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Primeiro registro histórico de uma Santa Missa

Desde o século II temos o testemunho de São Justino sobre as grandes linhas do desenrolar da Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias. O relato, a seguir, data do ano de 155:

“No dia do Sol, como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. A seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos as nossas preces por nós mesmos e por todos os outros, onde quer que estejam, a fim de sermos considerados justos pela nossa vida e pelas nossas ações, e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna.

Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. Em seguida, leva-se àquele que preside pão e um cálice de água e de vinho misturados. Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e rende graças longamente pelo fato de termos sido julgados dignos destes dons.

Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente prorrompe numa aclamação dizendo: Amém.

Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água ‘eucaristizados’ e levam também aos ausentes.”

O Catecismo da Igreja Católica dedica um longo espaço para o estudo e aprofundamento deste sacramento importantíssimo, que é a Eucaristia. Vale a pena ler e refletir os parágrafos do 1345 ao 1419.

Fonte: http://salvemaria.sites.uol.com.br/salv61.htm

O que é inspiração bíblica?

A Bíblia é a Palavra de Deus inspirada. Mas como se dá essa inspiração? Talvez imaginemos um ditado mecânico como a de um chefe à sua datilógrafa. Esta escreve coisas que não entende e que são entendidas apenas pelo chefe e sua equipe. Isso não é a inspiração bíblica. Pois, ela não dispensa certa compreensão do autor humano (o hagiógrafo), nem sua participação na redação do texto sagrado.

A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça. Existe sim, o carisma da Revelação, especialmente nos profetas. Mas é diferente da inspiração bíblica. Esta se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros fatos documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina.

Inspiração Bíblica é a iluminação da mente do autor humano para que possa, com os dados de sua cultura religiosa e profana, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento de Deus. O Espírito Santo fortalece a vontade e as potências executivas do autor para que realmente o hagiógrafo escreva o que ele percebeu.

Tais livros são todos humanos (Deus em nada dispensa a atividade racional do homem) e divinos (Deus acompanha a redação do homem escritor). A Bíblia é um livro divino-humano. Transmite o pensamento de Deus em roupagem humana. Assemelha-se ao mistério da Encarnação, onde Deus se revestiu de carne humana, pois na Bíblia a Palavra de Deus se revestiu da palavra do homem (judeu, grego, com todas as suas particularidades de expressão).

A finalidade da inspiração bíblica é estritamente religiosa. Não foi escrita para nos ensinar ciências naturais, mas aquilo que ultrapassa a razão humana (o sentido do mundo, do homem, da vida, da morte, etc diante de Deus). Portanto, não há contradição entre a Bíblia e as ciências naturais. Mesmo Gênesis 1-3 não pretende ensinar como nem quando o mundo foi feito.

A Bíblia só é inspirada quando trata de assuntos religiosos? Há páginas na Bíblia não inspiradas?

Toda a Bíblia, em qualquer de suas partes, é inspirada, qualquer que seja a sua temática. Ocorre, porém, que Deus comunica sua mensagem religiosa em linguagem familiar pré-científica, bem entendida no trato quotidiano. Por exemplo, quando falamos em “nascer-do-sol” ou “pôr-do-sol”, supomos o sistema geocêntrico (ultrapassado), mas não somos taxados de mentirosos, porque não pretendemos definir assuntos de astronomia. Assim, quando a Bíblia diz que o mundo foi feito em 6 dias, ou que a luz foi feita antes do sol e das estrelas, ela não ensina teorias astronômicas, mas alude ao mundo em linguagem dos hebreus antigos para dizer que o mundo todo é criatura de Deus. Portanto, em assuntos não-religiosos, a Bíblia adapta-se ao modo de falar familiar ou pré-científico dos homens que, devidamente entendido, não é portador de erro.

Também todas as “palavras” da Escritura são inspiradas. Os conceitos dos homens estão sempre ligados às palavras. Quando o Espírito Santo iluminava a mente dos autores sagrados, iluminava também as palavras. É por isto que os próprios autores sagrados fazem questão de realçar de realçar vocábulos da Bíblia: Jo 10,34-35; Hb 8,13; Gl 3,16.

Notemos, porém, que somente as palavras das línguas originais (hebraico, aramaico e grego) foram assim iluminadas. As traduções bíblicas não gozam do carisma da inspiração. Por isso, ao ler a Bíblia, devemos nos certificar de estarmos usando uma tradução fiel e equivalente aos originais.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça.” (2Tm 3,16).

Para extrair a mensagem religiosa é absolutamente necessário levar em conta o gênero literário do texto. Por exemplo, “leis” tem seu gênero literário próprio (claro e conciso para que ninguém possa se desculpar), a poesia tem gênero literário oposto ao das leis (metafórico, subjetivo). Uma crônica é diferente de uma carta. Uma carta comercial é diferente de uma carta de família, uma fábula é diferente de um fato histórico.

Na Bíblia há diversos gêneros: histórico; história em estilo popular (Sansão); poesia; parábola; alegoria (Jo 15,1-6); a lei e muitos outros. Cada gênero tem suas regras de interpretação próprias. Não posso entender uma poesia (cheia de imagens) como entendo uma lei (clara e sem imagens). Assim, a criação do mundo em Gn 1 é poesia. Enquanto a narração da Última Ceia é relato histórico. Este devo entender ao pé da letra, enquanto aquele outro não o posso.

Antes de ler um livro da Bíblia é necessário se informar do seu gênero literário, a fim de entender os critérios de redação adotados pelo autor. Tal informação pode ser obtida nas introduções que as edições bíblicas apresentam para cada livro sagrado.

