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O que disse o Papa sobre os preservativos?

Autor: James Akin
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Fonte: http://infocatolica.com/blog/

O novo livro de Bento XVI, “Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, nem sequer tinha sido publicado e já estava no centro de uma controvérsia nos meios de comunicação on-line.

A polêmica explodiu na semana passada, quando o L’Osservatore Romano violou unilateralmente o embargo sobre o livro, publicando alguns extratos em língua italiana das diversas declarações do Papa, para grande desgosto dos editores em todo o mundo, que trabalhavam cuidadosamente visando um lançamento orquestrado do livro, que se daria na terça-feira seguinte.

Um dos extratos tratava do uso de preservativos para tentar evitar a propagação da AIDS e a imprensa imediatamente tirou proveito disto (p.ex.: Reuters, Associated Press, BBC Online). E assim, surgiram manchetes como:

– Papa diz que os preservativos são admissíveis em certos casos para deter a AIDS
– Papa: “Os preservativos justificam-se em alguns casos”
– Papa diz que os preservativos podem ser usados na luta contra a AIDS

Particularmente notória é a declaração de William Crawley, da BBC:

“O Papa Bento XVI parece ter alterado a postura oficial do Vaticano sobre o uso de preservativos, adotando uma posição moral que muitos teólogos católicos já recomendavam há muito tempo”.

Bah!

Pois bem: em primeiro lugar, trata-se de um livro de entrevistas. O Papa foi entrevistado. Não estava exercendo seu múnus oficial de ensinar. Este livro não é uma encíclica, uma constituição apostólica, uma bula papal, nem nada semelhante. Não é uma publicação da Igreja. Trata-se de uma entrevista realizada por um jornalista, em idioma alemão. Consequentemente, o livro não representa um ato do Magistério da Igreja, nem tem a capacidade de “alterar a postura oficial do Vaticano” em nada. Não possui força dogmática nem canônica. O livro – que é fascinante e sem precedentes, mas isto é tema para outra oportunidade – constitui aquilo que se classifica como opiniões pessoais do Papa sobre as perguntas questionadas pelo entrevistador Peter Seewald.

E como o Papa Bento XVI observa no livro:

“Há que se dizer que o Papa pode ter opiniões privadas que se encontram equivocadas”.

Não estou assinalando isto para insinuar que naquilo que o Papa Bento XVI fala a respeito dos preservativos está incorreto – chegaremos a este ponto ao seu tempo – mas para indicar o contexto da situação, deixando claro que se trata das opiniões privadas do Papa. São apenas isto: opiniões privadas. Não é ensino oficial da Igreja. Então, continuemos…

Entre os desserviços do L’Osservatore Romano feitos para romper o embargo do livro da maneira que fez, houve também o fato de que apenas publicou um pequeno trecho da seção em que o Papa discutia sobre o uso dos preservativos. Como resultado, o leitor não tinha como ver o contexto das suas declarações e, assim, garantir que a imprensa secular não estava tomando as observações do Papa fora do seu contexto (o que seria feito de qualquer modo, mas talvez nem tanto). Especialmente notório é o fato de que o L’Osservatore Romano omitiu o material onde Bento esclarece sua declaração sobre os preservativos, em uma pergunta logo a seguir.

Com efeito, o L’Osservatore Romano causou um grande dano tanto às comunidades católicas quanto às não-católicas.

Felizmente, agora você pode ler o texto completo das declarações do Papa.

Ademais, prevendo a controvérsia que estas palavras poderiam produzir, a drª. Janet Smith preparou um guia útil sobre o que o Papa disse e não disse.

Lancemos vista aos comentários do Papa, para ver o que ele realmente disse.

“Seewald: (…) Na África, se apontou que o ensino tradicional da Igreja demonstrou ser a única maneira segura de se deter a propagação do HIV. Os críticos, incluindo a crítica dentro das próprias fileiras da Igreja, objetam que é uma loucura proibir a população de alto risco de usar preservativos.

Bento XVI: (…) Em minha intervenção, eu não estava fazendo uma declaração geral sobre o tema do preservativo, mas apenas dizendo – e isto é o que causou grande ofensa -, que não podemos resolver o problema mediante a distribuição de preservativos. Resta muito o que fazer. Devemos estar próximos das pessoas; devemos guiá-los e ajudá-los; e temos que fazer isto antes e depois do contágio com a doença. É um fato, como você já sabe, que as pessas podem obter preservativos quando o desejarem, de qualquer modo. Porém, isto serve apenas para demonstrar que os preservativos por si próprios não resolvem o problema em si mesmo. Muito mais precisa ser feito. Enquanto isso, no âmbito secular, desenvolveu-se a teoria chamada ‘ABC’ – abstinência, fidelidade, preservativo -, em que se entende o preservativo somente como um último recurso, quando os outros dois pontos foram rejeitados. Isto quer dizer que concentrar-se no preservativo implica em uma banalização da sexualidade, e, além de tudo, é precisamente a origem perigosa da atitude da sexualidade, não como a expressão do amor, mas como uma espécie de entorpecente que as pessoas administram a si mesmas. Esta é a razão pela qual a luta contra a banalização da sexualidade é parte também da luta para garantir que a sexualidade seja tratada como um valor positivo e para que possa ter um efeito positivo na totalidade de ser do homem”.

