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"Me inclua fora dessa"

Por Eric Mondolo
Fonte: Veritatis Splendor

Dia 7 de Setembro, feriado nacional em que se comemora a Independência do Brasil, é dia de acordar cedo e ir assistir o desfile cívico da nossa cidade. As crianças balançam bandeirinhas, os adultos se emocionam com a passagem dos milicos aposentados, os bombeiros são aplaudidos, as fanfarras e bandas entoam marchas militares dando o tom da festa e despertando na população aquele sentimento saudosista patriótico, que apesar dos pesares, sempre vem à tona nessas datas. Ou mais gritante ainda em época de copa do mundo de futebol e jogos olímpicos.

Porém um outro programa atrai também muita gente para ruas nesse mesmo dia, é o Grito dos Excluídos. Movimento que teve início no ano de 1994 aqui no Brasil liderado por alguns católicos, realizando sua primeira passeata em Setembro do ano seguinte com o lema “Vida em primeiro lugar”. Segundo a página na internet da organização desse movimento, a idéia inicial era aprofundar o tema da campanha da fraternidade de 1995 “Eras Tu Senhor” com uma marcha nas ruas, e passar alguns outros recadinhos. Entre eles, denunciar os abusos do modelo político e econômico brasileiro. De lá pra cá a marcha cresceu, se espalhou por muitas cidades brasileiras e outras organizações sociais foram se agrupando unindo suas vozes para soltar o brado em comum.

Membros do clero, misturaram-se ao povo e militantes das entidades participantes caminhando, cantando e seguindo a canção. O problema é que essa música não demorou pra desafinar. Como ter unidade de ação com grupos que defendem idéias tão contrárias a fé católica? Em um vídeo na internet, é possível ver pessoas carregando a bandeira do movimento que defende o orgulho gay, em um desses eventos.Uma investida política disfarçada de reivindicações por liberdade sexual.

O MST, claro, tem lugar de destaque no Grito dos Excluídos, organização que não está interessada só em conquistas de terras, mas de toda terra (inclusive as que estão debaixo das unhas alheias). “Tu não desejarás para ti a casa de teu próximo, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, qualquer coisa que pertença a teu próximo” (Dt. 5, 21).Nenhum líder desse movimento esconde o desejo de promover uma revolução para implantar o Socialismo custe o que custar, é o que diz a cartilha do MST “apenas ocupar a terra só pra trabalhar, já é uma posição superada”. Já que receberam milhões de hectares, já decidiram por as manguinhas de fora e mostrar realmente a que vieram.

E o pior é que são essas mesmas bandeiras vermelhas, que fazem número nas passeatas pró-aborto, pró-pesquisa com células-tronco embrionárias, ou a outras aberrações morais. E esse ano a Campanha da Fraternidade, também teve o tema de defesa da vida. Para que lado vão gritar?

E como falei das Olimpíadas, lembro que esse ano, os jogos acontecerão em um país que sofre as conseqüências de um regime comunista, e agora tenta esconder com banners e sorrisos, as amarguras que a população enfrenta no seu dia-a-dia, já que as câmeras de televisão estão voltadas pra lá. Muitas matérias de telejornais mostram as lojas chinesas que vendem produtos falsificados, e são fundamentais na economia pois além do mercado interno, são exportados para muitos países.O Brasil seguiu o exemplo, e também aprendeu a exportar porcaria, o Grito dos Excluídos já chegaram a quase todos os países da América Latina, além dos Estados Unidos.

