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Nós podemos afirmar que todas as religiões são caminhos de salvação?

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Pluralismo e tolerância são palavras bastante populares na cultura atual. Mesmo dentro de ambientes considerados dogmáticos, como a religião, os dois conceitos têm adquirido enorme espaço, a ponto de alguns ensinamentos catequéticos se tornarem, de certo modo, assuntos “politicamente incorretos”. É o caso do tema da salvação. Numa época em que domina o lobby globalista a favor do relativismo religioso, “ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja” – como denunciava o Cardeal Joseph Ratzinger, em 2005 – “muitas vezes é classificado como fundamentalismo.”

Para a elite que deseja um “governo global”, o pluralismo religioso tem grande importância. Trata-se de uma verdadeira agenda ideológica. Unificando todos os credos numa superreligião, cria-se a – errônea – sensação de que qualquer uma delas é válida para a salvação, até a mais absurda. A tática consiste na elaboração de um neopaganismo, no qual não exista nenhuma autoridade planetária que não a política. Obviamente, a doutrina católica, sobretudo a do papado, torna-se uma pedra de tropeço para estes intentos, uma vez que o ensinamento sobre a necessidade da Igreja para a salvação é um artigo irrenunciável da fé cristã.

O Magistério da Igreja, preocupado com a onda relativista, procurou esclarecer esses assuntos em várias ocasiões. O Verbo de Deus se encarnou uma única vez, somente Nele se encontra a plenitude da revelação, os meios necessários para o autêntico encontro com Deus. É através de Jesus Cristo e de sua continuação histórica na terra, ou seja, a Igreja Católica que o homem pode ser salvo. Lembrando a Declaração Dominus Iesus, “como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa” e não há outro nome debaixo do céu pelo qual a humanidade possa alcançar a salvação.

Em 2001, a Congregação para a Doutrina da fé, em nota sobre o livro “Para uma teologia cristã do pluralismo religioso”, do padre jesuíta Jacques Dupuis, elencou cinco pontos básicos e inegociáveis da doutrina católica, principalmente na temática da salvação. A Santa Sé visava corrigir certos equívocos do padre Dupuis e, ao mesmo tempo, ajudar os católicos a praticarem uma reta reflexão acerca do pluralismo e da tolerância religiosa.

O primeiro ponto aborda a doutrina de Jesus Cristo como “o único e universal mediador da salvação de toda a humanidade”. A notificação rechaça a tese de “uma ação salvífica do Verbo” alheia à Pessoa de Cristo, ou seja, “independentemente da humanidade do Verbo encarnado”. Com isso, a Congregação reafirma a supremacia do cristianismo sobre todas as outras religiões. Somente na fé cristã Deus se encarnou, sofreu e morreu na cruz pela humanidade. A ideia segundo a qual Deus teria se encarnado em todas as religiões e que Jesus seria apenas mais uma dessas encarnações é simplesmente absurda, sem qualquer respaldo teológico ou bíblico.

A notificação destaca também a unicidade e a plenitude da revelação em Jesus Cristo. É um dever de todo cristão crer firmemente na mediação de Cristo, no cumprimento e na plenitude da revelação Nele e através Dele, sendo “contrário à fé da Igreja” afirmá-la “limitada, incompleta e imperfeita”. Não há uma única verdade de fé necessária à salvação que não esteja contida na doutrina cristã. E embora existam verdades nas outras religiões, todas elas, de uma maneira ou de outra, derivam “em última análise da mediação fontal de Jesus Cristo”.

Exatamente por isso, a Sagrada Congregação, no terceiro ponto, recorda a capacidade do Espírito Santo de agir “de maneira salvífica tanto nos cristãos como nos não-cristãos”. Todavia, a mesma notificação ensina ser “contrário à fé católica pensar que a ação salvífica do Espírito Santo possa estender-se para além da única e universal economia salvífica do Verbo encarnado”. Isso quer dizer que toda ação do Espírito Santo tem por meio a Igreja – sacramento universal da salvação -, mesmo entre os não-cristãos.

O quarto pilar recorda a vocação universal do homem. Toda a humanidade foi orientada para Jesus: existe uma vocação específica dos seres humanos de todos os tempos, de todos os lugares da história para a Igreja de Cristo. Com isso, a Congregação afirma que “também os seguidores das outras religiões estão orientados para a Igreja e todos são chamados a fazer parte dela”, não sendo possível “considerar as várias religiões do mundo como vias complementares à Igreja em ordem à salvação”.