Consideremos que o argumento geral do Papa é que os preservativos não resolvem o problema da AIDS. Em apoio disto, ele aponta vários argumentos:

1) As pessoas já podem obter preservativos, mas é evidente que o problema não foi resolvido.

2) No mundo secular foi proposto o ‘Programa ABC’, em que o preservativo só será usado quando os dois primeiros procedimentos verdadeiramente eficazes – a abstinência e a fidelidade – tiverem sido rejeitados. Assim, a proposta secular do ABC reconhece inclusive que os preservativos não são a única solução. Eles não funcionam tão bem quanto a abstinência e a fidelidade. Os dois primeiros são melhores.

3) Concentrar-se no uso do preservativo representa uma banalização (trivialização) da sexualidade, que se converte de ato de amor em ato de egoísmo. Para que o sexo desempenhe o papel positivo que deve ter, esta banalização do sexo – e, portanto, a fixação nos preservativos – deve ser resistida.

Esse é o contexto da afirmação que a imprensa reproduziu:

“Pode haver casos individuais justificados como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Porém, não é realmente a maneira de tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade”.

Há várias coisas a se considerar: em primeiro lugar, leve em conta que o Papa diz que: “Pode haver casos individuais justificados”, e não que: “Está justificado”. Esta é uma linguagem especulativa. Mas sobre o quê o Papa especula? Que o uso do preservativo está moralmente justificado? Não, não foi isso o que ele disse, mas que pode haver casos “sempre e quando [o uso do preservativo] pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido”.

Em outras palavras, como diz Janet Smith:

“O Santo Padre está simplesmente observando que para alguns prostitutos homossexuais o uso de um preservativo pode indicar um despertar do sentido moral, um despertar acerca de que o prazer sexual não é o valor máximo, mas que devemos ter o cuidado de não prejudicar ninguém em nossas escolhas. Ele não está falando de uma moralidade do uso de preservativos, mas de algo que pode ser certo sobre o estado psicológico daqueles que os usam. Se estas pessoas, usando preservativos, o fazem com o fim de evitar prejudicar outras, com o passar do tempo perceberão que os atos sexuais entre membros do mesmo sexo são intrinsecamente maus, já que não estão de acordo com a natureza humana”.

Pelo menos isto é o máximo que se pode razoavemente inferir das declarações do Papa, o que poderia ser expresso com maior clareza (e espero que o Vaticano emita um esclarecimento urgente).

Em segundo lugar, repare que o Papa segue imediatamente sua declaração acerca da prostituição homossexual usuária de preservativos com a afirmação: “Porém, não é realmente a maneira de se tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade”.

Por “uma humanização da sexualidade”, o Papa quer reconhecer a verdade sobre a sexualidade humana, que deve ser exercida de maneira amorosa, fiel entre um homem e uma mulher unidos em matrimônio. Esta é a verdadeira solução e não colocar um preservativo e manter relações sexuais promíscuas com pessoas infectadas com um vírus mortal.

Neste momento da entrevista, Seewald faz uma pergunta de continuidade, e é verdadeiramente um crime que o L’Osservatore Romana não tenha reproduzido esta parte:

“Seewald: Quer dizer, então, que a Igreja Católica, na realidade, não se opõe em princípio ao uso dos preservativos?

Bento XVI: Ela, obviamente, não os considera como solução real ou moral, porém, neste ou em outro caso, pode haver, todavia, a intenção de reduzir o risco da infecção, como um primeiro passo para uma forma distinta e mais humana de viver a sexualidade”.

Assim, Bento XVI reitera que esta não é uma solução real (prática) para a crise da AIDS, nem tampouco uma solução moral. No entanto, em alguns casos, o uso de preservativo mostra “a intenção de reduzir o risco da infecção”, que é “um primeiro passo para… uma forma mais humana de viver a sexualidade”.

Portanto, não está dizendo que o uso de preservativos é justificado, mas que pode mostrar uma intenção particular e que esta intenção é um passo na direção correta.

