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Pela fé, todos podemos engendrar Cristo, explica pregador do Papa

Comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., à liturgia de 1 de janeiro

ROMA, segunda-feira, 1 de janeiro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap. – pregador da Casa Pontifícia – à liturgia da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, 1 de janeiro.

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Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus
Números 6, 22-27; Gálatas 4, 4-7; Lucas 2, 16-21

Maria meditava em seu coração todas estas palavras

O Concílio nos ensinou a ver Maria como a «figura» da Igreja, isto é, seu exemplo perfeito e sua primícia. Mas pode Maria servir de modelo à Igreja também em seu título de «Mãe de Deus», com o qual é honrada este dia? Podemos chegar a ser mães de Cristo?

Isso não só é possível, mas que alguns Padres da Igreja chegaram a dizer que, sem esta imitação, o título de Maria seria inútil para alguém: «De que me serve – diziam – que Cristo tenha nascido uma vez de Maria em Belém, se não nasce também pela fé em minha alma?». Jesus mesmo iniciou esta aplicação à Igreja do título «Mãe de Cristo», quando declarou: «Minha mãe e meus irmãos são os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 21). A liturgia do dia nos apresenta Maria como a primeira dos que se convertem em mães de Cristo mediante a escuta atenta de sua palavra. Foi eleita, de fato, para esta Solenidade, a passagem evangélica onde está escrito que «Maria, por sua parte, conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração».

Como é possível transformar-se, em concreto, em mãe de Cristo, o explica o próprio Jesus: escutando a Palavra e colocando-a em prática. Há duas maternidades incompletas ou dois tipos de interrupção de uma maternidade. Um é o antigo e conhecido aborto. Tem lugar quando se concebe uma vida mas não se lhe dá à luz porque, entretanto, por causas naturais ou pelo pecado dos homens, o feto morre. Até há pouco tempo, este era o único caso que se conhecia de maternidade incompleta. Hoje se conhece outro, que consiste, ao contrário, em dar à luz um filho sem tê-lo concebido. Assim ocorre com as crianças concebidas em provetas e implantadas em um segundo momento, no ventre da mulher, e no caso desolador e triste do útero dado por empréstimo para albergar, às vezes sob pagamento, vidas humanas concebidas em outro lugar. Neste caso a quem a mulher dá à luz não vem dela, não é concebido «antes no coração que no corpo».

Lamentavelmente, também no plano espiritual existem estas duas tristes possibilidades. Concebe Jesus, sem dá-lo à luz, quem acolhe a Palavra sem colocá-la em prática, quem continua praticando um aborto espiritual após outro, formulando propósitos de conversão que logo são sistematicamente esquecidos e abandonados no meio do caminho; quem se comporta para a Palavra como o observador apressado que olha seu rosto no espelho e logo se vai esquecendo de imediato como era (St 1, 23 24). Em resumo, quem tem fé, mas não tem obras.

Ao contrário, dá à luz Cristo sem tê-lo concebido quem realiza muitas obras, às vezes também boas, mas que não procedem do coração, do amor por Deus e da reta intenção, mas do costume, da hipocrisia, da busca da própria glória e do próprio interesse, ou simplesmente da satisfação que dá atuar. Em suma, quem tem as obras, mas não tem a fé.

Estes são os casos negativos, de uma maternidade incompleta. São Francisco de Assis nos descreve o caso positivo de uma verdadeira e completa maternidade que nos assemelha a Maria: «Somos mães de Cristo – escreve – quando o levamos no coração e em nosso corpo por meio do divino amor e da consciência pura e sincera; o geramos através das obras santas, que devem brilhar perante os demais para exemplo!». Nós – vem a dizer o santo – concebemos a Cristo quando o amamos com sinceridade de coração e com retidão de consciência, e o damos à luz quando realizamos obras santas que o manifestam ao mundo.

[Traduzido por Zenit]

Pregador do Papa: «Bem-aventurados os que choram»

I Pregação de Advento do Pe. Raniero Cantalamessa OFMCap.

