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Se Cristo é o nosso Rei, o amor vence o ódio

Durante a Audiência Geral o Papa meditou sobre o Salmo 109

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de novembro de 2011(ZENIT.org) – Na Audiência Geral de hoje, a reflexão do papa Bento XVI olha para a iminente solenidade de Cristo Rei, que será celebrada no próximo domingo.

O Salmo meditado durante a Audiência é de fato o 109 segunda a tradição greco-latina (110 segundo a tradição hebraica): a oração nele incluída no se referia à entronização de um rei davídico, mas com o Novo Testamento esta se torna “celebração do Messias vitorioso, glorificado a direita de Deus”.

O primeiro versículo declama: “Assenta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos o escabelo de teus pés.” (Sal 109,1). Esta entronização é relacionada, como profecia messiânica nos evangelhos (cfr Mat 22,41-45; Mar 12,35-37;Luc 20, 41-44) que falam da realeza de Jesus Cristo, como descendente de Davi.

O rei divino, entretanto, deve obedecer ao Senhor que o entrega o cetro. Ele é agora empossado de “uma responsabilidade que deve viver na dependência e na obediência, tornando-se um sinal, dentro do povo, da presença potente e providente de Deus”, comentou o Santo Padre.

“O domínio sobre os inimigos -prosseguiu o Pontífice- a glória e a vitória são dons recebidos, que fazem do soberano um mediador do triunfo divino sobre o mal; Ele domina sobre os inimigos, transformando-os, vence com seu amor”.

No versículo 4, o salmista proclama:”O Senhor está à sua direita!”. Quase uma inversão de papéis que, na verdade, indica a proteção que Deus reserva ao soberano no momento da batalha.

É somente quando o Senhor está ao seu lado que o rei pode combater o mal e vencê-lo. “Diz-nos : sim, no mundo há tanto mal, existe uma batalha permanente entre o bem e o mal e parece que o mal é mais forte – acrescentou o Papa – Não! Mais forte é o Senhor, o nosso verdadeiro Rei e sacerdote, Cristo, porque combate com a força de Deus e apesar de todas as coisas que nos fazem duvidar sobre o êxito da história, vence Cristo, vence o bem, vence o amor, não o ódio”.

O conteúdo messiânico do Salmo 109, como recordou Bento XVI, é evidenciado também por Santo Agostinho que escreve: “Era necessário conhecer o filho unigênito de Deus, que estava por vir entre os homens, para assumir o homem e se tornar homem através da natureza assumida: ele seria morto, ressuscitado, elevado ao céu, assentaria à direita do Pai e cumpriria entre as nações aquilo que havia prometido”.

O Salmo meditado hoje, nos ajuda, portanto a “olhar Cristo para compreender o sentido da verdadeira realeza, de viver no serviço e na doação de si, em um caminho de obediência e de amor levado até o fim” (cfr Joa13,1 e 19,30)”.

“Rezando com este Salmo, peçamos então ao Senhor para nos conduzir pelo seu caminho, no seguimento a Cristo, o rei Messias, dispostos a subir com Ele o monte da cruz para alcançar com Ele a glória, e contemplá-lo sentado à direita do Pai, rei vitorioso e sacerdote misericordioso que doa perdão e salvação à todos os homens”, acrescentou o Papa.

O Santo Padre concluiu a própria catequese convidando “a rezar mais com os Salmos, talvez criando o hábito de utilizar a Liturgia das Horas, as Laudes pela manhã, as Vésperas à tarde e as Completas antes de dormir. O nosso relacionamento com Deus só pode ser enriquecido no caminhar diário em sua direção e realizado com mais alegria e confiança”.

Tradução: Maria Emília Marega

Proximidade de Deus transforma as realidades mais dolorosas, recorda Bento XVI

A HAIA, 05 Out. 11 / 02:58 pm (ACI)

O Papa Bento XVI dedicou sua habitual catequese da audiência geral das quartas-feiras ao salmo 23 (22 na tradição greco-latina), que começa com as palavras “o Senhor é meu pastor: nada me falta”, e recordou que “a proximidade de Deus transforma a realidade, o vale escuro perde todo perigo, se esvazia de toda ameaça.”.

O Papa recordou que neste salmo “se expressa a confiança no Senhor que, como Bom Pastor, guia e protege de todo perigo”.