Nunca vejo as propostas da doutrina social da Igreja sendo defendida em meio a essas movimentações.Símbolos religiosos ou referências à espiritualidade católica nesse grito, ficam quase que escondidos.A Teologia da Libertação e suas distorções evangélicas ainda têm muito espaço na Igreja do Brasil. Mesmo o ex-frei, ex-Leonardo, Genésio Boff, ainda influencia o meio acadêmico filosófico/teológico. Ele que deixou bem claro que a Teologia da Libertação não veio trazer a fé no marxismo, mas o marxismo na fé.Alías, o irmão de Genésio, Clodovis Boff também teólogo dessa estirpe, tem um pensamento interessante sobre o sonho (para ele) do cristianismo perfeito “a oração, a missa e os sacramentos não são a parte mais importante… Um Cristianismo que não confere um sentido objetivo e sobrenatural à luta popular, mas é a luta popular que dá sentido à fé?” (cf. Clodovis Boff, Do político, pp. 102-107). Será que o tal Grito do Excluídos, realmente dá sentido à fé? Ou apenas é o sonho boffiniano ganhando espaço? Quem realmente grita pela exclusão de quem? Os marxistas excluem Deus do mundo e Antônio Gramsci pode comemorar o sucesso parcial de sua empreitada, pois defendia destruir a Igreja Católica por dentro, roendo seus alicerces espirituais, já que os ataques externos são mais difíceis de alcançar êxito.

Eu que na minha infância nos anos 80, nem entendia direito o que havia de errado no discurso cheio de ódio do padre na paróquia que freqüentava, apenas sentia aquele forte cheiro de Boff. Quando o Grito do Excluídos foi criado, eu já estava rouco o suficiente, para não querer participar desse movimento. Hoje dou graças a Deus por conseguir me livrar dessas influências totalmente, e amar a verdadeira Igreja de Cristo, seu Vigário na Terra e viver as belezas que os sacramentos contém.Faço um apelo para todos os desavisados, que bem intencionados pretendem participar do Grito dos Excluídos, para divulgar suas pastorais, seus trabalhos paroquiais, entidades e comunidades sérias e comprometidas com o evangelho de Nosso Senhor, que quando for necessário ir as ruas para defender a vida pra valer, que também o façam.Pois apesar da “doença da Igreja do Brasil” como denomina Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, ainda temos muitos “glóbulos brancos” dispostos a enfrentar a “doença” com a ajuda e a graça de Deus. Ainda que pareça uma luta difícil, a garantia de sucesso e proteção para a Igreja de Pedro, vêm de gente de peso: “As portas do inferno, não prevalecerão contra ela” (Mat. 16,18).

Bento XVI refuta quem afirma que São Paulo inventou cristianismo

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 24 de setembro de 2008 (ZENIT.org).- A importância que o Apóstolo dos Gentios concede, em suas cartas, à Tradição vida da Igreja «demonstra quão equivocada está a visão daqueles que atribuem a Paulo a invenção do cristianismo», explicou hoje Bento XVI durante a audiência geral.

O Papa dedicou a catequese, pela 5ª vez, à figura do apóstolo São Paulo, nesta ocasião em relação com os Doze e com a Igreja de Jerusalém. A audiência aconteceu na Praça de São Pedro e dela participaram cerca de 15 mil peregrinos dos cinco continentes, entre eles vários grupos procedentes da Europa do Leste e da Oceania.

Segundo explicou Bento XVI, a relação entre Paulo e os demais apóstolos «sempre esteve marcada por um profundo respeito e pela franqueza que em Paulo derivava da defesa da verdade do Evangelho».

Ele destacou especialmente a relação com Pedro, a quem Paulo consultou durante 15 dias sobre a vida terrena de Jesus.

Segundo o Papa, Paulo transmite fielmente em suas cartas as duas fórmulas fundamentais da tradição viva da Igreja, que são o anúncio da Ressurreição e a Eucaristia.

Estas fórmulas, que contêm as palavras de Jesus na Última Ceia e a menção das aparições do Ressuscitado, «são elementos constitutivos e concernem à Eucaristia e à Ressurreição; trata-se de textos já formulados por volta do ano 30».

