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Cassiodoro de Squillace

Por Papa Bento XVI
Tradução: Élison Santos
Fonte: Vaticano/Zenit

Queridos irmãos e irmãs:

Quero falar hoje de (…) Cassiodoro, que [também viveu] em uma das épocas mais atribuladas do Ocidente cristão, em particular na península italiana. Odoacro, rei dos hérulos, uma etnia germânica, havia se rebelado, acabando com o império romano do Ocidente (ano 476), mas logo sucumbiu aos ostrogodos de Teodorico, que durante algumas décadas controlaram a península italiana.

Marco Aurélio Cassiodoro foi contemporâneo de Boécio. Calabrês, nascido em Squillace por volta do ano 485, morreu muito ancião em Vivarium, por volta do ano 580. Procedente também de um elevado nível social, ele se dedicou à vida política e ao compromisso cultural como poucos outros no Ocidente romano de seu tempo. Talvez os únicos que poderiam se igualar a ele neste duplo interesse eram o já recordado Boécio, e o futuro Papa de Roma, Gregório Magno (590-604).

Consciente da necessidade de não deixar no esquecimento todo o patrimônio humano e humanista acumulado nos séculos de ouro do Império Romano, Cassiodoro colaborou generosamente, nos mais elevados níveis de responsabilidade política, com os povos novos que haviam atravessado as fronteiras do Império e se haviam estabelecido na Itália. Também foi modelo de encontro cultural, de diálogo, de reconciliação. As vicissitudes históricas não lhe permitiram realizar seus sonhos políticos e culturais, que buscavam criar uma síntese entre a tradição romano-cristã da Itália e a nova cultura gótica. Aquelas mesmas vicissitudes o convenceram sobre o caráter providencial do movimento monástico, que ia se afirmando nas terras cristãs. Decidiu apoiá-lo, dedicando a isso todas as suas riquezas materiais e suas forças espirituais.

Teve a idéia de confiar precisamente aos monges a tarefa de recuperar, conservar e transmitir às gerações futuras o imenso patrimônio cultural dos antigos, para que não se perdesse. Por isto fundou Vivarium, um cenóbio no qual tudo estava organizado de maneira que se estimasse como extremamente belo e irrenunciável o trabalho intelectual dos monges. Estabeleceu também que os monges que não tinham uma formação intelectual não se dedicariam só ao trabalho material, da agricultura, mas também à transcrição dos manuscritos para que deste modo ajudassem na transmissão da grande cultural às futuras gerações.

E isso sem que fosse em detrimento algum do compromisso espiritual monástico e cristão e da atividade caritativa pelos pobres. Em seu ensinamento, distribuído em várias obras, mas sobretudo no tratado «De anima e no Institutiones divinarum litterarum», a oração (C. PL 69, col. 1108), alimentada pela Sagrada Escritura e particularmente pela meditação assídua dos Salmos (cf. PL 69, col. 1149), tem sempre um lugar central como comida necessária para todos.

Este douto calabrês introduz assim sua «Expositio in Psalterium»: «Rejeitadas e abandonadas em Ravena as solicitudes da carreira política, caracterizada pelo sabor desgostoso das preocupações mundanas, tendo desfrutado do Saltério, livro caído do céu como autêntico mel para a alma, lancei-me avidamente como um sedento para escrutá-lo e deixar-me penetrar totalmente por essa doçura saudável, depois de ter me saciado das inumeráveis amarguras da vida ativa» (PL 70, col. 10).

A busca de Deus, orientada à sua contemplação – escreve Cassiodoro –, continua sendo o objetivo permanente da vida monástica (cf. PL 69, col. 1107). Contudo, acrescenta que com a ajuda da graça divina (cf. PL 69, col. 1131.1142), pode se desfrutar melhor da Palavra revelada, utilizando as conquistas científicas e culturais «profanas» que os gregos e os romanos possuíam (cf. PL 69, col. 1140). Cassiodoro se dedicou pessoalmente aos estudos filosóficos, teológicos e exegéticos sem particular criatividade, mas prestando atenção nas intuições que considerava válidas nos demais. Lia com respeito e devoção sobretudo Jerônimo e Agostinho. Deste último, dizia: «Em Agostinho há tanta riqueza que me parece impossível encontrar algo que já não tenha sido tratado abundantemente por ele» (cf. PL 70, col. 10).