Falando em espanhol, explicou que “a figura do pastor, e as imagens contidas neste salmo, acompanharam a história e a experiência religiosa do povo do Israel. Entretanto, toda a força evocativa deste salmo é cumprida e chega à sua plenitude com Jesus Cristo”.

“Efetivamente, Ele é o Bom Pastor que sai em busca da ovelha perdida, Ele é o caminho que nos leva à vida, a luz que ilumina o vale escuro e elimina nossos temores. Ele é o anfitrião generoso que nos acolhe e põe a salvo preparando-nos a mesa de seu corpo e seu sangue. Ele é o Pastor-Rei, manso e misericordioso, entronizado sobre a árvore gloriosa da cruz”.

“Este salmo nos convida, pois, a renovar nossa confiança em Deus, abandonando-nos completamente em suas mãos. Peçamos com fé ao Senhor que nos conceda caminhar sempre seguindo seus passos, que nos acolha em sua casa, em torno de sua mesa e nos conduza para as ‘águas tranqüilas’, para que, recebendo o dom de seu Espírito, bebamos da fonte viva que salta até a vida eterna”, acrescentou no resumo da catequese em idioma espanhol.

A catequese

O Papa refletiu com grande detalhe sobre os alcances do salmo 23 e disse que “o salmista expressa sua serena certeza de ser guiado e protegido de todo perigo, porque o Senhor é seu pastor”.

“A imagem conduz a uma atmosfera de confidência, intimidade, ternura: o pastor conhece as suas ovelhinhas uma por uma, as chama pelo nome, e essas o seguem porque o reconhecem e confiam nele. Ele cuida delas, as guarda como bens preciosos, está pronto a defendê-las, a garantir-lhes o bem-estar, a fazê-las viver em tranqüilidade”.

O salmo descreve o oásis de paz ao qual o pastor leva o rebanho, “símbolo dos lugares de vida para os quais o Senhor conduz o salmista”. O Papa recordou que a cena evocada está ambientada em uma terra em grande parte desértica, hostil e o pastor “sabe chegar ao oásis no qual a alma ‘reconforta-se’ e é possível retomar forças e novas energias para voltar a trilhar o caminho”.

“Como diz o Salmista, Deus o conduz em direção aos verdes prados, às águas tranqüilas, onde tudo é abundante, tudo é doado em grande quantidade. Se o Senhor é o pastor, também no deserto, lugar de ausência e de morte, não deixa de existir a certeza de uma radical presença de vida, ao ponto de poder dizer: “nada me falta””.

O pastor adapta seus ritmos e exigências aos do rebanho, ele o conduz por caminhos adequados, atendendo suas necessidades. “Também nós se caminharmos atrás do ‘bom Pastor’, devemos estar seguros de que, por quanto possam parecer difíceis, tortuosos ou largos os caminhos de nossa vida, são os adequados para nós, e o Senhor nos guia e está sempre perto”, acrescentou o Papa.

Por isso, o salmista diz: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bastão e vosso báculo são o meu amparo”. Bento XVI explicou que o salmista usa para descrever os vales uma expressão hebréia que evoca as trevas da morte. Entretanto, o orante avança sem medo porque sabe que o Senhor o acompanha. “Trata-se de uma proclamação de confiança inabalável e sintetiza a experiência de fé radical, a proximidade de Deus transforma a realidade, o vale escuro perde todo perigo, se esvazia de toda ameaça”.

Esta imagem encerra a primeira parte do Salmo e abre passo a uma cena diferente, dentro da tenda do pastor: “Preparais para mim a mesa, à vista de meus inimigos. Derramais o óleo sobre minha cabeça e meu cálice transborda”.

O Senhor é apresentado agora “como Aquele que acolhe os orantes, com sinais de uma hospitalidade generosa e cheia de cuidados. Mantimentos, azeite, vinho: são dons que fazem viver e dão alegria, porque vão além do que é estritamente necessário e expressam a gratuidade e a abundância do amor”. Enquanto isso, os inimigos observam impotentes, porque “quando Deus abre sua loja para nos acolher, nada pode nos fazer danifico”.

Logo o hóspede continua sua viagem sob o amparo divino. Diz o Salmo: “a vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias”. O caminho que deve percorrer o salmista “adquire um novo sentido, e se converte em peregrinação para o Templo do Senhor, o lugar santo onde o orante deseja ‘habitar’ para sempre”. Do mesmo modo, habitar perto de Deus, de sua bondade, é o desejo de todo crente.

Este salmo acompanhou toda a história e a experiência religiosa do povo do Israel, mas somente em Jesus Cristo “a força evocativa de nosso salmo alcança sua plenitude de significado: Jesus é o ‘bom pastor’ que vai em busca da ovelha perdida, que conhece suas ovelhas e dá a vida por elas”.

“Ele é o caminho justo que nos leva à vida, a luz que ilumina o vale escuro e vence todos nossos medos. Ele é o anfitrião generoso que nos acolhe e nos salva dos inimigos, preparando-nos a mesa do seu corpo e do seu sangue e aquela definitiva no Céu. Ele é o Pastor real, rei na mansidão e no perdão, entronizado sobre o madeiro glorioso da cruz”.

Finalmente, o Papa sublinhou que o salmo 23 convida a renovar nossa confiança em Deus, “abandonando-nos totalmente em suas mãos. Peçamos então com fé que o Senhor nos conceda caminhar sempre por seus atalhos, também nos caminhos difíceis de nosso tempo, como rebanho dócil e obediente, acolha-nos em sua casa, em sua mesa, e conduza a ‘águas tranqüilas’ para que, acolhendo o dom de seu Espírito, possamos beber de seus mananciais, fontes da água viva que ‘brota para a vida eterna'”.

Liturgia da Palavra: “dar cumprimento à lei e aos profetas”

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração

SÃO PAULO, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à liturgia do próximo domingo – VI do Tempo Comum Eclo 15, 16-21; 1 Cor 2,6-10; Mt  5, 17-37 – redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes – São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT.

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VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Eclo 15, 16-21; 1 Cor 2,6-10; Mt  5, 17-37

“Não penseis que eu vim para abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17).

Esta é uma afirmação fundamental de Jesus sobre sua missão; ao mesmo tempo é o cerne da profissão de fé da Igreja sobre a identidade e a função messiânica do próprio Jesus. É a chave hermenêutica a partir da qual devemos entender e viver a Boa-nova de Jesus. Nessa afirmação aparece bem como toda a história esteja ordenada ao Cristo e como nele ela encontra o seu centro e a sua plena realização. 

Ao longo do evangelho de Mateus ocorre com freqüência a frase “Isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor tinha dito pelo profeta” (cf. Mt 1, 22; 2,15.17.23). A intenção do evangelista está clara: Ele quer sublinhar que na vida e no ensinamento de Jesus está se revelando e cumprindo o desígnio de salvação de Deus, prometido e iniciado através dos acontecimentos dos patriarcas e das palavras dos profetas do AT, por meio da aliança e do dom da Torá.

O próprio Jesus, para iluminar e sustentar a fé dos discípulos profundamente perturbados em razão dos trágicos acontecimentos da paixão e morte em Jerusalém, com carinho e vigor destaca: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. Então abriu-lhes a mente para que entendessem as escrituras” (Lc 24, 44-45).

Ao celebrar a memória da páscoa de Jesus, morto e ressuscitado, a cada domingo, a Igreja nos faz viver em maneira nova este encontro revelador com o Senhor ressuscitado. À sua luz se iluminam nossas angústias e nossas perguntas incessantes sobre nós mesmos e a nossa condição de seus discípulos, às vezes desanimados diante das incongruências da vida.

Ao escutar as palavras de Jesus no evangelho de hoje, podemos bem compreender que no centro do ensino proporcionado para os discípulos, assim como nas disputas acirradas com os escribas e os fariseus que o acusavam de não respeitar a Lei e as tradições dos antigos pais, não está simplesmente em jogo a questão da observância dos preceitos da Lei de Moisés ou dos costumes tradicionais, mas a relação profunda com a pessoa do próprio Jesus e com o projeto original de Deus para com Israel e a humanidade inteira. Um projeto de vida, de autenticidade e de libertação de toda dissimulação consigo mesmo, com os demais e com Deus.

Jesus, o “homem novo”, o “novo Adão” (cf. Rm 5, 15 -19), realiza o desígnio do Pai segundo seu projeto original sobre o homem/mulher, e abre o caminho para também nós entrarmos na dinâmica do homem novo. Da relação autêntica com a pessoa de Jesus, vivenciada na fé, brotam no discípulo, a energia vital e os critérios que orientam do interior o estilo novo da sua vida, moldada pelo Espírito no seu exemplo. Ao conhecer e ao amar a Jesus, os preceitos e os critérios novos para agir, brotam da raiz do coração renovado. Abrem um processo que antecipa a plenitude da vida divina em nós. “A fé – afirma São Boaventura – é o conhecimento de Jesus Cristo, donde se origina a firmeza e a compreensão de toda a escritura… Ela foi escrita não apenas para que crêssemos, mas para que possuíssemos a vida eterna, onde veremos, amaremos, e teremos satisfeitos todos os nossos desejos” (Brevilóquio, 5, 201; LH III, pg. 151; 152).

Quando a experiência espiritual amadurece assim, os mandamentos de Deus não são mais leis ditadas ou impostas do exterior ao discípulo. Elas estão inscritas pelo Espírito no tecido vivo da consciência, segundo a profecia de Jeremias sobre a nova aliança: “Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração. Então eu serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31, 33).

A partir da sua experiência pessoal de total adesão ao Pai na obediência do amor, Jesus, seguindo a linha dos grandes profetas, reivindica a interiorização da lei e do culto, a fim de que estes correspondam ao sincero compromisso na vida. Pois, infelizmente, pode acontecer o paradoxo de uma vida formalmente condizente com as leis e as “tradições sagradas”, mas de fato em contradição radical com as exigências elementares de uma autêntica relação com Deus: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições… Assim vós esvaziais a palavra de Deus com a tradição que vós transmitis” (Mc 7, 9.13).

Terrível esta admoestação de Jesus, que não acaba de ressoar na consciência dos discípulos! Pois a latente tensão entre formas exteriores e qualidade efetiva da vida acompanha o “homem religioso” em todo tempo. Palavras que constituem um ponto de referência substancial, para um constante exame de consciência individual e comunitário. Para um caminho de autêntica libertação.

A passagem do exterior ao interior coincide com a passagem progressiva da norma observada por dever ou medo do juízo de Deus, ao amor fonte de energia vital e lei suprema de ação. Toda observância de normas morais exige empenho, mas fica circunscrita dentro seus limites, como é na natureza de toda lei. Pelo contrário, a lei do amor é mais exigente, pois todo amor autêntico não conhece limites no seu compromisso. Mas o compromisso que nasce do amor, nasce e se exprime na liberdade e se torna libertador. Nenhuma norma é suficiente para conter as potenciais exigências do amor livre e generoso. O amor prevê e antecipa as necessidades do outro, assim como o cuidar deste com carinho.

Na vigília da sua total e definitiva dedicação ao Pai e aos discípulos, Jesus resume a revelação de si mesmo e seu ensino na entrega do mandamento único e novo, o mandamento do amor, em continuidade da sua mesma experiência: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34).

Padres comprovados da vida espiritual, como São Bento, se colocam na linha do exemplo e do ensino de Jesus. Destacam a função pedagógica das normas de vida e a necessidade de passar sempre mais da prática disciplinar das regras, úteis para iniciar o caminho espiritual e nos sustentar nos momentos de fragilidade, para a lei do amor, fonte da verdadeira liberdade dos filhos e filhas de Deus. “O caminho da salvação – escreve São Bento – nunca se abre se não por penoso início. Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração e com inenarrável doçura de amor corre-se pelo caminho dos mandamentos de Deus. De modo que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, em sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos de Cristo, a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino” (Regra dos monges, Prólogo, 49-50).

A passagem através da pedagogia das normas até chegar à liberdade exigente do amor é um autêntico êxodo e saída de si mesmo, uma morte ao homem velho para dar lugar ao homem novo, uma passagem pascal em Cristo e com Cristo. Antes de tornar-se fruto do esforço moral, a vida do Espírito é fruto da graça pascal de Cristo, acolhida na experiência sacramental da liturgia e no caminho sincero da conversão do coração ao Senhor.

A meta do caminho espiritual, identificado por São Bento com “a subida da escada da humildade”, em sintonia com a humildade do Verbo que esvaziou a si mesmo, é alcançar a lei do amor gratuito, na liberdade e na alegria do Espírito.

“Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor: por meio dela tudo o que observava antes, não sem medo, começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio bom costume e pela deleitação das virtudes” (Regra dos monges c. 7, 67-69).

Santo Agostinho, o homem que experimentou em si mesmo as radicais contradições entre os desejos mais profundos do coração humano e a incapacidade para segui-los com as própria forças, e que depois experimentou a explosiva energia renovadora da graça, chegará a cunhar a famosa frase que bem resume a raiz e o horizonte infinito do amor de Deus derramado no coração: “Ama e faz o que quiseres!”. Se alguém amar de verdade, não pode agir a não ser segundo a lógica do amor de Deus.

Esta é a verdadeira identidade cristã e o dinamismo da liberdade e responsabilidade do cristão, como filho e filha de Deus em Cristo.

Este é o caminho que Jesus abre novamente com seus gestos e palavras. Inevitavelmente muitas vezes elas vão embater com as atitudes míopes dos fariseus de todos os tempos. Na verdade o que Jesus põe novamente em primeiro lugar constitui o sentido do original projeto de Deus, revelado e doado a Israel na aliança e na Lei. Por isso nem os pormenores da Lei, assim entendida, deveriam ser arbitrariamente omitidos. Pois, também neles se manifesta a plenitude da lei. A lógica do amor é abrangente. Se os discípulos tem que estar dispostos a perder a vida por Jesus e pelo evangelho, para tornar-se dignos do reino de Deus ( Mt 10, 32-33), é também não menos verdade que “quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa” (Mt 10,42). No pequeno gesto está presente a plenitude do amor. Por isso toda vocação cristã tem em si mesma as potencialidades da santidade.

A lei de Deus não é constrangedora da dignidade da pessoa humana; é o contrário do que acontece nas mãos dos fariseus: por a terem manipulado e submetida às arbitrárias interpretações e tradições humanas, chegaram a ponto de até esvaziá-la e substituí-la com as próprias tradições.

Jesus indica a exigência que a relação dos discípulos com a lei, “a justiça” deles, seja “superior à dos fariseus e dos letrados”, prisioneiros do legalismo exterior (Mt 5, 20).

A partir da perspectiva da interioridade e da integridade do compromisso da pessoa na prática da vida cotidiana, destaca a lei suprema do amor como critério fundamental de vida na nova comunidade dos discípulos. Ao se colocar no patamar do projeto original de Deus, Jesus com sua autoridade soberana põe em luz as contradições e evidencia a exigência de descer às raízes de onde brotam os sentimentos e as ações. “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos… Eu porém, vos digo…”.

As três antíteses relativas ao preceito de não matar (v. 21 – 26), à proibição do adultério – divórcio (v. 27 – 32), e à proibição do juramento (v. 33 – 37), tocam as fundamentais relações com o próximo, consigo mesmo e com Deus. Jesus passa do aspecto exterior, mesmo aparentemente de pouca importância, como um olhar furtivo para uma mulher/homem, ou uma palavra desrespeitosa dirigida a um irmão, à raiz mais profunda dos pensamentos, dos desejos, da falsidade ou da integridade consigo mesmo e nas relações.

Até mesmo o ato de culto: quando aquele que oferece se encontra já diante do altar do Senhor, deve se submeter a verificar dos sentimentos do irmão em relação a si (Mt 5, 23-25). A relação com o irmão se torna critério fundamental da autenticidade da relação com o Senhor! A lei do amor não admite divisão e diferenciação ao relacionar-se com a vida. Como disse o próprio Jesus: “Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34). Se a pessoa está divida em si mesma, por desejos e atividades contrastantes com a exigência da integridade, é necessário enfrentar uma transformação radical desses elementos através de uma verdadeira morte e ressurreição pascal com Cristo (Mt 5, 29-30).

Junto com o evangelho encontramos na leitura semi-contínua da primeira carta de Paulo aos Coríntios (2a Leitura), palavras iluminadoras. Percebemos ainda mais claramente que o horizonte e o caminho proposto por Jesus pertencem ao mundo alternativo, outro: aquele da sabedoria da cruz e do mistério de Deus revelado em Jesus crucificado. Esta é a sabedoria que Paulo tem usado ao falar do evangelho de Jesus aos Coríntios, contando unicamente sobre a força persuasiva que vem do Espírito. Paulo recebeu de Deus esta surpreendente sabedoria divina através do Espírito, e ao próprio Espírito é preciso se submeter, para entrar no dinamismo da nova modalidade de viver.

Esta é a graça que a Igreja invoca como dom supremo do Pai para todo o povo que participa na celebração eucarística: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós”.

Questionando os Protestantes – VII

O Batismo é apenas para os crentes? Não pode ser ministrado às crianças?

Eis uma resposta complicada. Primeiramente, as Escrituras não endossam nem condenam explicitamente o Batismo das crianças. A Igreja histórica sempre acreditou no Batismo das crianças. Os Reformadores Lutero e Calvino também acreditaram ser apropriado batizar crianças. Os Anabatistas foram alguns dos primeiros após a Reforma a condenarem o Batismo das crianças (embora existissem algumas poucas seitas antes da Reforma que não o praticavam).

