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João Paulo II, uma mulher e muitas cartas

A história de Wanda Poltawska, “irmãzinha” de Karol Wojtyla

Por Renzo Allegri

ROMA, sexta-feira, 12 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Seu nome circula pelos jornais do mundo inteiro já há algumas semanas. Ela se chama Wanda Poltawska, é polonesa, tem 88 anos e é médica psiquiatra. A razão deste interesse repentino da imprensa está no fato de que Poltawska publicou muitas das cartas que recebeu de João Paulo II.

E, como era previsível, alguns meios de comunicação quiseram tornar um escândalo as cartas de João Paulo II a uma mulher.

As cartas, publicadas em um livro recentemente lançado na Polônia, fazem parte de uma intensa correspondência trocada entre Poltawska e Wojtyla ao longo de 55 anos. Os dois se conheceram imediatamente depois da 2ª Guerra Mundial, tornaram-se amigos e colaboraram juntos em numerosas iniciativas.

Primeiro em Cracóvia, nas atividades culturais e sociais da diocese, sobretudo para os problemas da família; e, após a eleição de Karol Wojtyla como pontífice, em Roma, onde Poltawska se converteu em membro do Conselho Pontifício para a Família, consultora do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde e membro da Academia Pontifícia para a Vida.

Uma atividade intensa, uma amizade transparente, que todos conheciam. Uma amizade que teve extraordinária visibilidade em 1984, quando se soube que Poltawska havia sido objeto de um milagre por intercessão do Padre Pio, por meio da solicitação de Karol Wojtyla.

A história se remonta a 1962. Portadora de um tumor, Wanda estava a ponto de morrer. Os médicos não lhe deram esperanças; queriam de qualquer forma tentar uma operação. Wojtyla, jovem bispo, encontrava-se em Roma para o Concílio. Foi informado e escreveu imediatamente uma carta ao Padre Pio, pedindo-lhe que rezasse por aquela mulher. A carta é de 17 de novembro de 1962. Foi entregue ao Padre Pio através de Angelo Battisti, que era administrador da Casa Alívio do Sofrimento. O Padre Pio pediu a Battisti que lesse a carta para ele. Ao acabar, disse, “Angelo, a isso não se pode dizer que não”.

Battisti, que conhecia bem os carismas do Padre Pio, voltou a Roma surpreso e continuava se perguntando o porquê daquela frase: “A isso não se pode dizer que não”. Onze dias depois, no dia 28 de novembro, ele foi encarregado de levar uma nova carta ao Padre Pio. Nesta, o bispo polonês agradecia ao sacerdote por suas orações, porque “a mulher que tinha o tumor foi curada de repente, antes de entrar na sala de cirurgia”. Um verdadeiro e chamativo milagre, portanto, testificado pelos médicos.

Primeira encíclica de João Paulo II completa 30 anos

Entrevista com Angela Ales Bello, docente da Pontifícia Universidade Lateranense

Por Carmen Elena Villa

ROMA, terça-feira, 31 de março de 2009 (ZENIT.org).- Este mês se completam 30 anos da publicação da primeira encíclica de João Paulo II, Redemptor Hominis.

Neste importante documento eclesial, o Pontífice começou a exortar os católicos a que se preparassem para a celebração do jubileu do ano 2000, chamando aqueles anos precedentes de um «novo advento».

O Pontífice desenvolveu assim a cristologia proposta já em diversos textos do magistério pontifício e dos Padres da Igreja e concretizada na constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, que assegura que o mistério do homem só pode ser esclarecido à luz do Verbo Encarnado.

O Papa mostrou assim que em Cristo, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encontra-se a base da dignidade humana, da liberdade – que deve ser custodiada pela Igreja – e da defesa aos direitos humanos.

Sobre este tema, Zenit conversou com a Profa. Angela Ales Bello, docente de História da Filosofia Contemporânea na Pontifícia Universidade Lateranense.

Ela participou do congresso «30 anos após a Redemptoris Hominis: memória e profecia», que se realizou em dias passados na Pontifícia Universidade Lateranense, com sua palestra «Razões e especificidades do personalismo wojtyliano».

– Quais são as principais bases contidas no magistério pontifício para o desenvolvimento desta encíclica?

