17. Letra R

RABI
Título respeitoso que recebiam os doutores da Lei. O termo é hebraico e significa "mestre" (Mt 26,25; Mc 10,51; Jo 3,26). Jesus criticou este uso do termo (Mt 23,7s).

RECONCILIAÇÃO
Processo pelo qual se restabelecem as relações de amizade entre homens ou entre Deus e o homem, ou o povo de Deus. Deus oferece perdão e o homem lhe responde pedindo perdão e cumprindo ritos de expiação para aplacá-lo. Esta reconciliação foi obtida de modo perfeito pelo sacrifício de Cristo na cruz (Hb 9-10). Ver "Expiação".

REDENÇÃO
O termo vem do latim redimere, "pagar resgate", "redimir". "Redimir" é pagar o resgate para libertar da escravidão. Cristo é simultaneamente o nosso redentor e o preço do nosso resgate.

O direito hebraico incluía o "goel" - redentor, libertador, com uma tríplice função: executar a "vingança" (Nm 35,9-29; Dt 19,1-13; Js 20); resgatar as propriedades familiares (Rt 2,19s; 4,4; Lv 25,8-34); ser "goel" na lei do levirato (Dt 25,5-10; Rt 3,13; 4,1-8).

Esta tríplice função do "goel" atribuía-a o AT a Javé e o NT a Cristo:

- "Vinga o sangue dos seus" (Is 47,3; 49,25s; 59,16-20). Também Cristo, o Juiz universal, "vingará os seus discípulos perseguidos" (1Ts 1,6-10; Ap 6,9-11; Lc 18,7).
- Javé resgatará o patrimônio daquele que, no ano jubilar, não tiver nenhum "goel" (Lv 25,10; Is 61,2; 53,4). Cristo inaugura o ano jubilar, ou ano da graça (Lc 4,21).
- Deus tomará conta de Jerusalém na sua viuvez (Is 54,1-8; 44,6; 49,20s; 62,4s). Cristo é também o salvador da sua Esposa, a Igreja (Ef 5,23-25).

"Remir" é libertar da escravidão:

- Leis sobre o resgate dos escravos (Ex 21,1-11; Dt 15,12-18; Lv 19,20).
- Deus resgata o seu povo do Egito (Dt 13,6; 24,17s; Is 19,20-22) e das garras de Babilônia (Is 35,8-10; 51,9-11; Jr 31,10-12). Base para uma teologia sobre a libertação dos escravos.
- Cristo liberta-nos da escravidão do pecado (Mt 11,2-6;Lc 1,77; 4,21; Ef 1,7); da Lei (Gl 3,10-13; 4,1-7; 1Pd 1,17-19) e do "príncipe deste mundo" (Jo 8,44; 12,31; 1Cor 2,8; 2Cor 4,4; Ef 2,2; Hb 2,14; 1Jo 5,18; Ap 12,7s).

Cristo é o preço do nosso resgate, porque nele Deus realiza a nova aliança (Mt 20,28; 1Tm 2,6; Jo 10,17s; Rm 5,6-8; 1Pd 2,9).

REINO DE DEUS
No AT Deus apresenta-se como Rei-Pastor do seu povo. Israel era o reino, a pertença de Javé, entendido, a princípio, em sentido material (Ex 15,18; 16,9; 19,6; Is 5,4; Jz 8,23; 1Sm 8,7;Sl 24,7-10; 11,4; 47,3; 103,19; Jr 10,7-10).

Instaurada a monarquia real, esta deve estar subordinada à realeza de Javé (1Sm 8,1-7.19s; 2Cor 13,8; 2Sm 7,14; Sl 2,7).

As infidelidades dos reis, a divisão do reino e o exílio permitiram a espiritualização do conceito de Reino, despertando a esperança para uma realização definitiva do reinado de Javé nos tempos escatológicos (Mq 2,13; Ez 34,11; Is 40,9s; 52,7; Sf 3,14s). Será um reino universal (Zc 14,9; Is 24,23; Sl 47; 96; 99; Dn 2,4-44; 7,14-27; Sb 3,8).

