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Bento XVI visitará túmulo do Padre Pio no ano que vem

Anunciou hoje o secretário de Estado Vaticano

SAN GIOVANNI ROTONDO, terça-feira, 23 de setembro de 2008 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI visitará a localidade italiana de San Giovanni Rotondo, lugar onde está enterrado São Pio de Pietrelcina.

Foi o que anunciou hoje o secretário de Estado Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, durante a homilia da missa que presidiu em San Giovanni Rotondo, quando se completam 40 anos da morte do santo e 90 de sua milagrosa estigmatização.

«Bento XVI me pediu que anunciasse que tudo está preparado – anunciou o cardeal Bertone aos milhares de fiéis congregados na Missa. O Papa virá a San Giovanni Rotondo em 2009.»

Durante a homilia, o purpurado recordou a figura de Padre Pio, de quem disse que «foi um discípulo de Cristo que não buscou outra glória que a de amar e sofrer por Ele. Foi um sacerdote que não quis outra coisa senão consumir-se no amor a Deus e aos irmãos».

«Foi filho sincero da Igreja, e preferiu não se defender, inclusive nas ocasiões mais dolorosas, morrendo no silêncio dócil da obediência difícil, mas fecunda», acrescentou.

«Quarenta anos após a sua morte, acrescentou o cardeal Bertone, São Pio é como um canal de água que brota, rico, e de cuja fonte podem beber a água fresca da verdade e do amor que o Senhor oferece a todos em abundância.»

São Pio de Pietrelcina, mais conhecido como o Padre Pio, é um dos santos mais venerados da Itália. Frade capuchinho, recebeu milagrosamente os estigmas da Paixão em 1918 e morreu em 1968. Foi canonizado por João Paulo II em 16 de junho de 2002.

Desde o mês de abril passado, seus restos mortais foram exumados e expostos à veneração dos fiéis, em uma urna da cripta do santuário de Santa Maria da Graça, em San Giovanni Rotondo. A exposição durará até 23 de setembro de 2009.

Os católicos adoram os santos?

Por Alessandro Lima
Fonte: Veritatis Splendor

“Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra” (Gn 19,1).

Todo católico já deve ter sido interpelado por um protestante a respeito do uso das imagens na Igreja Católica. Suas perguntas nesta matéria sempre vêm com a acusação de que nós católicos somos idólatras porque fazemos uso das imagens. O mais interessante e também triste é que normalmente essas pessoas se dizem ex-católicas. E não me surpreendo em sempre verificar que foram “católicos” muito mal formados ou totalmente ignorantes da doutrina que dizem ter professado.

Será que esses ex-“católicos” já leram no Catecismo da Igreja Católica o ensino da Igreja sobre o uso das imagens? Lá encontramos:

2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.

2132. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:

«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)

Será mesmo que católicos conhecedores da doutrina da Igreja tornam-se protestantes? Muito difícil que isso aconteça. A regra deste tipo de conversão se dá com católicos ignorantes e mal-formados.

Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.

Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia? Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar um ídolo que vai roubar a adoração devida somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.

Estes são alguns dos exemplos em que Deus mandou fazer imagens para o reto uso religioso:

“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubin na extremidade de uma parte, e outro querubin na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele.” (Ex 25,18-19)

“E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo.” (Nm 21,8-9)

“Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã.”(2Rs 18,4).

Embora a Bíblia mostre claramente em quais casos a confecção das imagens é permitida, os “leitores da bíblia” proíbem o uso das imagens em qualquer caso, desta forma extrapolando indevidamente o mandamento de Deus.

Ajoelhar-se e prostar-se é sempre adoração ou idolatria?

Dizem ainda que nós católicos somos idólatras porque nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos. Esta acusação demonstra uma tremenda ignorância por parte dos protestantes entre o culto de adoração (latria) e o culto de veneração (dulia). A própria Escritura que eles dizem conhecer e seguir dá testemunho da distinção entre as duas coisas.

Ajoelhar-se também é um sinal de reverência e veneração. Os súbitos devem prestar veneração pelos Reis, ou por uma autoridade suprema. O filho pelos pais, os alunos pelos professores e os discípulos pelo mestre. Tudo isso está em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. Vejamos alguns exemplos na Sagrada Escritura:

“Pela terceira vez, mandou o rei [Ocozias da Samaria] um chefe com os seus cinqüenta homens, o qual, chegando aonde estava Elias, pôs-se de joelhos e suplicou-lhe, dizendo: Peço-te, ó homem de Deus, que a minha vida tenha algum valor aos teus olhos e a destes cinqüenta homens teus servos ” (2Rs 1,13).