Finalmente, a notificação da Congregação para a doutrina da fé responde à pergunta central: “nós podemos afirmar que todas as religiões são caminhos de salvação?” O dicastério esclarece que se por um lado “é legítimo defender que o Espírito Santo realiza a salvação nos não-cristãos também mediante os elementos de verdade e de bondade presentes nas várias religiões”, por outro “não tem qualquer fundamento na teologia católica considerar estas religiões, enquanto tais, caminhos de salvação, até porque nelas existem lacunas, insuficiências e erros, (16) que dizem respeito a verdades fundamentais sobre Deus, o homem e o mundo”. As verdades contidas nestas religiões contribuem para a salvação dos membros enquanto verdades ligadas à Pessoa de Jesus Cristo.

Com este ensinamento a Igreja não quer dificultar o diálogo interreligioso, tampouco insuflar a intolerância. Para que exista um saudável diálogo é necessário que ambas as partes sejam sinceras e conscientes de suas identidades. Caso contrário, corre-se o risco de edificar a casa sobre a areia da mentira, condenando-a, futuramente, ao desmoronamento. Foi o que explicou o próprio Cardeal Ratzinger a propósito das polêmicas relacionadas à Declaração Dominus Iesus.

A missão da Igreja é universal, pois corresponde ao chamado do Mestre: “ide pelo mundo e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19). A salvação dos homens só acontece por meio de Jesus Cristo, na sua continuação histórica nesta terra: a Igreja Católica.

Referências

  1. Missa Pro Eligendo Romano Pontifice
  2. Declaração Dominus Iesus
  3. Notificação a propósito do livro de Jacques Dupuis “Para uma teologia cristã do pluralismo religioso”

Bento XVI pede que os jovens não tenham medo de seguir o Senhor Jesus na vocação sacerdotal

VATICANO, 15 Dez. 12 / 02:42 pm (ACI).- Em sua mensagem com motivo da próxima celebração da 50ª Jornada Mundial de oração pelas vocações, o Papa Bento XVI exortou os jovens de todo o mundo a não terem medo de seguir Jesus nem de percorrer com intrepidez os exigentes caminhos da caridade e do compromisso generoso.

A Jornada Mundial de oração pelas vocações se realiza no dia 21 de abril de 2013, IV Domingo de Páscoa, e terá como tema “As vocações, sinal da esperança fundada na fé”, e no marco do Ano da Fé e o 50 aniversário do início do Concílio Ecumênico Vaticano II.

O Santo Padre assinalou aos jovens em sua mensagem que, ao seguir Jesus, “serão felizes de servir, serão testemunhas daquele gozo que o mundo não pode dar, serão chamas vivas de um amor infinito e eterno, e aprenderão a dar razão de sua esperança”.

O Papa remarcou que é necessário para as vocações “crescer na experiência de fé, entendida como relação profunda com o Jesus, como escuta interior de sua voz, que ressona dentro de nós”.

Bento XVI indicou que a oração constante e profunda faz crescer a fé da comunidade cristã na certeza de que Deus nunca abandona o seu povo e o sustenta suscitando vocações especiais ao sacerdócio e à vida consagrada, para que sejam sinais de esperança para o mundo.

O Santo Padre afirmou que “Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e vê-nos imersos nas nossas atividades, com os nossos desejos e necessidades”.

“É precisamente no nosso dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. Vivente na comunidade de discípulos que é a Igreja, Ele chama também hoje a segui-Lo. E este apelo pode chegar em qualquer momento. Jesus repete também hoje: «Vem e segue-Me!» (Mc 10,21)”.

“Para acolher este convite, é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus, dar-Lhe verdadeiramente a precedência, antepô-Lo a tudo o que faz parte da nossa vida: família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos. Significa entregar-Lhe a própria vida, viver com Ele em profunda intimidade, por Ele entrar em comunhão com o Pai no Espírito Santo e, consequentemente, com os irmãos e irmãs. Esta comunhão de vida com Jesus é o «lugar» privilegiado onde se pode experimentar a esperança e onde a vida será livre e plena”, assinalou.

Bento XVI indicou que a resposta de um discípulo de Jesus para dedicar-se ao sacerdócio ou à vida consagrada é um dos frutos mais amadurecidos da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e esperança ao futuro da Igreja e a sua tarefa de evangelização.

Esta tarefa, disse o Santo Padre, sempre necessita de novos operários para a predicação do Evangelho, a celebração da Eucaristia e o sacramento da reconciliação.

Sabedoria 2, 12-20: A profecia cumprida em Jesus Cristo

Fonte: Apologistas Católicos

Muitos protestantes dizem que os livros deuterocanônicos são apócrifos. Em outras palavras, para eles esses livros não são Escritura e inspirados por Deus. Uma das razões para isso,  é que dizem que não haviam profetas em qualquer um desses livros, eis alguns exemplos:

Ron Rhodes, em seu livro, “Reasoning from the Scriptures with Catholics”, p. 33 escreve:

Além disso, nenhum livro apócrifo foi escrito por um verdadeiro profeta ou apóstolo de Deus … Além disso, nenhum livro apócrifo contém profecia preditiva, que teria servido para confirmar a inspiração divina.”