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006 (ZENIT.org).- «“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). As bem-aventuranças evangélicas». Este é o tema das meditações que o padre Raniero Cantalamessa OFMCap., pregador da Casa Pontifícia, dirige ao Papa e a seus colaboradores da Cúria Romana.

Na presença de Bento XVI –na Capela «Redentoris Mater» do Palácio Apostólico vaticano–, esta sexta-feira aconteceu a primeira meditação de Advento; a segunda está programada para o próximo 22 de dezembro.

Como explica um comunicado da Casa Pontifícia, as bem-aventuranças são o auto-retrato de Jesus de Nazaré, pobre, manso, puro de coração e perseguido pela injustiça. Por isso, representam o caminho privilegiado a seguir para ter em si «os mesmos sentimentos de Cristo» (Fl 2, 5).

Já se aprofundou na bem-aventurança sobre os pobres de espírito tempos atrás. Assim que nas presentes meditações se busca refletir sobre as duas bem-aventuranças seguintes, a dos que choram e dos mansos, em especial consonância com o espírito litúrgico de Advento e necessárias para a Igreja na situação histórica atual.

Estes tempos de meditação estão abertos aos senhores cardeais, arcebispos e bispos, secretários das Congregações vaticanas, prelados da Cúria Romana e do Vicariato de Roma, e superiores gerais e procuradores das ordens religiosas que formam parte da Capela Pontifícia.

Publicamos a seguir o texto integral da primeira pregação deste Advento.

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Pe. Raniero Cantalamessa
Primeira Pregação de Advento 2006

«Bem-aventurados os que choram!»
A bem-aventurança dos aflitos

Começamos com esta meditação um ciclo de reflexão sobre as bem-aventuranças que, se Deus quiser, prosseguiremos na próxima Quaresma. As bem-aventuranças têm conhecido, dentro do próprio Novo Testamento, um desenvolvimento e aplicações diferentes, segundo a teologia de cada evangelista ou as necessidades novas das comunidades. A elas se aplica o que São Gregório Magno diz de toda a Escritura, que ela «cum legentibus crescit» [1], cresce com aqueles que a lêem, revela sempre novas implicações e conteúdos mais ricos, de acordo com as instâncias e os questionamentos novos com os que se lê.

Manter a fé neste princípio significa que também hoje nós devemos ler as bem-aventuranças à luz das situações novas nas que nos encontramos vivendo, com a diferença, entende-se, de que as interpretações dos evangelistas estão inspiradas, e por isso normativas para todos e para sempre, enquanto que as de hoje não compartilham tal prerrogativa.

Pregador do Papa: é possível fazer que as crises não desgastem o matrimônio, mas que o melhorem

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingo

ROMA, sexta-feira, 6 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, XXVII do tempo comum.

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E os dois serão uma só carne

XVII Domingo do tempo comum (B)
Gênesis 2, 18-24; Hebreus 2, 9-11; Marcos 10, 2-16

O tema deste XXVII Domingo é o matrimônio. A primeira leitura começa com as bem conhecidas palavras: «Disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma ajuda adequada». Em nossos dias, o mal do matrimônio é a separação e o divórcio, enquanto que nos tempos de Jesus o era o repúdio. Em certo sentido, este era um mal pior, porque implicava também uma injustiça com relação à mulher, que ainda persiste, lamentavelmente, em certas culturas. O homem, de fato, tinha o direito de repudiar a própria esposa, mas a mulher não tinha o direito de repudiar seu próprio marido.

Duas opiniões se contrapunham, com relação ao repúdio, no judaísmo. Segundo uma delas, era lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo, ao arbítrio, portanto, do marido; segundo a outra, ao contrário, se necessitava de motivo grave, contemplado pela Lei. Um dia submeteram esta questão a Jesus, esperando que adotasse uma postura a favor de uma ou outra tese. Mas receberam uma resposta que não esperavam: «Tendo em conta a dureza de vosso coração [Moisés] escreveu para vós este preceito. Mas desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem seu pai e a sua mãe, e os dois serão uma só carne. De maneira que já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, o homem não separe».