«Ele as transmite verbalmente, assim como as havia recebido, com uma fórmula muito solene: ‘Eu vos transmito aquilo que recebi’. Ele insiste, portanto, na fidelidade a tudo o que ele mesmo recebeu e que fielmente transmite aos novos cristãos», acrescenta o Papa.

Além disso, ambas as fórmulas constituem também o núcleo da teologia paulina, pois as palavras de Jesus na Última ceia «são realmente o centro da vida da Igreja».

«Além desse centro eucarístico, do qual a Igreja volta sempre a nascer – também para toda a teologia de Paulo, para todo o seu pensamento –, estas palavras têm um notável impacto sobre a relação pessoal de Paulo com Jesus.»

«O outro texto, sobre a Ressurreição, transmite-nos novamente a mesma fórmula de fidelidade. São Paulo escreve: ‘Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas, e em seguida aos Doze’», comentou o Santo Padre.

Ao incluir sua própria experiência no caminho de Damasco, Paulo sublinha «a identidade e a unicidade do anúncio do Evangelho: tanto eles como eu pregamos a mesma fé, o mesmo Evangelho de Jesus Cristo morto e ressuscitado que se entrega na Santíssima Eucaristia», acrescentou o Papa.

Portanto, explicou, a importância que Paulo confere à Tradição viva da Igreja «demonstra quão equivocada está a visão daqueles que atribuem a Paulo a invenção do cristianismo: antes de proclamar o evangelho de Jesus Cristo, ele o encontrou no caminho de Damasco e o conheceu na Igreja».

«Quanto mais procurarmos seguir os passos de Jesus de Nazaré pelos caminhos da Galiléia, mais poderemos compreender que Ele tomou sobre si a nossa humanidade, compartilhando-a em tudo, exceto no pecado. Nossa fé não nasce de um mito, nem de uma idéia, mas do encontro com o Ressuscitado, na vida da Igreja», concluiu o Papa.

Não existe a priori incompatibilidade entre Darwin e Bíblia

Declaração do presidente do Conselho Pontifício para a Cultura

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 17 de setembro de 2008 (ZENIT.org).- Não existe «a priori» incompatibilidade entre as teses de Charles Darwin e a Bíblia, assegura o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, arcebispo Gianfranco Ravasi.

O prelado italiano, que é também presidente da Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja, falou da figura do biólogo britânico que enunciou a teoria da evolução, ao apresentar um congresso internacional que será realizado em Roma de 3 a 7 de março.

O simpósio, que terá como tema «Evolução biológica: fatos e teorias. Uma avaliação crítica 150 anos depois de ‘A origem das espécies’», reunirá em Roma filósofos, teólogos e cientistas de renome internacional.

No encontro com os jornalistas ontem, Dom Ravasi quis «confirmar que não existe incompatibilidade a priori entre as teorias da evolução e a mensagem da Bíblia e da teologia».

Segundo recordou, Darwin «nunca foi condenado, ‘A origem das espécies’ não está no Índice (de livros proibidos, N. do T.), mas sobretudo há pronunciamentos muito significativos com relação à evolução por parte do próprio Magistério eclesial».

O congresso, segundo disse Ravasi, será interessante porque busca criar um diálogo entre filosofia, teologia e ciência. Foi apresentado na Sala de Informação da Santa Sé e faz parte do projeto STOQ (Science, Theology and the Ontological Quest – Ciência, Teologia e Pesquisa Ontológica).

O Congresso foi organizado conjuntamente pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma) e pela Universidade de Notre-Dame (Indiana, EUA), sob o patrocínio do Conselho Pontifício para a Cultura, no âmbito do projeto STOQ.

Este projeto busca criar uma ponte filosófica entre ciência e teologia através de programas de estudo, cursos universitários, ciclos de conferências, publicações científicas, etc. Fazem parte do mesmo universidades pontifícias de Roma e alguns dos maiores cientistas do mundo.

O congresso sobre a evolução, em concreto, é organizado pela Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma e pela Notre-Dame University dos Estados Unidos, com o patrocínio do Conselho Pontifício para a Cultura.