Na passagem acima um mensageiro do Rei Ocozias da Samaria põe-se de joelhos diante do Profeta Elias. Por que faz isso? Para suplicar-lhe que permita viver com seus cinqüenta companheiros de viagem, pois antes Elias mandou vir fogo do céu sobre duas equipes anteriores. O ato de súplica não é um ato de adoração, mas de humildade, de rebaixamento, onde se reconhece no outro sua superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.

Nós católicos quando nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos, não estamos adorando ídolos, mas dirigindo nossa súplica aos nossos irmãos na fé que representados por suas imagens já se encontram na presença de Deus. O ajoelhar-se do católico aí é um ato de súplica e não de adoração. Com efeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica”

956. A intercessão do santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium 49)

Será que os ex-“católicos” alguma vez leram este parágrafo do Catecismo? Sinceramente, eu duvido… Vejamos outro interessante testemunho da Escritura Sagrada:

“Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra” (Gn 18,2).

O texto sagrado testemunha que Abraão prostra-se ao ver os três anjos do Senhor. Devemos acusar o Patriarca de idolatria? Obviamente que Abraão não estava adorando os anjos, pois se fosse este o caso eles o teriam repreendido, como fez o anjo que revelava o apocalipse a S. João (cf. Ap 22,8-9). Entretanto, Abraão estava prestando-lhes culto de reverência, reconhecendo a condição superior dos anjos de Deus.

Alguém poderia objetar dizendo: “mas, os santos não são anjos são homens como nós”. Com efeito, são humanos como nós, mas além de estarem no céu podendo levar nossos pedidos a Deus, eles estão em condição superior à nossa, pois já gozam da Glória de Deus, já venceram as batalhas que ainda teremos que vencer. Nesta matéria lembremos de um importante ensinamento de Cristo:

“Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus” (Mt 5,19).

Ora, por acaso não são os santos exatamente aquelas pessoas que venceram na fé e que agora podem ser consideradas grandes no Reino dos Céus como ensinou Nosso Senhor? Cabe ainda lembrar que para o Senhor o menor no Reino do Céu é maior do que qualquer um que esteja vivendo na terra (cf. Mt 11,11).

Embora os atos de veneração e súplica sejam externamente iguais à reverência que se deve somente a Deus, internamente são coisas bem distintas e a própria Escritura Sagrada distingue bem as duas coisas. Mais alguns exemplos interessantes:

“Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda” (Ex 18,7).

“Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele” (1Sm 25,23).

Porém, alguém poderia levantar a seguinte objeção: “mas, os exemplos dados são de pessoas vivas venerando pessoas vivas e não mortas”. Primeiramente, isso não é totalmente verdade já que os anjos do Senhor não podem ser considerados “pessoas vivas”, mas seres espirituais. Em segundo lugar, os santos que estão no céu também são seres espirituais. Em terceiro, a Escritura dá testemunho da veneração do rei Saul ao profeta Samuel já falecido:

“Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra” (1Sm 28,14).

Mais sobre atos de veneração podem ser encontrados em Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4.

Adorar é reconhecer a divindade e oferecer sacrifício

Deus condena a confecção de ídolos, pois o ídolo leva as pessoas a prestarem a ele o culto que só se deve a Deus: o culto de adoração. Adorar um ato de reconhecimento da divindade e oferecimento de sacrifício.

Os pagãos realmente adoravam seus ídolos, pois lhes reconheciam a divindade e lhes ofereciam sacrifício:

“Habitando os israelitas em Setim, entregaram-se à libertinagem com as filhas de Moab. Estas convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se diante dos seus deuses” (Nm 25,1-2).

“Em vão Acaz tinha despojado o templo do Senhor, o palácio real e os príncipes para fazer presentes ao rei da Assíria. Tudo isso de nada lhe valeu. Embora estivesse angustiado, o rei Acaz continuou seus crimes contra o Senhor. Oferecia sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado: São, dizia ele, os deuses dos reis da Síria que lhes vêm em auxílio; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que me ajudem igualmente. Mas foram a causa de sua queda e de todo o Israel” (2Cr 28,21-23).

No segundo livro dos Reis encontramos o conceito completo de idolatria por meio de sua condenação:

“O Senhor tinha feito com eles uma aliança e lhes tinha dado a seguinte ordem: Não adorareis outros deuses, nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto, e não lhes oferecereis sacrifícios” (2Rs 17,35).

Os pagãos prostravam-se diante de seus ídolos não para reconhecerem neles instrumentos e servos de Deus de condição superior a nossa e que são capazes de interceder por nós junto a Deus, mas crendo que eram deuses verdadeiros e portanto capazes de eles mesmos realizarem milagres.

Em 2Rs 17,35 Deus apresenta a doutrina em sentido negativo. No versículo seguinte encontramos o conceito da verdadeira adoração:

“Mas temei ao Senhor que vos tirou do Egito com o poder de seu braço. A ele temereis, diante dele vos prostrareis e a ele oferecereis os vossos sacrifícios” (2Rs 17,36).

Somente a Deus devemos nos prostrar reconhecendo-lhe a divindade e oferecendo-lhe o sacrifício devido.

Os verdadeiros idólatras de nosso tempo são aqueles que oferecem sacrifício de animais (geralmente galinhas e carneiros) aos seus falsos deuses. Os protestantes não adoram a Deus, apenas o louvam. Seu culto é apenas um culto de louvor e não de adoração. Só no catolicismo se adora a Deus, pois na Santa Missa é oferecido a Deus o cordeiro imaculado que é Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme sua própria prescrição (cf. Mt 14,22-25; Lc 22,17-20; 1Cor 11,23-29).

Apóstolo São Paulo

Por Papa Bento XVI
Fonte: Vaticano

Caros irmãos e irmãs

Hoje gostaria de começar um novo ciclo de Catequeses, dedicado ao grande Apóstolo São Paulo. A ele, como sabeis, é consagrado este ano, que iniciou na festa litúrgica dos Santos Pedro e Paulo de 29 de Junho de 2008 e terminará com a mesma festa em 2009. O Apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquer maneira estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. Portanto, é justo que lhe reservemos um lugar especial, não só na nossa veneração, mas também no esforço de compreender aquilo que ele tem para nos dizer, a nós cristãos de hoje. Neste nosso primeiro encontro, queremos deter-nos para considerar o ambiente em que se encontrou a viver e a agir. Um tema deste género pareceria levar-nos para longe do nosso tempo, visto que devemos inserir-nos no mundo de há dois mil anos. E todavia isto só é verdade aparentemente e, de qualquer forma apenas de modo parcial, porque poderemos constatar que, sob vários aspectos, o contexto sociocultural de hoje não se diferencia muito do de então.

Um factor primário e fundamental que se deve ter presente é constituído pela relação entre o ambiente em que Paulo nasce e se desenvolve, e o contexto global em que sucessivamente se insere. Ele vem de uma cultura bem específica a circunscrita, certamente minoritária, que é a do povo de Israel e da sua tradição. No mundo antigo e nomeadamente no âmbito do Império Romano, como nos ensinam os estudiosos da matéria, os judeus deviam representar cerca de 10% da população total; depois em Roma, por volta dos meados do século I o seu número era ainda menor, alcançando ao máximo 3% dos habitantes da cidade. Os seus credos e o seu estilo de vida, como acontece também hoje, distinguiam-nos claramente do ambiente circunstante; e isto podia ter dois resultados: ou a ridicularização, que podia levar à intolerância, ou então a admiração, que se exprimia de várias formas de simpatia, como no caso dos “tementes a Deus” ou dos “prosélitos”, pagãos que se associavam à sinagoga e partilhavam a fé no Deus de Israel. Como exemplos concretos desta dupla atitude podemos citar, por um lado, o juízo pungente de um orador como Cícero, que desprezava a sua religião e até a cidade de Jerusalém (cf. Pro Flacco, 66-69) e, por outro, a atitude da esposa de Nero, Popeia, que é recordada por Flávio Josefo como “simpatizante” dos judeus (cf. Antiguidades judaicas 20, 195.252; Vita 16), sem mencionar que já Júlio César lhes tinha oficialmente reconhecido alguns direitos particulares que nos foram legados pelo mencionado historiador judeu Flávio Josefo (cf. ibid., 14, 200-216). Sem dúvida, o número de judeus, como de resto acontece ainda hoje, era muito maior fora da terra de Israel, ou seja na diáspora, do que no território que os outros chamavam Palestina.