Janet Smith oferece uma analogia útil:

“Se alguém fosse assaltar um banco e estava decidido em empregar uma arma de fogo, seria melhor para essa pessoa usar uma arma desmuniciada: reduzir-se-ia o risco de lesões mortais. Porém, não é tarefa da Igreja ensinar possíveis assaltantes de banco a assaltar bancos de uma maneira mais segura; menos ainda é tarefa da Igreja apoiar programas para oferecer a possíveis assaltantes de banco armas de fogo incapazes de ser municiadas. Não obstante, a intenção de um assaltante de banco em assaltar um banco de uma maneira que é mais segura para os funcionários e clientes do banco pode indicar um elemento de responsabilidade moral que poderia ser um passo para a compreensão final da imoralidade que é o assalto a bancos”.

Muito mais se poderia dizer de tudo isto, mas pelo que vimos, já resta claro que as declarações do Papa devem ser lidas com cuidado e que não constituem o tipo de licença para o uso de preservativos que os meios de comunicação desejam.

Há mais por vir…

New York Times difama o Papa Bento, explica editor do Wall Street Journal

William  Mc Gurn WASHINGTON DC, 08 Abr. 10 / 12:46 pm (ACI).- William McGurn é o Vice-presidente da News Corporation, proprietária do Wall Street Journal, é ademais especialista em política internacional e foi assistente da Casa Branca durante a administração George W. Bush. Está acostumado a escrever os discursos de Rupert Murdoch, o magnata australiano dono do mencionado jornal e da citada corporação. Em um recente artigo explica a verdade sobre alguns fatos ocultos pelo New York Times em sua campanha difamatória contra o Papa Bento XVI.

No texto de 6 de abril, McGurn responde a dois artigos do New York Times escritos por Laurie Goodstein. O editor explica que os documentos apresentados pelo NYT foram proporcionados por Jeff Anderson e Mike Finnegan, de quem se diz são “advogados de cinco homens que processaram a Arquidiocese de Milwaukee”.

McGurn adverte que Goodstein não diz nada mais sobre quem é realmente o advogado Anderson. Em seu artigo ela dá alguns detalhes sobre ele: “no que se refere a processos contra a Igreja, ele é o principal advogado. No ano 2002 ele disse à Associated Press que havia faturado 60 milhões de dólares em acordos com a Igreja; e inclusive a outro semanário ele afirmou que ‘estava processando e deixando a Igreja pobre em todos os lados’”. (A expressão grosseira em inglês de Anderson é irreproduzível e ACI Digital faz esta tradução que aproxima de alguma forma à idéia original).

McGurn assinala logo que “nada disto faz que não valha a pena citar Anderson. O que faz o artigo é convertê-lo em uma parte muito mais importante do que a história (de Goodstein) mostra. De fato, é difícil pensar em alguém com interesse financeiro superior a este, sobre tudo quando se tenta promover a idéia de uma Igreja que não atua contra sacerdotes abusadores, culpando de maneira pessoal o Papa Bento XVI“.

Ao ser perguntado sobre os documentos proporcionados por Anderson ao New York Times incluem alguns textos chave sobre algumas reuniões no Vaticano entre três bispos de Wisconsin (onde se encontra Milwaukee) e o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Tarcisio Bertone. Escritos originalmente em italiano, foram “traduzidos insuficientemente” ao inglês usando um tradutor computadorizado.

Devidamente traduzidos, os documentos mostram que a Arquidiocese de Milwaukee criava barreiras para o processo canônico. Entretanto, em seu artigo McGurn proporciona informação adicional e desafia o New York Times sobre as afirmações que faz sobre o fato que o Pe. Murphy nunca teria sido disciplinado ou submetido ao sistema de justiça da Igreja. De fato, ele foi suspenso como sacerdote, um processo que o editor assinala como o equivalente a retirar a licença de um médico.

O Vice-presidente da News Corporation assinala também que “alguns anos depois, quando a Congregação para a Doutrina da Fé assumiu a autoridade sobre todos os casos de abuso, o então Cardeal Ratzinger estabeleceu várias mudanças que permitiram uma ação administrativa direta em vez de processos que demorariam anos. Quase 60 por cento dos sacerdotes acusados de abuso sexual foram tratados assim”.

McGurn explica que “o homem que é agora Papa reabriu casos que tinham sido fechados”, e que ele “fez mais que nenhum outro para processar casos e responder aos abusadores, e se converteu no primeiro Papa a falar com as vítimas”.

“Não é esta acaso a mais razoável interpretação de todos estes eventos: que a experiência do Cardeal Ratzinger com casos como o de Murphy o levaram a promover reformas que deram à Igreja armas mais efetivas para dirigir os abusos sacerdotais?”, questiona logo.

Para o editor do WSJ, é necessário que a imprensa proporcione “um pouco de contexto e mostre um pouco de cepticismo jornalístico sobre o que é relatado por um advogado de defesa que faz milhões com este tipo de casos” como Jeff Anderson.

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