Tag: Jerusalém Page 3 of 4

Igreja, unidade na diversidade; explica Bento XVI em Pentecostes

Convertendo-se assim em mensageira da paz de Cristo ao mundo

CIDADE DO VATICANO, domingo, 11 de maio de 2008 (ZENIT.org).- A Igreja constitui uma unidade na diversidade, chamada a transmitir a verdadeira paz de Cristo a toda a humanidade, assegurou Bento XVI na solenidade de Pentecostes.

Assim explicou o Santo Padre durante a homilia da celebração eucarística deste domingo, presidida em uma Basílica de São Pedro do Vaticano cheia de peregrinos, na qual declarou que a Igreja não é «uma federação de Igrejas».

Como explicou o pontífice comentando as escrituras da liturgia, a Igreja teve seu «batismo de fogo» na vinda do Espírito Santo sobre os discípulos, reunidos junto com a Virgem Maria em Jerusalém.

«Em Pentecostes a Igreja não fica constituída pela vontade humana, mas pela fortaleza do Espírito de Deus. E imediatamente pode-se ver que este Espírito dá vida a uma comunidade que é ao mesmo tempo única e universal, superando assim a maldição de Babel», assegurou.

Multiplicidade e unidade

«De fato, só o Espírito Santo – sublinhou -, que cria unidade no amor e na recíproca aceitação das diversidades, pode libertar a humanidade da constante tentação de uma vontade de potência que quer dominá-lo e uniformizá-lo totalmente».

O Papa quis deter-se em «um aspecto peculiar da ação do Espírito Santo», ou seja, na relação entre «multiplicidade e unidade».

Já em Pentecostes fica claro, disse, que «pertencem à Igreja os diferentes idiomas e culturas; na fé podem compreender-se e fecundar-se mutuamente», desde seu nascimento a Igreja «já é “católica, universal».

«Fala desde o início todos os idiomas, pois o Evangelho que se confiou está destinado a todos os povos, segundo a vontade e o mandato de Cristo ressuscitado».

«A Igreja que nasce em Pentecostes não é antes de tudo uma comunidade particular, a Igreja de Jerusalém, mas a Igreja universal, que fala os idiomas de todos os povos».

«Dela nascerão depois as demais comunidades em todas as partes do mundo, Igrejas particulares que são sempre expressão da única Igreja de Cristo».

«Portanto, a Igreja Católica não é uma federação de Igrejas, mas uma realidade única: a prioridade ontológica corresponde à Igreja universal – indicou -. Uma comunidade que não fosse neste sentido católica não seria nem sequer Igreja».

Vínculo de paz para a humanidade

Mas esta unidade não só deve ser vivida dentro da Igreja, mas tem de ser anunciada também «até os confins da terra».

Uma mensagem que Jesus ressuscitado pronuncia com a palavra hebraica «Shalom, paz a vós!».

«A expressão shalom não é uma simples saudação – declarou o bispo de Roma -; é muito mais: é o dom da paz prometida, conquistada por Jesus com o preço de seu sangue, é o fruto da vitória na luta contra o espírito do mal».

Em Pentecostes, o Papa pediu voltar a tomar consciência da «responsabilidade que implica este dom: responsabilidade da Igreja de ser constitucionalmente sinal e instrumento da paz de Deus para todos os povos».

«Tentei transmitir esta mensagem ao visitar recentemente a sede da ONU para dirigir minha palavra aos representantes dos povos», confessou.

«A Igreja realiza seu serviço à paz de Cristo sobretudo na presença e ação ordinária em meio dos homens, com a pregação do Evangelho e com os sinais de amor e de misericórdia que a acompanham», acrescentou.

E, entre estes sinais, sublinhou principalmente o serviço que a Igreja oferece ao ministrar o sacramento da Reconciliação.

«Que importante –infelizmente não suficientemente compreendido– é o dom da Reconciliação, que pacifica os corações!», exclamou.

«A paz de Cristo se difunde só através de corações renovados de homens e mulheres reconciliados, servidores da justiça, dispostos a difundir no mundo a paz com a única força da verdade, sem rebaixar-se a compromissos com a mentalidade do mundo, pois o mundo não pode dar a paz de Cristo: deste modo a Igreja pode ser fermento dessa reconciliação que procede de Deus», concluiu.

