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Pluralismo e tolerância são palavras bastante populares na cultura atual. Mesmo dentro de ambientes considerados dogmáticos, como a religião, os dois conceitos têm adquirido enorme espaço, a ponto de alguns ensinamentos catequéticos se tornarem, de certo modo, assuntos “politicamente incorretos”. É o caso do tema da salvação. Numa época em que domina o lobby globalista a favor do relativismo religioso, “ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja” – como denunciava o Cardeal Joseph Ratzinger, em 2005 – “muitas vezes é classificado como fundamentalismo.”
Para a elite que deseja um “governo global”, o pluralismo religioso tem grande importância. Trata-se de uma verdadeira agenda ideológica. Unificando todos os credos numa superreligião, cria-se a – errônea – sensação de que qualquer uma delas é válida para a salvação, até a mais absurda. A tática consiste na elaboração de um neopaganismo, no qual não exista nenhuma autoridade planetária que não a política. Obviamente, a doutrina católica, sobretudo a do papado, torna-se uma pedra de tropeço para estes intentos, uma vez que o ensinamento sobre a necessidade da Igreja para a salvação é um artigo irrenunciável da fé cristã.
O Magistério da Igreja, preocupado com a onda relativista, procurou esclarecer esses assuntos em várias ocasiões. O Verbo de Deus se encarnou uma única vez, somente Nele se encontra a plenitude da revelação, os meios necessários para o autêntico encontro com Deus. É através de Jesus Cristo e de sua continuação histórica na terra, ou seja, a Igreja Católica que o homem pode ser salvo. Lembrando a Declaração Dominus Iesus, “como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa” e não há outro nome debaixo do céu pelo qual a humanidade possa alcançar a salvação.
Em 2001, a Congregação para a Doutrina da fé, em nota sobre o livro “Para uma teologia cristã do pluralismo religioso”, do padre jesuíta Jacques Dupuis, elencou cinco pontos básicos e inegociáveis da doutrina católica, principalmente na temática da salvação. A Santa Sé visava corrigir certos equívocos do padre Dupuis e, ao mesmo tempo, ajudar os católicos a praticarem uma reta reflexão acerca do pluralismo e da tolerância religiosa.
O primeiro ponto aborda a doutrina de Jesus Cristo como “o único e universal mediador da salvação de toda a humanidade”. A notificação rechaça a tese de “uma ação salvífica do Verbo” alheia à Pessoa de Cristo, ou seja, “independentemente da humanidade do Verbo encarnado”. Com isso, a Congregação reafirma a supremacia do cristianismo sobre todas as outras religiões. Somente na fé cristã Deus se encarnou, sofreu e morreu na cruz pela humanidade. A ideia segundo a qual Deus teria se encarnado em todas as religiões e que Jesus seria apenas mais uma dessas encarnações é simplesmente absurda, sem qualquer respaldo teológico ou bíblico.
A notificação destaca também a unicidade e a plenitude da revelação em Jesus Cristo. É um dever de todo cristão crer firmemente na mediação de Cristo, no cumprimento e na plenitude da revelação Nele e através Dele, sendo “contrário à fé da Igreja” afirmá-la “limitada, incompleta e imperfeita”. Não há uma única verdade de fé necessária à salvação que não esteja contida na doutrina cristã. E embora existam verdades nas outras religiões, todas elas, de uma maneira ou de outra, derivam “em última análise da mediação fontal de Jesus Cristo”.
Exatamente por isso, a Sagrada Congregação, no terceiro ponto, recorda a capacidade do Espírito Santo de agir “de maneira salvífica tanto nos cristãos como nos não-cristãos”. Todavia, a mesma notificação ensina ser “contrário à fé católica pensar que a ação salvífica do Espírito Santo possa estender-se para além da única e universal economia salvífica do Verbo encarnado”. Isso quer dizer que toda ação do Espírito Santo tem por meio a Igreja – sacramento universal da salvação -, mesmo entre os não-cristãos.
O quarto pilar recorda a vocação universal do homem. Toda a humanidade foi orientada para Jesus: existe uma vocação específica dos seres humanos de todos os tempos, de todos os lugares da história para a Igreja de Cristo. Com isso, a Congregação afirma que “também os seguidores das outras religiões estão orientados para a Igreja e todos são chamados a fazer parte dela”, não sendo possível “considerar as várias religiões do mundo como vias complementares à Igreja em ordem à salvação”.
Finalmente, a notificação da Congregação para a doutrina da fé responde à pergunta central: “nós podemos afirmar que todas as religiões são caminhos de salvação?” O dicastério esclarece que se por um lado “é legítimo defender que o Espírito Santo realiza a salvação nos não-cristãos também mediante os elementos de verdade e de bondade presentes nas várias religiões”, por outro “não tem qualquer fundamento na teologia católica considerar estas religiões, enquanto tais, caminhos de salvação, até porque nelas existem lacunas, insuficiências e erros, (16) que dizem respeito a verdades fundamentais sobre Deus, o homem e o mundo”. As verdades contidas nestas religiões contribuem para a salvação dos membros enquanto verdades ligadas à Pessoa de Jesus Cristo.
Com este ensinamento a Igreja não quer dificultar o diálogo interreligioso, tampouco insuflar a intolerância. Para que exista um saudável diálogo é necessário que ambas as partes sejam sinceras e conscientes de suas identidades. Caso contrário, corre-se o risco de edificar a casa sobre a areia da mentira, condenando-a, futuramente, ao desmoronamento. Foi o que explicou o próprio Cardeal Ratzinger a propósito das polêmicas relacionadas à Declaração Dominus Iesus.
A missão da Igreja é universal, pois corresponde ao chamado do Mestre: “ide pelo mundo e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19). A salvação dos homens só acontece por meio de Jesus Cristo, na sua continuação histórica nesta terra: a Igreja Católica.