Dom Ravasi recordou dois pronunciamentos históricos sobre a evolução do Magistério pontifício: a encíclica Humani Generis, de Pio XII, de 12 de agosto de 1950, e a Mensagem de João Paulo II à Plenária da Academia Pontifícia de Ciências, de 22 de outubro de 1996.

Dom Ravasi explicou que o congresso busca enfrentar o debate com três atitudes básicas: antes de tudo, pesquisa séria – que supere os lugares comuns –, humildade e otimismo.

O arcebispo explicou que teólogos, filósofos e cientistas se movem em «terrenos diferentes», mas «o importante é que a linha de demarcação não se converta em uma ‘muralha chinesa’ em uma ‘cortina de ferro’, desde o qual se vê o outro com desprezo».

«A distinção – advertiu – não é separação. A distinção é necessária!»

«Portanto – declarou –, é necessário um ato de humildade também por parte do teólogo, que deve escutar e aprender; por outro lado, é necessário superar a arrogância de alguns cientistas que esbofeteiam quem tem fé e que consideram a fé e a teologia como uma herança de um paleolítico intelectual.»

Na coletiva de imprensa interveio também o Pe. Marc Leclerc, S.J., professor de Filosofia da Naturezana Pontifícia Universidade Gregoriana; Gennaro Auletta, diretor cientista do projeto STOQ e professor de Filosofia da Ciência na Pontifícia Universidade Gregoriana; e Alessandro Minelli, professor de Zoologia na Universidade de Pádua (Itália).

O Pe. Leclerc constatou que «o debate sobre a teoria da evolução é cada vez mais forte, tanto no âmbito cristão como no estritamente evolucionista».

O sacerdote jesuíta, ao explicar os motivos que levaram à convocação do congresso, neste contexto, afirma: «Pensamos que nosso dever é procurar esclarecer alguns pontos, já que cientistas, filósofos e teólogos cristãos estão diretamente envolvidos no debate, junto com colegas de outras confissões ou não-confessionais».

«Trata-se de suscitar um amplo intercâmbio de opiniões desde o ponto de vista racional, para favorecer um diálogo fecundo entre especialistas de âmbitos diferentes; a Igreja está profundamente interessada neste diálogo, respeitando plenamente o campo de cada um», concluiu.

Testemunho de Paulo: Deus é o protagonista da ação apostólica

Afirma o cardeal Geraldo Majella Agnelo

SALVADOR, quinta-feira, 28 de agosto de 2008 (ZENIT.org).- O arcebispo de Salvador (Brasil), cardeal Geraldo Majella Agnelo, considera que «a liberdade e a coragem de Paulo nascem, antes de tudo, da convicção de que Deus, e somente Deus, é o verdadeiro protagonista de toda ação apostólica».

É o que o arcebispo explica em artigo enviado a Zenit esta terça-feira. Segundo D. Geraldo Agnelo, Paulo «é sereno, sem demagogia, livre das decisões dos homens e de seus interesses».

«Ele sabe que deverá dar contas a Deus e não aos homens. Sua única preocupação é de permanecer fiel a Cristo.»

«Não se preocupa com sucesso, mas está a serviço dos homens: “Somos vossos servos por Jesus” (2 Cor 4,5). No coração do apóstolo o amor de Deus precede o amor do próximo», destaca.

Segundo o arcebispo, Paulo ocupou-se da caridade desde a primeira de suas cartas, «mesmo se o tema venha a ser depois particularmente aprofundado e concretizado pelas exigências pastorais mais do que por exigências teóricas, nas grandes cartas aos Coríntios, aos Gálatas e aos Romanos».

«Para ele, a fé é o trabalho, a obra, algo que não se reduz ao conhecimento nem ao puro desejo. A esperança é a perseverança e paciência, solidez; é a força de ânimo capaz de durar longo prazo sem deixar-se modificar por desmentidos nem pelo peso das adversidades. A caridade é fadiga, é dura fadiga.»