Tiago Menor

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Ao lado da figura de Tiago “o Maior”, filho de Zebedeu, do qual falámos na quarta-feira passada, nos Evangelhos aparece outro Tiago, que é chamado “o Menor”. Também ele faz parte das listas dos doze Apóstolos escolhidos pessoalmente por Jesus, e é sempre especificado como “filho de Alfeu” (cf. Mt 10, 3; Mc 3, 18; Lc 5; Act 1, 13). Com frequência ele foi identificado com outro Tiago, chamado “o Menor” (cf. Mc 15, 40), filho de uma Maria (cf. ibid.) que poderia ser a “Maria de Cleofas” presente, segundo o Quarto Evangelho, aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus (cf. Jo 19, 25). Também ele era originário de Nazaré e provavelmente parente de Jesus (cf. Mt 13, 55; Mc 6, 3), do qual à maneira semítica é considerado “irmão” (cf. Mc 6, 3; Gl 1, 19).

Deste último Tiago, o livro dos Actos ressalta o papel preeminente desempenhado na Igreja de Jerusalém. No Concílio apostólico ali celebrado depois da morte de Tiago, o Maior, afirmou juntamente com os outros que os pagãos podiam ser acolhidos na Igreja sem antes terem que se submeter à circuncisão (cf. Act 15, 13). São Paulo, que lhe atribui uma aparição específica do Ressuscitado (cf. 1 Cor 15, 7), na ocasião da sua ida a Jerusalém nomeia-o inclusivamente antes de Cefas-Pedro, qualificando-o “coluna” daquela Igreja como ele (cf. Gl 2, 9). Em seguida, os judeus-cristãos consideram-no o seu principal ponto de referência. A ele é também atribuída a Carta que tem o nome de Tiago e que está incluída no cânone neotestamentário. Ele não se apresenta nela como “irmão do Senhor”, mas como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1, 1).

Entre os estudiosos debate-se a questão da identificação destas duas personagens com o mesmo nome, Tiago filho de Alfeu e Tiago “irmão do Senhor”. As tradições evangélicas não nos conservaram narração alguma sobre um nem sobre outro em referência ao período da vida terrena de Jesus. Os Actos dos Apóstolos, ao contrário, mostram-nos que um “Tiago” desempenhou um papel importante, como já mencionámos, depois da ressurreição de Jesus, na Igreja primitiva (cf. Act 12, 17; 15, 13-21; 21, 18).

O acto mais relevante por ele realizado foi a intervenção na questão do relacionamento difícil entre os cristãos de origem judaica e os de origem pagã: nisto ele contribuiu juntamente com Pedro para superar, ou melhor, para integrar a dimensão originária judaica do cristianismo com a exigência de não impor aos pagãos convertidos a obrigação de se submeterem a todas as normas da lei de Moisés. O livro dos Actos preservou-nos a solução de compromisso, proposta precisamente por Tiago e aceite por todos os Apóstolos presentes, segundo o qual aos pagãos que acreditassem em Jesus Cristo se devia pedir apenas que se abstivessem do uso idolátrico de comer carne dos animais oferecidos em sacrifício aos deuses, e da “impudicícia”, palavra que provavelmente se referia às uniões matrimoniais não consentidas. Na prática, tratava-se de aderir só a poucas proibições, consideradas bastante importantes, da legislação mosaica.

Deste modo, obtiveram-se dois resultados significativos e complementares, ambos ainda hoje válidos: por um lado, reconheceu-se a relação inseparável que une o cristianismo à religião hebraica como a sua marca perenemente viva e válida; por outro, foi concedido que os cristãos de origem pagã conservassem a própria identidade sociológica, que teriam perdido se tivessem sido obrigados a observar os chamados “preceitos cerimoniais” mosaicos: eles já não deviam ser considerados obrigatórios para os pagãos convertidos. Em suma, era iniciada uma prática de estima e respeito recíprocos que, não obstante lamentáveis incompreensões posteriores, tinha por sua natureza a salvaguarda de tudo o que caracterizava cada uma das duas partes.