Portanto, não admira que o próprio Paulo tenha sido objecto da dupla e contrastante avaliação de que falei. Uma coisa é segura: o particularismo da cultura e da religião judaica encontra tranquilamente lugar no interior de uma instituição tão omnipresente como era o império romano. Mais difícil e sofrida foi a posição do grupo daqueles, judeus ou gentios, que aderiram com fé à pessoa de Jesus de Nazaré, na medida em que se distinguiram quer do judaísmo quer do paganismo imperante. De qualquer forma, dois factores favoreceram o compromisso de Paulo. O primeiro foi a cultura grega, ou melhor helenista, que depois de Alexandre Magno se tinha tornado património comum pelo menos do Mediterrâneo oriental e do Médio Oriente, mesmo que tenha integrado em si muitos elementos das culturas de povos tradicionalmente considerados bárbaros. Um escritor dessa época afirma, a este propósito, que Alexandre “ordenou que todos considerassem como pátria toda a ecumene… e que o Grego e o Bárbaro já não se distinguissem” (Plutarco, De Alexandri Magni fortuna aut virtute 6.8). O segundo factor foi a estrutura político-administrativa do império romano, que garantia paz e estabilidade desde a Britânia até ao Egipto meridional, unificando um território de dimensões nunca vistas. Neste espaço podia-se mover com suficiente liberdade e segurança, usufruindo entre outras coisas de um sistema rodoviário extraordinário, e encontrando em cada ponto de chegada características culturais de base que, sem prejudicar os valores locais, representavam contudo um tecido comum de unificação super partes, a tal ponto que o filósofo judeu Filone Alexandrino, contemporâneo do próprio Paulo, elogia o imperador Augusto, porque “compôs em harmonia todos os povos selvagens… tornando-se guardião da paz” (Legatio ad Caium 146-147).

A visão universalista típica da personalidade de São Paulo, pelo menos do Paulo cristão sucessivo ao acontecimento do caminho de Damasco, deve certamente o seu impulso básico à fé em Jesus Cristo, enquanto a figura do Ressuscitado se situa além de qualquer limite particularista; com efeito, para o Apóstolo “já não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo” (Gl 3, 28). Todavia, também a situação histórico-cultural do seu tempo e do seu ambiente não deixou de influenciar as escolhas e o seu compromisso. Alguém definiu Paulo “homem de três culturas”, tendo em consideração a sua matriz judaica, a sua língua grega e a sua prerrogativa de “civis romanus”, como atesta também o nome de origem latina. Há que recordar de modo especial a filosofia estóica, que na época de Paulo era predominante e que influiu, embora em medida marginal, também sobre o cristianismo. A este propósito, não podemos deixar de mencionar alguns nomes de filósofos estóicos, como os iniciadores Zenão e Cleante, e depois os que cronologicamente estão mais próximos de Paulo, como Séneca, Musónio e Epicteto: neles encontram-se elevadíssimos valores de humanidade e de sabedoria, que naturalmente serão recebidos no cristianismo. Como escreve de modo excelente um estudioso da matéria, “a Stoa… anunciou um novo ideal, que impunha ao homem deveres em relação ao seu próximo, mas ao mesmo tempo libertava-o de todos os vínculos físicos e nacionais, e dele fazia um ser puramente espiritual” (M. Pohlenz, La Stoa, I, Florença 2 1978, págs. 565 s.). Pensemos, por exemplo, na doutrina do universo entendido como um único grande corpo harmonioso e, consequentemente, na doutrina da igualdade entre todos os homens sem distinções sociais, na equiparação pelo menos de princípio entre o homem e a mulher, e depois no ideal da frugalidade, da justa medida e do domínio de si para evitar qualquer excesso. Quando Paulo escreve aos Filipenses: “Tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de algum modo mereça louvor, é o que deveis ter em mente” (Fl 4, 8), não faz senão retomar uma concepção claramente humanista própria daquela sabedoria filosófica.

Na época de São Paulo havia também uma crise da religião tradicional, pelo menos nos seus aspectos mitológicos e também cívicos. Depois que Lucrécio já um século antes, tinha polemicamente asseverado que “a religião conduziu a muitas injustiças” (De rerum natura, 1, 101), um filósofo como Séneca, indo muito além de todo o ritualismo exteriorista, ensinava que “Deus está próximo de ti, está contigo, está dentro de ti” (Cartas a Lucílio, 41, 1). Analogamente, quando Paulo se dirige a um auditório de filósofos epicureus e estóicos no Areópago de Atenas, diz textualmente que “Deus não habita em santuários feitos por mãos humanas… mas nele vivemos, nos movemos e existimos” (Act 17, 24.28). Com isto, ele certamente faz ressoar a fé judaica num Deus não representável em termos antropomórficos, mas põe-se também numa sintonia religiosa que os seus ouvintes conheciam bem. Além disso, temos que ter em conta o facto de que muitos cultos pagãos prescindiam dos templos oficiais da cidade e se realizavam em lugares particulares que favoreciam a iniciação dos adeptos. Por isso, não constituía motivo de admiração, o facto de que também as reuniões cristãs (as Ekklesíai), como nos atestam sobretudo as Cartas paulinas, se realizassem em casas particulares. De resto, nessa época ainda não existia qualquer edifício público. Portanto, as reuniões dos cristãos deviam parecer aos contemporâneos como uma simples variante desta sua prática religiosa mais íntima. De qualquer forma, as diferenças entre os cultos pagãos e o culto cristão não são de pouca monta e dizem respeito tanto à consciência identitária dos participantes como a participação comum de homens e mulheres, a celebração da “ceia do Senhor” e a leitura das Escrituras.

Em conclusão, desta rápida série sobre o ambiente cultural do século I da era cristã parece claro que não é possível compreender adequadamente São Paulo sem o inserir no contexto, tanto judaico como pagão, do seu tempo. Deste modo, a sua figura adquire valor histórico e ideal, revelando partilha e ao mesmo tempo originalidade em relação ao ambiente. Mas isto vale analogamente também para o cristianismo em geral, do qual precisamente o Apóstolo Paulo constitui um paradigma de primeira ordem, do qual todos nós temos sempre muito a aprender. Esta é a finalidade do Ano Paulino: aprender de São Paulo, aprender a fé, aprender Cristo e, enfim, aprender o caminho da vida recta.

Eusébio de Cesaréia

Por Papa Bento XVI
Tradução: Zenit
Fonte: Vaticano/Zenit

Queridos irmãos e irmãs:

Na história do cristianismo antigo, é fundamental a distinção entre os primeiros três séculos e os sucessivos ao Concílio de Nicéia do ano 325, o primeiro ecumênico. Entre os dois períodos está a assim chamada «mudança de Constantino» e a paz da Igreja, assim como a figura de Eusébio, bispo de Cesaréia na Palestina.

Foi o expoente mais qualificado da cultura cristã de seu tempo, em contextos muito variados, da teologia à exegese, da história à erudição. Eusébio é conhecido sobretudo como o primeiro historiador do cristianismo, mas também como o filósofo maior da Igreja antiga.

Na Cesaréia, onde provavelmente nasceu em torno do ano 260, Orígenes se havia refugiado procedente da Alexandria, e lá havia fundado uma escola e uma ingente biblioteca. Precisamente com estes livros se teria formado, uma década depois, o jovem Eusébio. No ano 325, como bispo de Cesaréia, participou com um papel de protagonista no Concílio de Nicéia. Subscreveu o «Credo» e a afirmação da plena divindade do Filho de Deus, definido por este com «a mesma substância» do Pai («homooúsios tõ Patrí»). É praticamente o mesmo «Credo» que nós rezamos todos os domingos na santa liturgia.

Sincero admirador de Constantino, que havia dado paz à Igreja, Eusébio sentiu por ele estima e consideração. Celebrou o imperador, não só em suas obras, mas também em discursos oficiais, pronunciados no vigésimo e trigésimo aniversários de sua chegada ao trono, e depois de sua morte, ocorrida no ano 337. Dois ou três anos depois também morria Eusébio.

Estudioso incansável, em seus numerosos escritos, Eusébio busca refletir e fazer um balanço dos três séculos de cristianismo, três séculos vividos sob a perseguição, recorrendo em boa parte às fontes cristãs e pagãs conservadas sobretudo na grande biblioteca de Cesaréia. Deste modo, apesar da marca objetiva de suas obras apologéticas, exegéticas e doutrinais, a fama imperecedora de Eusébio continua estando ligada em primeiro lugar aos dez livros de sua «História eclesiástica». Foi o primeiro em escrever uma história da Igreja, que segue sendo fundamental graças às fontes que Eusébio põe à nossa disposição para sempre. Com esta «história» conseguiu salvar do esquecimento numerosos acontecimentos, personagens e obras literárias da Igreja antiga. Trata-se, portanto, de uma fonte primária para o conhecimento dos primeiros séculos do cristianismo.

Podemos nos perguntar como estruturou e com que intenções redigiu esta nova obra. Ao início do primeiro livro, o historiador apresenta os argumentos que pretende enfrentar em sua obra: «Eu me propus redigir as sucessões dos santos apóstolos desde nosso Salvador até nossos dias, quanto e quão grandes foram os acontecimentos segundo a história da Igreja e quem foi distinguido em seu governo e direção nas comunidades mais notáveis, inclusive também aqueles que, em cada geração, foram embaixadores da Palavra de Deus, seja por meio da escritura ou sem ela, e os que, impulsionados pelo desejo de inovação até o erro, anunciaram-se como promotores do falsamente chamado conhecimento, devorando assim o rebanho de Cristo como lobos rapazes… e também o número, o modo e o tempo dos pagãos que lutaram contra a palavra divina e a grandeza dos que em seu tempo atravessaram, por ela, à prova de sangue e tortura; assinalando também os martírios de nosso tempo e o auxílio benigno e favorável para com todos de nosso Salvador» (1, 1, 1-2).

Desta maneira, Eusébio envolve diferentes setores: a sucessão dos apóstolos, como estrutura da Igreja, a difusão da Mensagem, os erros, as perseguições por parte dos pagãos e os grandes testemunhos que constituem a luz desta «História». Em tudo isso, resplandecem a misericórdia e a benevolência do Salvador. Eusébio inaugura assim a historiografia eclesiástica, abarcando sua narração até o ano 324, ano no qual Constantino, depois da derrota de Licínio, foi aclamado como imperador único de Roma. Trata-se do ano precedente ao grande Concílio de Nicéia, que depois oferece a «summa» do que a Igreja — doutrinal, moral e inclusive juridicamente — havia aprendido nesses trezentos anos.

A reunião que acabamos de referir do primeiro livro da «História eclesiástica» contém uma repetição que certamente é intencional. Em poucas linhas, repete o título cristológico de «Salvador», e faz referência explícita à «sua misericórdia» e à «sua benevolência». Podemos compreender assim a perspectiva fundamental da historiografia de Eusébio: é uma história «cristocêntrica», na qual se revela progressivamente o mistério do amor de Deus pelos homens. Com genuína surpresa, Eusébio reconhece que «de todos os homens de seu tempo e dos que existiram até hoje em toda a terra, só Ele é chamado e confessado como Cristo [ou seja, ‘Messias’ e ‘Salvador do mundo’], e todos dão testemunho d’Ele com este nome, seguidores, em toda a terra; é honrado como rei, é contemplado como sendo superior a um profeta e é glorificado como o verdadeiro e único sumo sacerdote de Deus; e, acima de tudo isso, é adorado como Deus por ser o Logos pré-existente, anterior a todos os séculos, e tendo recebido do Pai a honra de ser objeto de veneração. E o mais singular de tudo é que nós, que estamos consagrados a Ele, não honramos com a voz ou com os sons de nossas palavras, mas com uma completa disposição da alma, chegando inclusive a preferir o martírio por sua causa à nossa própria vida» (1, 3, 19-20).

Deste modo, aparece em primeiro lugar outra característica que será uma constante na antiga historiografia eclesiástica: a «intenção moral» que preside a narração. A análise histórica nunca é um fim em si mesmo; não só busca conhecer o passado, mas aponta com decisão à conversão, e a um autêntico testemunho de vida cristã por parte dos fiéis. É uma guia para nós mesmos.

Desta maneira, Eusébio interpela vivamente os fiéis de todos os tempos sobre sua maneira de enfrentar as vicissitudes da história, e da Igreja em particular. Interpela também a nós: qual é nossa atitude ante as vicissitudes da Igreja? É a atitude de quem se interessa por simples curiosidade, buscando o sensacionalismo e o escândalo a toda custa? Ou é mais a atitude cheia de amor e aberta ao mistério de quem sabe pela fé que pode perceber na história da Igreja os sinais do amor de Deus e as grandes obras da salvação por ele realizadas?

Se esta é nossa atitude, temos que sentir-nos interpelados para oferecer uma resposta mais coerente e generosa, um testemunho mais cristão de vida, para deixar os sinais do amor de Deus também às futuras gerações.

«Há um mistério», não se cansava de repetir esse eminente estudioso dos Padres, o Pe. Jean Daniélou: «Há um conteúdo escondido na história… O mistério é o das obras de Deus, que constituem no tempo a realidade autêntica, escondida detrás das aparências… Mas esta história que Deus realiza pelo homem, não a realiza sem Ele. Ficar na contemplação das ‘grandes coisas’ de Deus significaria ver só um aspecto das coisas. Ante elas está a resposta» («Ensaio sobre o mistério da história», «Saggio sul mistero della storia», Brescia 1963, p. 182).

Muitos séculos depois, também hoje Eusébio de Cesaréia nos convida a surpreender-nos ao contemplar na história as grandes obras de Deus pela salvação dos homens. E com a mesma energia, ele nos convida à conversão da vida. De fato, ante um Deus que nos amou assim, não podemos permanecer insensíveis. A instância própria do amor é que toda a vida se oriente à imitação do Amado. Façamos tudo o que estiver a nosso alcance para deixar em nossa vida um traço transparente do amor de Deus.

Maria, impulsora do ecumenismo

Segundo a teóloga Jutta Burggraf

Por Miriam Díez i Bosch

PAMPLONA, 7 de maio de 2008 (ZENIT.org).- Maria é «mestra e companheira no caminho» do ecumenismo, assegura a teóloga alemã Jutta Burggraf, especialista em Teologia da Criação, Teologia Ecumênica e Teologia Feminista.

Burggraf é doutora em Psicopedagogia, doutora em Sagrada Teologia e professora de Teologia dogmática na Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra e esteve em Roma recentemente para apresentar o «Dicionário de Teologia» da Editora EUNSA. Zenit a entrevistou.

Maria pode impulsionar o ecumenismo?

–Burggraf: Certamente. Não podemos esquecer que o verdadeiro protagonista do movimento ecumênico é o Espírito Santo. Portanto, é aconselhável que uma pessoa que quer trabalhar a sério pela unidade dos cristãos tome Maria como mestra e companheira no caminho: sua docilidade ao Espírito pode ser considerada como o núcleo íntimo de uma autêntica atitude ecumênica.

A veneração a nossa Mãe se fundamenta na Sagrada Escritura. Maria canta no Magnificat: «Desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada». Estas palavras são uma profecia e, por sua vez, uma missão para a Igreja de todos os tempos.

Os cristãos não inventaram nada novo quando começaram a louvar Maria. Ao contrário, descuidariam do que lhes foi confiado se não o fizessem. Eles se afastariam da palavra bíblica, e não glorificariam a Deus como Ele quer ser glorificado.

Maria é protagonista de festas litúrgicas não só na tradição católica.

–Burggraf: Nos tempos anteriores às grandes separações do Oriente (século XI) e do Ocidente (século XVI), as primeiras gerações cristãs já haviam começado a celebrar algumas festas marianas. Assim, por exemplo, a festa da Dormição é conhecida em Jerusalém no século VI, e em Constantinopla no ano 600. Como se supõe que Maria morreu muito suavemente, com muita paz e com a grande alegria de unir-se ao seu Filho, não se fala de «morte», mas de «Dormição». Tanto os ortodoxos como os muçulmanos celebram hoje esta festa em 22 de agosto, e a preparam com 15 dias de jejum. No final do século VII, foi introduzida em Roma, onde passou a chamar-se «Assunção de Santa Maria».

No século VIII se celebrava no Oriente a festa da Imaculada Conceição, sem dar muitas explicações teológicas ao respeito: o pensamento oriental prefere o mistério; o ocidental, ao contrário, a clareza analítica. Também Lutero foi favorável a esta festa. O reformador também costumava cantar o «Magnificat» diariamente, segundo conta a tradição.

Para os ortodoxos, o primeiro título de Maria é Theotokos, «Mãe de Deus», usado freqüentemente nos hinos e nas ricas obras iconográficas. O hino Akathistos (que literalmente significa «estando de pé», porque se canta nesta posição) é o hino mariano mais famoso no Oriente. Foi composto no final do século V por um autor desconhecido. Como diz um escritor moderno, não há problemas em que o hino seja anônimo. «Assim é de todos, porque é da Igreja.»

Há também uma marca comum a quase todos os ícones da Virgem no Oriente. Maria é representada como Mãe de Deus que leva o Menino Jesus nos braços. Estas imagens confessam a fé na maternidade divina de Maria.

Qual é a atitude dos protestantes com relação a Maria?

–Burggraf: Alguns disseram que, com a veneração de Maria, os cristãos teriam «caído», desde a altura da veneração do único Deus, ao louvor do ser humano. Na realidade, não é assim. Quando louvamos Maria, veneramos Deus. Quem elogia uma obra de arte, elogia o artista que a fez. Se estou fascinada com as pinturas «El aguador de Sevilla» ou «Las Meninas», o louvor recai em Diego Velázquez, que as realizou.

A Igreja venera em Maria a realização mais perfeita da obediência na fé. Isso é algo que podem aceitar também os cristãos evangélicos e, de fato, muitos o afirmam cada vez mais claramente. Não quer dizer que a Mãe de Jesus – como a chamam os protestantes – tenha sido um instrumento passivo nas mãos de Deus.

Ao contrário, sua entrega humilde e obediente só foi possível graças a uma grande atividade interior que manifesta, por sua vez, liberdade e maturidade. Pois só uma pessoa que é «dona» de si mesma pode dar-se alegremente aos demais. Só quem se sente autenticamente livre não se fere por ser «escrava».

Maria não foi passiva, mas receptiva; esteve disposta a receber os dons divinos. Esta atitude constitui uma condição necessária para levar uma vida cristã: quem não deixa Deus entrar em sua vida, não pode receber a fé nem as demais graças, e tampouco pode desenvolver plenamente suas capacidades. A escrava do Senhor é também a rainha dos céus.

O teólogo protestante Helmut Thielicke conta em sua autobiografia que, em uma visita que fez a um convento católico na Áustria, as religiosas lhe causaram uma grande impressão. Descreve assim: «Meu espírito se elevou – diz –, enquanto passeava meu olhar pelos diferentes rostos lá congregados. Todas elas pareciam ter marcas únicas, eram uma espécie de trabalho artesanal – primoroso – de Deus… Não havia marca de um padrão de fisionomias de moda, imitação ou uniformidade… Impressionou-me especialmente a beleza desses rostos tão idosos, que haviam sido moldados pelo Espírito».

João Evangelista

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Dedicamos o encontro de hoje à recordação de outro membro muito importante do colégio apostólico: João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago. O seu nome, tipicamente judaico, significa “o Senhor fez a graça”. Estava a consertar as redes na margem do lago de Tiberíades, quando Jesus o chamou juntamente com o irmão (cf. Mt 4, 21; Mc 1, 19). João pertence também ao grupo restrito, que Jesus chama em determinadas ocasiões.

Está com Pedro e com Tiago quando Jesus, em Cafarnaum, entra em casa de Pedro para curar a sua sogra (cf. Mc 1, 29); com os outros dois segue o Mestre na casa de Jairo, chefe da sinagoga, cuja filha será chamada à vida (cf. Mc 5, 37); segue-o quando ele sobe ao monte para ser transfigurado (cf. Mc 9, 2); está ao lado dele no Monte das Oliveiras quando, face à imponência do Templo de Jerusalém, pronuncia o sermão sobre o fim da cidade e do mundo (cf. Mc 13, 3); e, finalmente, está ao seu lado quando, no Horto do Getsémani, se retira para rezar ao Pai antes da Paixão (cf. Mc 14, 33). Pouco antes da Páscoa, quando Jesus escolhe dois discípulos para os enviar a preparar a sala para a Ceia, confia a ele e a Pedro esta tarefa (cf. Lc 22, 8).

Esta sua posição de relevo no grupo dos Doze torna de certa forma compreensível a iniciativa tomada um dia pela mãe: ela aproximou-se de Jesus para lhe pedir que os dois filhos, precisamente João e Tiago, pudessem sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda no Reino (cf. Mt 20, 20-21). Como sabemos, Jesus respondeu fazendo por sua vez uma pergunta: pediu que eles estivessem dispostos a beber do cálice que ele mesmo estava para beber (cf. Mt 20, 22).

A intenção que estava por detrás daquelas palavras era a de despertar os dois discípulos, introduzi-los no conhecimento do mistério da sua pessoa e de os fazer reflectir sobre a futura chamada a ser suas testemunhas até à prova suprema do sangue.

De facto, pouco depois Jesus esclareceu que não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate pela multidão (cf. Mt 20, 28). Nos dias seguintes à ressurreição, encontramos “os filhos de Zebedeu” empenhados com Pedro e outros discípulos numa noite infrutuosa, à qual se segue, pela intervenção do Ressuscitado, a pesca milagrosa: será “o discípulo que Jesus amava” quem reconhece primeiro “o Senhor” e quem o indica a Pedro (cf. Jo 21, 1-13).

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