Norman Geisler e Ralph E. em “Roman Catholics and Evangelicals: Agreements and Differences” p. 167, escreve:

Há fortes evidências de que os livros apócrifos não são proféticos. Mas desde que profecia é o teste para canonicidade, isso elimina os apocrifos do cânon

É bem dificil acreditar que qualquer um deles tenha estabelecido o cânon das escrituras, usando o teste de que para  que um livro fosse inspirado,  tivesse que conter uma profecia, primeiro eles teriam que provar que profecia o livro de Ester, Rute e etc.. contém.

No entanto, apesar da alegaçào protestante no Livro da Sabedoria capítulo 2 versículos de 12-20 é uma das mais claras passagens que contem uma profecia e apontam para uma pessoa que iria chamar-se Filho de Deus, que seria condenado à morte por pessoas invejosas. O texto diz:

12. Cerquemos o justo, porque nos incomodai e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação. 13. Declara ter o conhecimento de Deus e se diz filho do Senhor;14. ele se tornou acusador de nossos pensamentos, basta vê-lo para nos importunarmos; 15. sua vida se distingue da dos demais e seus caminhos são todos diferentes.16. Ele nos tem em conta de bastardos; de nossas vias se afasta, como se contaminassem. Proclama feliz o destino dos justos e se gloria de ter a Deus por pai. 17. Vejamos se suas palavras são verdadeiras, experimentemos o que será do seu fim.18. Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários. 19.  Experimentemo-lo pelo ultraje e pela tortura para apreciar a sua serenidade e examinar a sua resignação. 20. Condenemo-lo a uma morte vergonhosa, pois diz que há quem o visite.” (Sabedoria 2, 12 – 20)

Estas profecias acima só são encontradas no capítulo 2 da Sabedoria. Vamos verso a verso, cameçando pelo versículo 12: 

Cerquemos o justo, porque nos incomodai e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação.” (Sabedoria 2, 12)

Um homem justo que censurar os líderes e sua educação. Vejamos como isso se cumpre em Jesus:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas […] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.” (Mateus23, 23.27-28)

Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós pratica a Lei. Por que procurais matar-me?” A multidão respondeu: “‘Tens um demônio. Quem procura matar-te?’” (João 7, 19-20)

Jesus, como em Sabedoria 2, 12, é um homem justo, na verdade, perfeitamente justo. Ele condena os escribas como infratores da lei, os chama de hipocritas e  ‘repreendeu-os por suas faltas conta a lei’ como em Mateus 23, 27-28. Ele os chama de infratores, e ele diz que tentarão matá-lo… Sabedoria 2, 12, fala também de homens à espreita para pegar o justo e em Mateus 26, 3 – 4 vemos os sumos sacerdotes e os anciãos fazendo o seguinte:  

Então os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo congregaram-se no pátio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, e decidiram juntos que prenderiam a Jesus por um ardil e o matariam.” (Mateus 26, 3-4)

Ele foi recebido como um rei pelo povo (João 12, 12-15) e por isso os governantes não poderiam fazer isso durante o dia. Jesus repreendeu-os pela quebra da lei, e os acusou de hipocrisia, então os líderes religiosos se ofenderam. O que Jesus faz para os deixarem assim? Ele expôs a sua hipocrisia. Ele os chama de infratores da lei, e que não mantem o coração da lei, como as passagens acima mostram.

Vejamos o versículo seguinte, Sabedoria 2, 13:

“Declara ter o conhecimento de Deus e se diz filho do Senhor;” (Sabedoria 2, 13)

O homem justo afirma ter conhecimento de Deus, e de fato ele tem o conhecimento exclusivo de Deus. Ele professa ser um filho de Deus. Vejamos o que diz o evangelho:

e vós não o conheceis, mas eu o conheço; e se eu dissesse ‘Não o conheço’, seria mentiroso, como vós. Mas eu o conheço e guardo sua palavra” (João 8, 55)

Jesus conhece o Pai, de uma maneira única, o conhece melhor do que seus adversários, e também os chama de seguidores do diabo (Jo 8, 44).

Como mostra a Sabedoria 2, 13, ele diz ser filho de Deus, como ele se refere a Seu Pai. Jesus se refere a seu Pai, muitas vezes, como “Meu Pai” (Ver João 8, 38, 49, 54, 10, 19, 25, 29, etc), significando uma relação especial com Deus, o Pai. Ele chama a si mesmo de Filho de Deus , João 3, 18:

Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.(João 3, 18)

Vejamos também como ele se refere a si mesmo como o Filho de Deus em João 5, 25

Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora — e é agora — em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que o ouvirem, viverão.” (João 5, 25)

Ele se auto denomina Filho de Deus, justamente como a Sabedoria 2, 13 predisse.