A informação mais antiga sobre a morte deste Tiago é-nos oferecida pelo historiador judeu Flávio José. Nas suas Antiguidades Judaicas (20, 201s), redigidas em Roma por volta do século I, ele narra que o fim de Tiago foi decidido por uma iniciativa ilegítima do Sumo Sacerdote Anano, filho de Annas afirmado nos Evangelhos, o qual aproveitou do intervalo entre a deposição de um Procurador romano (Festo) e a chegada do sucessor (Albino) para decretar a sua lapidação no ano 62.

Em nome deste Tiago, além do apócrifo Protoevangelho de Tiago, que exalta a santidade e a virgindade de Maria, Mãe de Jesus, está particularmente relacionada com a Carta que tem o seu nome. No cânone do Novo Testamento ela ocupa o primeiro lugar entre as chamadas “Cartas católicas”, isto é, destinadas não a uma só Igreja particular como Roma, Éfeso, etc. mas a muitas Igrejas. Trata-se de um escrito bastante importante, que insiste muito sobre a necessidade de não reduzir a própria fé a uma mera declaração verbal ou abstracta, mas de expressá-la concretamente em obras de bem. Entre outras coisas, ele convida-nos à constância nas provas alegremente aceites e à oração confiante para obter de Deus o dom da sabedoria, graças à qual chegamos à compreensão de que os verdadeiros valores da vida não consistem nas riquezas transitórias, mas antes em saber compartilhar as próprias substâncias com os pobres e com os necessitados (cf. Tg 1, 27).

Assim a carta de São Tiago mostra-nos um cristianismo muito concreto e prático. A fé deve realizar-se na vida, sobretudo no amor ao próximo e particularmente no compromisso pelos pobres. É com esta base que deve ser lida também a famosa frase: “Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta” (Tg 2, 26). Por vezes esta declaração de Tiago foi contraposta às afirmações de Paulo, segundo o qual nós somos tornados por Deus justos não em virtude das nossas obras, mas graças à nossa fé (cf. Gl 2, 16; Rm 3, 28). Contudo, as duas frases, aparentemente contraditórias com as suas perspectivas diversas, na realidade, se forem bem interpretadas, completam-se. São Paulo opõe-se ao orgulho do homem que pensa que não precisa do amor de Deus que nos antecipa, opõe-se ao orgulho da autojustificação sem a graça simplesmente doada e não merecida. Ao contrário, São Tiago fala das obras como fruto normal da fé: “a árvore boa dá bons frutos”, diz o Senhor (Mt 7, 17). E São Tiago repete e transmite-nos este conceito.

Por fim, a carta de Tiago exorta-nos a abandonarmo-nos nas mãos de Deus em tudo o que fazemos, pronunciando sempre as palavras: “Se o Senhor quiser” (Tg 4, 15). Assim, ele ensina-nos a não presumir que planificamos a nossa vida de modo autónomo e interessado, mas a dar espaço à vontade imperscrutável de Deus, que conhece o verdadeiro bem para nós. Desta forma São Tiago permanece um mestre de vida sempre actual para cada um de nós.

André

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.

O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens”” (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como “o cordeiro de Deus” (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o “Cordeiro de Deus”. O evangelista narra: eles “viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia” (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.

A narração continua com uma anotação significativa: “André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: “Encontramos o Messias” que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus” (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente “primeiro chamado”. E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.

As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: “mas o que é isto para tantas pessoas?” (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar” (Mc 13, 1-4).

Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.

Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: “Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (12, 23-24).

O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o “grão de trigo morto” símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.

Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.

Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada “cruz de Santo André”. Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intitulada Paixão de André: “Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.

Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso… Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!… Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!”.

Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.

Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d’Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n’Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.

Chamado de judeus e católicos à defesa da liberdade religiosa

Reunião da Comissão bilateral em Jerusalém

JERUSALÉM, terça-feira, 20 de março de 2007 (ZENIT.org).- A última reunião do organismo mais representativo do diálogo entre judeus e católicos lançou um chamado à defesa da liberdade religiosa.

«A liberdade religiosa e de consciência e seus limites» foi precisamente o tema do encontro da Comissão bilateral, da qual faz parte a Delegação da Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com os Judeus e a delegação para as Relações com a Igreja Católica do Grão-Rabinato de Jerusalém.

O encontro, celebrado em Jerusalém de 11 a 13 de março, foi presidido pelo cardeal argentino Jorge María Mejía, arquivista e bibliotecário emérito da Santa Igreja romana, e pelo rabino-chefe Shear Yashuv Cohen.