Citando Jerônimo, exortava os monges de Vivarium: «Não alcançam a palma da vitória somente aqueles que lutam até derramar o sangue ou que vivem na virgindade, mas também todos aqueles que, com a ajuda de Deus, vencem os vícios do corpo e conservam a reta fé. Mas para que possais vencer com a ajuda de Deus mais facilmente os estímulos do mundo, permanecendo nele como peregrinos em contínuo caminho, buscai antes de tudo a saudável ajuda sugerida pelo primeiro salmo, que recomenda meditar dia e noite na lei do Senhor. O inimigo não encontrará, de fato, nenhuma entrada para assaltar-vos se toda vossa atenção está ocupada em Cristo» («De Institutione Divinarum Scripturarum», 32; PL 69, col. 1147).

É uma advertência que também podemos considerar como válida para nós. Vivemos, de fato, também nós, em um tempo de encontro de culturas, de perigo de violência que destrói as culturas, e no qual é necessário o compromisso para transmitir os grandes valores e ensinar às novas gerações o caminho da reconciliação e da paz. Encontramos este caminho orientando-nos para o Deus com rosto humano, o Deus que se nos revelou em Cristo.

Hábito da leitura diária da Bíblia é "inestimável fonte de consolação", diz cardeal

Dom Eugenio de Araújo Sales destaca importância do Magistério eclesiástico
RIO DE JANEIRO, segunda-feira, 24 de setembro de 2007 (ZENIT.org).- Segundo o arcebispo emérito do Rio de Janeiro, o hábito da leitura diária da Bíblia é uma «inestimável fonte de consolação nos sofrimentos e angústias».

Em mensagem aos fiéis difundida pelo site de sua arquidiocese, o cardeal Eugenio de Araújo Sales destaca também que a leitura assídua da Palavra de Deus é um «precioso elemento formador da vida cristã e sustentáculo na luta pela fidelidade aos ensinamentos salvíficos que nos vêm de Jesus Cristo».

Neste último domingo de setembro, celebra-se no Brasil o Dia da Bíblia. Nesse contexto, o cardeal Araújo Sales recorda que o texto bíblico, por sua riqueza e complexidade, merece sempre comentário criterioso e autorizado.

«Variadas correntes de pensamento buscam apoio em citações bíblicas. Às vezes, a tradução é exata, mas o leitor é levado a desvios doutrinários, com afirmações alheias ao verdadeiro objetivo para o qual foram escritos os livros sagrados», afirma.

De acordo com o cardeal, «é necessária uma constante cautela, para não sermos conduzidos a ensinamentos que nos afastem de Cristo e sua Igreja».

«Esse perigo já existia na antiguidade e mereceu de São Pedro, em sua segunda Epístola, uma advertência: “(…) como nosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu (…). Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam (…)” (2Pd 3,16).»

Dom Eugenio afirma que nem sempre tem sido fácil o cumprimento dessa orientação. «Lemos em S. Lucas (cap. 24) um caso típico: os discípulos de Emaús, desanimados, sofrem uma admirável transformação quando Jesus lhes explica o exato sentido dos textos sagrados. De derrotados tornam-se vitoriosos e retornam a Jerusalém como testemunhas da ressurreição».

«Hoje, também, o Espírito Santo age em nós, de modo particular, através do Magistério eclesiástico, esclarecendo-nos, animando-nos, para que a Sagrada Escritura produza seus admiráveis resultados em nossa vida.»

O arcebispo emérito do Rio de Janeiro explica que, no Dia da Bíblia, considera-se a grande importância da meditação da Palavra de Deus e que o crescimento da vida cristã está vinculado à reflexão sobre esses escritos.

«Os Círculos Bíblicos proporcionam abundantes frutos aos que deles participam. Uma pequena comunidade se reúne em torno do Livro. Lidos seus ensinamentos, são aplicados, após reflexão, à vida individual e social», afirma.

Segundo o cardeal Araújo Sales, hoje, são muitas as facilidades para o aprofundamento bíblico, através de cursos.

«A Escola “Mater Ecclesiae”, fundada, em 1964, pelo cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, então arcebispo do Rio, já formou milhares de estudantes da Bíblia em suas salas de aula. Além disto, ministra cursos por correspondência, estes desde 1984, abrangendo não somente as Sagradas Escrituras, mas também as demais disciplinas teológicas. Atendeu a milhares de alunos no Brasil e no exterior nos 23 anos de sua existência. Os benefícios espirituais são muitos», destaca.