Pergunta-se ainda: se a Bíblia é toda inspirada, como se pode explicar as “contradições” e “erros” que ela contêm? Afinal Deus existe como afirma Jo 1,18 ou não existe como afirma Sl 52(53), 1 ? O sol parou, conforme Js 10,12-14 e Is 38,7s? De Abraão a Jesus houve apenas 42 gerações (Mt 1,17) ? Afinal o maná, era insípido e pouco atraente (Nm 11,4-9) ou saboroso (Sb 16,20s) ?

Responde-se: A Bíblia é isenta de erros em tudo aquilo que o hagiógrafo como tal afirma e no sentido em que o hagiógrafo entendeu.

Portanto, em outras palavras, para obtermos a mensagem isenta de erros devemos verificar se é algo afirmado pelo próprio hagiógrafo, ou se ele afirmou em nome de outrem e qual o gênero que ele adotou.

Voltando aos casos apontados: Em Jo 1,18 o hagiógrafo, como tal, é quem afirma que Jesus revelou Deus Pai. Mas no salmo 52(53), 1, o hagiógrafo apenas afirma (com plena veracidade) que o insensato nega a existência de Deus. O insensato erra ao negar, o salmista apenas verifica o fato. A “parada do sol” está dentro de um contexto de poesia lírica, onde “estacionamento do sol” quer dizer “escurecimento da atmosfera, clima de tempestade de granizo”. Josué pediu a Deus essa tempestade, a qual é relatada em Js 10,11. Os demais casos se enquadram no uso do gênero literário do midraxe.

Midraxe é uma narração de fundo histórico, ornamentada pelo autor sagrado para servir à instrução teológica. O autor conta o fato de modo a destacar o valor ou o significado religioso deste fato. Sua intenção não é a de um cronista, mas a de um catequista ou teólogo. O caso do maná: em Nm há uma narração de cronista, enquanto em Sb é apresentado o sentido teológico do maná num midraxe. O maná era saboroso não por seu paladar, mas por ser o penhor da entrada do povo na Terra Prometida. As 42 gerações relatadas entre Abraão e Jesus visa destacar a simbologia do número 42 (3 x 14): em Cristo se cumpre todas as promessas feitas a Israel, é o Consumador da obra de Davi.

Ao meditarmos a Bíblia, oremos como Santo Agostinho: “Faze-me ouvir e descobrir como no começo criaste o céu e a terra. Assim escreveu Moisés, para depois ir embora, sair deste mundo. Agora não posso interrogá-lo. Se pudesse, eu lhe imploraria para que me explicasse estas palavras. Mas não posso interrogá-lo. Por isso dirijo-me a Ti, Verdade, Deus meu, de que estava ele possuído quando disse coisas verdadeiras. E Tu, que concedeste a teu servo enunciar estas coisas verdadeiras, concede também a mim compreendê-las.” (Confissões XI 3,5)

“Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular. Nenhuma foi proferida pela vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2Pd 1,20-21)

Fonte: Veritatis Splendor

Calorosa recepção das relíquias do Padre Pio em Singapura

O santo também fez milagres na Ásia

SINGAPURA, quinta-feira, 23 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – As relíquias de São Pio de Pietrelcina levaram nessa quarta-feira centenas de pessoas à igreja do Espírito Santo, em Singapura, onde se honra o santo com um tríduo, no contexto de sua festividade.

Para a ocasião, o sacerdote italiano do convento de Nossa Senhora da Graça de São Giovannni Rotonto Ermelindo Di Capua levou até a cidade asiática duas relíquias do santo, informou a agência AsiaNews.

O padre Di Capua acompanhou São Pio nos últimos três anos de sua vida e há tempos viaja pelo mundo para promover a espiritualidade, a vida e os ensinamentos do frade capuchinho.

Uma das relíquias contém sangue seco de uma das mãos onde o Padre Pio recebeu os estigmas e a outra é uma luva manchada de sangue.

As relíquias foram expostas apenas durante uma noite e diversos fiéis foram à igreja para honrar o santo e pedir-lhe intercessão pela cura de doenças.

Entre os devotos se encontrava Teresa Lee, da paróquia de Nossa Senhora Estrela do Mar, que veio junto a seu marido, Pedro, sentado na cadeira de rodas por causa de um acidente vascular cerebral.

A mulher testemunhou ter vivido um milagre. “Ele estava muito doente – explicou – e alguém indicou fez rezar para o Padre Pio”.

“Depois de ter rezado, houve uma rápida recuperação – continuou –, e agora ele já pode caminhar curtas distâncias.”

Outra visitante, Margaret Lourdusany, 56 anos, devota do santo há três anos, explicou que “me atrai a humildade dele, com a qual viveu sua vida”.

“Tocar a relíquia – acrescentou – é como tocar o santo que reza junto a Jesus por nós e nos faz sentir mais próximos de Cristo.”

O Padre Pio é um santo muito popular em Singapura. Todo mês, a comunidade católica organiza encontros de oração em torno de sua figura, especialmente nas paróquias de Nossa Senhora de Lourdes, Espírito Santo e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Eucaristia, elemento unificador da Igreja, afirma Papa

Celebra Missa no Palácio de Esportes Eleftheria de Nicósia

Por Roberta Sciamplicotti

NICÓSIA, domingo, 6 de junho de 2010 (ZENIT.org). – Celebrando nesta manhã de domingo a Missa no Palácio de Esportes Eleftheria de Nicósia, capital de Chipre, Bento XVI destacou a importância da Eucaristia, lembrando que aqueles que “se nutrem do corpo e do sangue de Cristo na Eucaristia são reunidos pelo Espírito Santo num só corpo para formar o único povo santo de Deus”.

A celebração foi realizada na ocasião da publicação do Instrumentum Laboris da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos, que se realizará em Roma entre os dias 10 e 24 de outubro.

Participaram da Missa os patriarcas e bispos católicos do Oriente Médio, com representantes das respectivas comunidades. Estava também presente Sua Beatitude Crisóstomos II, arcebispo de Nova Justiniana e de todo Chipre, figura de grande relevância no âmbito do diálogo ecumênico.

O Palácio do Esporte, com capacidade para 7 mil espectadores, estava lotado. Muitos fiéis acompanharam a celebração do lado de fora, onde foram disponibilizadas cadeiras para todos os que não puderam entrar no ginásio.

O Papa se disse “feliz por esta oportunidade de celebrar a Eucaristia junto a tamanho número de fiéis de Chipre, uma terra abençoada pelo trabalho apostólico de São Paulo e São Barnabé”, e saudou todos os presentes “com grande afeto”, agradecendo “pela hospitalidade e pela generosa acolhida” a ele oferecidas.

Particularmente, dirigiu uma saudação especial às comunidades de imigrantes presentes em Chipre, pedindo em oração para que sua presença “possa enriquecer a atividade e o culto das paróquias”, enquanto possam também encontrar “apoio espiritual da antiga herança cristã da terra” que escolheram como casa.

Lembrando que a Igreja celebra neste domingo a solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo, o Papa observou que o nome dado à celebração no Ocidente, Corpus Christi, é usado na tradição da Igreja para indicar “três realidades distintas”: “o corpo físico de Jesus, nascido da Virgem Maria, seu corpo eucarístico, o pão do céu que nos nutre neste grande sacramento, e seu corpo eclesial, a Igreja”.

Refletindo sobre estes diferentes aspectos, indicou, “chegamos a uma compreensão mais profunda do mistério da comunhão que liga todos aqueles que pertencem à Igreja”: “Todos aqueles que se nutrem do corpo e do sangue de Cristo na Eucaristia são reunidos pelo Espírito Santo num só corpo para formar o único povo santo de Deus”.

“Assim como o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no cenáculo em Jerusalém, o mesmo Espírito Santo opera em toda celebração da Missa por um duplo escopo: santificar as oferendas do pão e do vinho, para que se tornem o corpo e o sangue de Cristo, e alimentar aqueles que são nutridos por estas santas oferendas, para que possam se tornar um só corpo e um só espírito em Cristo”, prosseguiu o Pontífice.

Citando uma alegoria de Santo Agostinho, que “nos lembra que o pão não é preparado a partir de um, mas sim de numerosos grãos”, lembrou que “cada um dos que pertencem à Igreja tem necessidade de sair do mundo fechado de sua própria individualidade e aceitar a companhia daqueles que partilham do pão com ele”.

“Derrubar as barreiras entre nós e nossos vizinhos é a primeira condição para adentrar na vida divina à qual somos chamados.”

Assim, do mesmo modo que nas antigas comunidades cristãs, somos chamados a “superar nossas diferenças, a levar a paz e a reconciliação onde houver conflitos, a oferecer ao mundo uma mensagem de esperança. Somos chamados a estender nossa atenção aos necessitados, dividindo generosamente nossos bens terrenos com aqueles menos afortunados do que nós. E somos chamados a proclamar incessantemente a morte e ressurreição do Senhor, até que Ele venha”.

Em sua saudação ao Papa antes da celebração, o arcebispo maronita de Chipre, Youssef Soueif, agradeceu calorosamente por “sua missão de amor”, desempenhada “em nível internacional”.

Após a homilia de Bento XVI, tomou também a palavra o arcebispo Nikola Eterović, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, que lembrou a importância da reunião de outubro, ocasião em que rezará pela promoção de “um novo dinamismo pastoral” nas Igrejas do Oriente Médio, como também para que estas Igrejas possam estar “cada vez mais empenhadas na evangelização e na promoção humana”, em colaboração com as outras duas grandes religiões monoteístas, o judaísmo e o islamismo.

Quaresma é tempo de ‘vigor espiritual’, diz Papa

No Angelus do primeiro domingo de Quaresma

ROMA, domingo, 21 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org). – A Quaresma é como um “lugar de retiro” que convida a voltar para si e “escutar a voz de Deus”. Foi o que disse Bento XVI neste primeiro domingo de Quaresma, ao saudar os fiéis presentes na Praça São Pedro para a oração do Angelus.

Em seu discurso introdutório à tradicional oração mariana de domingo, o Papa lembrou que o período quaresmal é “um tempo de penitência, de obras de caridade e de conversão”; “um tempo de vigor espiritual a ser vivido com Jesus, não com orgulho ou presunção, mas usando as armas da fé, que são a oração, o ouvir a Palavra de Deus e a penitência”.

Em sua reflexão, o Papa retomou o Evangelho deste domingo, no qual Jesus, após ter recebido o batismo de João, “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do rio Jordão e, no Espírito, era conduzido pelo deserto”, onde foi tentado por quarenta dias pelo diabo.

As tentações – enfatizou o Santo Padre – “não foram um acidente de percurso, mas a consequência da escolha de Jesus de seguir na missão confiada pelo Pai, de viver até o fim sua realidade de Filho amado, que confia totalmente Nele”.

“Cristo veio ao mundo para nos libertar do pecado e do ambíguo fascínio de conceber nossa vida prescindindo a Deus”, explicou.

“Este exemplo vale para todos: melhora-se o mundo começando por si mesmo, mudando, com a graça de Deus, aquilo que não está bem na própria vida”, continuou.

“Esta nova vida” – acrescentou o Papa – “vemos em Jesus Cristo. Ele, que compreende nossa fraqueza humana porque, como nós, foi submetido à tentação, nos mostra que o homem vive de Deus”.

Diante das tentações do diabo, “Jesus contrapõe aos critérios humanos o único critério autêntico: a obediência, a conformidade com a vontade de Deus, que é o fundamento de nosso ser”.

“Também este é um ensinamento fundamental para nós: se portarmos na mente e no coração a Palavra de Deus, se esta adentra em nossa vida, se tivermos confiança em Deus, podemos refutar todo o tipo de trapaça do Tentador”, concluiu o Papa.

Resposta à Carta Aberta – Pe. Fábio de Melo

Fonte: Blog Filho do Céu

Querido Gustavo,

Respondo, finalmente, as questões que me foram apresentadas por você. Se puder, publique a resposta em seu blog. Resolvi recortar as questões e respondê-las uma a uma.

“Uma das suas primeiras assertivas, que a mim causou muito espanto e preocupação, foi a de que “precisamos nos despir dessa arrogância de que nós somos proprietários da verdade suprema”. De fato, “donos” da verdade nós não somos. Mas nós a conhecemos! A Verdade é Cristo, e não há outra”.

Gustavo, a Teologia nos ensina que a Plentiude da Revelação é Cristo, mas esta plenitude não significa esgotamento da verdade. Os desdobramentos desta verdade estão em todos os lugares do mundo. Deus continua se revelando. Plenitude não significa finalização.

O que sabemos do Cristo é processual. É assim que o Espírito Santo trabalha na vida da Igreja. A Teologia está a caminho. A grandeza da Revelação não cabe nos documentos que temos, nem tampouco na Teologia que já sistematizamos. O dogma evolui, pois é verdade santa. Tudo o que é santo, movimenta, porque é vivo. O que alimentou o passado precisa continuar alimentando o presente, e o futuro. Não significa modificar a verdade, mas sim, à luz do Espírito e da autoridade da Igreja, buscar a interpretação que favoreça o conhecimento da verdade que o dogma resguarda. Este exercício eclesial manifesta ao mundo o zelo pela verdade que nos foi confiado cuidar e administrar.

Deus continua se revelando ao mundo. O limite da Revelação é a inteligência humana. Nós o vitimamos constantemente com nossas reflexões, mas mesmo assim, Ele não deixa de se manifestar. Onde houver uma brecha, lá Deus acontecerá. Não podemos nos esquecer que a salvação é oferecida a todos. É interesse amoroso de Deus que a humanidade o conheça.

Nós, enquanto proprietários desta verdade que é Jesus, cuidamos do que recebemos. O cuidado da verdade recebida está sustentado sobre dois pilares. Anúncio e Reconhecimento. Nós anunciamos o Cristo. Nisso consiste a ação evangelizadora da Igreja. Mas nós também reconhecemos a sua presença, indícios do sagrado, em outras religiões. Como reconhecemos? Através dos frutos que produzem.

O amor que temos ao Cristo deve ser suficiente para que saibamos respeitar tudo o que é cristão, mesmo que as pessoas não se reconheçam cristãs. É dialética, meu caro. É a tensão escatológica que também esbarra na hermenêutica cristã. Já, mas ainda não. É neste ainda não que nos abrimos com humildade para compreender que outras religiões também vivem e perseguem os rastros do sagrado, e que mesmo oculto, lá o Cristo já está sendo vivido. É uma questão de tempo.

Recordo-me de uma frase muito sábia, que um grande professor jesuíta costumava repetir em nossas aulas de mestrado. Ele dizia: “todo mundo tem o direito de viver o seu antigo testamento.” A administração desta verdade só pode ser responsável, à medida que reconhecemos que ela já ultrapassou os limites dos muros, que estão sob nossa custódia.

“E como explicar que, ao falar da condição adâmica do homem, o senhor tenha adotado a interpretação modernista segundo a qual a historicidade das escrituras fica reduzida ao nível das histórias da carochinha?! Dizer que Adão é uma imagem simbólica, metafórica, “fabulesca”, não faz parte da Doutrina Católica! O fato de a linguagem empregada no livro de Gênesis ser recheada de simbolismo não elimina o fato de que os acontecimentos nele narrados tenham se dado no tempo e no espaço tal como foram escritos. A interpretação literal complementa e enriquece a hermenêutica que se pode fazer a partir dos símbolos. Não é assim que ensina a Igreja?”

Não, não é isso que ensina a Igreja. Se você freqüentasse os meios teológicos saberia muito bem que a linguagem metafórica nem sempre está a serviço de um fato concreto, pontuado no tempo e no espaço. Por isso é metáfora.

A linguagem metafórica não é mentirosa. Sou professor universitário e ensinei Antropologia Teológica. É uma clareza que não posso perder de vista. Ao falar da condição adâmica nós precisamos pensar na humanidade como um todo. Não temos a certidão de nascimento de Adão. O que temos é a fé de que Deus criou a humanidade. Não posso pontuar a existência do primeiro homem. A sagrada escritura só que nos ensinar que somos filhos Dele.

Gustavo, toda a Antropologia teológica é construída na perspectiva da Cristologia. A narração das origens está diretamente ligada ao evento crístico. A Teologia da Criação não é uma ciência exata. O que precisa ser assegurado é o fato de que Deus é o criador do Universo. A maneira como tudo isso se deu é metáfora. Isso não significa meia verdade, nem tampouco conto da carochinha. O que não pode ser relativizado é a entrada de Jesus na história.

Há um destino Crístico que nos foi oferecido (Soteriologia). Jesus é histórico. Está situado no tempo e no espaço. Isso sim é fundamental para a fé. Quando a Sagrada Escritura narra o nascimento do primeiro homem, o grande objetivo não é pontuar o início da vida humana, mesmo porque o escritor sagrado não escrevia com essa finalidade. Volto a dizer. A exegese nos ensina que o escrito tem como principal objetivo salvaguardar que o princípio de todas as realidades criadas está em Deus (Criacionismo). É por isso que a fé não se opõe à ciência no que diz respeito à evolução (Evolucionismo). É simples. O primeiro homem criado não pode ter tido a experiência que a sagrada escritura relata. Ou você pode desconsiderar tod os os conhecimentos a respeito da origem do ser humano?

Gustavo, a fé não é um conjunto de certezas, meu caro. Não temos provas concretas para muitos aspectos da fé que professamos. Se as tivéssemos não precisaríamos ter fé. Acreditamos no que não vemos. Nem por isso é “conto da carochinha”, como você sugere.

Não sei se você a conhece, mas se não conhecer, sugiro que tenha contato com a obra do americano Joseph Campbell, que de maneira brilhante e pertinente, fez uma análise da linguagem mitológica nas culturas. Na primeira parte da obra “O poder do mito”, ele fala justamente deste grande equívoco que costuma ser muito comum entre as pessoas que não transcendem a linguagem. Campbell é uma das maiores autoridades no campo da mitologia, pois faz uma abordagem semiótica destas narrações. O mito não é uma mentira, mas também não precisa ser verdade, diz ele. O importante é a fé que ele sugere. O importante é reconhecer que ele está a serviço de uma verdade superior, porque não cabe no tempo. Foi mais ou menos isso que desejou Guimarães Rosa, ao escrever o conto “ A terceira margem do rio”. Onde fica a terceira margem?
O mesmo não se dá com as nossas convicções religiosas? O discurso religioso é o discurso da terceira margem. Guimarães Rosa compreendeu bem esta linguagem. E nós precisamos compreendê-la também.

“Depois o senhor falou que durante muito tempo “nós (subentenda-se: Igreja) fomos omissos”. Parece-me que essa omissão se referia às questões ecológicas. Pelo amor de Deus, padre! A missão da Igreja é salvar a Amazônia ou salvar as almas? Que conversa é essa de “cristificação do universo ”? Por que dar atenção a isso quando tantas almas se perdem na imoralidade, na heresia, na inércia espiritual?”

Gustavo, sua visão soteriológica é muito estreita. Salvar almas, somente? Essa visão compartimentada do ser humano é herética. Precisamos salvar a totalidade do humano, meu caro. Esqueceu o postulado fundamental da Antropologia cristã? Somos corpo e alma. Unidade. É só ler Tomás de Aquino, Santo Agostinho.

Fazer uma pregação desencarnada? A alma que quero salvar tem corpo, sente frio, tem fome, medo. A alma que quero salvar está num corpo que morre antes da hora, porque sofre as conseqüências de um meio ambiente marcado pelo pecado da omissão.

Se você fala da inércia espiritual, a Igreja fala da inércia espiritual e corporal. Cuidar do mundo é dar continuidade ao milagre da criação. Somos “co-criadores”. Deus continua criando, e nós correspondemos com a experiência do cuidado. Criar é atributo divino, mas cuidar é atributo humano. A horizontalidade da fé é real, concreta. Isso é Teologia da Criação. Está nos livros fundamentais, no catecismo da Igreja e também nos ensaios teológicos mais arrojados.

Quanto à essa conversa de “Cristificação do universo”, que você pareceu banalizar, fazer menor, é apenas uma interpretação belíssima da presença de Cristo no mundo, tomando posse de todos os lugares, mediante o movimento sacramental que Igreja celebra e propaga.

Todos os sacramentos que a Igreja celebra nos cristificam. O nosso comprometimento com o Cristo, mediante o processo de conversão, nos cristifica. O gesto de caridade nos cristifica. A oração nos cristifica. Ser cristão é ao Cristo estar configurado. É boba essa conversa?

“Em seguida, veio aquela colocação, esdrúxula e totalmente non sense, de que a Igreja – que se considerava barca de Pedro – após o Concílio Vaticano II passou a se enxergar como Povo de Deus. Devo informar-lhe que a Igreja permanece sendo barca de Pedro, e o povo de Deus é – por assim dizer – a tripulação desta barca. Onde é que houve mudança na compreensão da eclesiologia”?

A colocação esdrúxula não tem outro objetivo senão ensinar a busca que a Igreja tem feito de ser “Católica”. Você bem sabe que o significado de ser católica é ser “universal”. A expressão “barca de Pedro” não foi banida, Gustavo. Eu falei de superação conceitual. O problema não é a expressão, mas a interpretação que podemos fazer dela. É uma questão hermenêutica. A expressão “Povo de Deus” sugere a universalidade que a Igreja quer e precisa ter. O concílio Vaticano II compreendeu assim. É orientação da Igreja. Eu não inventei isso. Toda essa aversão que você tem ao Ecumenismo expõe uma fragilidade na sua reflexão. Não é bla, bla, bla, como você costu ma dizer. A Igreja trata com muito cuidado esta questão, pois sabe que as questões religiosas estão sendo causas de muito conflito no mundo. Banalizar a dimensão ecumênica da Igreja é, no mínimo, irresponsável.
Há uma vasta literatura na área da Eclesiologia refletindo sobre esse tema. Sugiro que você a conheça. Só vai lhe enriquecer.

Meu filho, o importante é a gente não esquecer, que mesmo estando na barca de Pedro, é sempre cordial e cristão, acenarmos com carinho e respeito aos que estão em barcas diferentes. As grandes guerras atuais são movidas por essa incapacidade de aceno.

“Entre as críticas feitas pelos blogueiros, salientava-se a sua posição – no mínimo, omissa – quando o apresentador Jô Soares comentou que achava um absurdo que a Igreja considerasse que o matrimônio servia apenas à procriação. Pergunto: por que o senhor não afirmou, como ensina a Igreja, que o matrimônio tem duas finalidades: a unitiva e a procriativa? Por que não disse que , sim, o amor dos esposos importa e ele é – ou, pelo menos, deve ser – expresso pela unidade (de pensamento e de vontade) que os cônjuges demonstram em todas e cada uma de suas ações? Era tão simples desfazer a argumentação errônea do entrevistador e, ao mesmo tempo, aproveitar para instruir as pessoas segundo a Sã Doutrina!”

Concordo com você. Eu errei ao não ter usado os termos técnicos. Quis levar a discussão através de outros recursos e acabei não sendo claro como deveria.

“Pior que não ter ensinado no momento oportuno, foi o senhor afirmar que “o nosso discurso já mudou”! Diga-me, Pe. Fábio, acaso a doutrina imutável da Igreja perdeu a sua imutabilidade? O senhor crê, convictamente, que a Igreja está, dia após dia, se amoldando à mentalidade atual? Não seria missão da Esposa de Cristo formar na sociedade uma mentalidade cristã, isto é, fomentar um novo modo de pensar e de viver que esteja impregnado do perfume de Cristo? Ou é o contrário: o mundo é que deve catequizar a Igreja?”

Não, não é a Igreja que precisa ser moldada aos formatos do mundo. Em nenhum momento alguém me viu pregar sobre isso. Quando eu disse que o discurso já mudou, eu me referia justamente à visão antiga que ele tinha do “sexo no casamento”. O apresentador desconhecia a reflexão a dimensão unitiva do sexo na vida do casal.

“Em outro momento da entrevista o senhor afirmou que não “conseguia” celebrar a missa todos os dias? Não lhe parece estranho, e prejudicial, que a sua “agenda” não permita que o senhor celebre todos os dias a Eucaristia? Qual deve ser o centro da vida do sacerdote: o altar ou o palco? E quanto ao breviário? A sua “agenda” permite que o senhor o reze diariamente (considerando que não fazê-lo é pecado grave para o sacerdote)?”

Gustavo, quanto ao zelo que tenho pela minha vida de padre, gostaria de lhe tranqüilizar. Não sou um aventureiro. Sou um homem responsável, e se tem uma coisa que não perco de vista é a maturidade humana. Se me conhecesse, talvez não incorreria no julgamento velado de suas palavras.

Deus conhece a vida que tenho, e conhece também minha dedicação aos seus projetos. Se você gosta de quantificar o que faz, este não é o meu caso. Eu sou filho do Novo Testamento. Jesus é o Senhor da minha vida. Com Ele eu aprendi que a salvação não está na obrigação dos ritos, mas na qualidade do coração que temos. Busco cumprir todas as obrigações que a Igreja me pede, mas não coloco nisso a certeza da minha salvação. Não sou rubricista, nem pretendo me tornar. A Igreja nos recomenda muitas coisas. Lutamos para cumprir tudo. O que não conseguimos, deixamos nas mãos de Deus. Só Ele poderá nos julgar.

“Depois veio a pergunta: “o senhor teve experiências sexuais antes de ser padre?” Creio um homem que consagrou (frise-se o termo: consagrou) sua sexualidade a Deus não deveria expor sua intimidade diante do público. Mas, já que a pergunta indecorosa foi feita, a resposta que esperei foi algo no sentido de fazer o interlocutor entender que aquela questão era de ordem privada; que não convinha ser tratada em público. Em resumo: algo como “não é da sua conta!”. Porém, que fez o senhor? Respondeu que teve, sim, experiências sexuais precedentes, mas “às escondidas”! Caro Pe. Fábio, o senhor acha que convém dar uma resposta deste tipo? Isso não induziria as pessoas a pensar que não existem padres castos (considerando que muitos confundem castidade com virgindade)? Isso não estimularia as pessoas a crer na falácia segundo a qual todo jovem já teve, tem ou deve ter experiências sexuais que precedam a sua decisão vocacional?”

Gustavo, a vida é o testemunho que temos. Não tenho dificuldade alguma de responder às perguntas que me expõem como homem. Não fiquei padre por acaso. Tenho uma história e dela não fujo. São Paulo não fez o mesmo? Leia as cartas que ele escreveu. Ele sempre fez referência à vida vivida. Em nenhum momento se esquivou de contar sua história, mas fez dela um instrumental para orientar e sugerir vida nova em Cristo. Não gosto da expressão “não é da sua conta”. Se eu me disponho a ser entrevistado por alguém, tenho que saber que a minha vida será a pauta. Só não admitiria o desrespeito, mas isso não ocorreu. Não vou mentir para o povo. Nas minhas pregações eu falo o tempo todo da minha vida. Não quero bancar o santo. Eu quero é ser santo.

“O senhor comentou, ainda, que “para a gente ser padre, a gente tem que ter amado na vida. É impossível (grifos meus) fazer uma opção pelo celibato, pela vida consagrada, se eu não tiver tido uma experiência de amar alguém de verdade”. O senhor acha, realmente, que o homem que nunca amou uma mulher não sabe amar? Baseado em que o senhor diz isso? Que dizer então do meu pároco que, tendo ido para o seminário aos 11 anos, nunca namorou? Ele é menos feliz por causa disso? Menos decidido pelo sacerdócio? Não creio que isso proceda.”

Digo baseado no fato de ser padre, conviver com padres, morar em seminários desde os 16 anos de idade, ser diretor espiritual de inúmeros seminaristas, padres e freiras. Digo isso porque vivo os bastidores da Igreja. Sou amigo pessoal de muitos bispos, religiosos, diretores de seminários. Tenho 38 anos e sou profundamente interessado pela vida sacerdotal. A minha experiência, e a de tantos que passaram pela minha vida, mostraram-me que o celibato é ESCOLHA. Para haver escolha é preciso que haja possibilidades. Quanto à felicidade de seu pároco, sobre ela não posso dizer, pois não o conheço. Minha fala é fruto do que a vida me mostrou, e só.

“O que se viu nessa malfadada entrevista à rede globo foi a apresentação de um comunicador, um cantor, um filósofo, um homem qualquer. Pudemos enxergar Fábio de Melo. E só. O padre passou desapercebidamente. De comunicadores, cantores e filósofos, já basta: nós os temos em número suficiente! Precisamos de padr es! Padres que são, sim, homens por natureza; mas que tiveram sua dignidade elevada pelo caráter impresso no sacramento da Ordem. Homens que não são “como quaisquer outros” porque receberam a graça e a missão de agir in persona Christi. Temos carência de ver padres que ajam, falem e – até mesmo – se vistam, em conformidade com a sua dignidade sacerdotal.”

Gustavo, se os seus olhos me enxergaram como um “homem qualquer”,perdoe-me. Talvez eu não tenha conseguido revelar a você a sacralidade que move os meus objetivos. Talvez você esteja elevado demais em sua vida espiritual, e necessite de padres mais espiritualizados, menos humanos. Tenho consciência que ninguém precisa ser unanimidade. O que sei é que na Igreja de Cristo há um lugar para um padre com o meu perfil. Eu vejo a obra que Deus tem realizado na minha vida e na vida de tantas pessoas que se identificam com meu trabalho.

Meu filho, eu tenho encontrado pela vida as dores do mundo, e com elas tenho me ocupado. Demorei responder a sua carta justamente por isso. Tenho gastado o meu sangue nesta proeza de ser e agir “ in persona Christi”. Não tenho outro objetivo senão tentar atualizar a presença de Jesus na vida das pessoas. Eu o faço como posso. Evangelizo a partir da teologia que amo, mas também a partir da experiência que me guia. Conheci a Deus através do amor ágape. Fiquei fascinado quando me ensinaram que Deus é um pai amoroso que não despreza os filhos que tem, mesmo quando não correspondem ao que Ele espera.
O banquete em sua casa está sempre posto, pronto para receber o filho que tem fome. Adentrei a morada de Deus assim, na condição de homem qualquer, mas o surpreendente é que Ele não me recebeu como homem qualquer. Recebeu-me com festa, com carinho, com misericórdia, pois é capaz de me enxergar para além de minha aparência. É isso que tenho feito, meu caro. Tenho me esmerado para convencer as pessoas de que o mesmo pode acontecer com elas.

Quanto à minha dignidade sacerdotal, esta eu costumo preservar através das minhas atitudes. Minha roupa de padre não me garante muita coisa. O sacerdócio que o povo espera de mim não está no hábito que ostento, mas na sinceridade que preciso ter diante do meu compromisso assumido. Zelo para que Deus não seja transformado numa caricatura qualquer.

“Creio que muitos destes desdobramentos que eu estou expondo não foram sequer imaginados pelo senhor no momento em que concedeu a entrevista, e enquanto respondia às perguntas. Contudo, o ônus de quem se expõe à opinião pública é, exatamente, suportar os possíveis mal-entendidos que se geram quando as palavras são compreendidas de modo diverso da intenção e da mentalidade de quem as proferiu. Espero que tudo que eu falei aqui tenha sido realmente um grande mal-entendido… Sempre cabe, contudo, esclarecer os desentendimentos mais graves que possam prejudicar não só a sua imagem, mas a da Igreja como um todo. Um ensino errado pode levar uma alma à perdição.”

Querido Gustavo, como professor de Hermenêutica eu não tenho dificuldade com os que pensam diferente de mim. Não é nenhum crime termos diferenças. O problema é quando nós fazemos da diferença um motivo de pré julgamento e acusação.

“Perdoe-me, sinceramente, a franqueza e, talvez, a dureza em alguns momentos. Mas eu precisava lhe expor as minhas dúvidas, impressões e inquietudes com relação a essa entrevista. Se o senhor se dignar me responder esta carta, ainda que de modo breve, sucinto, ficaria imensamente grato. Despeço-me rogando mais uma vez a sua bênção e garantindo-lhe as minhas orações em favor de seu sacerdócio e de sua alma.
Gustavo Souza, Indigno filho da Santa Igreja Católica”

Perdôo, é claro que perdôo, afinal, este o meu ofício. Como padre eu sou ministro da reconciliação. Confesso que a ira de seus seguidores, blogueiros que acompanham os seus escritos, me feriu muito mais que suas indignações. E é sobre isso gostaria de dizer, ao final desta resposta. Não sei quem é você. Vi a sua foto, aquela em que você diz estar embriagado de Coca Cola, e nada mais. O pouco que sei de você está revelado nos textos do seu blog. Tenho acompanhado seus constantes combates, esforços para diminuir as heresias e afrontas à Igreja. Admiro o seu zelo. Ele expressa o amor que você tem a Deus. Mas confesso que sinto falta de “misericórdia” em suas falas, meu caro.