No tempo de Jesus o povo tinha nostalgia deste passado e esperava que Deus estabelecesse seu reinado definitivo sobre Israel e as nações. Os judeus esperavam uma intervenção maravilhosa de Deus, de caráter político, mas numa relação particular com Deus (Mt 4,3-9; 20,21; Jo 6,14s; At 1,6).

Jesus dá ao Reino de Deus (Marcos) ou ao Reino dos Céus (Mateus) o primeiro lugar na sua pregação (Mt 3,2; 4,17; 9,35; 10,7; Lc 12,31; 16,16; 22,29; Jo 12,13-15). Apresenta a sua ação na linha das manifestações do reinado messiânico escatológico, anunciado pelos profetas (Mt 4,23; 12,28; Lc 7,21s; cf. Is 35,5s; 61,1-3).

Os apóstolos recebem de Cristo a missão de proclamar o Evangelho do Reino (Mt 10,7).

Depois de Pentecostes o Reino é o tema central da pregação evangélica (At 14,22; 19,8; 20,25; 28,23-31; 1Ts 2,12).

Só aos humildes e aos pequenos é dado conhecer os mistérios do Reino (Mt 11,25).

O Reino é "como a semente depositada na terra" (Mt 13,3-9.18-23) que crescerá por seu próprio poder como o grão (Mc 4,26-29). É como "fermento na massa" (Mt 13,33). Converter-se-á numa grande árvore onde se aninharão as aves do céu (Mt 13,31s).

O Reino é dom de Deus (Mt 5,3; 13,44-46; 18,1-4; 20,1-16; 1Cor 6,9s; Gl 5,21; Ef 5,5).

O Reino está em crescimento até a Parusia (Mt 9,37s; 11,12s; 13; 25,34; Mc 2,19; Jo 4,35; 2,1-11; At 1,9s; Lc 21,31; 22,14s.17s). Ver "Senhor".

RELIGIÃO
Ver "Culto".

REMISSÃO DOS PECADOS
Ver "Batismo", "Penitência", "Perdão", "Justificação", "Paz".

RESIGNAÇÃO
Exortação: Jó 1,21; Pr 3,11s; Ecl 7,15; Hb 12,6s.

Motivos: Dt 32,4; 1Sm 3,18; Jó 2,10; Mt 26,39; 1Cor 10,13; 2Cor 1,5; 4,8s; Hb 12,11.

RESPONSABILIDADE
De todos: Mt 12,36; 18,23; Rm 14,12; 2Cor 5,10; 1Pd 4,5. Dos superiores: Sb 6,7; Lc 16,2; 1Cor 4,1-4; Hb 13,17.

RESSURREIÇÃO
Javé é o Senhor da vida e da morte (Os 13,14; Dt 32,39; 1Sm 2,6). Cristo tem as chaves do reino dos mortos (Ap 1,18; 1Pd 3,19; 4,5s; Ef 4,8-10; Cl 1,18; Ap 20,1).

Primeiras afirmações bíblicas da Ressurreição (Dn 12,2s; Sl 16,9-11; 2Mc 7).

Manifestações de Cristo Ressuscitado (Mt 28,9s; Mc 16,9s; Lc 24,13s; Jo 20,16s; 1Cor 15,6s).

Testemunhas da Ressurreição (At 1,21s; 2,32; 3,15; Rm 1,4s; 6,4).

Pela Ressurreição Cristo comunica a vida ao mundo(Jo 7,37-39; 10,14-17; 12,2-24; 11,1s) e por ela nos redime (Rm 4,24; 10,9; 2Cor 5,14-16; Ef 2,5; Cl 2,12; 3,1).

A Ressurreição de Cristo é a causa da nossa ressurreição escatológica (1Cor 15,1-58; 1Ts 4,13-18), batismal (Rm 6,1-11) e moral (Ef 4,17-24; Cl 3,1-7).

A ressurreição dos mortos é anunciada no AT (Jó 19,25; Is 66,14; Ez 37,1-14; 2Mc 7,9.14). É afirmada no NT (Mt 22,31; Jo 5,25-29; 6,39; 11,24; At 24,15; 1Cor 6,14; 2Cor 1,9; 1Ts 4,13-18; Ap 20,12. Ver "Retribuição".

RESTITUIÇÃO
No Antigo Testamento: Ex 21,33-36; 22,3-15; Lv 24,18.21; Nm 5,7; Ez 33,15. No Novo Testamento: Lc 19,8s; Rm 13,8; Fm 18-19.