Os argumentos contra o Batismo das crianças são que as pessoas mencionadas como tendo sido batizadas por João Batista eram adultos arrependidos. No seu sermão de Pentecostes Pedro disse: “Arrependei-vos e batizai-vos”. Quem sustenta que o Batismo é apenas para os crentes, diz que não podendo as crianças se arrependerem, não lhes é apropriado o Batismo.

Aqueles que defendem o Batismo das crianças citam passagens dos Atos dos Apóstolos, onde famílias inteiras, como a de Cornélio e a de Lídia, eram batizadas, o que supostamente inclui as crianças. Um outro argumento a favor do batismo das crianças vem da comparação do Batismo com a circuncisão:

“Nele também fostes circuncidados com circuncisão não feita por mão de homem, mas com a circuncisão de Cristo, que consiste no despojamento do vosso ser carnal. Sepultados com ele no Batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Col 2,11-12).

Na Antiga Lei, no oitavo dia as crianças do sexo masculino eram recebidas e lhes era dado o sinal da circuncisão da Antiga Lei. Já que o Novo Testamento é uma Lei mais abrangente do que a Antiga, incluindo homens e mulheres, judeus e gentios, o Batismo das crianças é mais apropriado a dar às crianças o Signo da Nova Lei (o Batismo). Com efeito, Jesus disse:

“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas” (Lc 18,16).

O “se parecem com elas” de que Jesus falou eram criancinhas que o povo trazia para ele abençoá-las. Assim, os Pedobatistas vêem nas palavras de Jesus um argumento a seu favor.

Registros históricos confirmam que a prática do Batismo das crianças era geralmente a norma. No segundo século, Irineu escreveu a primeira declaração sobre a prática na Igreja do Batismo das crianças:

“Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade…(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade” (Contra Heresias II,22,4 (ano 189)).

Irineu declarou que as crianças cristãs renascem. Como podem renascer se não têm a capacidade (pelo que sabemos) para exercer a fé? Previamente já vimos que isso acontecia pelo Batismo. Irineu mesmo nasceu numa família cristã, por volta do ano 140, em Esmirna, uma das Igrejas mencionadas no Apocalipse (Ap 2,8). Os historiadores pensam que Irineu foi provavelmente batizado por Policarpo, que foi o bispo de Esmirna. Policarpo foi mártir e discípulo pessoal de João, o Apóstolo. Parece-nos improvável que ele tivesse batizado crianças se fosse impróprio e se tivesse ouvido de João instrução diferente. No ano 215, Hipólito escreveu:

“Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas” (Tradição Apostólica 21,16).

Diz-se que Hipólito instruiu às crianças que tivessem capacidade falarem por elas mesmas. Isso parece muito com as crianças levadas a Jesus, em Lucas 16,15. Finalmente, Orígenes fez uma firme declaração com respeito a origem apostólica do batismo das crianças:

“A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito” (Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5,9 (ano 248)).

Finalmente, eis uma interessante citação do eminente Teólogo Protestante Dr. R.C. Sproul, em “Verdades Essenciais da Fé Cristã”, com relação ao batismo das crianças:

“A primeira menção direta ao Batismo das crianças se vê por volta do meio do segundo século. O que é digno de nota sobre esta menção é que concorda que o Batismo das crianças era uma prática universal da Igreja. Se o Batismo das crianças não estivesse em prática no primeiro século da Igreja, como e por que começou como doutrina ortodoxa tão cedo e tão generalizadamente? Não somente foi uma rápida e universal disseminação, mas a literatura sobrevivente daquele tempo não demonstra nenhuma controvérsia a respeito desse costume”.

Concordando pelo batismo das crianças, Dr. Sproul usa como argumento final a palavra tradição com “T” maiúsculo. Em seu sumário, nas palavras finais se lê:

“A história da Igreja sustenta o testemunho da prática universal e não controvertida do Batismo das crianças no segundo século”.

Por que você negaria as bênçãos do Batismo para as suas crianças quando a Bíblia não o proíbe, e é prática universalmente aceita pela Igreja histórica e até mesmo pelos Reformadores Lutero e Calvino?

Fonte: Site “Glory to Jesus Christ!”. Tradução: José Fernandes Vidal.

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