Por Pe. John Flynn, L.C.
ROMA, domingo, 30 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – Dois livros recentes oferecem uma interessante perspectiva sobre a situação da religião nos Estados Unidos e o que podemos esperar de quem está chegando à idade adulta.
O primeiro, FutureCast: What Today’s Trends Mean for Tomorrow World (Barna Books), foi escrito por George Barna, um prolífico escritor que fundou o Barna Research Group. Baseado em pesquisas de opinião, o livro analisa onde está a sociedade atual numa série de temas sociais.
Três dos capítulos tratam da prática religiosa. A pertença religiosa se manteve estável, com 84% das pessoas se considerando cristãs em 1991 e 85% em 2010. Barna observa, porém, que muitos se consideram cristãos mas não praticam a religião.
Por exemplo, só 45% crêem “firmemente” que a bíblia acerta em todos os princípios que ensina. Esta cifra cai para 30% entre os nascidos de 1984 em diante. Só 34% dos adultos acreditam que existe uma verdade moral absoluta.
Barna indica que entre os adultos pertencentes a uma igreja cristã só a metade afirma estar comprometida de modo profundo com a fé cristã.
Espiritual
Uma das últimas mudanças na identidade religiosa é o aumento dos que se consideram “espirituais mas não religiosos”. Cerca de um quarto dos adultos se qualificam assim; entre os menores de 30 anos, esta é a norma.
Também há um aumento de formas alternativas de igreja. As igrejas-lar, de grupos de pessoas que se reúnem numa casa, começam a ficar populares nos Estados Unidos. Outras formas alternativas incluem o que Barna denomina cyberigrejas, com reuniões via internet.
Tornou-se também comum que os norte-americanos mudem de igreja. Barna descobriu que não são os fatores doutrinais os que mais motivam a trocar de igreja, e sim razões muito mais subjetivas, ligadas a personalidades, conveniência, potencial de relações e experiências.
Adultos emergentes
O segundo livro se concentra num grupo mais reduzido de pessoas. Christian Smith, professor de sociologia na Universidade de Nôtre Dame, fez uma série de entrevistas com uma ampla gama de pessoas de 18 a 23 anos, grupo que os sociólogos chamam de “adultos emergentes”. Os achados estão no livro Lost in Transition: The Dark Side of Emerging Adulthood (Oxford University Press).
O livro enumera fatores cruciais da formação desses jovens:
– O espetacular crescimento da educação superior, que significa que muitos estendem sua educação até depois dos 20 anos de idade.
– O adiamento do casamento, que trouxe uma liberdade sem precedentes durante a década posterior ao fim dos estudos.
– Mudanças econômicas que tornam mais difícil para os jovens encontrar um trabalho estável e bem remunerado.
– A vontade dos pais de apoiar economicamente os filhos até bem depois dos 20 anos.
– A disponibilidade do controle de natalidade, que desligou as relações sexuais da procriação.
– A difusão de teorias pós-estruturalistas e pós-modernistas que promovem o subjetivismo individualista e o relativismo moral.
O livro começa com o longo capítulo “À deriva moral”. Os jovens têm uma visão muito individualista da moral, que os leva a dizer que não devemos julgar ninguém moralmente, porque todos têm direito a opiniões pessoais. Uma estudante universitária explicou, por exemplo, que não colava nas provas, mas se abstinha de julgar os companheiros que colavam.
Bobo
Segundo esta postura, “algumas coisas estão certas e outras são bobas, mas não está provado que algo seja objetiva e moralmente bom ou mau”.
O relativismo moral caracteriza muitos dos entrevistados, grande parte dos quais expressaram ideias racionalmente inconsistentes.
A ideia de que a moral é uma construção da sociedade e da cultura pode chegar tão longe num debate que um jovem não exprimiu juízo negativo algum sobre a escravidão. Outro defendeu a retidão moral dos terroristas que causam a morte de multidões.
“Eles [os terroristas] são assim, fazem o que acham que é o melhor, e por isso fazem o bem”. Esta foi uma parte da explicação dada por esse jovem.
Um terço dos entrevistados manifesta um relativismo muito forte, e os outros dois terços, embora menos intensamente, também se mostram relativistas.
Todos os adultos emergentes acreditam, de alguma forma, em algo chamado “moral”. Os sociólogos descobriram que, ao serem perguntados sobre as fontes da moral, a maior parte de suas respostas não resistia a um exame crítico básico.
34% declarou que não sabia o que tornava algo moralmente correto ou incorreto, e alguns sequer entenderam as perguntas sobre o assunto.
As respostas dos demais foram bastante diversas. Alguns acham que a moral se baseia no que outras pessoas pensam de alguém. 40% citou este critério.
Outros descreveram a base da moral em função de melhorar ou não a situação das pessoas.
Em sua conclusão do capítulo sobre a moral, os autores apontaram que os adultos emergentes têm muito pouca bagagem para encarar os desafios do presente e do futuro, e formam uma geração que fracassou na formação moral.
Mesmo evitando generalizar as pesquisas de opinião feitas com grupos pequenos, as evidências em ambos os livros indicam a dimensão dos desafios das igrejas e de todas as pessoas preocupadas com a moral.