RESTO
O termo, usado sobretudo pelos profetas, designa os sobreviventes de grandes catástrofes, como o dilúvio (Gn 7,1s) e o exílio (Is 6,13).

"Resto Santo"não é, porém, o resto histórico, mas a comunidade a ser salva no fim dos tempos (Is 4,4; 10,22; Jr 23,3; Mq 5,6-8).

"Resto fiel"é a parte do povo que permaneceu fiel em vários momentos da história (1Rs 19,18; Is 10,18-22; 17,4-6; Am 3,12; 9,8-10; Dt 4,27; Mq 4,7; 5,2; Zc 8,6-13; Rm 11,3-5). O "resto fiel"é símbolo do "novo Israel", formado de judeus e pagãos (Rm 9,27). O Messias reunirá um "resto", um "pequeno rebanho" (Jr 23,3-6; Mq 2,12s; 5,1-8; Zc 3,8; 6,12; Lc 12,32), que será fermento na massa (Lc 13,20s), como uma semente no seio da terra (Lc 13,18s), como luz e sal do mundo (Mt 5,13-16).

RETRIBUIÇÃO
Na Bíblia não se fala da retribuição em sentido propriamente jurídico, como se fosse uma paga adequada. Esta aparece, sobretudo, como uma dádiva de Deus (Rm 3,27; 8,14-17; Fl 2,13; 1Cor 15,19.50; Cl 1,13).

A retribuição, no início, é entendida como castigo coletivo dos inimigos de Israel (Ex 23,27; Js 24,12); depois, como um juízo de ira sobre o povo de Deus (Nm 25,3; Js 22,20; Ex 32; Nm 11,1; 14,38; 17,6-15). A retribuição pode ser um prêmio ou um castigo segundo o esquema teológico pecado-castigo; conversão-perdão-recompensa (Jz 2,11-23; 3,7-9). As bênçãos e as maldições são disso uma prova (Dt 28,1s; 4,40; 5,33; 7,12-26; 15,4-10; 30,15-20).

O povo do AT, não tendo a perspectiva de uma vida futura, interpreta tudo o que lhe acontece de bem e de mal como um prêmio ou um castigo divinos pelo bem ou mal que fez (Jz 2,11-15; 3,7s; Dt 28; Jó 11,14s; 18,1-21; 22,25s; Pr 3,2s.10.23.26.33s; 4,10-22; 8,18s; 9,11). Concluía-se que por detrás de cada desgraça, coletiva ou individual, havia o pecado. Contra isso se levanta a consciência de muitos justos atribulados como o testemunha o livro de Jó e outros textos sapienciais (Jó 3,1-26; 9,14-35; 10,7).

No exílio em Babilônia, perante o fato dos justos que morrem perseguidos sem nenhuma recompensa temporal, surge a esperança da ressurreição (Dn 12,2s; 2Mc 7,9-23; 12,44s; 14,46). Sob a influência grega, nasce a fé na imortalidade (Sb 3,7s.14; 4,2; 5,16; 6,19; Sl 49).

A literatura sapiencial ensina: "aquilo que cada um semeia isso recolherá" (Pr 24,12; Ecl 11,4; 1Cor 9,11; Mt 13,28s).

Jesus fala de prêmio e castigo temporais, sempre numa perspectiva transcendente (Mc 10,29s; 12,1-9; Lc 13,1-5; 19,41-44; Mt 11,20-24; 23,37s).

Cristo fala, sobretudo, de castigos e prêmios transcendentes. Consistem em receber o Reino ou em rejeitá-lo(Mt 20,1-15; 5,3-12; 25,1-46; 6,1-21; 7,24-27; 10,32s; 11,28-30; 19,28-30; Lc 14,7-14; 15,11-32; 16,19-31; 17,1-10; 18,9-14; 19,13-27; Mc 8,35; 9,41; 12,1-9).

Cada um será recompensado segundo as suas obras (Rm 2,6; 2Cor 5,10; Ap 20,12) no dia da vinda ( parusia) do Senhor (1Pd 4,13; 5,4; Ap 22,12; Jo 12,48).

REVELAÇÃO
Existe uma revelação natural (At 15,17; 17,27s; Rm 1,18s).

Deus invisível tornou-se visível em Cristo (Ef 1,9; Cl 1,15; 1Tm 1,17; Ex 33,11; Jo 15,14-15; 2Tm 1,10; Tt 3,4).

Manifestou-se para vivermos em comunhão com ele (1Jo 1,2s; Ef 2,18; 2Pd 1,4).

Cristo é o mediador e a plenitude da revelação (Mt 11,27; Jo 1,14.17; 14,6; 17,1-3; 2Cor 3,16; Ef 1,3-14; Hb 1,1s).

Estrutura sacramental da revelação: Deus manifesta-se por palavras (Hb 1,1s; Jo 1,18; 10,34) e por obras (Rm 1,19s; Jo 5,36; 17,4).

A Deus que se revela deve prestar-se a "obediência da fé" (Rm 1,5; 16,26; 2Cor 10,5s).

A revelação é transmitida oralmente (Mt 28,19s; Mc 16,15; At 1,8; Hb 1,1s; 1Cor 15,3; 1Tm 3,16; 2Tm 1,13; 4,17; Gl 2,2) e posta por escrito sob a ação do Espírito Santo, segundo as necessidades litúrgicas, catequéticas e apologéticas da comunidade cristã (Jo 20,31; 2Tm 3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15s; At 8,35; Lc 24,47).

REVOLUÇÃO
Conseqüências Jz 12,1-6; 2Sm 15,10-19,8; Mc 15,7; At 5,36s; 19,23-40Nm 16,1-35).

Jesus respeita as instituições (Mt 5,17; 17,24; 23,2s); não se compromete com as autoridades (Mc 12,13-17; Lc 13,32; 20,1); prevê perseguições (Mt 10,16); repele a resistência armada (Mt 26,52; Lc 22,38.49); luta contra a desordem estabelecida (Mc 3,1; 11,15; Mt 23,5-38).

O que importa é a reforma interior (Lc 6,27;1Cor 7,17.29; Rm 12,2; 13,1).

RICO (RIQUEZA)
A riqueza no AT é considerada como um bem relativo. Era apreciada porque dava prestígio e poder e era um dom dado por Deus aos homens justos e sábios (Pr 8,18; 10,22; 22,4; Jó 1,1-3; 42,10-17). Mas o homem pode adquiri-la pelo próprio esforço (Pr 10,5; 13,11; Eclo 11,18); por isso ela é fonte de orgulho (Jó 31,25; Pr 11,28) e torna difícil a convivência com o rico (cf. Eclo 13,1-24 e nota). A riqueza torna-se perigosa quando adquirida por meios injustos (Pr 28,6.22; 30,7-9) e causa muito sofrimento aos pobres (Am 2,6s; 4,1-3; 8,4-6; Mq 2,1s). O rico deve lembrar-se de que a riqueza é passageira, pois com a morte perde tudo (Pr 11,4; 23,4s; Eclo 11,19s).

No NT Jesus tomou posição frente à riqueza (Mc 10,17-31; Lc 12,13-24; 18,24s). Ela é um dom de Deus, mas pode causar decepções (Ecl 5,9-6,6; Mt 13,22) e colocar em perigo a salvação do homem (6,19.24; 19,24). Jesus condenava a avareza (Lc 12,13-15) e exige dos que o querem seguir mais de perto a renúncia a todos os bens (Mt 19,18-30). As riquezas devem servir para ajudar os pobres (Dt 15,7s; Tb 4,8s; Eclo 29,1-13; Lc 16,9; 12,33; 2Cor 8-9; 1Tm 6,17-19; Gl 2,10; 1Jo 3,17). Ver "Pobre".

ROLO
As folhas escritas de um documento antigo podiam ser emendadas umas nas outras em tiras e depois enroladas num bastão, formando um rolo ou "livro enrolado" (cf. Ez 2,9 e nota; Zc 5,1s). Ver "Manuscrito", "Códice".



“Subamos sem nos cansarmos, sob a celeste vista do Salvador. Distanciemo-nos das afeições terrenas. Despojemo-nos do homem velho e vistamo-nos do homem novo. Aspiremos à felicidade que nos está reservada.” São Padre Pio de Pietrelcina