«A capacidade humana para escolher é uma manifestação da imagem divina segundo a qual todas as pessoas foram criadas, e o fundamento do conceito bíblico da responsabilidade humana e da justiça divina», começa dizendo a declaração final citando o Gênesis e o Deuteronômio.

«A liberdade de escolha se deriva de Deus e por este motivo não é absoluta, deve refletir a vontade e a lei divinas», segue dizendo o texto publicado nesta terça-feira.

«Deste modo, os seres humanos estão chamados a obedecer livremente a vontade divina tal como se manifesta na Criação e em sua Palavra revelada», acrescenta.

Agora, declaram os representantes de judeus e católicos, «a idéia do relativismo moral está contra esta visão religiosa do mundo e constitui uma séria ameaça para a humanidade».

«Ainda que o Iluminismo tenha propiciado uma purificação do abuso da religião, a sociedade secular continua necessitando de fundamentos religiosos para justificar valores morais duradouros», constata o documento.

«Entre estes princípios, tem uma importância decisiva o caráter sagrado da vida humana e sua dignidade — acrescenta. O monoteísmo ético afirma que se trata de direitos humanos invioláveis.»

«Ainda que o estado, em virtude deste princípio, não deve limitar a liberdade religiosa de indivíduos e comunidades, nem a liberdade de consciência, contudo, tem a responsabilidade de garantir o bem-estar e a segurança da sociedade», declara.

«Por este motivo, tem a obrigação de intervir onde e quando se dê uma ameaça através da promoção, do ensino ou do exercício da violência, e especificamente do terrorismo e da manipulação psicológica, em nome da religião», sublinham os representantes religiosos.

«É legítimo que uma sociedade com uma identidade religiosa predominante possa preservar seu caráter, sob a condição de que isso não limite a liberdade das comunidades minoritárias e dos indivíduos a professar um compromisso religioso alternativo, nem a integridade de seus direitos civis», declara o comunicado.

«Ao longo da história, as comunidades religiosas não foram sempre fiéis a esses valores. Por este motivo, os líderes religiosos têm uma especial obrigação de prevenir o uso inapropriado da religião e de educar no respeito da diversidade, que é essência para assegurar uma sociedade sadia, estável e pacífica.»

«Neste sentido, têm um papel especial as famílias, as escolas e as autoridades do estado e da sociedade, assim como os meios de comunicação, para transmitir estes valores às futuras gerações.»

A declaração da Comissão bilateral conclui com um chamado desde Jerusalém aos líderes religiosos e políticos da região para que trabalhem «com determinação pela promoção da paz, da dignidade, da segurança e da tranqüilidade na Terra Santa, a favor de seus povos e do mundo em seu conjunto».

Direito judeu, direito da Igreja Católica e direito israelense

Congresso Internacional em Jerusalém

ROMA, terça-feira, 19 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- De 17 a 18 de outubro se celebrará em Jerusalém um inédito Congresso internacional de estudos sobre «Direito judeu, direito da Igreja Católica e direito israelense».

O objetivo, segundo seus organizadores, consiste em «favorecer o intercâmbio cultural das experiências jurídicas judaicas, da Igreja Católica e dos israelenses, com o fim de promover o mútuo conhecimento e o desenvolvimento das relativas relações acadêmicas».

Entre outros objetivos, o Congresso, que reunirá em torno da mesma mesa especialistas no direito judeu, juristas israelenses e canonistas, «propõe-se também fazer emergir, a partir da comum raiz judaico-cristã, os elementos de atualidade nas respostas próprias dos ordenamentos jurídicos de matiz religioso, levando em conta os desafios da justiça no século XXI».

O fio condutor das duas jornadas de estudo será em especial o artigo 7 do Acordo Fundamental entre a Santa Sé e o Estado de Israel, firmado em 30 de dezembro de 1993, que diz assim: «A Santa Sé e o Estado de Israel reconhecem ter um interesse comum em promover e animar os intercâmbios culturais entre os institutos católicos em todo o mundo e os institutos de formação, de cultura e de investigação em Israel…».

Os trabalhos começarão em 17 de outubro na sede do Centro Notre Dame de Jerusalém e serão inaugurados pelo presidente do comitê diretivo, o professor Joaquim Llobell, da Universidade pontifícia da Santa Cruz de Roma.

Seguirá uma confrontação recíproca sobre «As fontes do Direito» nos três distintos ordenamentos (judeu, israelense e católico) e em especial o «Direito de Família» em suas implicações «paterno-filiais» e «matrimoniais».

No dia seguinte, na sede da Universidade Hebraica de Jerusalém, se refletirá, por outro lado, sobre questões relativas à relação «Religião e Estado», centrando a atenção nas «propostas do direito internacional e nos ordenamentos judaicos e católicos», tentando traçar uma confrontação com as propostas de matiz europeu.

Entre os palestrantes procedentes do Oriente Médio, destacam-se: o professor Henina Bem-Menache, da Universidade Hebraica de Jerusalém; o professor Yoram Shachar, do Centro Interdisciplinar Herzliya; o doutor Yechiel Kaplan, da Universidade de Haifa e a doutora Ruth Talperin-Kadari, da Universidade Bar-Ilan.

Da Europa intervirão o professor Robert Gahl, da Universidade Pontifícia da Santa Cruz de Roma; o professor Gaetano Lo Castro, da Universidade La Sapienza de Roma; o professor Sandro Gherro, da Universidade de Pádua; a professora Isabel Trujillo, da Universidade de Palermo; o professor David M. Jaeger, da Universidade Pontifícia Antonianum; o reitor magnífico da Universidade LUMSA (Roma), professor Giuseppe della Torre; o professor Javier Martinez-Torrón, da Universidade Complutense de Madri; o professor Szabolcs Szuromi, da Universidade de Budapeste e o professor Robert Ombres, da Universidade Pontifícia Santo Tomás de Aquino.

Promovem este encontro de confronto e estudo, o primeiro em sua sala, os reitores magníficos da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, da LUMSA, da Universidade Católica Pázmány Peter, de Budapeste, e o decano da Faculdade de Jurisprudência da Universidade Hebraica de Jerusalém.

[A inscrição é gratuita e se pode realizar até o dia 25 de setembro. Pode-se pedir mais informação à secretaria do congresso: [email protected]]

Católicos na Terra Santa: «Construir pontes e eliminar o ódio dos corações»

Chamado do patriarca coadjutor de Jerusalém

RÍMINI, quinta-feira, 31 de agosto de 2006 (ZENIT.org).- «Estamos todos chamados a trabalhar para construir pontes e eliminar o ódio dos corações», disse Dom Fouad Twal, patriarca coadjutor de Jerusalém dos Latinos, ao lançar um chamado desde o Meeting de Rímini, Itália.

Em sua intervenção, pronunciada em 25 de agosto, Dom Twal começou recordando que «a voz da Terra Santa quer ser o testemunho da experiência de fé das primeiras comunidades cristãs», apesar de que, com um desemprego que chega a 60% e a imigração, «a situação piora continuamente» para eles.

Nesta situação, sublinhou o patriarca, «a paz nesta terra é a exigência mais imediata» e é necessário realizar numerosos «esforços para conseguir que os cristãos permaneçam em sua terra».

«A paz e a confiança no futuro são o caminho para conter o fenômeno migratório», acrescentou Dom Twal. A tarefa fundamental, contudo, é a de «pronunciar uma palavra de esperança a partir da fé.»

Em uma realidade na qual falar é um risco, deve-se «falar menos e amar mais», indicou.

Quanto à relação com os muçulmanos, Dom Twal recordou que «se dá desde há treze séculos» e que os cristãos anunciam que «a cidade santa é mãe de todos os fiéis filhos de Abraão».

«Não se governa com as armas e com o terrorismo», disse, sublinhando que a Igreja é uma «voz de paz e de perdão» e por isto terá sempre um lugar destacado na Terra Santa, «no lugar no qual a humanidade foi alcançada pela presença de Deus».

Com relação às ameaças de guerra, Dom Twal explicou que «o conflito não é uma questão entre o Hizbullah e Israel, mas que faz parte de uma situação mais global de toda a área», e que «a debilidade de Israel consiste em confiar no aparato militar e não em outros recursos».

O patriarca auspiciou um futuro no qual exista o reconhecimento da liberdade assim «como Deus a quis, na oração de todos, no amar o outro, sem limites e sem barreiras».