Pregador do Papa: Jesus continua «tocando-nos» fisicamente para curar-nos espiritualmente

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingo

ROMA, sexta-feira, 8 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, XXIII do tempo comum.

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Efatá. Abre-te!

XXIII Domingo do tempo comum (B)
Isaías 35, 4-7a; Tiago 2, 1-5; Marcos 7, 31-37

A passagem do Evangelho nos refere uma bela cura realizada por Jesus: «Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer “Abre-te”. Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade».

Pregador do Papa recorda lição de Jesus sobre o desperdício

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingo (30/07)

ROMA, sexta-feira, 28 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, XVII do tempo comum.

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Recolhei os pedaços que sobraram

XVII Domingo do tempo comum (B)
2 Reis 4, 42-44; Efésios 4, 1-6; João 6, 1-15

Durante vários domingos, o Evangelho está tomado do discurso que Jesus pronunciou sobre o pão da vida na sinagoga de Cafarnaum, e que o evangelista João refere. A passagem deste domingo vem do episódio da multiplicação dos pães de dos peixes, que se torna uma introdução ao discurso eucarístico.

Não é por acaso que a apresentação da Eucaristia começa com o relato da multiplicação dos pães. Com isso, o que se quer dizer é que não se pode separar, no homem, a dimensão religiosa da material; não é possível prover suas necessidades espirituais e eternas, sem preocupar-se, ao mesmo tempo, por suas necessidades terrenas e materiais.

Foi precisamente esta, por um motivo, a tentação dos apóstolos. Em outra passagem do Evangelho, se lê que eles sugeriram a Jesus que despedisse a multidão para que fosse aos povoados vizinhos para buscar o que comer. Mas Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer!» (Mateus 14, 16). Com isso, Jesus não pede aos seus discípulos que façam milagres. Pede que façam o que puderem. Pôr em comum e compartilhar o que cada um tem. Na aritmética, multiplicação e divisão são duas operações opostas, mas neste caso são a mesma coisa. Não existe «multiplicação» sem «partição» (ou compartilhar)!

Este vínculo entre o pão material e o espiritual era visível na forma em que se celebrava a Eucaristia nos primeiros tempos da Igreja. A Ceia do Senhor, chamada então de ágape, acontecia no marco de uma refeição fraterna, na que se compartilhava tanto pão comum como o eucarístico. Isso fazia com que fossem consideradas escandalosas e intoleráveis as diferenças entre quem não tinha nada para comer e quem se «embriagava» (1 Cor 11, 20-22). Hoje, a Eucaristia já não se celebra no contexto da refeição comum, mas o contraste entre quem tem o supérfluo e quem carece do necessário não diminuiu, pelo contrário, assumiu dimensões planetárias.

Sobre este ponto, o final do relato também tem algo a nos dizer. Quando todos se saciaram, Jesus ordenou: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Nós vivemos em uma sociedade onde o desperdício é habitual. Passamos, em cinqüenta anos, de uma situação na que as pessoas iam ao colégio ou à Missa dominical levando, até a porta, os sapatos na mão para não gastá-los, a uma situação na que se joga fora o calçado quase novo para adaptar-se à moda mutante.

O desperdício mais escandaloso acontece no setor da alimentação. Uma pesquisa do Ministério de Agricultura dos Estados Unidos revela que um quarto dos produtos alimentícios acaba cada dia no lixo, isso sem falar do que se destrói deliberadamente antes que chegue ao mercado. Jesus não disse aquele dia: «Destruam os pedaços que sobraram, para que o preço do pão e do peixe não baixe no mercado». Mas é precisamente o que se faz hoje em dia.

Sob o efeito de uma publicidade maçante, «gastar, não economizar» é atualmente a senha na economia. Certo: não basta economizar. O ato de economizar deve permitir que os indivíduos e as sociedades dos países ricos sejam mais generosos na ajuda aos países pobres. Se não, é mais avareza do que economia.

[Traduzido por Zenit]

Pregador do Papa adverte ante tentação de não reconhecer Jesus que passa

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingoROMA, sexta-feira, 7 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, XIV do tempo comum.

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Saiu dali e viu sua pátria

XIV Domingo do tempo comum (B)
Ezequiel 1, 13-15-2, 23-25; 2 Coríntios 12, 7-10; Marcos 6, 1-6

Quando já se havia tornado popular e famoso por seus milagres e seu ensinamento, Jesus voltou um dia ao seu lugar de origem, Nazaré e, como de costume, se pôs a ensinar na sinagoga. Mas dessa vez não suscitou nenhum entusiasmo, nenhum hosana! Mais do que escutar o que dizia e julgá-lo segundo isso, as pessoas se puseram a fazer considerações alheias: «De onde tirou esta sabedoria? Não estudou; nós o conhecemos bem; é o carpinteiro, o filho de Maria!». «E se escandalizavam dEle», ou seja, encontravam um obstáculo para acreditar nEle no fato de que o conheciam bem.

Jesus comentou amargamente: «Um profeta só em sua pátria, entre seus parentes e em sua casa carece de prestígio». Esta frase se converteu em provérbio na forma abreviada: Nemo propheta in pátria, ninguém é profeta em sua terra. Mas isso é só uma curiosidade. A passagem evangélica nos lança também uma advertência implícita que podemos resumir assim: cuidado para não cometer o mesmo erro que cometeram os nazarenos! Em certo sentido, Jesus volta a sua pátria cada vez que seu Evangelho é anunciado nos países que foram, em um tempo, o berço do cristianismo.

Nossa Itália, e em geral a Europa, são, para o cristianismo, o que Nazaré era para Jesus: «o lugar onde foi criado» (o cristianismo nasceu na Ásia, mas cresceu na Europa, um pouco como Jesus havia nascido em Belém, mas foi criado em Nazaré!). Hoje correm o mesmo risco que os nazarenos: não reconhecer Jesus: A carta constitucional da nova Europa unida não é o único lugar do qual Ele é atualmente «expulso»…

O episódio do Evangelho nos ensina algo importante. Jesus nos deixa livres, propõe, não impõe seus dons. Aquele dia, ante a rejeição de seus conterrâneos, Jesus não se abandonou a ameaças e invectivas. Não disse, indignado, como se conta que fez Publio Escipión, o africano, deixando Roma: «Ingrata pátria, não terás meus ossos!». Simplesmente foi para outro lugar. Uma vez não foi recebido em certo povoado; os discípulos lhe propuseram fazer baixar fogo do céu, mas Jesus se virou e os repreendeu (Lc 9, 54).

Assim também hoje. «Deus é tímido». Tem muito mais respeito pela nossa liberdade do que temos nós mesmos uns dos outros. Isso cria uma grande responsabilidade. Santo Agostinho dizia: «Tenho medo de Jesus que passa» (Timeo Jesum transeuntem). Poderia, com efeito, passar sem que eu percebesse, passar sem que eu esteja disposto a acolhê-lo.

Sua passagem é sempre uma passagem de graça. Marcos disse sinteticamente que, tendo chegado a Nazaré no sábado, Jesus «se pôs a ensinar na sinagoga». Mas o Evangelho de Lucas especifica também o que ensinou e o que disse naquele sábado. Disse que havia vindo «para anunciar aos pobres a Boa Nova, para proclamar a liberdade aos cativos e a vista aos cegos; para dar a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor» (Lucas 4, 18-19).

O que Jesus proclama na sinagoga de Nazaré era, portanto, o primeiro jubileu cristão da história, o primeiro grande «ano de graça», do qual todos os jubileus e «anos santos» são uma comemoração.

Confiança em Deus, autêntica força nas tempestades, explica pregador do Papa

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., à passagem evangélica do próximo domingo

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 23 de junho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. –pregador da Casa Pontifícia– sobre a liturgia de 25 de junho de 2006, XII Domingo do Tempo Comum.

Levantou-se uma grande tempestade

XII Domingo do Tempo Comum
Jo 38, 8-11; 2 Coríntios 5, 14-17; Marcos 4, 35-41.

O Evangelho deste Domingo é o da tempestade acalmada. Ao entardecer, depois de uma jornada de intenso trabalho, Jesus sobe a uma barca e diz aos apóstolos que vão à outra margem. Esgotado pelo cansaço, dorme na popa. Enquanto isso, levanta-se uma grande tempestade que inunda a barca. Assustados, os apóstolos acordam Jesus, gritando-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?». Após levantar-se, Jesus ordena ao mar que se acalme: «Cala, emudece». O vento se acalmou e sobreveio uma grande bonança. Depois, disse-lhe: «Por que estais com tanto medo? Ainda não tendes fé?».

Vamos tratar de compreender a mensagem que nos dirige hoje esta página do Evangelho. A travessia do mar da Galiléia indica a travessia da vida. O mar é minha família, minha comunidade, meu próprio coração. Pequenos mares, nos quais se podem desencadear, como sabemos, tempestades grandes e imprevistas. Quem não conheceu algumas dessas tempestades, quando tudo se obscurece e o barquinho de nossa vida começa a inundar-se de água por todos os lados, enquanto Deus parece que está ausente ou dorme? Um diagnóstico alarmante do médico e nos encontramos de repente em plena tempestade. Um filho que empreende um mau caminho dando de que falar, e já temos os pais em plena tempestade. Uma reviravolta financeira, a perda do trabalho, do amor do namorado, do cônjuge, e nos encontramos em plena tempestade. O que fazer? A que podemos agarrar-nos e para que lado podemos jogar a âncora? Jesus não nos dá a receita mágica para escapar de todas as tempestades. Não nos prometeu que evitaríamos todas as dificuldades; Ele nos prometeu, no entanto, a força para superá-las, se a pedirmos.

São Paulo nos fala de um problema sério que teve de enfrentar em sua vida e que chama «um espinho em minha carne». «Três vezes» (ou seja, infinitas vezes), diz, rogou ao Senhor que lhe libertasse dele e, o que respondeu? Leiamos juntos: «Minha graça te basta, minha força se mostra perfeita na fraqueza». Desde aquele dia, começou inclusive a gloriar-se de suas fraquezas, perseguições e angústias, até o ponto de poder dizer: «quando estou fraco, então é quando sou forte» (2 Coríntios 12, 7-10).

A confiança em Deus: esta é a mensagem do Evangelho. Naquele dia o que salvou os discípulos do naufrágio foi o fato de levar Jesus na barca, antes de começar a travessia. Esta é também para nós a melhor garantia contra as tempestades da vida. Levar Jesus conosco. O meio para levar Jesus na barca da própria vida e da própria família é a fé, a oração e a observância dos mandamentos.

Quando a tempestade se desencadeia no mar, ao menos no passado, os marinheiros costumavam jogar óleo sobre as ondas para acalmá-las. Nós jogamos sobre as ondas do medo e da angústia a confiança em Deus. São Pedro exortava os primeiros cristãos a ter confiança em Deus nas perseguições, dizendo: «confiai-lhe todas as vossas preocupações, pois Ele cuida de vós» (I Pedro 5, 7). A falta de fé que Jesus reprovou aos discípulos nessa ocasião se deve ao fato de pôr em dúvida que lhe «importe» sua vida e incolumidade: «não te importas que pereçamos?».

Deus cuida de nós, Ele se importa com nossa vida, e de que maneira! Uma história citada com freqüência fala de um homem que teve um sonho. Via dois pares de pegadas que se haviam ficado gravadas na areia do deserto e compreendia que um par de pegadas eram as suas e o outro par de pegadas eram as de Jesus, que caminhava a seu lado. Em um certo momento, um par de pegadas desaparece, e compreende que isso sucedeu precisamente em um momento difícil de sua vida. Então se lamenta com Cristo, que lhe deixou só no momento da prova. «Mas, eu estava contigo!», respondeu Jesus. «Como é possível que estivesse comigo, se na areia só se vê um par de pegadas?». «Eram as minhas — respondeu Jesus. Nesses momentos, eu havia te carregado».

Lembremos disso, quando também nós sintamos a tentação de queixar-nos com o Senhor porque nos deixa sozinhos.

[Traduzido por Zenit]

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