– Angela Ales Bello: Toda a tradição da Igreja Católica está detrás desta encíclica, sem dúvida. Desde os padres da Igreja. Contudo, o Concílio Vaticano II, em particular, deu uma grande atenção ao povo de Deus, por exemplo. Deu uma grande função à comunidade e isso é um elemento importante que reaparece nesta encíclica.

– Qual é a importância desta encíclica para a cristologia e quais são as novidades que a Redemptor Hominis oferece nesta matéria?

– Angela Ales Bello: É de uma importância capital, porque se continua refletindo sobre a figura de Cristo fundamentalmente e sobre sua unidade de ser humano e de Ser Divino. Propriamente na linha desta unidade, é possível uma grande valorização do homem, do ser humano em geral, que está inclusa e esclarecida à luz de Cristo.

Já no título «Redentor do Homem» se vê a função específica que é a da redenção e a de dar uma resposta fundamental aos desejos profundos de todos os seres humanos, mas é uma resposta que não se refere só aos cristãos. Está dirigida a todos, porque todos os seres humanos foram salvos por Cristo. A função redentora de Cristo se estende a toda a humanidade.

Papa viverá aniversário da morte de João Paulo II com jovens

Em 2 de abril, ao anoitecer

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI viverá neste ano o 4º aniversário do falecimento de João Paulo II junto a milhares de jovens, segundo o calendário das celebrações presididas pelo Santo Padre publicado nesta quinta-feira.

Ele o fará presidindo em 2 de abril, às 18h, na basílica vaticana, uma santa missa à qual estão convidados em particular os jovens de Roma.

Será ao mesmo tempo o tradicional encontro que o Papa tem todos os anos com os jovens de sua diocese em preparação da Jornada Mundial da Juventude, que este ano se viverá no âmbito local, nas dioceses três dias depois, no Domingo de Ramos.

Bento XVI reviverá a noite de 4 anos atrás, na qual os fiéis que lotavam a Praça de São Pedro, muitos deles jovens, acompanharam a morte de Karol Wojtyla com a oração.

Trata-se de uma das celebrações destacadas no calendário do Papa previsto para o mês de fevereiro até abril, que se caracteriza também por sua primeira viagem à África.

Em 21 de fevereiro, o calendário prevê que às 11h, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, aconteça um consistório para algumas causas de canonização.

Em 25 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, o Papa participará, na basílica de Santo Anselmo, às 16h30, da procissão penitencial. Às 17h, na basílica de Santa Sabina, presidirá a santa missa, com a benção e imposição da cinzas.

Em 1º de março, primeiro domingo da Quaresma, na capela Redemptoris Mater do Vaticano, o Papa começará junto à Cúria Romana, às 18h, os Exercícios Espirituais. Concluirá às 9h de 7 de março.

Como já se anunciou, de 17 a 23 de março, o pontífice realizará sua viagem apostólica a Camarões e Angola.

Em 29 de março, V Domingo de Quaresma, o bispo de Roma realizará uma visita pastoral à paróquia romana da Santa Face de Jesus, no bairro popular da Magliana.

Três dias depois da celebração do aniversário de falecimento de João Paulo II, em 5 de abril, Domingo de Ramos, na Praça de São Pedro, às 9h30, o Papa abençoará as palmas e presidirá a procissão e a santa missa.

Como é tradição, em 9 de abril, Quinta-Feira Santa, às 9h30, na basílica vaticana, concelebrará a Santa Missa do Crisma com os sacerdotes e bispos presentes na Cidade Eterna.

Às 17h30, na basílica de São João de Latrão, catedral do Papa, ele dará início ao tríduo pascal, celebrando a Santa Missa da Ceia do Senhor.

Em 10 de abril, Sexta-feira Santa, às 17h, na basílica vaticana, participará da celebração da Paixão do Senhor. Às 21h15, no Coliseu, Via Sacra.

Em 11 de abril, Sábado Santo, às 21h, na basílica vaticana, o Papa dará início à Vigília Pascal da Noite Santa.

No Domingo de Páscoa, às 10h30, na Praça de São Pedro, celebrará a santa missa do Dia de Ressurreição. Às 12h, desde o balcão central da basílica, enviará a benção Urbi et Orbi, acompanhada ao vivo por canais de televisão do mundo inteiro.