Por último, Dom Twal disse que «apesar de tudo, a situação não é desesperada, as dificuldades são muitas, mas muitas são também as esperanças, confortadas pela ajuda dos amigos que não nos deixam sozinhos».

«Tenho o pressentimento — concluiu o patriarca — de que um dia o infinito se manifestará em Jerusalém.»

2.300 desabrigados foram acolhidos pelos franciscanos no conflito entre Líbano e Israel

Nas «Casas Novas» de Jerusalém e Belém

JERUSALÉM/BELÉM, sexta-feira, 18 de agosto de 2006 (ZENIT.org).- Seguindo o espírito e o desejo de São Francisco de Assis, seus freis da Terra Santa chegaram a dar acolhida a 2.300 desabrigados pelo sangrento choque líbano-israelense das semanas passadas.

A Custódia da Terra Santa confirma que, no recente conflito, as «Casas Novas» — hospedarias franciscanas para peregrinos — de Jerusalém e de Belém deram acolhida a quase 2.300 desabrigados, procedentes de pontos do norte da região, como Haifa, Nazaré, Acre, Safet ou Metula.

«Durante mais de três semanas, desde 20 de julho até 16 de agosto, a “Casa Nova” de Belém, com quase 1.500 desabrigados da guerra, foi a que levou o peso maior na ajuda a tantos necessitados», explica o vigário da Custódia, o Pe. Artemio Vítores, ofm.

Tratou-se da acolhida a muitas famílias, «especialmente a tantas crianças libanesas-maronitas residentes no norte de Israel, gregos, católicos, latinos e outros, que tinham tido de fugir de seus povos, de suas casas, que se haviam convertido em perigosas», declara.

A ação permitiu «dar-lhes um alojamento, às vezes toda a família em um quarto, a preços insignificantes, para ajudá-los a superar — da maneira menos traumática possível — seu “exílio”», descreve o Pe. Vítores.

E isso «pondo à disposição as instalações e sobretudo o carinho, e saber fazer dos trabalhadores — todos árabes cristãos, que viram neles a irmãos em dificuldade –, para que, sobretudo as crianças, se sentissem em sua própria casa». Buscou-se «trata-los como hóspedes importantes, porque o necessitavam de verdade», reconhece o franciscano.

«É o que queria São Francisco que fossem seus freis — recorda. Já dizia João Paulo II: os franciscanos, “conscientes de sua vocação primeira, foram generosos no serviço aos irmãos, sustentando os mais pobres e frágeis… por amor d’Aquele que tanto nos amou”. Deste modo, continuava o [então] Papa, “professaram sua fé e sua esperança”.»

«As palavras de agradecimento dos sacerdotes responsáveis que vinham com alguns grupos, e dos pais, a participação devota de tantos cristãos na Via Sacra pelas ruas de Jerusalém rezando pela paz, mas sobretudo o sorriso das crianças, tudo isso foi motivo de esperança para “uma paz duradoura”», reconhece.

Com o regresso dos desabrigados-refugiados às suas casas, as «Casas Novas» estão agora vazias.

«Esperam a chegada de tantos peregrinos, não importa o lugar de procedência nem a fé que os mova», para continuar oferecendo, como foi durante tantos séculos, «a calma do corpo e do espírito, a fim de poder recorrer, com o coração apaixonado, os Santos Lugares de nossa Redenção, seguindo assim “os passos de Jesus”», conclui o franciscano.

Um dos aspectos mais característicos — faz parte de sua missão — da presença plurissecular dos franciscanos na Terra Santa é tudo o que está relacionado com os peregrinos que vão visitar o país de Jesus. Por isso, as «Casas Novas» são parte importante desse trabalho, explica a Custodia.

Desde o século XIV até inícios do XX, eram praticamente os únicos lugares de alojamento para os fiéis cristãos que visitavam a Terra do Senhor.

Mas tais hospedarias estiveram também, e continuam estando, a serviço dos habitantes da Terra Santa, especialmente dos cristãos.

Isso ocorreu de um modo particular — como se voltou a constatar — nas épocas de guerras e de conflitos, «que, infelizmente, são tão freqüentes na Terra da Paz», lamenta a Custódia.

Page 3 of 4

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén