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A reforma liturgica de Bento XVI

A melhor catequese é a liturgia bem celebrada. A grande confusão na cabeça de muitos fiéis é reflexo da grande confusão litúrgica e doutrinária que eles presenciam.
Não parece haver caminho mais seguro e acertado para remediar a liturgia: a observância das normas, o esforço por celebrar bela e dignamente os sagrados mistérios. A liturgia é o rosto da Igreja, sua fonte de vida, seu vigor. Salvando a liturgia, a Igreja terá forças para salvar o mundo.

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O Primado de Pedro

Ubi Petrus, ibi Ecclesia.
(S. Ambrosio)

Introdução

Uma das grandes razões de divergência entre católicos e protestantes diz respeito à legitimidade para a interpretação das Sagradas Escrituras. Para os seguidores da reforma, qualquer pessoa poderia ler e entender corretamente a bíblia, sem o auxílio de ninguém senão do Espírito Santo, que guiaria cada um infalivelmente na busca do verdadeiro significado da palavra divina. É o chamado livre exame da Bíblia, proposto pelo ex-frade Lutero.

Para os católicos, o legítimo intérprete das Escrituras (e também da Tradição) é o papa, sucessor direto de São Pedro, pois Cristo confiou a ele esse ministério. Ao Papa, portanto, devem os católicos obediência em matéria de fé e moral, em função do poder divino a ele conferido.

Os protestantes, apesar de discutir as passagens discordantes da bíblia de forma crítica, acabam tendo que reconhecer que cada um, em conexão direta com Deus, tem a sua interpretação, a sua “verdade”, originando-se, dessa forma, o fenômeno da multiplicação das seitas que se constata a partir do século XVI, e que não cessou até hoje.

Cada seita seria uma manifestação de Deus; não importa se defende teses contrárias às das demais, desde que mantenha a “fé” em Cristo. Essa “fé” na verdade se traduziria por um “sentir Cristo”; portanto, trata-se de um ato da vontade e não da inteligência.

A doutrina católica, ao contrário, reconhece que a fé é a adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus. Sendo verdades, elas não podem variar nem segundo a pessoa que as interpreta, nem segundo a época, pois a verdade é imutável.

Cabe ao papa guiar os fiéis nos ensinamentos de Cristo confiados à Igreja em depósito, o qual não pode ser alterado até a consumação dos séculos.
Importa pois saber qual das duas visões corresponde à vontade divina, pois aí teremos resolvido o problema da interpretação da Bíblia Sagrada, que é motivo de divergência entre católicos e protestantes. Examinemos pois, em primeiro lugar, as Escrituras.

Os protestantes afirmam que, para defender a posição católica, só existiria uma passagem do Evangelho de São Mateus (XVI, 16-19), a qual não possui paralelo com os dois outros Evangelhos que descrevem a mesma cena, de interpretação duvidosa.

Pedro seria como os demais apóstolos, diferindo apenas no caráter agressivo, o que faria com que liderasse os demais, seguindo e obedecendo a Cristo. Entretanto, Nosso Senhor não teria conferido qualquer primado a Pedro entre os Apóstolos.

O que o Evangelho mostra, entretanto, é que Pedro ocupava um lugar de destaque no colégio Apostólico, e que Cristo fez a ele a promessa da primazia entre os apóstolos, para que, uma vez confirmado, confirmasse os seus irmãos (Lc XXII,32). Utilizaremos na maior parte da demonstração dessa verdade o esquema do livro Igreja, Reforma e Civilização, do Pe. Leonel Franca, Ed. Agir, 6a edição.

Pedro é o mais citado pelos Evangelistas

Podemos constatar a proeminência de São Pedro entre os Apóstolos, em primeiro lugar, pela quantidade de vezes que ele é nomeado nos Evangelhos: vários já fizeram notar que os evangelistas fazem referência a Pedro 171 vezes (114 nos evangelhos e 57 nos Atos dos Apóstolos), enquanto que do apóstolo amado, São João, fazem 46 citações.

É o que se poderia chamar de prova estatística, pois mostra como os Evangelistas consideravam a figura do príncipe dos apóstolos, destacada desde cedo pela autoridade de Cristo.
Veremos mais adiante que São Pedro não é apenas nomeado maior número de vezes, mas principalmente em citações que denotam importância, e que o critério numérico simplesmente serve para reforçar este.

Para impugnar esse argumento, alguns fazem notar que São Paulo é nomeado 160 vezes nos Atos dos Apóstolos, onde Pedro aparece 57 vezes, e que portanto, por esse critério, São Paulo teria mais direito ao título de papa.

Entretanto, o que importa demonstrar, com isso, é que houve um que foi destacado entre os doze apóstolos, designado por Cristo para guiar os demais.
Essa questão diz respeito aos primeiros seguidores de Cristo, e quando o Apóstolo das Gentes se converteu, ela já estava decidida. Só Nosso Senhor poderia nomear um seu representante com tal poder e autoridade.

Cristo muda o nome de Simão para Pedro

Outro destaque exclusivo de Pedro é que Cristo, ao chamá-lo a uma nova e superior vocação, lhe atribui curiosamente um novo nome, que carrega o significado poderoso de, ao mesmo tempo, chefe e fundamento da nova sociedade que terá por missão espalhar os ensinamentos do Mestre pelos quatro cantos do mundo. “Este (André) encontrou primeiro seu irmão Simão, e disse-lhe: Encontramos o Messias. E levou-o a Jesus. E Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro (Pedra)” (S. João, I, 41-42).