Vamos ao próximo versículo em Sabedoria 2, 14:

“ele se tornou acusador de nossos pensamentos…”(Sabedoria 2, 14)

O novo testamento relata:

Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: ‘Por que tendes esses maus pensamentos em vossos corações?’”  (Mateus 9, 4)

Os escribas e os fariseus observavam-no para ver se ele o curaria no sábado, e assim encontrar com que o acusar. Ele, porém, percebeu seus pensamentos e disse ao homem da mão atrofiada: ‘Levanta-te e fica de pé no meio de todos’. Ele se levantou e ficou de pé. Jesus lhes disse: ‘Eu vos pergunto se, no sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou arruiná-la’. Correndo os olhos por todos eles, disse ao homem: ‘Estende a mão’. Ele o fez, e a mão voltou ao estado normal. Eles, porém, se enfureceram e combinavam o que fariam a Jesus.” (Lucas 6, 7-11)

Jesus leu os pensamentos de seus acusadores, repreendeu-os por esses pensamentos, e eles reagiram conspirarando para destruir Jesus.

Vamos dar uma olhada no próximo versículo Sabedoria 2, 15:

 “… basta vê-lo para nos importunarmos; sua vida se distingue da dos demais e seus caminhos são todos diferentes.”

O homem justo não fará como outros líderes “religiosos” fizeram. Vejamos o evangelho:

Nesse tempo, chegaram-se a Jesus fariseus e escribas vindos de Jerusalém e disseram: “Por que os teus discípulos violam a tradição dos antigos? Pois que não lavam as mãos quando comem”. Ele respondeu-lhes: ‘E vós, por que violais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Com efeito, Deus disse: Honra pai e mãe e Aquele que maldisser pai ou mãe certamente deve morrer. Vós, porém, dizeis: Aquele que disser ao pai ou à mãe ‘Aquilo que de mim poderias receber foi consagrado a Deus’, esse não está obrigado a honrar pai ou mãe. E assim invalidastes a Palavra de Deus por causa da vossa tradição.

Como a Sabedoria 2 previa, ele não seguiu a falsa tradição dos fariseus, e eles viram suas ações como estranhas. Ele curou no sábado, e que foi ‘estranho’ a eles:

E entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. E o observavam para ver se o curaria no sábado, para o acusarem. Ele disse ao homem da mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui para o meio”. E perguntou-lhes: “É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?” Eles, porém, se calavam. Repassando estão sobre eles um olhar de indignação. E entristecido pela dureza do coração deles, disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu, e sua mão estava curada. Ao se retirarem, os fariseus com os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o destruiriam.(Marcos 3, 1-6)

Novamente, eles procuram destruí-lo, como mencionado em Sabedoria 2, 12, e consideraram como “estranho”  ele curar no sábado.

Os escribas e os fariseus começaram a raciocinar:Quem é este que diz blasfêmias? Não é só Deus que pode perdoar pecados?’ Jesus, porém, percebeu seus raciocínios e respondeu-lhes: ‘Por que raciocinais em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados estão perdoados, ou: Levanta-te e anda? Pois bem! Para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados na terra, eu te ordeno — disse ao paralítico — levanta-te, toma tua maca e vai para tua casa’. E no mesmo instante, levantando-se diante deles, tomou a maca onde estivera deitado e foi para casa, glorificando a Deus. O espanto apoderou-se de todos e glorificavam a Deus. Ficaram cheios de medo e diziam: ‘Hoje vimos coisas estranhas!(Lucas 5, 21-26)

Foi estranho para os fariseus Jesus ter alegado a autoridade para perdoar pecados. E o que o povo assistiu foi ‘estranho’, ‘diferentr’. Esta é uma realização da Sabedoria 2, 15.

Vamos ao próximo versículo Sabedoria 2, 16:

Ele nos tem em conta de bastardos; (1) de nossos caminhos se afasta, como se contaminassem. (2) Proclama feliz o destino dos justos e se gloria de (3) ter a Deus por pai.”

Vamos analisar cada uma destas três características neste verso: Então, o justo irá considerar seus adversários maus, e evitará o seus caminhos. Ele se chamará o o caminho do justo de feliz, e chamará a Deus por Pai. Foram destacas essas 3 coisas específicas. Ele evita os seus caminhos como impuros, ele chama feliz o caminho do justo, e chama a Deus por Pai.

“O Senhor, porém, lhe disse: ‘Agora vós, ó fariseus! Purificais o exterior do copo e do prato, e por dentro estais cheios de rapina e de perversidade! Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai o que tendes em esmola e tudo ficará puro para vós!’” (Lucas 11, 39-41)

1) Vemos nesta passagem que Jesus se refere o caminho dos fariseus como imundos, e como eles são hipócritas. Estão cheio de rapina e perversidade, eles são impuros. Jesus nos diz para sermos limpo, dando esmolas e sendo justos. Então Jesus diz às pessoas para evitarem os seus caminhos, porque eles são hipocritas. Isso se encaixa com a profecia da Sabedoria 2.