De acordo com o cardeal Agnelo, para ler as cartas de Paulo é preciso ter diante dos olhos «a sua figura apostólica e missionária, o princípio norteador de sua teologia, sua relação com a tradição de Jesus e com a tradição apostólica, sua relação com as comunidades».

«Aí podemos atingir o centro profundo, constante, que sustenta sua espiritualidade, sua teologia e sua atividade de incansável evangelizador.»

«A figura de Paulo, em todos os seus escritos, aparece inteiramente recolhida na meditação de Cristo ressuscitado e no encargo de ser o guarda de sua memória. Pode-se observar como o desejo de estar ligado às origens é vivo em toda a sua atividade.»

«Quer manter sempre viva, atual e fiel, a memória de Jesus, que para ele se concentra particularmente na cruz/ressurreição. Ele é antes de tudo o ministro da Palavra, que é Cristo», afirma o cardeal.

Santo Efrém da Síria

Por Papa Bento XVI
Tradução: Zenit
Fonte: Vaticano/Zenit

Queridos irmãos:

Segundo uma opinião comum hoje, o cristianismo seria uma religião européia, que teria exportado a cultura deste continente a outros países. Mas a realidade é muito mais complexa, pois a raiz da religião cristã se encontra no Antigo Testamento e, portanto, em Jerusalém e no mundo semítico. O cristianismo se alimenta sempre desta raiz do Antigo Testamento. Sua expansão nos primeiros séculos aconteceu tanto para o Ocidente como para o mundo greco-latino, onde depois inspirou a cultura Européia, como para o Oriente, até a Pérsia, Índia, ajudando deste modo a suscitar uma cultura específica, com línguas semíticas, e com uma identidade própria.

Para mostrar esta multiformidade cultural da única fé cristã dos inícios, na catequese da quarta-feira passada falei de um representante deste outro cristianismo, Afraates o sábio persa, para nós quase desconhecido. Nesta mesma linha, quero falar hoje de Santo Efrém o sírio, nascido em Nisibis em torno do ano 306, no seio de uma família cristã.

Foi o representante mais importante do cristianismo no idioma sírio e conseguiu conciliar de maneira única a vocação de teólogo com a de poeta. Formou-se e cresceu junto a Tiago, bispo de Nisibis (303-338), e junto a ele fundou a escola teológica de sua cidade. Ordenado diácono, viveu intensamente a vida da comunidade local até o ano 363, no qual Nisibis caiu nas mãos dos persas. Então Efrém imigrou para Edesa, onde continuou pregando. Morreu nesta cidade no ano 373, ao ser contagiado de peste em sua obra de atenção aos enfermos.

Não se sabe realmente se ele era monge, mas em todo caso é certo que decidiu continuar sendo diácono durante toda a sua vida, abraçando a virgindade e a pobreza. Deste modo, no caráter específico de sua cultura, pode-se ver a comum e fundamental identidade cristã: a fé, a esperança – essa esperança que permite viver pobre e casto neste mundo, pondo toda expectativa no Senhor – e por último a caridade, até oferecer o dom de si mesmo no cuidado dos enfermos de peste.

Santo Efrém nos deixou uma grande herança teológica: sua considerável produção pode reagrupar-se em quatro categorias: obras escritas em prosa (suas obras polêmicas e os comentários bíblicos); obras em prosa poética; homilias em verso; e por último, os hinos, sem dúvida a obra mais ampla de Efrém. É um autor prolífico e interessante em muitos aspectos, mas sobretudo desde o ponto de vista teológico.