Analisemos em primeiro lugar a mudança do nome: quantas vezes, em toda a Escritura, Deus muda o nome de alguém? Se são poucas as vezes, conclui-se que esse ato é solene, dada a sua excepcionalidade, que faz concluir a gravidade daquilo que o motivou.

Ora, em toda a Sagrada Escritura Deus muda apenas três vezes o nome de homens, sempre para destacar a dignidade de uma vocação superior: primeiro, muda o nome de Abrão para Abraão, tornando-o o patriarca fiel a Deus e recompensado com a Antiga Aliança e a promessa de uma descendência pujante (Gênesis, XVII, 5-8). O segundo eleito é Jacó, a quem Deus nomeia Israel, renovando as promessas feitas ao avô em relação ao povo judeu. A mais nenhum Deus concede esse privilégio, nem a Reis nem a Profetas, que foram tantos e com tal Santidade! No Antigo Testamento, Deus sela a Aliança com seu povo escolhendo e mudando o nome dos Patriarcas, mostrando de forma inequívoca que unge – separa – seus eleitos.

Nosso Senhor então, na plenitude dos tempos, quando a humanidade se encontra preparada para a grande obra da Redenção, vai novamente distinguir aqueles com quem firmará a Nova e Eterna Aliança, mudando o nome do seu Patriarca, que deverá apascentar seus cordeiros e ovelhas pelos séculos, prometendo-lhe Sua assistência infalível. E muda seu nome não para um qualquer, mas para Pedro (Cefas, que em aramaico – língua falada por Nosso Senhor – quer dizer Rocha), mostrando que sua Igreja não seria fundada sobre areia.

Esse é um fato muitas vezes esquecido, ou relegado a um plano inferior, porém tem uma importância enorme, pois demonstra que Pedro deveria ter entre os Apóstolos uma distinção de honra, incompatível com uma idéia de igualdade entre os doze. Notemos que nem São Paulo mereceu tal honra.

Cristo prefere a barca de São Pedro

Outro aspecto interessante da distinção de Pedro diz respeito a sua barca, que desde muito cedo foi interpretada pelos Santos Padres como símbolo da Igreja, unicamente na qual podem se salvar os homens.

Cristo, na sua pregação evangélica, prefere invariavelmente a barca de Pedro. Na verdade, não se nomeia expressamente outra barca de que Cristo tenha se servido.
É na barca de Pedro que ocorre a pesca milagrosa, de uma simbologia extremamente significativa (S. Lucas, V, 3-6). Outra pesca milagrosa irá ocorrer após a ressureição, no lago de Tiberíades, de novo na barca de Pedro (João, XXI, 3,7, 11). A barca de Pedro é chamada de “a barca”, por antonomásia, em outras passagens (Mateus, VIII, 23; XIV, 22; Marcos, IV, 36; VI, 45), em oposição às “outras barcas” (Marcos, IV, 36)

Tiremos a conclusão obrigatória: fora da Barca de Pedro não se acha Cristo.

A casa de Pedro em Cafarnaum e o tributo

Dois fatos aparentemente corriqueiros da vida de Cristo se juntam às evidências até aqui acumuladas, e dizem respeito à proximidade do mestre a Pedro. Primeiro, observa-se pelos Evangelhos que, quando Cristo se demora em Cafarnaum, é na casa de Pedro que se hospeda. “Ao sair da Sinagoga, Jesus e os que o seguiam se dirigiram à casa de Pedro e André …” (Marcos, I,29; Mateus, VIII, 14; Lucas, IV, 38), e que mais tarde, à porta da casa (de Pedro) Jesus fazia milagres. São Marcos, em outras ocasiões, sem mencionar outra casa, diz simplesmente que o Mestre se dirigiu “à casa” e “para casa” (Marcos, II,1; III,20; IX, 32).

É curiosa a diferença nas narrações de São Marcos e São Mateus desse mesmo episódio: este usando artigo – na casa; aquele sem o usar – em casa.
O sentido da primeira expressão é o mesmo que tem, para os franceses, o chez moi, ou seja, em minha casa. Seria um fato estranho São Marcos falar de sua casa, se não soubéssemos ter sido o evangelista discípulo de Pedro. Ao repetir o que ouviu do Apóstolo, ele utiliza a expressão de quem falava da própria casa. São Mateus fala da casa não com sentido próprio, pois falava da casa de outrem. Curioso ainda é que quando os evangelistas falam da casa de Cristo, se referindo à de Nazaré, usam ambos o artigo, evidenciando o detalhe sutil e extremamente probatório da passagem.
Portanto, o Evangelho de S. Marcos demonstra que, em Cafarnaum, Cristo se hospedava na casa de Pedro.

O segundo fato, que está estreitamente ligado ao primeiro, é que Cristo manda pagar o tributo do templo por si e por Pedro, quando os coletores de impostos vão à casa deste cobrar pelo Mestre ” … vosso mestre não paga a didracma? Ele (Pedro) respondeu-lhes: sim. E depois que entrou em casa , Jesus o preveniu, dizendo: Que te parece Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o censo? De seus filhos ou de estranhos? E Ele (Pedro) respondeu: dos estranhos. Disse-lhe Jesus: logo são isentos os filhos. Todavia, para que os não escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro peixe que subir toma-o, e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estater: tira-o e dá-lho por mim e por ti.”(Mateus, XVII, 24-27).
Esse é um sinal tão distintivo da preferência de Nosso Senhor pelo apóstolo, que os demais, logo que Pedro se afasta, cercam o mestre para saber quem seria o maior no reino dos céus (Mateus, XVIII, 1).

Sobre esse texto, Clemente de Alexandria exclamava: “Bem aventurado Pedro, o escolhido, o preferido, o primeiro dos discípulos, único pelo qual Cristo pagou tributo.” (Qui dives Salvetur, 21, Migne, Patrologia serie Grega, IX, 625. – citado pelo Padre Leonel Franca).

A lista dos Apóstolos

Todas as vezes que os evangelistas nomeavam os doze apóstolos, o faziam invariavelmente começando por Pedro e terminando por Judas, com os demais ocupando lugares diferentes (S. Mateus, X, 2-4, S. Marcos, III, 16-19, S. Lucas, VI, 14-16, Atos, I, 13).

Se não é difícil imaginar o porquê do último lugar ao traidor, também não o é o primeiro para Pedro. São Mateus é explícito: “Primeiro, Simão que se chama Pedro.” (S. Mateus, X, 2-4).
Primeiro em quê? Em idade, em chamado para a vocação? Nem um, nem outro.

Se fosse correta a primeira hipótese, a ordem dos demais seria sempre a mesma, e se o fosse a segunda, André e outro discípulo seriam os primeiros nas listas (S. João, I, 35-42).
Em ocasiões excepcionais da vida de Cristo, três apóstolos sempre O acompanhavam: Pedro e outros dois. Na ressureição da filha de Jairo, na manifestação de sua onipotência, na agonia do jardim das oliveiras, no mistério de suas dores, eles estiveram presentes (Marcos, V, 37; IX, 1; XIV, 33 e outros paralelos).

Às vezes, todo o Colégio Apostólico segue a Pedro numa expressão coletiva: “Pedro e os que o acompanhavam” (Marcos, I, 36).
Lemos também no evangelho de S. João que é Pedro quem responde por todos na questão da explicação de Cristo sobre a necessidade de se comer sua carne e beber o seu sangue (portanto, da presença real de Cristo na hóstia), ocasião em que alguns discípulos abandonaram o Mestre.
Depois que Pedro se pronuncia, ninguém mais abandona Cristo.

A grande promessa

Um dos motivos da grande resistência à primazia de Pedro é o fato dele não ter exercido nenhum poder entre os Apóstolos mesmo após as palavras de Cristo que lhe teriam dado esse poder.
O que não entendem os inimigos do papado é que Cristo fez uma promessa a Pedro, e não uma nomeaçao imediata. Não faria sentido Cristo designar Pedro para que guiasse as almas enquanto Ele estivesse no mundo.

Se os Apóstolos e Discípulos se questionavam quem seria o primeiro, ou o maior no reino, era porque pouco entendiam do que Nosso Senhor ensinava por serem almas toscas, e não porque haveria dúvida acerca da primazia. Essa questão já estava definida.

Para que se compreenda, vejamos o seguinte fato: que verdade estaria mais clara para os discípulos de Cristo, do que o caráter transcendental do seu reino? Nosso Senhor continuamente lhes dizia que seu reino não era deste mundo; no entanto, pouco antes da Ascensão aos Céus, um discípulo pergunta se Cristo iria restituir o reino de Israel naquele momento (Atos, I, 7)!

A mãe de Tiago e João pede um lugar de destaque no reino para os filhos (S. Mateus, XX, 24); quando os discípulos disputavam para ver quem era o maior, Cristo os repreendeu dizendo que “Entre os gentios, os reis exercem dominação sobre os súditos. Entre vós, não há de ser assim; antes, o que é maior entre vós faça-se como o menor, e o que manda como o que serve.” (S. Lucas, XXII, 25-27).
Com isso Cristo ensina uma nova forma de exercer a autoridade, mais perfeita, e não pretende combater a primazia daquele que manda, pois aplica a regra de humildade a si mesmo; em outra passagem (S. João, XIII, 13), o mesmo Cristo se diz Mestre e Senhor; aquele pois, que é mestre, sirva para dar o exemplo e praticar a humildade, e não para deixar de ser mestre.

O “Tu es Petrus”

Se todos esses episódios nos servem para reconstituir o quadro da predileção por Pedro, a passagem da grande promessa é o momento solene da confirmação dessa vocação singular. Cristo dirige-se a Pedro, após sua maravilhosa profissão de fé (“Que dizem os homens de mim (…) que dizeis vós?” “Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo”!), e confirma sua promessa: “Bem aventurado és Simão Barjona, porque não foi a carne e o sangue que a ti revelou, mas sim meu Pai que está nos céus, e eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus”(S.Mateus, XVI, 16-19)
Nunca houve texto mais deturpado, mais recortado e refeito, na busca desesperada de alterar-lhe o sentido, que se apresenta simples. Para os protestantes, Cristo estaria falando de duas pedras. A primeira pedra (“tu és pedra”) não é pedra; no máximo, é uma pedra menor, diferente da segunda (“sobre esta pedra”). A primeira é Pedro, a segunda, Cristo, ou a confissão de Pedro, conforme o examinador.

