje, que precisa de uma ‘recuperação’ certamente psicológica e social, mas sobretudo profundamente espiritual», disse.

Como símbolo de desenvolvimento integral, o Papa apresentou o exemplo do primeiro santo nascido no Brasil, Antônio de Sant’Ana Galvão, a quem ele mesmo canonizou em São Paulo, e que em vida era conhecido como «homem de paz e de caridade».

«Seu testemunho é mais uma confirmação de que a santidade é a verdadeira revolução, que pode promover a autêntica reforma da Igreja e da sociedade», explicou o Papa.

Em síntese, como disse o Papa ao recordar seu encontro com os bispos brasileiros, «eu os convidei a recuperar por toda parte o estilo da primitiva comunidade cristã».

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