Gustavo, não faça do seu amor à Igreja um obstáculo ao seu amor pelos mais fracos, pelos diferentes. Defenda tudo o que quiser defender, mas não permita que o seu discurso seja causa de contenda e inimizades. Há sempre um jeito de discordar sem precisar ofender. A ofensa faz crescer o que é diabólico.

Cuidado com as generalizações. Você tem combatido as CEBS. Cuidado. Há muita gente honesta nestes movimentos. Eu as conheço. Vi de perto o trabalho frutuoso, espiritual, humano, salvação total acontecendo em muitos lugares deste grande Brasil. Vi nomes sendo citados de forma banal, irresponsável. Irmã Doroty morreu defendendo o evangelho, meu filho. Gostando você, ou não, ela é foi uma mulher comprometida com as causas de Jesus. É muito triste ver o nome dela citado no seu espaço, como se fosse uma “mulher qualquer”. Chico Mendes foi um homem que defendeu questões nobres. Só por isso já merece o nosso respeito. Frei Beto é um homem fabuloso. Já fez muita gente se aproximar de Deus, por meio de sua inteligência e sabedoria aguçada.

Não limite o seu blog a um lugar de combates. Que seja um lugar de discussões, mas que sejam feitas à luz do princípio fundamental que o evangelho nos sugere: o amor ágape.
Gustavo, aproxime-se cada vez mais do Coração de Jesus. Ele é a interpretação da verdade que tanto buscamos compreender. Deus está inteiro em Jesus. O grande desafio da conversão é aproximar a nossa humanidade de sua divindade.

Do Adão que há em nós ao Cristo que nos foi oferecido. Mesmo estando em estágios diferentes, uns mais à frente, outros mais atrasados, não importa. O importante é que saibamos ir juntos. Nossa salvação depende disso. Uma coisa é certa, meu caro. Todos nós estamos desejosos de acertar. Sigamos juntos nesta busca.
Com meu carinho e benção,

Pe. Fabio de melo.

Padre Cantalamessa: Os sacerdotes, servos e amigos de Jesus, não funcionários

Primeira meditação do Advento pelo Pregador do Papa

Por Mirko Testa

ROMA, sexta-feira, 4 de dezembro de 2009 (ZENIT.org). – Os sacerdotes devem cultivar uma amizade tão íntima com Cristo a ponto de ser quase capazes de fazer as pessoas se sentirem tocadas pela mão de Deus. É o que disse, em síntese, o Pregador da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, na primeira de suas meditações sobre o Advento, na presença do Papa Bento XVI e de membros da Cúria Romana, na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico.

O frade capuchinho escolheu refletir, como preparação para o Natal, sobre a natureza e a missão do sacerdócio, partindo dos dois textos do Novo Testamento mais pertinentes para o tema: “Que as pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1 Coríntios 4, 1) e “Cada sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído para o bem dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hebreus 5, 1).

Em seu sermão, padre Cantalamessa disse que o sacerdote deve ser, acima de tudo, um continuador da obra de Cristo no mundo e, portanto,  “dar testemunho da verdade, fazendo brilhar sua luz”, entendendo-se por verdade “o conhecimento  da realidade divina” e assim  da “esperança de Deus”.

A tarefa da igreja e dos sacerdotes consiste em permitir que “as pessoas tenham um contato íntimo e pessoal com a realidade de Deus, por meio do Espírito Santo”, de modo a torná-lo presente ao “dar forma visível à sua presença invisível”.

Nesse sentido, explicou, “cada sacerdote deve ser um místico, ou ao menos um mistagogo, capaz de introduzir as pessoas no Mistério de Deus e de Cristo como se as conduzisse pela mão”.

Ao mesmo tempo , o sacerdote convidou a cultivar a “simpatia, o senso de solidariedade, a compaixão”, “nunca julgando, mas salvando”.

Ademais, continuou Cantalamessa, o sacerdote não deve ser apenas servo de Jesus, mas deve estar com Ele, inclusive em “seus pensamentos, propósitos e espírito”.

Este é o testemunho do próprio Jesus, quando disse “Eu já não os chamo mais de servos, porque um servo não sabe aonde vai seu senhor; os chamo de amigos, porque lhes dei a conhecer tudo o que aprendi de meu Pai”.

Padre Cantalamessa advertiu ainda contra um tipo de heresia própria dos tempos modernos e que ele chama de “ativismo frenético”.

“Nós sacerdotes, mais de quaisquer outros, estamos expostos ao perigo de sacrificar o importante frente ao urgente”, disse. Mas assim, “acaba-se por adiar o importante para um amanhã que nunca chegará”.

Ao contrário, disse, a essência do sacerdócio consiste “num relacionamento pessoal, pleno de confiança e de amizade, com a pessoa de Jesus”, uma vez que “é o amor por Jesus o que diferencia o sacerdote funcionário ou gerente daquele sacerdote servo de Cristo e difusor dos Mistérios de Deus”. E convidou a “passar do Jesus personagem à pessoa de Jesus”, desenvolvendo um diálogo com Ele. “Porque se isto é negligenciado, ocorre um curto-circuito, que nos torna vazios de oração e de Espírito Santo”.

Por isso, concluiu o Padre, cada sacerdote “deve iniciar a jornada reservando um tempo de oração e de diálogo com Deus”, de modo que as demais atividades cotidianas não ocupem todo o espaço.

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