Padre Joãozinho, SCJ, replicando um texto do padre Zezinho (não é dupla sertaneja, embora ambos sejam profissionais do entretenimento musical), e vou aqui supor que um inho concorde com outro inho, afirma que o malvado Bernardo Pires Küster e a geração de católicos que nele se reconhecem não aceitam os mornos. Tá lá: “Não aceitam nem mesmo os moderados. Para eles, ou o católico é quente ou frio. Nunca morno!”

Padre, padre… Não é o Bernardo que não aceita os mornos. É o próprio Cristo! É a própria Igreja. Se o senhor pegar a sua Bíblia – imagino que tenha uma empoeirada aí na estante, ali atrás do livro do Bauman – e abrir em Apocalipse 3, 15-16, vai ler o Anjo do Senhor dizendo “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te”.

Esse é o problema, padre. Vocês, velhos mornos, incapazes de compreender o que se passa com essa geração, procuram as respostas fora da Igreja, nessas porcarias mundanas como Zygmunt Bauman, fórmula para não compreender coisa alguma.

Se olhasse para a Igreja, encontraria um Santo Agostinho angustiado dizendo “Fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te” e ali também nos encontraria. Não somos uma geração de fundamentalistas intolerantes que procedeu a uma geração de cínicos relativistas, a sua, no caso. Não! Somos a geração de feridos pelo século! Todos os experimentos que a sua geração e a dos seus professores fizeram dentro da Igreja, com suas consequências para o mundo, abriu em nós grandes feridas. E vocês nos roubaram, o maior roubo que a minha geração poderia sofrer. Vocês nos roubaram A IGREJA. Vocês nos roubaram os tesouros da Tradição Católica, vocês nos roubaram as devoções populares, vocês nos roubaram a liturgia, vocês nos roubaram a fé integral, vocês nos roubaram a Carne e Sangue de Cristo Crucificado. Na verdade, vocês nos roubaram a Cruz! E em seu lugar, nos deram essa aguinha de batata morna que, como o Anjo da Igreja da Laodicéia, nós rejeitamos e vomitamos.

O senhor está completamente equivocado. Não somos uma geração cheia de certezas em busca de respostas definitivas, fixas, absolutas. Somos a geração dos maltrapilhos, dos que não sabem se comportar a mesa, dos que batem na porta com as feridas a mostra. Não queremos respostas, nem certezas! Queremos que nossas chagas, nossas feridas purulentas sejam tratadas e limpas e curadas. Para nós a Igreja não é uma agremiação ideológica, como o senhor tenta fazer crer. Para nós, a Igreja é um hospital de Campanha em meio a uma guerra. Nós somos os mutilados. E vocês, essa geração morna, essa geração com essa cara de pamonha, com essas musiquinhas alegrinhas e meladas, com esse “sentir-se bem consigo mesmo em primeiro lugar”, com essas campanhas politizadas idiotas, com essas palminhas e dancinhas, com toda essa coisa afeminada e paumolenga dentro da Igreja, com essas vozes e atitudes que não correspondem ao heroísmo e à virilidade dos Santos e Mártires, aqueles que realmente falam conosco através dos séculos, essa sua geração quer nos tirar o Hospital de Campanha que procuramos e transforma-lo numa sala de espera de um consultório de dentista. Vocês acham que temos apenas uma dor-de-dentes, quando o nosso problema verdadeiro é que, embora amemos Cristo como loucos e ao nossa modo inconveniente, vislumbramos a grande probabilidade de passarmos o resto da eternidade no inferno – um inferno no qual estamos convictos vocês nem acreditam mais. Sim! Somos quentes! Coléricos! Estamos fervilhando! Não de ódio, como o senhor supõe, e sim porque temos o cor inquietum de que padecia Santo Agostinho. Procuramos o silêncio da Igreja para um encontro pessoal com Cristo, a fim de aplacar esse coração inquieto, mas ao transpor o vestíbulo tudo que encontramos é alguém gritando num megafone ou um sujeito tocando um violãozinho. Entendeu? Vocês nos oferecem ou o megafone ou o violão, mas a gente só quer rezar em paz!

Esse é o problema que o atual clero é incapaz de compreender. Vocês procuram suas respostas para a inquietação de uma geração de católicos em Bauman, Karnal e seja lá qual for o intelectual pagão da moda na mídia, e nós, essa geração de fracassados espirituais, procuramos em Santo Agostinho, Santo Tomás, em Santa Teresinha do Menino Jesus, em São Damião de Molokai, em São João Paulo II, no Sangue escorrendo de Cristo na Cruz, que nos humilha por instantaneamente entendermos que aquele Sangue foi derrubado por cada um de nós, por mim, por compreendermos que essa é a maior sacanagem do mundo, Deus enviar seu Filho para morrer por um bosta como eu, que não vale uma gota daquele precioso Sangue, e que provavelmente não se emendará senão por obra desse mesmo amor não correspondível!

Nós procuramos na Igreja um Santo que nos oriente, não um cara bonzinho que faz selfie com mensagem motivacional no Instagram.

Esse é o tamanho do buraco. Nós somos o lumpen-catolicismo e chegamos para ficar.

Silvio Grimaldo

Acompanhe a polêmica suscitada pelo leigo Bernardo Pires Kuster nos posts abaixo: