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Amar os inimigos é difícil mas é o que nos pede o Senhor, afirma o Papa

VATICANO, 19 Jun. 13 / 08:58 am (ACI/EWTN Noticias).- Como podemos amar aqueles que “tomam a decisão de bombardear e assassinar a tantas pessoas”? Como “podemos amar aqueles que por amor ao dinheiro não deixam que os remédios cheguem aos idosos e os deixam morrer”? Ou aqueles que só procuram “o próprio interesse, o próprio poder e fazem tanto mal”? “Amar o inimigo parece uma coisa difícil, mas é o que nos pede o Senhor”, disse o Papa Francisco na missa que celebrou ontem, terça-feira 18 de junho, na Casa Santa Marta.

O Pontífice ressaltou que para perdoar os inimigos, é fundamental rezar por eles, pedir ao Senhor que lhes transforme o coração. A liturgia destes dias, continuou, propõe justamente esta “atualização das leis que Jesus faz”, da lei do Monte Sinai à Lei do Monte das Bem-aventuranças. E sublinhou que todos nós temos inimigos, mas no fundo nós mesmos podemos converter-nos em inimigos dos outros.

“Tantas vezes também nos convertemos em inimigos dos outros: não gostamos deles. E Jesus nos diz que temos que amar os inimigos! E isto não é fácil! Não é fácil, achamos que Jesus nos pede muito! Deixamos isto para as freiras de clausura, que são santas; deixamos isto para alguma alma Santa, mas na vida comum isto não é possível. Mas isto tem que ser possível! Jesus diz: ‘Não, temos que fazer isto! Porque, caso contrário, vocês serão como os publicanos, como os pagãos. Não serão cristãos’”.

Então como podemos amar nossos inimigos? Jesus, explicou o Papa, “nos diz duas coisas”: acima de tudo olhar ao Pai que “faz surgir o sol sobre maus e bons” e “faz chover sobre justos e injustos”. Deus “tem amor para todos”. E logo, continuou, Jesus nos pede ser “perfeitos como é perfeito o Pai Celeste”, “imitar ao Pai com aquela perfeição do amor”.

Jesus, adicionou, “perdoa seus inimigos”, “faz de tudo para perdoá-los”. Por outro lado, vingar-se não é cristão. Mas como podemos chegar a amar nossos inimigos? Rezando. “Quando a gente reza por aquilo que nos faz sofrer –afirmou o Papa– é como se o Senhor viesse com o azeite para preparar nossos corações para a paz”:

“Rezar! É o que nos aconselha Jesus: ‘Rezem por seus inimigos! Rezem por aqueles que os perseguem! Rezem!’ e digam a Deus: ‘transforme seu coração. Tem um coração de pedra, mas muda-o, dai-lhe um coração de carne, que sinta e que ame’. Deixo para vocês só esta pergunta e cada um responda em seu coração: ‘Rezo por meus inimigos? Rezo por aqueles que não gostam de mim?’ Se dissermos ‘sim’, eu direi: ‘Adiante, reza cada vez mais, esse é um bom caminho’. Se a resposta for ‘não’, o Senhor diz: ‘Pobrezinho, também você é inimigo dos outros!’”.

“Rezar para que o Senhor mude o coração deles. Também podemos dizer: ‘Mas esta pessoa me faz muito mal’, ou eles fizeram coisas más, e isto empobrece as pessoas, empobrece a humanidade. E com tal argumento pretendemos levar adiante a vingança, isso do olho por olho, dente por dente”.

É verdade, ressaltou o Papa, o amor pelos inimigos “nos empobrece”. Mas “nos faz pobres” como Jesus “quando veio até nós, rebaixou-se e se fez pobre” por nós. Alguma pessoa, observou, poderia dizer que isto não é um bom negócio “se o inimigo me fizer mais pobre” com certeza, “segundo os critérios do mundo não é um bom negócio”.

Mas este, assegurou o Papa, é “o caminho que Jesus seguiu” que de rico se fez pobre por nós. Naquela pobreza, “naquele abaixamento de Jesus -sublinhou- encontra-se a graça que justificou a todos, que nos fez ricos”. É o “mistério de salvação”:

“Com o perdão, com o amor ao inimigo, tornamo-nos mais pobres: o amor nos empobrece, mas aquela pobreza é semente de fecundidade e de amor pelos outros. Como a pobreza de Jesus, que se converteu em graça de salvação para todos nós, riqueza… Nós que estamos hoje nesta Missa, pensemos em nossos inimigos e naqueles que não gostam de nós: seria muito bom que oferecêssemos a Missa por eles: Jesus, o sacrifício de Jesus, por eles, por aqueles que não nos amam”.

Quaresma: como e por quê?

Uma prática que se repete desde os primórdios do cristianismo

ROMA, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) – Em preparação para a Páscoa, surgiu já nos primeiros tempos do cristianismo um período voltado a preparar melhor os fiéis para o mistério central da Redenção de Cristo.

Esse período era de um dia apenas. Ele foi se alongando com o tempo, até chegar à duração de 6 semanas. Daí o nome quaresma, do latim quadragesimae, em referência aos 40 dias de preparação para o mistério pascal. A quaresma, para os fiéis, envolve duas práticas religiosas principais: o jejum e a penitência. O primeiro, que já chegou a ser obrigatório para todos os fiéis entre os 21 e os 60 anos de idade, exceto aos domingos, foi introduzido na Igreja a partir do século IV.

O jejum na antiga Igreja latina abrangia 36 dias. No século V, foram adicionados mais quatro, exemplo que foi seguido em todo o Ocidente com exceção da Igreja ambrosiana. Os antigos monges latinos faziam três quaresmas: a principal, antes da Páscoa; outra antes do Natal, chamada de Quaresma de São Martinho; e a terceira, a de São João Batista, depois de Pentecostes.

Se havia bons motivos para justificar o jejum de 36 dias, havia também excelentes razões para explicar o número 40. Observemos em primeiro lugar que este número nas Sagradas Escrituras representa sempre a dor e o sofrimento.

Durante 40 dias e 40 noites, caiu o dilúvio que inundou a terra e extinguiu a humanidade pecadora (cf. Gn. 7,12). Durante 40 anos, o povo escolhido vagou pelo deserto, em punição por sua ingratidão, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt 8,2). Durante 40 dias, Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado direito, em representação do castigo de Deus iminente sobre a cidade de Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés jejuou durante 40 dias no monte Sinai antes de receber a revelação de Deus (cf. Ex 24, 12-17). Elias viajou durante 40 dias pelo deserto, para escapar da vingança da rainha idólatra Jezabel e ser consolado e instruído pelo Senhor (cf. 1 Reis 19, 1-8). O próprio Jesus, após ter recebido o batismo no Jordão, e antes de começar a vida pública, passou 40 dias e 40 noites no deserto, rezando e jejuando (cf. Mt 4,2).

No passado, o jejum começava com o primeiro domingo da quaresma e terminava ao alvorecer da Ressurreição de Jesus. Como o domingo era um dia festivo, porém, e não lhe cabia portanto o jejum da quaresma, o Dia do Senhor passou a ser excluído da obrigação. A supressão desses 4 dias no período de jejum demandava que o número sagrado de 40 dias fosse recomposto, o que trouxe o início do jejum para a quarta-feira anterior ao primeiro domingo da quaresma.

Este uso começou nos últimos anos da vida de São Gregório Magno, que foi o sumo pontífice de 590 a 604 d.C. A mudança do início da quaresma para a quarta-feira de cinzas pode ser datada, por isto, nos primeiros anos do século VII, entre 600 e 604. Aquela quarta-feira foi chamada justamente de caput jejunii, ou seja, o início do jejum quaresmal, ou caput quadragesimae, início da quaresma.

A penitência para os pecadores públicos começava com a sua separação da participação na liturgia eucarística. Mas uma prescrição eclesiástica propriamente dita a este respeito é encontrada apenas no concílio de Benevento, em 1901, no cânon 4.

O cristianismo primitivo dedicava o período da quaresma a preparar os catecúmenos, que no dia da Páscoa seriam batizados e recebidos na Igreja.

A prática do jejum, desde a mais remota antiguidade, foi imposta pelas leis religiosas de várias culturas. Os livros sagrados da Índia, os papiros do antigo Egito e os livros mosaicos contêm inúmeras exigências relativas ao jejum.

Na observância da quaresma, os orientais são mais severos que os cristãos ocidentais. Na igreja greco-cismática, o jejum é estrito durante todos os 40 dias que precedem a Páscoa. Ninguém pode ser dispensado, nem mesmo o patriarca. Os primeiros monges do cristianismo, ou cenobitas, praticavam o jejum em rememoração de Jesus no deserto. Os cenobitas do Egito comiam contados pedaços de pão por dia, metade pela manhã e metade à noite, com um copo d’água.

Houve um tempo em que não era permitida mais que uma única refeição por dia durante a quaresma. Esta refeição única, no século IV, se realizava após o pôr-do-sol. Mais tarde, ela foi autorizada no meio da tarde. No início do século XVI, a autoridade da Igreja permitiu que se adicionasse à principal refeição a chamada “colatio”, que era um leve jantar. Suavizando-se cada vez mais os rigores, a carne, que antes era absolutamente proibida durante toda a quaresma, passou a ser admitida na refeição principal até três vezes por semana.

As taxativas exigências do jejum quaresmal eram publicadas todos os anos em Roma no famoso Édito sobre a Observância da Quaresma. A prática do jejum, no passado, era realmente obrigatória, e quem a violasse assumia sérias consequências.

Os rigores eram tais que o VIII Concílio de Toledo, em 653, ordenou que todos os que tinham comido carne na quaresma sem necessidade se abstivessem durante todo o ano e não recebessem a comunhão no dia da Páscoa.

Giovanni Preziosi

São João Clímaco

Por Papa Bento XVI
Tradução: L’Osservatore Romano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs

Depois de vinte catequeses dedicadas ao Apóstolo Paulo, gostaria de retomar hoje a apresentação dos grandes Escritores da Igreja do Oriente e do Ocidente da Idade Média. E proponho a figura de João, chamado Clímaco, transliteração latina do termo grego klímakos, que significa da escada (klímax). Trata-se do título da sua obra principal, na qual descreve a escalada da vida humana para Deus. Ele nasceu por volta de 575. Portanto, a sua vida desenvolveu-se nos anos em que Bizâncio, capital do império romano do Oriente, conheceu a maior crise da sua história. Repentinamente, o quadro geográfico do império mudou e a torrente das invasões barbáricas fez desabar todas as suas estruturas. Sustentou sozinho a estrutura da Igreja, que nestes tempos difíceis continuou a desempenhar a sua acção missionária, humana e sociocultural, especialmente através da rede de mosteiros, em que trabalhavam grandes personalidades religiosas, como precisamente João Clímaco.

No meio das montanhas do Sinai, onde Moisés encontrou Deus e Elias ouviu a sua voz, João viveu e narrou as suas experiências espirituais. Notícias sobre ele estão conservadas numa breve Vida (PG 88, 596-608), escrita pelo monge Daniel de Raito: com 16 anos João, que se tornou monge no monte Sinai, ali fez-se discípulo do abade Martírio, um “ancião”, ou seja um “sábio”. Com cerca de vinte anos, escolheu viver como eremita numa gruta no sopé do monte, na localidade de Tola, a oito quilómetros do actual mosteiro de Santa Catarina. Porém, a solidão não lhe impediu de encontrar pessoas desejosas de ter uma direcção espiritual, assim como de ir visitar alguns mosteiros nos arredores de Alexandria. Com efeito, o seu retiro eremítico, longe de ser uma fuga do mundo e da realidade humana, desabrochou num amor ardente pelo próximo (Vida 5) e a Deus (Vida 7). Depois de quarenta anos de vida eremítica vivida no amor a Deus e ao próximo, anos durante os quais chorou, rezou, lutou contra os demónios, foi nomeado igúmeno do grande mosteiro do monte Sinai e assim voltou à vida cenobítica no mosteiro. Mas alguns anos antes da morte, nostálgico da vida eremítica, passou ao irmão monge no mesmo mosteiro, a guia da comunidade. Morreu por volta do ano 650. A vida de João desenvolve-se entre duas montanhas, o Sinai e o Tabor, e verdadeiramente pode-se dizer que dele se irradiou a luz vista por Moisés no Sinai e contemplada pelos três Apóstolos no Tabor!

Tornou-se famoso, como já disse, por obra da Escada (klímax), qualificada no Ocidente como Escada do Paraíso (PG 88, 632-1164). Composta por insistente pedido do vizinho igúmeno do mosteiro de Raito, nos arredores do Sinai, a Escada é um tratado completo de vida espiritual, em que João descreve o caminho do monge, desde a renúncia ao mundo até à perfeição do amor. É um caminho que segundo este livro se desenvolve através de trinta degraus, cada um dos quais está ligado ao seguinte. O caminho pode ser resumido em três fases sucessivas: a primeira expressa-se na ruptura com o mundo, em vista de voltar ao estado da infância evangélica. Portanto, o essencial não é a ruptura, mas a ligação com aquilo que Jesus disse, ou seja, o regressar à verdadeira infância em sentido espiritual, o tornar-se como as crianças. João comenta: “Um bom fundamento é formado por três bases e por três colunas: inocência, jejum e castidade. Todos os recém-nascidos em Cristo (cf. 1 Cor 3, 1) comecem a partir destas coisas, a exemplo daqueles que são recém-nascidos fisicamente” (1, 20; 636). O desapego voluntário das pessoas e dos lugares queridos permite à alma entrar em comunhão mais profunda com Deus. Esta renúncia leva à obediência, que é o caminho para a humildade diante das humilhações que nunca faltarão por parte dos irmãos. João comenta: Bem-aventurado aquele que mortificou a sua vontade até ao fim e que confiou o cuidado da própria pessoa ao seu mestre no Senhor: efectivamente, ele será colocado à direita do Crucificado!” (4, 37; 704).

A segunda fase do caminho é constituída pelo combate espiritual contra as paixões. Cada degrau da escada está ligado a uma paixão principal, que é definida e diagnosticada, com a indicação da terapia e com a proposta da virtude correspondente. Sem dúvida, o conjunto destes degraus constitui o mais importante tratado de estratégia espiritual que possuímos. Porém, a luta contra as paixões reveste-se de positividade não permanece algo negativo graças à imagem do “fogo” do Espírito Santo: “Todos aqueles que empreendem este bom combate (cf. 1 Tm 6, 12), duro e árduo […] saibam que vieram lançar-se num fogo, se verdadeiramente desejam que o fogo imaterial habite neles” (1, 18; 636). O fogo do Espírito Santo, que é fogo do amor e da verdade. Só a força do Espírito Santo assegura a vitória. Mas segundo João Clímaco, é importante tomar consciência de que as paixões não são más em si próprias; tornam-se tais pelo mau uso que a liberdade do homem faz das mesmas. Se forem purificadas, as paixões hão-de abrir para o homem o caminho rumo a Deus com energias unificadas pela ascese e pela graça e, “se elas receberam do Criador uma ordem e um início… o limite da virtude é infinito” (26/2, 37; 1068).

A última fase do caminho é a perfeição cristã, que se desenvolve nos últimos sete degraus da Escada. Estes são os degraus mais altos da vida espiritual, experimentáveis pelos “hesicastas”, os solitários, aqueles que alcançaram a tranquilidade e a paz interior; mas são fases acessíveis também aos cenobitas mais fervorosos. Dos primeiros três simplicidade, humildade e discernimento João, em sintonia com os Padres do deserto, considera mais importante o último, ou seja, a capacidade de discernir. Cada comportamento deve ser submetido ao discernimento; com efeito, tudo depende das motivações profundas, que se devem avaliar. Aqui entra-se no núcleo vivo da pessoa e trata-se de despertar no eremita, no cristão, a sensibilidade espiritual e o “sentido do coração”, dons de Deus: “Como guia e regra em cada coisa, depois de Deus, temos que seguir a nossa consciência” (26/1, 5; 1013). Deste modo alcança-se a tranquilidade da alma, a esichía, graças à qual a alma pode debruçar-se sobre o abismo dos mistérios divinos.

O estado de tranquilidade, de paz interior, prepara o hesicasta para a oração, que em João é dúplice: a “oração corpórea” e a “oração do coração”. A primeira é própria de quem se deve fazer ajudar por atitudes do corpo: estender as mãos, emitir gemidos, bater ao peito, etc. (15, 26; 900); a segunda é espontânea, porque é efeito do despertar da sensibilidade espiritual, dom de Deus a quem se dedica à oração corpórea. Em João ela adquire o nome de “oração de Jesus” (Iesoû euché), e é constituída pela invocação exclusiva do nome de Jesus, uma invocação contínua como a respiração: “A memória de Jesus seja uma só com a tua respiração, e então conhecerás a utilidade da esichía“, da paz interior (27/2, 26; 1112). No final, a oração torna-se muito directa, simplesmente a palavra “Jesus”, que se faz uma só com a nossa respiração.

O último degrau da escada (30), imbuído da “sóbria ebriedade do Espírito”, é dedicado à suprema “trindade das virtudes”: a fé, a esperança e sobretudo a caridade. Da caridade, João fala também como eros (amor humano), figura da união matrimonial da alma com Deus. E ele escolhe ainda a imagem do fogo para expressar o ardor, a luz, a purificação do amor a Deus. A força do amor humano pode ser novamente orientada para Deus, como no olival pode ser enxertado uma boa oliveira (cf. Rm 11, 24) (15, 66; 893). João está convencido de que uma intensa experiência deste eros faz progredir a alma muito mais que a dura luta contra as paixões, porque o seu poder é grande. Portanto, prevalece a positividade do nosso caminho. Todavia, a caridade é vista também em estreita relação com a esperança: “A força da caridade é a esperança: graças a ela esperamos a recompensa da caridade… A esperança é a porta da caridade… A ausência da esperança aniquila a caridade: a ela estão vinculados os nossos cansaços, por ela são sustentados os nossos esforços e graças a ela somos circundados pela misericórdia de Deus” (30, 16; 1157). A conclusão da Escada contém a síntese da obra, com palavras que o autor faz o próprio Deus proferir: “Esta escada te ensine a disposição espiritual das virtudes. Eu estou no ápice desta escada, como disse aquele meu grande iniciado (São Paulo): Agora subsistem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior delas é a caridade (1 Cor 13, 13)!” (30, 18; 1160).

Nesta altura impõe-se uma última pergunta: a Escada, obra escrita por um monge eremita que viveu há mil e quatrocentos anos, ainda pode dizer-nos algo hoje? O itinerário existencial de um homem que viveu sempre na montanha do Sinai, numa época muito distante, pode ter alguma actualidade para nós? Num primeiro momento pareceria que a resposta deve ser “não”, porque João Clímaco está demasiado distante de nós. Mas se observarmos um pouco mais de perto, vemos que aquela vida monástica é apenas um grande símbolo da vida baptismal, da vida do cristão. Mostra, por assim dizer, com caracteres grandes, o que nós escrevemos no dia-a-dia com caracteres pequenos. Trata-se de um símbolo profético que revela o que é a vida do baptizado, em comunhão com Cristo, com a sua morte e ressurreição. É para mim particularmente importante o facto de que o ápice da “escada”, os últimos degraus são, ao mesmo tempo, as virtudes fundamentais, iniciais, mais simples: a fé, a esperança e a caridade. Não são virtudes acessíveis apenas a heróis morais, mas são um dom de Deus para todos os baptizados: nelas cresce também a nossa vida. O início é também o fim, o ponto de partida é inclusive o ponto de chegada: todo o caminho se orienta para uma realização de fé, esperança e caridade cada vez mais radical. Nestas virtudes toda a escalada está presente. A fé é fundamental, porque tal virtude implica que eu renuncie à minha arrogância, ao meu pensamento; à pretensão de julgar sozinho, sem confiar nos outros. É necessário este caminho para a humildade, para a infância espiritual: é preciso superar a atitude de arrogância que faz dizer: neste meu tempo do século XXI eu sei mais do que pudessem saber aqueles de então. Contudo, é necessário confiar unicamente na Sagrada Escritura, na Palavra do Senhor, apresentar-se com humildade ao horizonte da fé, para entrar assim na enorme vastidão do mundo universal, do mundo de Deus. É desde modo que cresce a nossa alma, que aumenta a sensibilidade do coração a Deus. João Clímaco justamente diz que só a esperança nos torna capazes de viver a caridade. A esperança em que transcendemos as coisas de cada dia não esperamos o sucesso nos nossos dias terrenos, mas no final aguardamos a revelação do próprio Deus. É só nesta extensão da nossa alma, nesta autotranscendência, que a nossa vida se torna grande e podemos suportar os cansaços e as decepções de todos os dias, podemos ser bons para com os outros sem esperar uma recompensa. Só se existir Deus, esta grande esperança para a qual tendo, posso cada dia dar os pequenos passos da minha vida e assim aprender a caridade. Na caridade esconde-se o mistério da oração, do conhecimento pessoal de Jesus: uma oração simples, que só tende a tocar o Coração do Mestre divino. É assim que se abre o próprio coração, que se aprende dele a sua própria bondade, o seu amor. Por conseguinte, utilizemos esta “escalada” da fé, da esperança e da caridade; assim alcançaremos a verdadeira vida.

“Codex Sinaiticus” pode ser admirado na internet

Uma das Bíblias mais antigas hoje conservadas

ROMA, terça-feira, 7 de julho de 2009 (ZENIT.org).- O “Codex Sinaiticus”, um dos textos mais antigos conservados da Bíblia, já pode ser admirado e lido na internet, no endereço http://www.codexsinaiticus.org.

O Codex é uma Bíblia manuscrita, confeccionada entre os anos 330 e 350. Junto com o “Codex Vaticanus”, que é algo anterior ao “Codex Sinaiticus”, é um dos manuscritos de maior valor para a crítica textual do Novo Testamento em sua versão grega, como a versão grega dos Setenta (ou Septuaginta) do Antigo Testamento.

Mede 33,5 centímetros de largura por 37,5 centímetros de altura.

Seus fragmentos se encontram divididos em várias bibliotecas do mundo, por isto se firmou em Londres há quatro anos um documento de reunificação, processo que aconteceu graças à tecnologia digital. O projeto custou mais de um milhão de euros.

Durante vários séculos o “Codex Sinaiticus” permaneceu no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. No século XIX o manuscrito se dividiu e hoje os textos do Antigo e Novo Testamento se encontram repartidos entre esse Mosteiro, a Biblioteca Britânica (neste lugar se encontra a maior parte; 347 páginas das 400 totais), a Biblioteca da Universidade de Leipzig na Alemanha, e a Biblioteca Nacional da Rússia em São Petersburgo.

Foi o teólogo alemão Constantin Von Tischendorf, quem em 1844 levou partes do texto para Alemanha e Rússia. Os monges autorizaram ao teólogo a levar 43 páginas de pergaminho para Leipzig.

Em 1859, Von Tischendorf regressou ao Sinai, descobriu mais partes do manuscrito e convenceu novamente os monges de que o melhor era levá-las também para Leipzig e doá-las ao czar da Rússia, com cujo apoio havia feito essa segunda viagem.

Parte do manuscrito foi logo parar na União Soviética, que em 1933 vendeu parte desses pergaminhos ao Museu Britânico de Londres, enquanto que os restantes ficaram em São Petersburgo.

Os monges ortodoxos gregos pensavam que haviam perdido o manuscrito, mas em 1975 descobriram uma dúzia de suas páginas em um quarto esquecido, enterradas após um derrubamento. Os monges conservam uma cópia da nota deixada por Tischendorf prometendo devolver o manuscrito.

A edição digital do manuscrito foi elaborada conjuntamente pela Biblioteca Britânica, a Biblioteca Universitária de Leipzig e a Biblioteca Nacional da Rússia, em São Petersburgo.

Mais informação: http://www.codexsinaiticus.org

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