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História da Igreja

Apresentado em Roma importante estudo sobre rito moçárabe

Permitirá aprofundar no significado teológico e da celebração da liturgia hispânica

ROMA, segunda-feira, 17 de maio de 2010 (ZENIT.org).- Na semana passada, na sede da Rádio Vaticano de Roma, foi apresentada a obra Concordantia Missalis Hispano-Mozarabici, editada pela Libreria Editrice Vaticana. Trata-se de um livro de grande importância no âmbito da pesquisa da liturgia.

A Concordantia é o resultado de vários anos de trabalho dos investigadores espanhóis Félix María Arocena e Adolfo Ivorra, e do italiano Alessandro Toniolo.

Nele se recolhe todo o patrimônio oral do rito hismano-moçárabe, e pela primeira vez, as Concordantias, “instrumento essencial que permite se aprofundar na rica teologia presente nos textos”, afirmam os autores.

O livro foi publicado no ano passado, como parte da coleção Monumenta Studia Instrumenta Liturgica, dirigida por Manlio Sodi e Achille Maria Triacca.

Trata-se de um volume de quase mil páginas, que oferece um apoio para o estudo da eucologia eucarística (ou seja, um conjunto de orações contidas em um formulário litúrgico, em um livro ou, geralmente, em livros de uma tradição litúrgica).

A Concordantia permitirá compreender as acepções semânticas de cada termo litúrgico e o contexto em que se encontra.

“O profundo significado teológico de algumas fórmulas, as particularidades do latim hispânico e as discrepâncias entre o Missal e as fontes hispânicas são outras das benfeitorias que possibilita este instrumento”.

“O trabalho baseado nas Concordâncias permitirá conhecer não apenas a densidade teológica do Missale Hispano-Mozarabicum, como também a transcendência e a beleza de nossa tradição ritual”, afirmam os autores.

Eles se disseram confiantes de que a  Concordantia “será um incentivo para a reflexão teológica sobre o atual Missal Hispânico, facilitando sua aproximação, e corrigindo, quando for o caso, as hipóteses e conclusões, até agora formuladas, por meio de uma inspeção in directo dos textos, sensível a sua história – nem sempre clara”.

Rito moçárabe

O rito moçárabe ou hispânico é um dos ritos ocidentais antigos (juntamente ao romano,  ao ambrosiano e ao galicano), tendo nascido e se consolidado na península ibérica por volta do século VI, antes da invasão muçulmana.

Segundo os especialistas, uma das características deste rito é a importante presença do canto. Outros garantem que esse rito conversa, muito mais que os demais ritos, influências da liturgia judia nas sinagogas.

Apesar das dificuldades (conquista muçulmana e imposição do rito romano, especialmente depois de Trento), o rito hispânico sobreviveu em Toledo. Em 1495, o cardeal Cisneros empreendeu uma importante reforma, dedicando uma capela para a celebração desta liturgia, e compondo um missal escrito que coletava as tradições orais que ainda prevaleciam.

Contudo, não foi até o século XX, quando o Concílio Vaticano II dispôs, na Sacrosanctum Concilium, o mesmo direito e honra aos ritos legitimamente reconhecidos, quando se empreendeu a verdadeira reforma do rito, com a edição do Missal atual.

Posteriormente, o Papa João Paulo II concedeu a permissão (que até então só tinha em Toledo) de celebrar esta liturgia em qualquer lugar da Espanha. O próprio pontífice quis celebrar a Missa com este rito, em 28 de maio de 1992, se tornando o primeiro papa que o utilizava em Roma.