Vejamos a  parte 2 da realização da Sabedoria 2, 16, Mateus 5, 10:

“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus 5, 10) 

2) Jesus ensina que aqueles que os que buscam a justiça serão felizes, e como eles estarão no reino de Deus, como previsto em  Sabedoria 2, 16.

Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. (Lucas 10, 22)

3) Jesus chama a Deus como seu Pai, assim como Sabedoria 2, 16 preveu. Assim, vemos três idéias neste versículo, cumpridas na vida de Cristo nos evangelhos.

Vejamos as passagens finais desta seção, Sabedoria 2, 17-20.

Vejamos se suas palavras são verdadeiras, experimentemos o que será do seu fim. Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários. Experimentemo-lo pelo ultraje e pela tortura para apreciar a sua serenidade e examinar a sua resignação. Condenemo-lo a uma morte vergonhosa, pois diz que há quem o visite.” (Sabedoria 2, 17-20)

Agora, vamos comparar com o evangelho. Agora, em Mateus 27, 41-43, vemos o seguinte:

Do mesmo modo, também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e anciãos, caçoavam dele: ‘A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! Rei de Israel que é, que desça agora da cruz e creremos nele! Confiou em Deus: pois que o livre agora, se é que se interessa por ele! Já que ele disse:  Eu sou filho de Deus’”. (Mateus 27, 41-43)

Sabedoria 2, 17 diz que eles verão se suas palavras são verdadeiras, no final de sua vida. Os adversários de Jesus tiveram a idéia que se ele estivesse dizendo a verdade, ele desceria da cruz e Mt. 27, 42 diz:  “desça agora da cruz e nós creremos nele!

Sabedoria 2, 18 diz que se ele realmente é o Filho de Deus, Deus vai livrá-lo,e  Mateus. 27, 43 diz que se ele é o Filho de Deus, ele vai livra-lo:

Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!(Mateus 27, 43)

Agora, nesta passagem, alguém verá em uma Bíblia protestante, uma referência de Mateus 27:43 ao Salmo 22, 8. Isso é porque há uma menção de “bem, se Deus está com ele, ele vai livrá-lo”(Salmo. 22, 8). Não há dúvida que também é uma referência a este Salmo,  no entanto, não é uma referência completa. Apenas em Sabedoria 2, 18, vemos onde, especificamente, disse que “Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários.”. Essa é uma referência muito mais completa.

Sabedoria 2, 19 relata que ele será insultado, eles zombam dele, já em Mateus 27, 43 e em verso semelhante em Lucas 23, 35-37, lemos:

O povo permanecia lá, a olhar. Os chefes, porém, zombavam e diziam:  ‘A outros salvou, que salve a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito!’. Os soldados também caçoavam dele; aproximando-se, traziam-lhe vinagre, e diziam: ‘Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo’.” (Lucas 23, 35-37)

Eles insultam e zombam dele, tal como previsto em  Sabedoria 2, 19.

Finalmente, Sabedoria 2, 20 indica que ele será condenado à morte. Ele é condenado à morte na cruz, como se fosse um criminoso comum. Dois criminosos morrem com ele, um à esquerda e um à sua direita.

Podemos ver nessa passagem de Sabedoria 2, 12-20, uma das razões por que os judeus decidiram, em Jâmnia em 90 d.C, não permitir os livros deuterocanônicos. Esta passagem em Sabedoria 2 tem muitas facetas que são cumpridas em Jesus Cristo. Ele era um homem justo. Ele conhecia Deus de uma maneira especial. Ele foi um dos que condenou os líderes religiosos da época, que procuraram em segredo prender Jesus. Ele chamou a Deus por Pai. Chamou os fariseus de hipocritas. Seus caminhos eram “estranhos”. Ele leu seus pensamentos. Ele afirmava ser filho de Deus. Ele foi ridicularizado e torturado, e foi condenado à morte como um criminoso comum, e hostilizado por seus adversários. Esta passagem é cumprida de muitas maneiras em Jesus Cristo. E somente em Jesus Cristo.

Sabedoria 13 é também usada por Paulo em seus escritos em Romanos 1, 18-23. Existem outras alusões à Sabedoria em outras partes do Novo Testamento. No entanto, esta profecia de Sabedoria 2 da vida e morte de Jesus é um testemunho mais poderoso da verdade de quem é Jesus. Isso é muita coisa para qualquer idéia de que não há profecias contidas nos livros deuterocanônicos.

Para Citar:


Matt. Apologistas Católicos. Sabedoria 2, 12-20: A profecia cumprida em Jesus Cristo. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/527-sabedoria-2-12-20-a-profecia-cumprida-em-jesus-cristo>. Desde 28/06/2012.

 

O problema do mal

Por Dom Murilo Krieger

SALVADOR, terça-feira, 26 de julho de 2011 (ZENIT.org) – “Você acredita em Deus?” Com essa pergunta, a jornalista terminava uma longa entrevista com um conhecido esportista nacional. A resposta que ele lhe deu chamou minha atenção, porque expressa o que muita gente pensa a respeito do problema do mal. O drama e a angústia do esportista são a angústia e o drama de inúmeras pessoas, em situações, épocas e lugares diferentes: “É difícil dizer que acredito em Deus. Quanto mais desgraças vejo na vida, menos acredito em Deus. É uma confusão na minha cabeça; não encontro explicação para o que acontece. Por que é que meu filho nasce em berço de ouro, enquanto outro, infeliz, nasce para sofrer, morrer de doença, e há tudo isso de triste que a gente vê na vida? É uma coisa que não entendo e, como não tenho explicação, é difícil de acreditar em um Ser superior.”

O mal, o sofrimento e a doença fazem parte de nosso cotidiano. As injustiças, a fome e a dor são tão frequentes em nosso mundo que parecem ser normais e obrigatórias. Fôssemos colocar em uma biblioteca todos os livros já escritos para tentar explicar o porquê dessa realidade, ficaríamos surpresos com sua quantidade.

Para o cristão, mais do que um culpado, o mal tem uma causa: a liberdade. Fomos criados livres, com a possibilidade de escolher nossos caminhos. Podemos, pois, fazer tanto o bem quanto o mal. Se não tivéssemos inteligência e vontade, não existiria o mal no mundo; se fossemos meros robôs, também não. Por outro lado, sem liberdade não haveria o bem e nem saberíamos o que é um gesto de amor. Também não conheceríamos o sentido de palavras como gratidão, amizade, solidariedade e lealdade.

O mal nasce do abuso da liberdade ou da falta de amor. Nem sempre ele é feito consciente ou voluntariamente. Quanto sofrimento acontece por imprudência! Poderíamos recordar os motoristas que abusam da velocidade ou que dirigem embriagados, e acabam mutilando e matando pessoas inocentes. Não é da vontade de Deus que isso aconteça. Mas Ele não vai corrigir cada um de nossos erros e descuidos. Não impedirá, por exemplo, que o gás que ficou ligado na casa fechada asfixie o idoso que ali dorme. Repito: Deus não intervém a todo momento para modificar as leis da natureza ou para corrigir os erros humanos.

O que mais nos angustia, talvez pela gravidade das consequências, é o mal causado pela violência, pelo ódio e egoísmo. Os assassinatos e roubos, os sequestros e acidentes, as guerras e destruições são como que pegadas da passagem do homem pelo mundo. O mal acontece porque usamos de forma errada nossa liberdade ou não aceitamos o plano de Deus, expresso nos mandamentos. Quando nos deixamos levar pelo egoísmo e seguimos nossas próprias ideias, construímos o nosso mundo, não o mundo desejado por Deus para nós.

Outro imenso campo de sofrimento é o das injustiças. Quantos se aproveitam de sua posição e de seu poder para se enriquecer sempre mais, à custa da miséria dos fracos e do sofrimento dos indefesos! Terrível poder o nosso: podemos fechar-nos em nosso próprio mundo e contemplar, indiferentes, a desgraça dos outros.

Não se pode, também, esquecer o mal causado pela natureza, quando suas leis não são respeitadas. Com muita propriedade, o povo diz: “Deus perdoa sempre; o homem, nem sempre; a natureza, nunca!” A devastação das florestas e a contaminação das águas fluviais trazem consequências inevitáveis, permanentes e dolorosas para a vida da humanidade. Culpa de Deus?…

Diante do mal, não podemos ter uma atitude de mera resignação. Cristo nos ensina a lutar, combatendo o mal em suas causas. O bom uso da liberdade e a prática do bem nos ajudarão a construir o mundo que o Pai sonhou para nós. Descobriremos, então, que somos muito mais responsáveis por nossos atos do que imaginamos. Fugir dessa responsabilidade, procurando fora de nós a culpa de nossos erros é uma atitude cômoda, ineficiente e incoerente. Assumirmos a própria história, colocando nossas capacidades a serviço dos outros, é uma tarefa exigente, sim, mas que nos dignifica e nos realiza como seres humanos e filhos de Deus.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj, é arcebispo de São Salvador da Bahia

Novo livro do Papa é testemunho fascinante, comovedor e liberador

VATICANO, 11 Mar. 11 / 02:33 pm (ACI)

O Prefeito da Congregação para os Bispos no Vaticano, Cardeal Marc Ouellet, disse que o novo livro do Papa Bento XVI sobre Jesus é “um testemunho comovedor, fascinante e libertador” enquanto que para o diretor do jornal do Vaticano L’Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, “é verdadeiramente um livro do coração”.