O caráter específico de seu trabalho consiste em unir teologia e poesia. Ao aproximar-nos de sua doutrina, temos de insistir desde o início nisso: ele faz teologia de forma poética. A poesia lhe permite aprofundar na reflexão teológica através de paradoxos e imagens. Ao mesmo tempo, sua teologia se torna liturgia, se torna música: de fato, era um grande compositor, um músico. Teologia, reflexão sobre a fé, poesia, canto, louvor a Deus, estão unidos; e precisamente por este caráter litúrgico, aparece com nitidez na teologia de Efrém a verdade divina. Na busca de Deus, ao fazer teologia, segue o caminho do paradoxo e do símbolo. Privilegia as imagens opostas, pois lhe servem para sublinhar o mistério de Deus.

Agora não posso falar muito dele, em parte porque é difícil traduzir a poesia, mas para dar ao menos uma idéia de sua teologia poética, quero citar passagens de dois hinos. Antes de tudo, e frente também ao próximo Advento, eu vos proponho umas esplêndidas imagens tomadas dos hinos «Sobre a natividade de Cristo». Diante de Nossa Senhora, Efrém manifesta com inspiração sua maravilha:

«O Senhor veio a ela
para tornar-se servo.
O Verbo veio a ela
para calar em seu seio.
O raio veio a ela
para não fazer ruído.
O pastor veio a ela,
e nasceu o Cordeiro, que chora docemente.
O seio de Maria
trocou os papéis:
quem criou tudo
apoderou-se dele, mas na pobreza.
O Altíssimo veio a ela (Maria),
mas entrou humildemente.
O esplendor veio a ela,
mas vestido com roupas humildes.
Quem tudo dá
experimentou a fome.
Quem dá de beber a todos
sofreu a sede.
Saiu dela nu,
quem tudo reveste (de beleza)» (Himno «De Nativitate» 11, 6-8)

Santo Ireneu de Lião

Por Papa bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Nas catequeses sobre as grandes figuras da Igreja dos primeiros séculos chegamos hoje à personalidade eminente de Santo Ireneu de Lião. As notícias biográficas sobre ele provêm do seu próprio testemunho, que nos foi transmitido por Eusébio no quinto livro da História Eclesiástica.

Ireneu nasceu com toda a probabilidade em Esmirna (hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, onde ainda jovem frequentou a escola do Bispo Policarpo, por sua vez discípulo do apóstolo João. Não sabemos quando se transferiu da Ásia Menor para a Gália, mas a transferência certamente coincidiu com os primeiros desenvolvimentos da comunidade cristã de Lião: aqui, no ano 117, encontramos Ireneu incluído no colégio dos presbíteros. Precisamente naquele ano ele foi enviado para Roma, portador de uma carta da comunidade de Lião ao Papa Eleutério. A missão romana subtraiu Ireneu à perseguição de Marco Aurélio, que causou pelo menos quarenta e oito mártires, entre os quais o próprio Bispo de Lião, Potino que, com noventa anos, faleceu por maus-tratos no cárcere. Assim, com o seu regresso, Ireneu foi eleito Bispo da cidade. O novo Pastor dedicou-se totalmente ao ministério episcopal, que se concluiu por volta de 202-203, talvez com o martírio.

Ireneu é antes de tudo um homem de fé e Pastor. Do bom Pastor tem o sentido da medida, a riqueza da doutrina, o fervor missionário. Como escritor, busca uma dupla finalidade: defender a verdadeira doutrina contra os ataques heréticos, e expor com clareza a verdade da fé.

Correspondem exactamente a estas finalidades as duas obras que dele permanecem: os cinco livros Contra as Heresias, e a Exposição da pregação apostólica (que se pode também chamar o mais antigo “catecismo da doutrina cristã”). Em suma, Ireneu é o campeão da luta contra as heresias. A Igreja do século II estava ameaçada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que não são capazes de compreender coisas difíceis; ao contrário, os idosos, os intelectuais chamavam-se gnósticos teriam compreendido o que está por detrás destes símbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista. Obviamente este cristianismo intelectualista fragmentava-se cada vez mais em diversas correntes com pensamentos muitas vezes estranhos e extravagantes, mas para muitos era atraente. Um elemento comum destas diversas correntes era o dualismo, isto é, negava-se a fé no único Deus Pai de todos, Criador e Salvador do homem e do mundo. Para explicar o mal no mundo, eles afirmavam a existência, em paralelo com o Deus bom, de um princípio negativo. Este princípio negativo teria produzido as coisas materiais, a matéria.