Os últimos momentos de Karol Wojtyla, segundo seu secretário

Testemunho do cardeal Dziwisz em seu livro recém-publicado na Polônia

CIDADE DO VATICANO, domingo, 28 de janeiro de 2007 (ZENIT.org).- O secretário pessoal de João Paulo II, cardeal Stanislaw Dziwisz, arcebispo de Cracóvia, colaborador seu durante 40 anos, acaba de publicar um livro de suas memórias, a partir de uma série de entrevistas ao jornalista Gian Franco Svidercoschi, que se intitula «Uma vida com Karol». Adiantamos uma passagem do capítulo 35 sobre os últimos momentos do pontífice na terra.

* * *

Eram 21h37. Havíamos percebido que o Santo Padre deixara de respirar, mas só naquele momento vimos no monitor que seu grande coração, depois de haver batido por uns instantes, detivera-se. O doutor Buzzonetti inclinou-se sobre ele e, lançando apenas um olhar, murmurou: «Passou à casa do Senhor». Alguém deteve os ponteiros do relógio àquela hora.

Nós, como se houvéssemos decidido todos de uma vez, começamos a cantar o Te Deum. Não o Réquiem, porque não era um luto, mas o Te Deum, como agradecimento ao Senhor pelo dom que nos havia dado, o dom da pessoa do Santo Padre Karol Wojtyla.

Chorávamos. Como se podia não chorar! Eram, por sua vez, lágrimas de dor e de alegria. Foi então que se acenderam todas as luzes da casa. Depois, não recordo mais. Era como se, de repente, tivessem caído as trevas. As trevas sobre mim, dentro de mim. Sabia que aquilo havia acontecido, mas era como se, depois, negasse-me a aceitar, ou negasse a entender. Colocava-me nas mãos do Senhor, mas enquanto acreditava ter o coração sereno, retornava a escuridão. Até que chegou o momento da despedida. Estava toda aquela gente. Todas as pessoas importantes que tinham vindo de longe. Na Praça de São Pedro havia uma grande luz; e agora voltou também dentro de mim.

Concluída a homilia, o cardeal Ratzinger fez aquela alusão na janela, e disse que ele estava seguramente ali, vendo-nos, abençoando-nos. Também eu me voltei, não pude menos que volver-me, mas não elevei meu olhar para ali. Ao final, quando chegamos às portas da Basílica, os que levavam o féretro o giraram lentamente, como para permitir-lhe um último olhar para sua Praça. A despedida definitiva dos homens, do mundo. Também sua despedida de mim? Não, de mim não. Naquele momento, não pensava em mim. Vivi esse momento junto a muitos outros, e todos estávamos abalados, turbados, mas para mim foi algo que nunca poderei esquecer. O cortejo estava entrando na Basílica; deviam levar o féretro à tumba. Então, justamente então, me veio pensar: acompanhei-o durante quase quarenta anos, primeiro em Cracóvia, depois vinte e sete anos em Roma. Sempre estive com ele, ao seu lado. Agora, no momento da morte, ele caminhava sozinho. E este fato, o não ter podido acompanhá-lo, doeu-me muito. Sim, tudo isso é verdade, mas ele não nos deixou. Sentimos sua presença, e também tantas graças obtidas através dele.

[Passagem publicada com permissão de Rizzoli. Traduzido por Zenit]

João Paulo II, Papa da família e da vida, segundo cardeal Stanislaw Dziwisz

O antigo secretário de Karol Wojtyla em Valência

VALÊNCIA, sexta-feira, 7 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Uma grande ovação saudou o cardeal Stanislaw Dziwisz, arcebispo de Cracóvia e fiel secretário de João Paulo II durante décadas, no começo e ao final de sua intervenção sobre «João Paulo II, o Papa da família e da vida», no Congresso Teológico-Pastoral que se celebra em Valência, Espanha.

«Tendo em conta a história de sua vida sacerdotal, João Paulo II pode ser definido como um dos maiores pastores da família na história da Igreja Católica do século XX e começo do XXI», disse o cardeal Dziwisz.

«Todo o seu pensamento teológico-filosófico — revelou –, como seu serviço pastoral à família e à vida, não teve seu começo com sua eleição ao Primado de Pedro, mas foi amadurecendo ao longo de sua vida e de seu serviço pastoral como sacerdote, bispo e, por fim, como Papa.»

O cardeal Dziwisz assinalou que «a primeira característica» do trabalho pastoral do Papa Karol Wojtyla com a família foi «a profunda reflexão que sempre acompanhava o que ele realizava, propunha ou aconselhava às pessoas que, como sacerdote, tratava. Graças a isso, em sua atividade nunca prevaleceu o caos».

Não era um «ativista», no mau sentido da palavra, declarou.

O palestrante assinalou as linhas fundamentais da pastoral familiar do cardeal Karol Wojtyla. Em primeiro lugar contar com a participação dos leigos. Em segundo lugar, não se dirigir exclusivamente a um grupo determinado de pessoas escolhidas. Em terceiro, deve desenvolver-se com adequados instrumentos, inclusive programas de estudos teórico-práticos na matéria. E, por último tudo isso deve manifestar claramente sua relação com a fé e a moral cristã.

Para João Paulo II, disse o cardeal, «a principal atividade na pastoral familiar é a oração», como pôs de manifesto em sua Carta às Filipinas.

Destacou que Karol Wojtyla «sempre pensou que a pastoral familiar é um campo enorme e, portanto, sempre é possível realizá-la ainda que não se conte com meios para isso. Somente é necessário ter certa sensibilidade e clara convicção com relação ao importante papel que a família ocupa na Igreja: é o caminho da Igreja».

«Karol Wojtyla estava certo de que o modelo de família depende da educação que os jovens receberem. Por este motivo, dedicou muito tempo à pastoral com a juventude. Explicava-lhes que o matrimônio não é questão de casualidade, mas é uma real» e «fundamental vocação à santidade», recordou o cardeal Dziwisz.

Buscando apoiar o matrimônio e a família, o palestrante sublinhou que João Paulo II desde o início de seu pontificado começou a pôr em andamento o Pontifício Conselho para a Família.

Entre os problemas que o afetavam de forma especial, recordou, estava «a questão da anticoncepção e do triste pecado, que clama ao céu, do infanticídio, ou seja, o aborto».

Recordar os títulos de suas catequeses, disse o palestrante, dá a entender que «João Paulo II foi o grande apóstolo da vida na família. Serviu a estes valores com toda a sua inteligência e com todas as suas forças».

Durante toda a intervenção do cardeal Dziwisz, pôde-se observar a atenção e a simpatia com que os congressistas seguiram as palavras testemunhais do secretário de João Paulo II, sublinhadas por um grande aplauso final em pé de todos os assistentes.

Sumo Pontífice – Papa João Paulo II

Currículo de vida de Sua Santidade

Nascido em Wadovice-Cracóvia (Polônia) – 18 de maio de 1920

Ordenado sacerdote – 1º de novembro de 1946

Eleito Bispo de Ombi – 4 de julho de 1958

Consagrado Bispo – 28 de setembro de 1958

Arcebispo de Cracóvia – 13 de janeiro de 1964

Cardeal da Santa Igreja – 26 de junho de 1967

Eleito Papa – 16 de outubro de 1978

Entronizado solenemente – 22 de outubro de 1978

1. Dados biográficos

Data de nascimento: 18 de maio de 1920. Batizado Karol (Carlos) Joseph, em 20 de julho do mesmo ano. Chamado pelo diminutivo Lolek ou Lolus (Carlinhos).

Família: O pai também se chamava Karol. Karol Wojtyla, nascido em 1879, foi oficial de intendência do exército austríaco até a recuperação da independência da Polônia, em 1918. Deixando o exército austríaco, ingressou no polonês e passou a exercer funções administrativas em Wadovice. Faleceu durante a segunda guerra mundial, em 18 de fevereiro de 1941, com 62 anos. A mãe chamava-se Emília Kaczorowska. Faleceu quando Karol tinha apenas 9 anos, em 1929. Teve um irmão e uma irmã, ambos mais velhos do que ele. O irmão, Edmond, formou-se em medicina. Morreu em 1932, vítima de epidemia de escarlatina. A irmã morreu com apenas alguns dias de vida, em 1914. Karol foi o único sobrevivente. Aos 21 anos, ficou sem pais e sem irmãos. A família era humilde e sofrida.

Terra natal: Wadovice, a 30 Km de Cracóvia, considerada capital religiosa da Polônia, às margens do Skawa e no sopé dos Beskides. Tinha em torno de nove mil habitantes em 1920, dos quais, dois mil, mais ou menos, eram judeus. Um dos grandes amigos de Karol foi um judeu. Este amigo testemunha que Karol, ao contrário dos demais conterrâneos, nunca teve qualquer indelicadeza para com os judeus. Hoje, a cidade tem quinze mil habitantes.

Infância e juventude: O amigo judeu registra que, com 13 ou 14 anos, Karol, ajudado por um dos seus professores, fundou um grupo de congregação mariana. Fundou também uma pequena companhia teatral.

Em 1938, a fim de que Karol pudesse continuar os estudos, o pai mudou-se com ele para Cracóvia. Passaram a morar num apartamento pequeno e modesto, de apenas dois aposentos. Karol inscreveu-se na faculdade de letras da Universidade e também na “Escola de arte dramática”. Passou a freqüentar sua nova paróquia, dirigida pelos salesianos, que tinha Santo Estanislau Kostka como padroeiro. Foi em Cracóvia que Karol enfrentou as conseqüências da segunda guerra mundial. Abalada pelas múltiplas dificuldades da guerra, a saúde do pai declinou rapidamente, vindo a falecer em 1941. Encontrando-se sozinho na vida, Karol foi a Wadovice e convenceu um jovem amigo e seus pais a morarem com ele em Cracóvia. A mãe do amigo passou a cuidar da casa, o pai trabalhava de motorneiro, e os dois jovens estudavam e faziam teatro juntos. Em 26 de outubro de 1939, o governador ordenou serviço obrigatório para todos os poloneses de 18 a 60 anos. Quem não estivesse empregado, não teria a permissão alemã de livre circulação. Para fugir à perseguição do nazismo, Karol empregou-se na usina química Solvay. Inicialmente, o trabalho de Karol era numa pedreira, depois foi transferido para a usina propriamente dita. Pelo teatro e por outras articulações, Karol colaborou intensamente na resistência dos poloneses contra os invasores nazistas. Para despistar a polícia e não ser preso, precisou deslocar-se diversas vezes de um lugar para outro.

Vocação e Preparação ao Sacerdócio: Deus sempre surpreende. No caso de Karol, serviu-se de um alfaiate do quarteirão onde morava para despertar nele a vocação sacerdotal. Era um homem simples, amigo dos pobres. Embora portador de uma doença que o fazia definhar lentamente, sempre se manifestava alegre e feliz. Karol repetia muitas vezes que nesse homem resplandecia a beleza de Deus. Em outubro de 1942, Karol entrou no seminário clandestino criado pelo Arcebispo de Cracóvia, Dom Adam Stefan Sapihea. Curiosamente, anos antes, Karol havia dito ao Arcebispo que não queria ser padre. O Arcebispo estava em visita a Wadovice. Foi visitar o colégio local. Karol foi escolhido para saudá-lo. Impressionado pelas palavras de Karol, Dom Sapihea perguntou se não havia pensado em tornar-se padre. Disse que não, pois desejava prosseguir seus estudos de língua e literatura polonesas na universidade. O Arcebispo concluiu: é pena. Este rapaz irá muito longe. Naturalmente, o estudo era clandestino e à noite. Quando, em 1944, Varsóvia se rebelou contra a invasão dos nazistas, estes acabaram concentrando todo seu furor contra Cracóvia. O bispo de Cracóvia acabou escondendo Karol no porão do Arcebispado, onde passou cinco meses sem ver o sol. Foi em 1944, no dia 12 de fevereiro, como operário e seminarista clandestino, que Karol sofreu um acidente que quase lhe roubou a vida. Ao retornar da Solvay, foi atropelado por um caminhão alemão. O diagnóstico médico acusou comoção cerebral com grandes ferimentos na cabeça. Mas, um mês depois, saiu curado do hospital.

Ordenação e ministério presbiteral: O arcebispo de Cracóvia, Dom Sapieha, ordenou Karol presbítero no dia primeiro de novembro de 1946. Pe. Karol celebrou sua primeira missa na igreja de sua paróquia, junto ao altar de Maria Auxiliadora, onde, anos antes, rezando, amadurecera sua vocação. Como padre jovem, cheio de vida, estudava e pregava, organizava grupos de jovens e escrevia peças de teatro e poesias, passava horas no confessionário e cantava nos corais. Com os jovens também gostava de esquiar nos montes Tratas ou de navegar nas torrentes do Vístula. Em 1947, o Arcebispo Sapihea enviou Pe. Karol a Roma. Lá, por dois anos, estudou no Angelicum, universidade eclesiástica dirigida pelos dominicanos. Aí, em 1948, obteve seu doutorado em filosofia e moral, com tese sobre a ética em São João da Cruz. Durante este tempo, nos fins de semana, atuava numa paróquia de periferia, especialmente com os jovens. Durante este tempo, também, visitou a Bélgica, onde conheceu de perto o movimento Juventude Operária Católica (JOC), fundada pelo Pe. Cardijn. Visitou também a Holanda e a França, onde conheceu a experiência missionária de padres no meio operário e a participação dos leigos.