Na apresentação do livro ontem no Vaticano, o Cardeal Ouellet disse que embora o texto do Papa “Jesus de Nazaré. Da entrada a Jerusalém à Ressurreição” é “bastante denso”, este texto “lê-se por inteiro sem interrupções”.

Ao ler o livro “o leitor é transportado por caminhos levantados para o emocionante encontro com Jesus, uma figura familiar que se revela ainda mais próxima em sua humanidade como em sua divindade. Completada a leitura, quer prosseguir o diálogo, não só com o autor, mas com Aquele de quem fala”.

Jesus de Nazaré, exclamou, “é mais que um livro, é um testemunho comovedor, fascinante e libertador. Quanto bem suscitará entre os peritos e entre os fiéis!”

O Cardeal comentou logo que este livro vem sendo escrito desde 2007 em meio de uma série de experiências complicadas para a Igreja.

“Como teólogo e pastor tenho a sensação de viver um momento histórico de grande transcendência teológica e pastoral. É como se em meio das ondas que agitam a barca da Igreja, Pedro, tivesse obstinado uma vez mais a mão do Senhor que vem ao encontro sobre as águas, para nos salvar”.

Nesta segunda parte o Papa toma o método de exegese de Santo Tomás de Aquino, no qual é “guiado pela hermenêutica da fé, mas tendo em conta ao mesmo tempo e responsavelmente a razão histórica, necessariamente contida nesta mesma fé”.

“Um segundo tema se relaciona com o messianismo de Jesus. Certos exegetas modernos têm feito de Jesus um revolucionário, um professor de moral, um profeta escatológico, um rabino idealista, um louco de Deus, um messias de qualquer modo a imagem de seu intérprete influenciado por ideologias dominantes”.

O Cardeal ressaltou que a explicação do Papa supera todas estas visões e “expõe com força e claridade as dimensões reais e sacerdotais deste messianismo” cujo sentido está na adoração a Deus envolvendo toda a existência.

Bento XVI também “responde amplamente às objeções históricas e críticas mostrando a coerência do sacerdócio novo de Jesus com o culto novo que Ele veio estabelecer na terra em obediência ao Pai”.

Um último tema do livro, diz logo o Prefeito, é a ressurreição: “o Papa responde às elucubrações exegéticas que declaram compatíveis o anúncio da ressurreição de Cristo e a permanência de seu cadáver no sepulcro”.

“Exclui estas absurdas teorias observando que o sepulcro vazio, mesmo que não fosse uma prova da ressurreição, da qual ninguém foi testemunha direta, segue sendo um sinal, um pressuposto, uma marca deixada na história de um evento transcendente”.

O Cardeal Ouellet ressaltou logo que “a importância histórica da ressurreição se manifesta “no testemunho das primeiras comunidades que deram vida à tradição do domingo como sinal identificador de pertença ao Senhor”.

O Prefeito concluiu sua apresentação assinalando que “ao final desta rápida passagem por uma obra que aproxima o leitor do verdadeiro rosto de Deus em Jesus Cristo, não resta outra coisa que dizer: Obrigado, Santo Padre!”

Por outra parte, Giovanni Maria Vian, diretor do jornal do Vaticano L’Osservatore Romano, assinala sobre esta segunda parte de “Jesus de Nazaré” que este é “verdadeiramente um livro do coração”. “Trata-se de outro modo de indicar que o livro é o resultado de um longo caminho interior”.

“Um amadurecimento do coração levou Joseph Ratzinger a conceber a idéia e logo a desenvolvê-la ao longo de muitos anos”.

Entretanto, conclui, “isto não significa que de nenhum modo um decaimento da razão nesta busca inesgotável destes quase dois milênios que fascina e inquieta. Busca que nos últimos séculos se revestiu de novas exigências”.

Fé e ciência, diálogo necessário

Colóquio entre Dom Ravasi e o geneticista Axel Kahn

ROMA, terça-feira, 6 de outubro de 2009 (ZENIT.org).- “Excluir a razão ou não admitir nada mais que a razão” são os dois excessos a evitar ao confrontar fé e ciência, afirmou o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, tomando um pensamento do filósofo Pascal.

O prelado falou durante um debate com o geneticista Axel Kahn, presidente da Universidade Paris-Descartes, realizado na sexta-feira passada na embaixada francesa na Santa Sé.

O evento realizou-se por iniciativa da embaixada, em colaboração com a Delegação da Comissão europeia na Santa Sé.

Dois excessos que devem substituir-se por “dois olhares, a ciência e a fé”, ambas necessárias “para uma visão completa da realidade que se explora”, disse Dom Ravasi.

Para o arcebispo, a relação entre ciência e fé deve dar-se “na distinção e no diálogo”.

Cada uma delas cobre “âmbitos diferentes, com caminhos autônomos e diferentes metodologias”, mas ambas “têm necessidade uma da outra para se completar na mente de uma pessoa que pensa”, afirmou.

Dom Ravasi disse que “a tentação no Ocidente é, por um lado, burlar-se vendo a teologia como um produto da paleontologia cultural destinado a ser abandonado com o advento da ciência e, por outro, impor à ciência alguns limites fundamentados sobre afirmações teológicas”.

Pregador do Papa apresenta dois caminhos possíveis para toda vida

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingo

ROMA, sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, VI do Tempo Comum.

* * *

Bem-aventurados vós, os pobres! Ai de vós, os ricos!

VI Domingo do Tempo Comum [C] Jeremias 17, 5-8; I Coríntios 15, 12. 16-20; Lucas 6, 17. 20-26

A página do Evangelho deste domingo, as bem-aventuranças, nos permite verificar algumas coisas que dissemos, com anterioridade, acerca da historicidade dos evangelhos [Zenit, 19 de janeiro de 2007, ndt]. Dizíamos naquela ocasião que, ao referir as palavras de Jesus, cada um dos quatro evangelistas, sem trair seu sentido fundamental, desenvolveu um aspecto ao invés de outro, adaptando-as às exigências da comunidade para a qual escrevia.

Enquanto Mateus refere oito bem-aventuranças pronunciadas por Jesus, Lucas refere só quatro. Em compensação, contudo, Lucas reforça as quatro bem-aventuranças, opondo a cada uma delas uma maldição introduzida por um «ai!». Mais ainda: enquanto o discurso de Mateus é indireto: «Bem-aventurados os pobres!», o de Lucas é direto: «Bem-aventurados vós, os pobres!». Mateus acentua a pobreza espiritual («bem-aventurados os pobres de espírito), Lucas acentua a pobreza material («bem-aventurados vós, os pobres»).

Mas são detalhes que não alteram no mais mínimo, como se vê, a substância das coisas. Cada um dos dois evangelistas, com seu modo particular de referir o ensinamento de Jesus, sublinha um aspecto novo, que de outra forma teria ficado na sombra. Lucas é menos completo no número das bem-aventuranças, mas recolhe perfeitamente seu significado de fundo.

Quando se fala das bem-aventuranças, o pensamento vai direto à primeira delas: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus». Mas, na verdade, o horizonte é muito mais amplo. Jesus traça, nesta página, dois modos de conceber a vida: ou «pelo Reino de Deus» ou «pela própria consolação», isto é, ou em função exclusivamente desta vida ou em função da vida eterna. Isso é o que evidencia o esquema de Lucas: «Bem-aventurados vós — ai de vós»: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus… Ai de vós, os ricos, porque haveis recebido vosso consolo».

Duas categorias, dois mundos. À categoria dos bem-aventurados pertencem os pobres, os famintos, os que agora choram e os que são perseguidos e proscritos por causa do Evangelho. À categoria dos desventurados pertencem os ricos, os saciados, os que agora riem e os que são tratados na palma da mão por todos.

Jesus não canoniza simplesmente todos os pobres, os que padecem fome, os que choram e são perseguidos, como não depõe simplesmente todos os ricos, os saciados, os que riem e são aplaudidos. A distancia é mais profunda; trata-se de saber sobre que coisa se fundamenta sua própria segurança, sobre que terreno está construindo o edifício de sua vida: se sobre aquele que passa ou sobre aquele que não passa.

A página de hoje do Evangelho é verdadeiramente uma espada de dois gumes: separa, traça dois destinos diametralmente opostos. É como o meridiano de Greenwich, que divide o leste do oeste do mundo. Mas, por sorte, com uma diferença essencial. O meridiano de Greenwich está fixo: as terras que estão ao leste não podem passar ao oeste, como está fixo o equador que divide o sul pobre do mundo rico e opulento. A linha que divide, em nosso Evangelho, os «bem-aventurados» dos «desventurados» não é assim; é uma barreira móvel, absolutamente possível de atravessar. Não só se pode passar de um setor ao outro, mas toda esta página do Evangelho foi pronunciada por Jesus para convidar-nos e animar-nos a passar de uma à outra esfera. O seu não é um convite a tornar-nos pobres, mas ricos! «Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus». Pensemos: pobres que possuem um reino, e o possuem já desde agora! Aqueles que decidem entrar neste reino são, com efeito, desde agora filhos de Deus, são livres, são irmãos, estão cheios de esperança de imortalidade. Quem não desejaria ser pobre desta forma?

[Tradução realizada por Zenit]

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