Radicando-se firmemente na doutrina bíblica da criação, Ireneu contesta o dualismo e o pessimismo gnóstico que diminuíam as realidades corpóreas. Ele reivindicava decididamente a santidade originária da matéria, do corpo, da carne, não menos que a do espírito. Mas a sua obra vai muito mais além da confutação da heresia: pode-se dizer de facto que ele se apresenta como o primeiro grande teólogo da Igreja, que criou a teologia sistemática; ele mesmo fala do sistema da teologia, isto é, da coerência interna de toda a fé. No centro da sua doutrina situa-se a questão da “regra da fé” e da sua transmissão. Para Ireneu a “regra da fé” coincide na prática com o Credo dos Apóstolos, e dá-nos a chave para interpretar o Evangelho, para interpretar o Credo à luz do Evangelho. O símbolo apostólico, que é uma espécie de síntese do Evangelho, ajuda-nos a compreender o que significa, como devemos ler o próprio Evangelho.

De facto o Evangelho pregado por Ireneu é o mesmo que recebeu de Policarpo, Bispo de Esmirna, e o Evangelho de Policarpo remonta ao apóstolo João, do qual Policarpo era discípulo. E assim o verdadeiro ensinamento não é o que foi inventado pelos intelectuais além da fé simples da Igreja. O verdadeiro Evangelho é o que foi transmitido pelos Bispos que o receberam numa sucessão ininterrupta dos Apóstolos. Eles outra coisa não ensinaram senão precisamente esta fé simples, que é também a verdadeira profundidade da revelação de Deus. Assim diz-nos Ireneu não há uma doutrina secreta por detrás do Credo comum da Igreja. Não existe um cristianismo superior para intelectuais. A fé publicamente confessada pela Igreja é a fé comum de todos. Só esta fé é apostólica, vem dos Apóstolos, isto é, de Jesus e de Deus. Aderindo a esta fé transmitida publicamente pelos Apóstolos aos seus sucessores, os cristãos devem observar o que os Bispos dizem, devem considerar especialmente o ensinamento da Igreja de Roma, preeminente e antiquíssima. Esta Igreja, devido à sua antiguidade, tem a maior apostolicidade, de facto haure origem das colunas do Colégio apostólico, Pedro e Paulo. Com a Igreja de Roma devem harmonizar-se todas as Igrejas, reconhecendo nela a medida da verdadeira tradição apostólica, da única fé comum da Igreja. Com estas argumentações, aqui resumidas muito brevemente, Ireneu contesta desde os fundamentos as pretensões destes gnósticos, destes intelectuais: antes de tudo eles não possuem uma verdade que seria superior à da fé comum, porque o que dizem não é de origem apostólica, é por eles inventado; em segundo lugar, a verdade e a salvação não são privilégio nem monopólio de poucos, mas todos as podem alcançar através da pregação dos sucessores dos Apóstolos, e sobretudo do Bispo de Roma. Em particular sempre polemizando com o carácter “secreto” da tradição gnóstica, e observando os seus numerosos êxitos entre si contraditórios Ireneu preocupa-se por ilustrar o conceito genuíno de Tradição apostólica, que podemos resumir em três pontos.

a) A Tradição apostólica é “pública”, não privada ou secreta. Ireneu não duvida minimamente de que o conteúdo da fé transmitida pela Igreja é o que recebeu dos Apóstolos e de Jesus, do Filho de Deus. Não existe outro ensinamento além deste. Portanto quem quiser conhecer a verdadeira doutrina é suficiente que conheça “a Tradição que vem dos Apóstolos e a fé anunciada aos homens”: tradição e fé que “chegaram até nós através da sucessão dos Bispos” (Adv. Haer.3, 3, 3-4). Assim, sucessão dos Bispos, princípio pessoal; e Tradição apostólica, princípio doutrinal coincidem.