Porém, o texto se dirige todo a Pedro – “tu és Pedro…”; “eu te darei as chaves…”; “tudo que (tu) ligares…” – em resposta à sua confissão, como um prêmio pela sua defesa pública da fé. O texto não traz qualquer interrupção lógica, para passar a se referir a Nosso Senhor. Se assim fosse, a frase ficaria sem sentido: “tu és Pedro, mas não edificarei a minha Igreja sobre ti, senão sobre mim; as chaves do céu porém te darei.”

Ora, é impossivel admitir que a Sabedoria Divina tenha se expressado de forma tão confusa, ainda mais se nos lembrarmos da mudança do nome de Pedro. Lembremos ainda que Cristo falava em aramaico, língua em que Pedro e pedra significam, ambos, Cefas. Não resta qualquer espaço para dúvidas.

Mas, dirão ainda os protestantes: em várias passagens se diz que Cristo é a pedra, o fundamento! Não há dúvida. Mas só Cristo é pedra? Vejamos o que Nosso Senhor diz:”eu sou a luz do mundo” (S. João, VIII, 12) e depois: “Vós sois a luz do mundo”, dirigindo-se aos apóstolos (Mateus, V, 15).

Duas luzes? Sim. Há, portanto, luz e luz, pedra e pedra. Uma luz fonte, outra luz reflexo; uma pedra fundamento invisível, causa e fim dos homens, outra pedra fundamento visível, rocha de sustentaçao da Igreja indefectível e guia infalível dos homens.

Mas não é necessário prolongar a explicação de algo tão evidente, que mesmo alguns protestantes mais honestos já reconheceram. Reproduzimos apenas uma citação feita pelo padre Franca – P. F. Jalaguier, em seu L’Eglise, Paris 1899, p. 219: “Nous nous plaçons encore ici sur le terrain qui leur est le plus favorable (aos católicos) parce qui’ll est à nos yeux le seul vrai; et nous admettons que ce passage renferme une promesse spéciale fait à Saint Pierre” [“Nós nos colocamos ainda aqui num terreno que lhe é mais favorável (aos católicos) porque ele é, a nossos olhos, o único verdadeiro; e nós admitimos que essa passagem contém uma promessa especial feita a Pedro”] .

As chaves do reino dos céus

As doação das chaves indica o poder conferido a alguém de abrir ou cerrar o acesso da casa, da cidade, do reino, sendo costume entre os orientais o suspender as chaves aos ombros em sinal de autoridade.

Não há dúvida de que Cristo confere a Pedro um poder singular, que sempre foi entendido na Igreja como poder infalível (o que ligar na terra, será ligado no céu) e condicionado à vontade divina (o papa não força Deus a ligar ou desligar, mas só pode ligar ou desligar o que Deus quer no céu), e que foi ratificado no Concílio Vaticano I, no século XIX, com a solene proclamação do dogma da Infalibilidade Papal.

Os protestantes freqüentemente atacam esse dogma por desvirtuarem estas duas verdades – o ligar e desligar condicionado, e a ratificação (e não invenção) do dogma;
Na verdade, Cristo não poderia ter agido de outra forma, se quisesse que sua Igreja triunfasse durante os séculos, senão conferindo ao pastor universal, Seu representante na Terra, um poder infalível.

Se esse poder fosse falível, como esperar que não perecesse?

É exatamente o que ocorre com as seitas derivadas do movimento reformador de Lutero, surgindo e desaparecendo aos borbotões.

O “Pasce oves mea”

Como se isso tudo não bastasse, temos ainda o trecho soleníssimo em que Cristo confia o seu rebanho a Pedro, dando-lhe portanto seu poder de jurisdição sobre os cristãos.
A Pedro, e a ninguém mais, é confiado o pastoreio das ovelhas e dos cordeiros, a que nosso Senhor pede três vezes a confirmação de Pedro, e três vezes o confirma: “Disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Respondeu-lhe Pedro: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe outra vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Ficou triste Pedro, porque pela terceira vez, disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta as minhas ovelhas.” (S. João, XXI, 15-17)

Ora, Cristo não possuía nem cordeiros nem ovelhas. O que Ele confia a Pedro é seu rebanho de almas, constituindo-o seu pastor.
Aqui novamente temos Pastor e pastor, pois Nosso Senhor é o bom pastor. Alguns tentam reduzir esse episódio a uma mera reconciliação do Apóstolo com Cristo, após a tríplice negação de Pedro na casa de Anás e Caifás, antes da crucificação de Cristo. Porém, esquecem-se que após a Ressurreição, é a Pedro que Cristo aparece primeiro (São Lucas XXIV, 34), mostrando que a traição não fizera Pedro perder sua primazia: Cristo continua considerando Pedro o primeiro.

Cristo, sem dúvida, fez Pedro compreender o horror do pecado e o perigo de não se fugir da ocasião de pecado. O Evangelho nos conta que Pedro chorou amargamente. De fato, que dor não deve ter experimentado o Apóstolo, ao cair num pecado justamente contrário à virtude que mais vemos presente nele: a defesa pública da verdade, o desafiar o respeito humano. Aliás, essa virtude ele que irá praticar em grau heróico a partir de então, dando sua vida pela expansão da Igreja.

Unicamente em relação a Pedro, portanto, vemos a significativa mudança do nome, a sempre testemunhada primazia entre os Apóstolos, o pagamento do tributo, o uso exclusivo de sua casa em Cafarnaum e de sua barca, a promessa solene de ser fundamento da Igreja, a entrega das chaves do reino dos céus, a nomeação para o pastoreio dos fiéis.
E há aqueles ainda que não vêem diferenças entre os doze apóstolos!

Para esses, resta a esperança da promessa de Cristo, de que poderia das pedras fazer filhos de Abraão. Para isso, porém, terão que aceitar que Cristo, de um filho de Abraão, fez Pedra.
São Pedro, após a ascensão de Cristo, assumirá seu dever de pastor universal, conduzindo a Igreja nascente. Após sua morte, será substituído, no decorrer dos séculos, pelos seus legítimos sucessores, os papas, até a consumação dos tempos, sob a assistência infalível de Cristo.
Da qual trataremos num próximo artigo.

Fonte: MONTFORT Associação Cultural

Versus Deum per Iesum Christum

Fonte: Ignem in Terram

Organizando meus alfarrábios digitais, encontrei o prefácio do Cardeal Ratzinger ao livro Uwe Michael Lang, padre oratoriano, sobre a orientação do sacerdote na Santa Missa. Abaixo, segue um trecho do mesmo, contendo as premissas necessárias para um sadio debate acerca do tema:

Para o católico praticante normal, dois parecem ser os resultados mais evidentes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II: o desaparecimento da língua latina e o altar orientado para o povo. Quem ler os textos conciliares poderá constatar, com espanto, que nem uma nem outra coisa se encontram neles desta forma.

Claro, seria preciso dar espaço à língua vulgar, segundo as intenções do Concílio (cf. Sacrosanctum Concilium 36, 2) – sobretudo no âmbito da liturgia da Palavra – mas, no texto conciliar, a norma geral imediatamente precedente reza: “O uso da língua latina, salvo quando se tratar de um direito particular, seja conservado nos ritos latinos” (Sacrosanctum Concilium 36, 1).

Sobre a orientação do altar para o povo, não há sequer uma palavra no texto conciliar. Ela é mencionada em instruções pós-conciliares. A mais importante delas é a Institutio generalis Missalis Romani, a Introdução Geral ao novo Missal Romano, de 1969, onde, no número 262, se lê: “O altar maior deve ser construído separado da parede, de modo a que se possa facilmente andar ao seu redor e celebrar, nele, olhando na direção do povo [versus populum]”. A introdução à nova edição do Missal Romano, de 2002, retomou esse texto à letra, mas, no final, acrescentou o seguinte: “Isso é desejável sempre que possível”. Esse acréscimo foi lido por muitos como um enrijecimento do texto de 1969, no sentido de que agora haveria uma obrigação geral de construir – “sempre que possível” – os altares voltados para o povo. Essa interpretação, porém, já havia sido repelida pela Congregação para o Culto Divino, que tem competência sobre a questão, em 25 de setembro de 2000, quando explicou que a palavra “expedit” [é desejável] não exprime uma obrigação, mas uma recomendação. A orientação física deveria – assim diz a Congregação – ser distinta da espiritual. Quando o sacerdote celebra versus populum, sua orientação espiritual deveria ser sempre versus Deum per Iesum Christum [para Deus, por meio de Jesus Cristo]. Sendo que ritos, sinais, símbolos e palavras nunca podem esgotar a realidade última do mistério da salvação, devem-se evitar posições unilaterais e absolutizantes a respeito dessa questão.

Esse esclarecimento é importante, pois deixa transparecer o caráter relativo das formas simbólicas externas, opondo-se, assim, aos fanatismos que infelizmente nos últimos quarenta anos não tiveram pequena freqüência nos debates em torno da liturgia. Mas, ao mesmo tempo, ilumina também a direção última da ação litúrgica, nunca totalmente expressa nas formas exteriores, e que é a mesma para o sacerdote e para o povo (voltados para o Senhor: para o Pai, por meio de Cristo no Espírito Santo). A resposta da Congregação deveria, portanto, criar um clima menos tenso para a discussão; um clima no qual possam ser procuradas as melhores maneiras de realização prática do mistério da salvação, sem condenações recíprocas, ouvindo atentamente aos outros, mas sobretudo ouvindo as indicações últimas da própria liturgia. Etiquetar apressadamente certas posições como “pré-conciliares”, “reacionárias”, “conservadoras”, ou “progressistas” ou “estranhas à fé”, não deveria mais ser admitido nesse embate, no qual se deveria muito mais deixar espaço a um novo e sincero esforço comum para realizar a vontade de Cristo da melhor forma possível.

“Verbum Domini”, exortação apostólica em sintonia com “Dei Verbum”

Segundo o prefeito da Congregação para os Bispos, Marc Ouellet

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 11 de novembro de 2010 (ZENIT.org) – A exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, divulgada hoje, “retoma a mesma mensagem 45 anos depois” da constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II.

Assim afirmou o prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet PSS, durante a apresentação do documento pontifício, realizada hoje na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Na coletiva de imprensa, intervieram também: Dom Nikola Eterovic, secretário-geral do Sínodo dos Bispos; seu subsecretário, Dom Fortunato Frezza; e Dom Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura.

A Verbum Domini, escrita por Bento XVI, é fruto da 12ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, realizada de 5 a 26 de outubro de 2008.

Reflexão sobre a Bíblia

O cardeal Ouellet afirmou que a Verbum Domini responde às necessidades da Igreja neste nascente terceiro milênio.

Disse também que, ainda que no século 20 tenha havido um renascer de consciência da necessidade da Palavra de Deus em temas como a reforma litúrgica, a catequese e os estudos bíblicos, “existe um déficit que deve ser suprido em relação à vida espiritual do povo de Deus”.

“Este tem o direito de ser mais inspirado e nutrido por uma aproximação mais orante e mais eclesial das Sagradas Escrituras”, declarou o purpurado.

Em vários pontos da exortação apostólica, Bento XVI insiste em que o cristianismo “não é fruto de uma sabedoria humana ou de uma ideia genial”, destacou o cardeal Oullet, e sim “de um encontro e de uma aliança com uma Pessoa que dá à existência humana sua orientação e forma decisivas”.

A Verbum Domini “oferece, assim, a contemplação pessoal e eclesial da Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras, na Divina Liturgia e na vida pessoal e comunitária dos fiéis”, disse o prefeito.

Interpretação das Escrituras

O purpurado se referiu também às quase 40 páginas nas quais Bento XVI destaca a necessidade de apresentar uma hermenêutica de forma “clara, construtiva, situando a ciência bíblica, exegética e teológica no interior e ao serviço da fé da Igreja”.

Faz-se necessária uma interpretação das Sagradas Escrituras que deve ser complementada com uma leitura teológica e científica e que, além disso, exige “o valor da exegese patrística” e que convida “os exegetas, teólogos e pastores a um diálogo construtivo para a vida e para a missão da Igreja”.

Igualmente, concluiu o purpurado, a meditação da Bíblia “expõe também a atividade missionária e a evangelização” e por isso “renova a consciência da Igreja de ser amada e sua missão de anunciar a Palavra de Deus com audácia e com confiança na força do Espírito Santo”.

(Carmen Elena Villa)

O princípio “Solo Christus” visto por um ex-protestante

keutamaan-Petrus

No tempo em que nos importa viver, no qual os ventos do ecumenismo tornam a soprar cada vez com mais firmeza, não é nada fácil tentar dizer três ou quatro verdades sobre os nossos “irmãos separados”. Eu, que durante nove anos de minha vida fui protestante, sei como é estar dos dois lados da cerca. É uma experiência inegavelmente peculiar. Apesar de encontrarmos do lado protestante uma grande maioria que julga que o catolicismo romano não é cristão, do lado católico não observamos com abundância aqueles que colocam em dúvida a natureza cristã do protestantismo. Sem querer valorizar demais, posto que não vale a pena, a opinião anti-católica deste grupo de protestantes, creio ser necessário comentarmos alguns pontos chave para que os católicos em geral, ou pelo menos aqueles que mantém um contato maior com protestantes, reconheçam que deveriam ser menos otimistas quanto à existência de um elemento cristão genuíno no cristianismo protestante.

Desde seu surgimento, na reforma, o protestantismo elaborou uma série de lemas que se tornaram verdadeiros dogmas de fé do cristianismo protestante. Analisaremos um desses lemas, e vejamos o que ocorre na prática.

Solo Christus

A princípio nada haveria de me opor a esta doutrina essencial da fé cristã pela qual reconhecemos que a figura e a pessoa de Jesus Cristo é, por si só, o centro de nossa vida e esperança. Indubitavelmente, sem Cristo não há cristianismo. Contudo, acontece que na Bíblia ocorre uma realidade muito clara: uma vez que Jesus Cristo se encarnou e fundou sua Igreja não podemos mais separar a realidade de Cristo com a realidade da Igreja. A Palavra de Deus é clara neste ponto: A Igreja é o Corpo de Cristo (Cl 1,18). Diz mais: A Igreja é a Sua Plenitude (Ef 1,23). Quem persegue a Igreja, persegue o Cristo (At 9,1-6) e, caso a relação não esteja suficientemente nítida, podemos perceber que a relação entre Cristo e a Igreja é um mistério ao qual São Paulo compara ao mistério da união entre o homem e a mulher (Ef 5,31-32).

Portanto, dizemos a verdade se ensinamos que não pode crer em “Solo Christus” aquele que aceita o Cristo, mas rejeita a Igreja, indissoluvelmente unida a Ele por toda a eternidade. Por isso o Símbolo Niceno-Constantinopolitano afirma em um de seus pontos: “Creio na Santa Igreja Católica e apostólica”. Ou seja, desde a antiguidade era demonstrado que a fé ou crença na Igreja era parte da fé cristã. E se o Cristo em pessoa afirmou, sobre o matrimônio, que “o que Deus uniu o homem não separe”, mais ainda devemos crer que a união de Cristo com a Igreja está selada eternamente por vontade divina.

Se isto está claro, cabe aqui uma pergunta: atacar a unidade da Igreja não é exatamente o mesmo que atacar o Cristo? É cristão, portanto, dividir o corpo de Cristo em milhares de fragmentos? Ou, pelo contrário, a divisão da unidade do corpo de Cristo não é a arma mais poderosa que satanás poderia se servir durante a história da Igreja?

Quando era protestante, eu via como secundário este assunto de unidade da Igreja e, acima de tudo, sacrificável ao “deus” da pureza doutrinária. Ou seja, a verdadeira doutrina expressa “somente na Bíblia” está um tesouro de muito mais valor que a unidade visível da Igreja de Cristo. Porém não era somente isso. Assim como a imensa maioria dos protestantes, eu tinha um conceito sobre a Igreja que não se acha em lugar nenhum da Bíblia, a não ser através de interpretações torcidas e contorcidas. É o que eu chamo de conceito “docetista” da Igreja, onde se tira a noção de que possa haver uma Igreja visível, organizada e hierarquizada, para se aceitar uma Igreja desorganizada, invisível, pseudo-etérea, sem unidade orgânica real.

Sem muita demora, vejamos o que diz a Bíblia sobre a Igreja:

1 – Cristo deixou muito claro que a unidade dos cristãos deveria ser semelhante à sua unidade com o Pai e que por essa unidade o mundo deveria crer.

2 – A Igreja teria uma hierarquia muito bem definida: apóstolos, entre eles Pedro, o primeiro, e logo os bispos e anciãos (presbíteros).

3 – A Igreja adotaria um sistema de análise chamado Conciliar, tal e como se vê em Atos 15, com o particular fato de que Pedro iniciou os debates sobre os temas em pauta naquele concílio. Além disso, as disposições do Concílio eram de aceitação obrigatória por toda a Igreja.

4 – Os apóstolos eram intolerantes com aqueles que causavam divisões. Encabeçados por Paulo, que teve que se depara com os “denominacionalismos” de Corinto (1Cor 1,10-13). Também ele deu a Tito uma ordem bem clara sobre o que ele deveria fazer com aqueles que causassem divisões. Deveria admoestá-los primeiro e depois expulsá-los da Igreja, porque haviam-se pervertido (Tt 3,10-11). Judas (Jd 19) coloca que os que causam divisão não possuem o Espírito. E, digamos alto e claro, o apóstolo João mostra em 1Jo 2,18-19 que os que saem da Igreja são anti-cristos, ainda que alguns queiram interpretar este versículo de uma forma mais suave.

Bem, alguém deve estar se perguntando: “E o que tem a ver isto tudo com o protestantismo e ‘Solo Christus‘?”. Respondo: Tem tudo a ver! E mais: o protestante que entende esta realidade, se é honesto e inteligente, necessariamente tem de deixar de ser protestante, a menos que queira pecar gravemente contra Deus.

É evidente que um sistema religioso que afirma aceitar inteiramente o Cristo e todo o seu ensinamento, mas que leva em sua essência o vírus mortal da divisão do corpo de Cristo, somente pode ser definida como anti-cristo. Anti-cristã. Não há justificativa alguma ao fato de que o protestantismo tem sido absolutamente incapaz de manter uma unidade eclesial interna minimamente respeitável. Quando os protestantes se insurgem em apontar, com seus tratados e comentários bíblicos, os erros doutrinários do catolicismo, não se dão conta que a simples existência de uma miríade de denominações protestantes independentes umas das outras é, nos seus olhos, uma trave de proporções apocalípticas.

Parece forte dizer isso, mas a verdade é que o protestantismo é a negação de Cristo desde o momento em que, na prática, nega a existência de uma só Igreja de Cristo, com uma só fé, com um só batismo e um só credo. E, negando a existência dessa Igreja, que é o corpo de Cristo, está se negando o próprio Cristo, ainda que inconscientemente. Ponto final!

Se o protestantismo tivesse a capacidade de ter se organizado em uma só denominação, poderíamos hoje contemplar a reforma de um prisma totalmente diferente. Porém, a reforma não foi o que pretendia ser, senão o maior levante de aniquilação da Igreja, com a desculpa de uma verdadeira mudança. Aproveitaram da fraqueza da Igreja da época para tentar destruí-la por completo, mas, graças a Deus, foi na fraqueza que a Igreja despertou com força para novos desafios, ainda que lhe custasse muito recuperar o que havia perdido com a corrupção interna e os desajustes doutrinais e externos.

Para finalizar, ainda me caberia verificar muitas das ramificações desse desastre que é o protestantismo para a cristandade, mas me contentarei em assinalar pelo menos algumas poucas incoerências da agressiva dinâmica dialética que os protestantes usam contra a Igreja Católica:

1 – Os protestantes rejeitam a Igreja Católica por não se basear somente na Bíblia. A verdade é que eles, que dizem basear-se somente na Bíblia, não conseguem chegar a um acordo sobre doutrinas como a Eucaristia, sacramentos, organização eclesial, doutrinas da graça e salvação (calvinismo e arminianismo), etc., etc., etc.

2 – Os protestantes atacam a Igreja Católica por valorizar o papel da Tradição, mas eles mesmos são escravos de suas próprias tradições interpretativas da Palavra de Deus. E, ainda por cima, aceitam grande parte da linguagem e do conteúdo doutrinal que a eles chegou através da…Tradição da Igreja (Trindade, Cânon da Bíblia, Filioque, Pecado Original, Domingo como dia do Senhor).

3 – Os protestantes usam a Bíblia como uma arma contra determinadas doutrinas e práticas católicas, porém nada dizem sobre o que essa mesma Bíblia fala sobre divisões na Igreja, tão presente nas suas igrejas.

4 – Os protestantes atacam a Igreja Católica acusando-na de possuir um sistema de governo ditatorial, porém resulta que boa parte das igrejas protestantes exercem uma tirania a nível denominacional que faria você rir da severidade disciplinar do cardeal Ratzinger.

Por fim, para não estender-me demais, terminarei com uma reflexão. Creio que tanto aqueles que nasceram numa família protestantes como aqueles que saíram da Igreja Católica para o protestantismo deveriam voltar com urgência para a Igreja de Cristo. É incompatível ser de Cristo e pertencer a um sistema religioso que está dividindo continuamente o corpo de Cristo, que nega o princípio da eficácia regeneradora que o Espírito Santo possui na sua condução da Igreja. Muitos protestantes nunca tinham sido defrontados com esta realidade que estou escrevendo. Outros tomaram conhecimento, mas resolveram continuar seguindo suas vidas separados da Igreja, e, portanto, apesar de se revoltarem ao ler isto, separados de Cristo.

É nossa missão evangelizá-los e/ou resistir às suas tentativas de levar católicos da Igreja de Cristo. Sem dúvida, muitos católicos precisam de um contato maior com Cristo, porém este encontro não se dá fora do Corpo de Cristo, nas igrejas protestantes, mas um encontro na Igreja do Cristo verdadeiro.

Traduzido para o Veritatis Splendor por Rondinelly Ribeiro Rosa.

Fonte: Veritatis Splendor

Questionando os Protestantes – VII

O Batismo é apenas para os crentes? Não pode ser ministrado às crianças?

Eis uma resposta complicada. Primeiramente, as Escrituras não endossam nem condenam explicitamente o Batismo das crianças. A Igreja histórica sempre acreditou no Batismo das crianças. Os Reformadores Lutero e Calvino também acreditaram ser apropriado batizar crianças. Os Anabatistas foram alguns dos primeiros após a Reforma a condenarem o Batismo das crianças (embora existissem algumas poucas seitas antes da Reforma que não o praticavam).

Os argumentos contra o Batismo das crianças são que as pessoas mencionadas como tendo sido batizadas por João Batista eram adultos arrependidos. No seu sermão de Pentecostes Pedro disse: “Arrependei-vos e batizai-vos”. Quem sustenta que o Batismo é apenas para os crentes, diz que não podendo as crianças se arrependerem, não lhes é apropriado o Batismo.

Aqueles que defendem o Batismo das crianças citam passagens dos Atos dos Apóstolos, onde famílias inteiras, como a de Cornélio e a de Lídia, eram batizadas, o que supostamente inclui as crianças. Um outro argumento a favor do batismo das crianças vem da comparação do Batismo com a circuncisão:

“Nele também fostes circuncidados com circuncisão não feita por mão de homem, mas com a circuncisão de Cristo, que consiste no despojamento do vosso ser carnal. Sepultados com ele no Batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Col 2,11-12).

Na Antiga Lei, no oitavo dia as crianças do sexo masculino eram recebidas e lhes era dado o sinal da circuncisão da Antiga Lei. Já que o Novo Testamento é uma Lei mais abrangente do que a Antiga, incluindo homens e mulheres, judeus e gentios, o Batismo das crianças é mais apropriado a dar às crianças o Signo da Nova Lei (o Batismo). Com efeito, Jesus disse:

“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas” (Lc 18,16).

O “se parecem com elas” de que Jesus falou eram criancinhas que o povo trazia para ele abençoá-las. Assim, os Pedobatistas vêem nas palavras de Jesus um argumento a seu favor.

Registros históricos confirmam que a prática do Batismo das crianças era geralmente a norma. No segundo século, Irineu escreveu a primeira declaração sobre a prática na Igreja do Batismo das crianças:

“Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade…(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade” (Contra Heresias II,22,4 (ano 189)).

Irineu declarou que as crianças cristãs renascem. Como podem renascer se não têm a capacidade (pelo que sabemos) para exercer a fé? Previamente já vimos que isso acontecia pelo Batismo. Irineu mesmo nasceu numa família cristã, por volta do ano 140, em Esmirna, uma das Igrejas mencionadas no Apocalipse (Ap 2,8). Os historiadores pensam que Irineu foi provavelmente batizado por Policarpo, que foi o bispo de Esmirna. Policarpo foi mártir e discípulo pessoal de João, o Apóstolo. Parece-nos improvável que ele tivesse batizado crianças se fosse impróprio e se tivesse ouvido de João instrução diferente. No ano 215, Hipólito escreveu:

“Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas” (Tradição Apostólica 21,16).

Diz-se que Hipólito instruiu às crianças que tivessem capacidade falarem por elas mesmas. Isso parece muito com as crianças levadas a Jesus, em Lucas 16,15. Finalmente, Orígenes fez uma firme declaração com respeito a origem apostólica do batismo das crianças:

“A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito” (Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5,9 (ano 248)).

Finalmente, eis uma interessante citação do eminente Teólogo Protestante Dr. R.C. Sproul, em “Verdades Essenciais da Fé Cristã”, com relação ao batismo das crianças:

“A primeira menção direta ao Batismo das crianças se vê por volta do meio do segundo século. O que é digno de nota sobre esta menção é que concorda que o Batismo das crianças era uma prática universal da Igreja. Se o Batismo das crianças não estivesse em prática no primeiro século da Igreja, como e por que começou como doutrina ortodoxa tão cedo e tão generalizadamente? Não somente foi uma rápida e universal disseminação, mas a literatura sobrevivente daquele tempo não demonstra nenhuma controvérsia a respeito desse costume”.

Concordando pelo batismo das crianças, Dr. Sproul usa como argumento final a palavra tradição com “T” maiúsculo. Em seu sumário, nas palavras finais se lê:

“A história da Igreja sustenta o testemunho da prática universal e não controvertida do Batismo das crianças no segundo século”.

Por que você negaria as bênçãos do Batismo para as suas crianças quando a Bíblia não o proíbe, e é prática universalmente aceita pela Igreja histórica e até mesmo pelos Reformadores Lutero e Calvino?

Fonte: Site “Glory to Jesus Christ!”. Tradução: José Fernandes Vidal.

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