Em 1949, Pe. Karol retornou a Cracóvia, onde continuou seus estudos para doutorar-se em teologia pela Universidade Estadual. Ao mesmo tempo, trabalhava numa paróquia, prontificando-se a substituir todos os padres que se encontrassem em dificuldades nas aldeias da montanha. Em 1951, doutorou-se e habilitou-se a lecionar na Universidade de Cracóvia. Em seguida, tornou-se professor no seminário. Em 1954, assumiu a cadeira de filosofia na Universidade Católica de Lublin. Passou a ser assistente dos estudantes e dos formados da Universidade de Cracóvia.

Nomeação e ministério episcopal: No dia 04 de julho de 1958, quando tinha 12 anos de padre e 38 de idade, Pe. Karol foi nomeado bispo auxiliar de Cracóvia, sendo consagrado no dia 28 de setembro seguinte. Escolheu como lema “Totus Tuus”, em relação à Virgem Maria, de um santo francês, Louis-Marie Grignion de Montfort. No dia 13 de janeiro de 1964, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia. Bispo conciliar, participou da comissão de redação do documento Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) sobre a Igreja no mundo de hoje. Pronunciou-se com freqüência nos debates conciliares, acentuando a abertura e a prontidão da Igreja para o diálogo com os homens em qualquer situação, a dedicação permanente e prioritária à evangelização em linguagem própria dos tempos atuais. Em 26 de junho de 1967, foi nomeado Cardeal pelo Papa Paulo VI. Em outubro desse mesmo ano, deveria participar do Sínodo Mundial de Bispos em Roma. Porém, como o Cardeal Arcebispo de Varsóvia, Stefan Wyszynski, histórico opositor do regime comunista, não recebera passaporte para ir a Roma para participar também do Sínodo, em solidariedade, o Cardeal Wojtyla não foi. No Sínodo de 1969, o Cardeal Wyszynski foi novamente escolhido como delegado pelos Bispos poloneses. Desta vez, recebeu passaporte. Como o Cardeal Wojtyla fora convidado pessoal do Papa para o mesmo Sínodo, os dois foram juntos. Daí para frente, participou de todos os Sínodos (realizados de três em três anos), sendo que no de 1971 foi eleito Secretário-Geral do próprio Sínodo.

O Pe. e Bispo Karol Wojtyla publicou cinco livros, escreveu mais de 500 artigos, algumas comédias e diversas poesias. Falava, além do polonês, latim, italiano, francês, inglês e alemão. Mais tarde, como Papa, exercitou-se em vários outros idiomas, especialmente para suas viagens apostólicas. Nas duas visitas ao Brasil, pronunciou-se em nossa língua. Nos encontros com os Bispos brasileiros nas visitas qüinqüenais a Roma (Visitas ad Limina), faz questão de falar em português.

Eleição e ministério papal: No dia 16 de outubro de 1978, o Cardeal Karol Wojtyla foi eleito Papa, assumindo o nome de João Paulo II. Sucedeu a João Paulo I, falecido no dia 28 de setembro de 1978, que por apenas 33 dias dirigira a Igreja, sucedendo a Paulo VI, falecido no dia 06 de agosto do mesmo ano. Foi o primeiro Papa polonês da história da Igreja, o primeiro não italiano desde 1522 e o mais jovem (58 anos) desde 1846. Sua entronização solene no ministério petrino foi em 22 de outubro de 1978.

João Paulo II caracteriza-se como pessoa de intensa oração e de grande atividade. Até maio de 1996, realizou 125 visitas a Dioceses da Itália e 245 a paróquias de Roma. Fez 71 viagens apostólicas internacionais, tendo estado em mais de cem países. Em alguns mais de uma vez. Escreveu numerosos documentos. Tudo como se verá adiante.

Convocou e desenvolveu o Sínodo para os Bispos da Europa e da África. Tem em vista o Sínodo para os Bispos das Américas, da Ásia e da Oceania. Em seu pontificado foi concluída a redação do Código de Direito Canônico, reformulado com base no Concílio Vaticano II, cuja finalidade é “criar na sociedade eclesial uma ordem que, dando a primazia ao amor, à graça e aos carismas, facilite ao mesmo tempo seu desenvolvimento orgânico na vida seja da sociedade eclesial, seja de cada um de seus membros” (Constituição de promulgação). Foi redigido e promulgado o Catecismo da Igreja Católica, compêndio doutrinário, para servir de “texto de referência, seguro e autêntico para o ensino da doutrina católica, e de modo muito particular para a elaboração de catecismos locais. É oferecido também a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis da salvação” (Cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica…. é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão de nossa esperança (Cf. 1 Pd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê” (Constituição de promulgação).

João Paulo II realizou seis consistórios com nomeação de novos Cardeais. Ao todo, nomeou 137, dos quais 123 estão vivos e 100 seriam votantes (não completaram ainda oitenta anos – em março de 1995) num conclave (reunião de cardeais para a eleição de um novo Papa). Dos 137 Cardeais nomeados por João Paulo II, 77 são da Europa (30 da Itália); 18 de América Latina; 15 da Ásia; 14 da América do Norte; 10 da África; 3 da Oceania.

Ele promoveu alguns encontros marcantes no campo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Entre eles, destaca-se o primeiro Dia Mundial de Oração pela Paz com representantes das Igrejas Cristãs e Comunidades Eclesiais e Religiões do Mundo, no dia 27 de outubro de 1986, em Assis, Itália. Tomou também a iniciativa de visitar a sinagoga de Roma, no dia 13 de abril de 1986.

Manifesta um carinho especial pela juventude. Instituiu as Jornadas Mundiais da Juventude, com dez edições até agora. Já marcou a próxima para Paris, França, no verão de 1997.

João Paulo II já realizou muitas canonizações (declaração de santidade de uma pessoa) e muitas beatificações. Entre as beatificações, está a de Madre Paulina, fundadora das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, no dia 18 de outubro de 1991, em Florianópolis-SC. Entre as canonizações, está a dos Mártires das Missões, Padres Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e João de Castilho, em Assunción, Paraguai, em maio de 1988.

João Paulo II foi também duramente provado pelo sofrimento. Em 13 de maio de 1981, foi vítima de um atentado em plena praça São Pedro. O tiro de que foi alvo submeteu-o a uma delicada cirurgia com extração de parte do intestino. Em julho de 1992, precisou de uma nova internação hospitalar. Desta vez para extirpar um pequeno tumor também no intestino. Em 1994, em conseqüência de uma queda, fraturou o fêmur.

Em dezembro de 1994, a Revista Time elegeu João Paulo II “Homem do ano”. Justificou assim a escolha: “em um ano em que tantas pessoas lamentam a deterioração dos valores morais ou buscam pretextos diante de um mau comportamento, o Papa João Paulo II levou adiante, com determinação, sua visão de uma vida reta e convidou o mundo a fazer o mesmo. Por essa retidão, ele é o ?Homem do ano?”. Em matéria de 25 páginas, a revista apresenta a biografia do Papa, com destaque para suas alegrias e sofrimentos: sua angústia pela situação da Bósnia e por outras guerras no mundo, pela decadência dos valores morais e, sobretudo, sua preocupação com a santidade do ser humano para a qual, segundo o texto, “o Papa é uma força moral”.

2. Diretrizes de João Paulo II em seu Ministério Petrino

No dia seguinte ao de sua eleição papal, na mensagem “urbi et orbi” (à cidade – de Roma – e ao mundo), pronunciada diante dos Cardeais que o elegeram, João Paulo II traçou algumas linhas básicas de seu Pontificado:

– Permanente importância do Vaticano II:

  • garantir-lhe a devida execução;
  • estabelecer sintonia com ele para tornar explícito aquilo que nele está implícito;
  • aprofundar particularmente a colegialidade que associa intimamente os Bispos ao sucessor de Pedro e eles entre si;
  • implementar o exercício da colegialidade, através dos organismos, em parte novos e em parte atualizados, que podem garantir a união dos espíritos, das intenções e das iniciativas. Neste sentido, ocupe o primeiro lugar o Sínodo.

– Fidelidade global à missão:

  • conservar intacto o depósito da fé;
  • confirmar os irmãos segundo a ordem especial de Jesus a Simão Pedro;
  • apascentar, como prova de amor a Jesus, os cordeiros e as ovelhas do rebanho.

– Fidelidade à grande disciplina da Igreja, que significa:

  • adesão ao magistério de Pedro especialmente no campo doutrinal;
  • respeito pelas normas litúrgicas vindas da autoridade eclesiástica;
  • correspondência generosa às exigências da vocação sacerdotal e religiosa;
  • autêntica vivência do ser cristão por parte de todos os fiéis, na obediência aos pastores sagrados e na colaboração às iniciativas e obras a que são chamados.

– A causa ecumênica.

– Liberdade religiosa e justiça no mundo:

  • oferecer um contributo positivo para as causas permanentes e dominantes da paz, do progresso e da justiça internacional;
  • trabalhar pela consolidação das bases espirituais sobre as quais deve apoiar-se a sociedade humana;
  • estender as mãos e abrir o coração a todas as gentes e a todas as pessoas que se vêem oprimidas por alguma injustiça ou discriminação no que diz respeito, seja à economia e à vida social, seja à vida política, seja ainda à liberdade de consciência e à justa liberdade religiosa.

«Que a humanidade não se esqueça de Auschwitz!», clama Papa ao regressar da Polônia

Faz um balanço de sua segunda visita apostólica internacional durante a audiência geral

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 31 de maio de 2006 (ZENIT.org).- «Que a humanidade de hoje não se esqueça de Auschwitz e das demais ?fábricas da morte? nas quais o regime nazista tentou eliminar a Deus para tomar seu lugar!», exclamou Bento XVI nesta quarta-feira, ao fazer um balanço de sua viagem apostólica à Polônia.

Como costumava fazer João Paulo II, o Papa dedicou a intervenção durante a audiência geral desta quarta-feira a repassar os momentos mais significativos de sua segunda peregrinação internacional, que teve como meta as terras de Karol Wojtyla, de 25 a 28 de maio.

Concluiu seu balanço, junto a 35.000 peregrinos convocados na praça de São Pedro em uma manhã de sol, evocando a emocionante visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, que aconteceu no domingo, pouco antes de tomar o avião de volta a Roma.

Recordando aquela tragédia, o pontífice explicou: «Hitler exterminou seis milhões de judeus. Em Auschwitz-Birkenau morreram também cerca de 150.000 poloneses e dezenas de milhares de homens e mulheres de outras nacionalidades».

Segundo o Papa, «ante o horror de Auschwitz, não há outra resposta que a Cruz de Cristo: o Amor que descende até o abismo do mal para salvar o homem em sua raiz, onde sua liberdade pode rebelar-se contra Deus».

E exclamou: «Que a humanidade de hoje não se esqueça de Auschwitz e das demais ?fábricas da morte? nas quais o regime nazista tentou eliminar Deus para tomar seu lugar!».

«Que os homens voltem a reconhecer que Deus é Pai de todos e que chama a todos em Cristo a construírem juntos um mundo de justiça, de verdade e de paz!», insistiu.

O restante de sua intervenção recolheu notas de viagem de Bento XVI por terras polonesas para alentar na fé o povo no qual nasceu Karol Wojtyla.

Evocou sua visita à capital, Varsóvia, seus momentos de oração nos santuários amados por João Paulo II, o santuário nacional polonês de Jasna Gora em Czestochowa, o da Virgem de Kalwaria Zebrzidowska e o da Divina Misericórdia, assim como sua visita a Wadowice, cidade natal de seu predecessor, e a Cracóvia.

Na cidade da qual Karol Wojtyla foi arcebispo, o pontífice culminou sua viagem com uma missa na qual deixou a mensagem central que quis transmitir aos poloneses: «Permanecei firmes na fé!».

«Esta foi a mensagem que deixou aos filhos da querida Polônia, motivando-os a perseverarem na fidelidade a Cristo e à Igreja para que não falte nunca na Europa e no mundo a contribuição de seu testemunho evangélico», reconheceu.

«Todos os cristãos têm de se sentir comprometidos a dar esse testemunho para evitar que a humanidade do terceiro milênio possa conhecer de novo horrores semelhantes aos que são evocados tragicamente pelo campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau», concluiu.

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