b) A Tradição apostólica é “única”. De facto, enquanto o gnosticismo se subdivide em numerosas seitas, a Tradição da Igreja é única nos seus conteúdos fundamentais, a que como vimos Ireneu chama precisamente regula fidei ou veritatis: e isto porque é única, gera unidade através dos povos, através das culturas diversas, através dos povos diversos; é um conteúdo comum como a verdade, apesar da diversidade das línguas e das culturas. Há uma frase muito preciosa de Santo Ireneu no livro Contra as heresias: “A Igreja, apesar de estar espalhada por todo o mundo, conserva com solicitude [a fé dos Apóstolos], como se habitasse numa só casa; ao mesmo tempo crê nestas verdades, como se tivesse uma só alma e um só coração; em plena sintonia com estas verdades proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. As línguas do mundo são diversas, mas o poder da tradição é único e é o mesmo: as Igrejas fundadas nas Alemanhas não receberam nem transmitiram uma fé diversa, nem as que foram fundadas nas Espanhas ou entre os Celtas ou nas regiões orientais ou no Egipto ou na Líbia ou no centro do mundo” (1, 10, 1-2). Já se vê neste momento, estamos no ano 200, a universalidade da Igreja, a sua catolicidade e a força unificadora da verdade, que une estas realidades tão diversas, da Alemanha à Espanha, à Itália, ao Egipto, à Líbia, na comum verdade que nos foi revelada por Cristo.

c) Por fim, a Tradição apostólica é como ele diz na língua grega na qual escreveu o seu livro, “pneumática”, isto é, espiritual, guiada pelo Espírito Santo: em grego espírito diz-se pneuma. De facto, não se trata de uma transmissão confiada à habilidade de homens mais ou menos doutos, mas ao Espírito de Deus, que garante a fidelidade da transmissão da fé. Esta é a “vida” da Igreja, o que torna a Igreja sempre vigorosa e jovem, isto é, fecunda de numerosos carismas. Igreja e Espírito para Ireneu são inseparáveis: “Esta fé”, lemos ainda no terceiro livro Contra as heresias, “recebemo-la da Igreja e conservámo-la: a fé, por obra do Espírito de Deus, como um depósito precioso guardado num vaso de valor rejuvenesce sempre e faz rejuvenescer também o vaso que a contém. Onde estiver a Igreja, ali está o Espírito de Deus; e onde estiver o Espírito de Deus, ali está a Igreja com todas as graças” (3, 24, 1).

Como se vê, Ireneu não se limita a definir o conceito de Tradição. A sua tradição, a Tradição ininterrupta, não é tradicionalismo, porque esta Tradição é sempre internamente vivificada pelo Espírito Santo, que a faz de novo viver, a faz ser interpretada e compreendida na vitalidade da Igreja. Segundo o seu ensinamento, a fé da Igreja deve ser transmitida de modo que apareça como deve ser, isto é, “pública”, “única”, “pneumática”, “espiritual”. A partir de cada uma destas características podemos realizar um frutuoso discernimento sobre a autêntica transmissão da fé no hoje da Igreja. Mais em geral, na doutrina de Ireneu a dignidade do homem, corpo e alma, está firmemente ancorada na criação divina, na imagem de Cristo e na obra permanente de santificação do Espírito. Esta doutrina é como uma “via-mestra” para esclarecer juntamente com todas as pessoas de boa vontade o objecto e os confins do diálogo sobre os valores, e para dar impulso sempre renovado à acção missionária da Igreja, à força da verdade que é a fonte de todos os valores verdadeiros do mundo.

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