«No Domingo da Bíblia, reanimemos nosso amor à Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo, a gratidão pela presença do Senhor, através de Sua mensagem salvífica. E, em conseqüência, a fidelidade em seguir os rumos aí traçados. Eles nos conduzem a Deus», afirma o arcebispo emérito.

"Bento XVI já não é um Papa novo", diz imprensa italiana

VATICANO, 25 Mai. 07 / 12:00 am (ACI).- Diversos artigos da imprensa italiana, inclusive aqueles pouco simpatizantes do Santo Padre, reconheceram que o discurso que o Papa Bento XVI pronunciou ontem ante o episcopado italiano demonstra a surpreendente familiaridade do Pontífice com a complexa realidade italiana.

Fala da Itália como se a conhecesse melhor que nós“, intitulou em um editorial o jornal católico italiano Avvenire, resumindo a reação da imprensa local ante o discurso do Pontífice aos membros da Conferencia Episcopal Italiana (CEI) onde abordou não só os numerosos desafios pastorais que enfrentam os bispos italianos, mas também o papel histórico do catolicismo na constituição da nação e o direito da Igreja a participar do âmbito público e na construção da sociedade.

Já não se trata de um Papa novo. Bento XVI fala com os bispos italianos como quem se sente dentro desta Igreja, da qual é o Primaz, além de Pontífice”, escreve o jornalista Dino Boffo. “A conhece inclusive de maneira pessoal”, adicionou.

Boffo elogiou além disso “o olho do Papa estrangeiro que consegue ver aquilo que nós italianos não vemos, mas longe de elogiar, pede que se tenha em conta ‘as dificuldades presentes’ e das ‘insídias que podem crescer’ no marco de uma cultura cada vez mais secularizada”, adiciona.

O jornalista conclui seu comentário recordando como recentemente na cidade de Florência o Presidente da Itália sugeriu energicamente prestar atenção às sugestões e chamadas da Igreja. “trata-se de uma advertência que certamente se volta ainda mais significativa em seguida do encontro de ontem com os bispos italianos”, conclui.

Cardeal Biffi apresenta anticristo ao Papa e à Cúria

Reduzir o cristianismo a uma ideologia esquecendo o encontro com Cristo salvador

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007 (ZENIT.org).- O cardeal Giacomo Biffi apresentou a Bento XVI e à Cúria Romana «a advertência profética de Vladimir S. Soloviev» sobre o anticristo.

O pregador dos exercícios espirituais fez referência ao filósofo e poeta russo, que viveu entre 1853 e 1900, para explicar que o anticristo, na verdade, consiste em reduzir o cristianismo a uma ideologia, em vez de ser um encontro pessoal com Cristo salvador.

Citando a obra de Soloviev, «Três diálogos» (1899), o arcebispo emérito de Bolonha recordou que «o anticristo se apresenta como pacifista, ecologista e ecumenista».

«Convocará um Concílio ecumênico e buscará o consenso de todas as confissões cristãs, concedendo algo a cada um. As massas o seguirão, menos alguns pequenos grupos de católicos, ortodoxos e protestantes», disse.

Segundo a síntese de sua pregação desta terça-feira pela tarde, oferecida pela «Rádio Vaticano», o cardeal explicou que «o ensinamento que o grande filósofo russo nos deixou é que o cristianismo não pode ser reduzido a um conjunto de valores. No centro do ser cristão está, de fato, o encontro pessoal com Jesus Cristo».

«Chegarão dias nos quais na cristandade se tratará de resolver o fato salvífico em uma mera série de valores», escreveu Soloviev nessa obra.

Em seu «Relato sobre o anticristo» Soloviev prevê que um pequeno grupo de católicos, ortodoxos e filhos da Reforma, resistirá e responderá ao anticristo: «Tu nos dás tudo, menos o que nos interessa, Jesus Cristo».

Para o cardeal Biffi,esta narração é uma advertência. «Hoje, de fato, corremos o risco de ter um cristianismo que põe entre parênteses Jesus com sua Cruz e Ressurreição», lamentou.

O arcebispo explicou que, se os cristãos se «limitassem a falar de valores compartilháveis, seriam mais aceitos nos programas de televisão e nos grupos sociais. Mas desta maneira teriam renunciado a Jesus, à realidade surpreendente da Ressurreição».

Para o purpurado italiano, este é «o perigo que os cristãos correm em nossos dias»: «o Filho de Deus não pode ser reduzido a uma série de bons projetos homologáveis com a mentalidade mundana dominante».

Contudo, precisou o purpurado, «isso não significa uma condenação dos valores, mas que estes devem ser submetidos a um atento discernimento. Há valores absolutos, como o bem, a verdade, a beleza. Quem os percebe e os ama, ama também Cristo, ainda que não saiba, porque Ele é a verdade, a beleza, a justiça».

O pregador dos exercícios precisou na capela «Redemptoris Mater», do Palácio Apostólico do Vaticano, que, por outro lado, «há valores relativos, como a solidariedade, o amor pela paz e o respeito pela natureza. Se estes se convertem em absolutos, desarraigando ou inclusive opondo-se ao anúncio do fato da salvação, então estes valores se convertem em instigação à idolatria e em obstáculos no caminho da salvação».

Ao concluir, o cardeal Biffi afirmou que «se o cristão, para abrir-se ao mundo e dialogar com todos, dilui o fato salvífico, fecha-se à relação pessoal com Jesus e se coloca do lado do anticristo».

Os exercícios espirituais concluirão na manhã do próximo sábado. Durante esta semana o Papa não está mantendo nem audiências públicas nem privadas.

A ciência não nega Deus

Temos visto ultimamente uma empreitada de cientistas ateus que querem usar a Ciência para negar Deus, como se pudessem explicar o mundo e o homem, estão longe disso. A Edição 443 – 13/11/2006 – da revista Época trouxe uma reportagem (A Igreja dos novos ateus) sobre um grupo de cientistas ateus que partiram para uma “cruzada contra a fé” no mundo, entre eles o filósofo americano Daniel Dennett, Richard Dawkins, Sam Harris, e outros.

Em contraponto a essa onde de ateísmo, o renomado cientista americano Francis Collins, desmente os seus colegas ateus de que a Ciência exclui Deus. Ele é um dos cientistas mais respeitados do mundo; é o biólogo que desvendou o genoma humano, Diretor do “Projeto Genoma Humano”, patrocinado pelo governo dos EUA. Em 2001, Dr. Collins foi responsável pelo mapeamento do DNA humano. É o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo, Ele explica porque é possível aceitar a teoria da evolução sem desprezar a Deus e a Sua ação na Criação. (Veja, Edição n. 1992 de 24 jan 07)

Dr. Collins lançou recentemente nos Estados Unidos o livro “The Language of God” (A Linguagem de Deus), com 300 páginas onde conta como deixou de ser “ateu insolente” para se tornar cristão aos 27 anos e narra as dificuldades que enfrentou no meio acadêmico ao revelar sua fé. Ele afirma: “As sociedades precisam tanto da ciência como da religião. Elas não são incompatíveis, mas complementares”. Veja algumas de suas afirmações mais importantes:

Sobre a sua conversão aos 27 anos ele diz:

“Houve um período em minha vida em que era conveniente não acreditar em Deus. Eu era jovem, e a física, a química e a matemática pareciam ter todas as respostas para os mistérios da vida. Reduzir tudo a equações era uma forma de exercer total controle sobre meu mundo. Percebi que a ciência não substitui a religião quando ingressei na faculdade de medicina. Vi pessoas sofrendo de males terríveis. Uma delas, depois de me contar sobre sua fé e como conseguia forças para lutar contra a doença, perguntou-me em que eu acreditava. Disse a ela que não acreditava em nada. Pareceu-me uma resposta vaga, uma frase feita de um cientista ingênuo que se achava capaz de tirar conclusões sobre um assunto tão profundo e negar a evidência de que existe algo maior do que equações. Eu tinha 27 anos. Não passava de um rapaz insolente. Estava negando a possibilidade de haver algo capaz de explicar questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem as pessoas superar desafios.”

“Falo de questões filosóficas que transcendem a ciência, que fazem parte da existência humana. Os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida sobre perguntas que todos nós, seres humanos, nos fazemos todos os dias. “O que acontece depois da morte?” ou “Qual é o motivo de eu estar aqui?”. Não é certo negar aos seres humanos o direito de acreditar que a vida não é um simples episódio da natureza, explicado cientificamente e sem um sentido maior. Esse lado filosófico da fé, na minha opinião, é uma das facetas mais importantes da religião. A busca por Deus sempre esteve presente na história e foi necessária para o progresso. Civilizações que tentaram suprimir a fé e justificar a vida exclusivamente por meio da ciência – como, recentemente, a União Soviética de Stalin e a China de Mao – falharam. Precisamos da ciência para entender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio nos assuntos espirituais.”

Sobre a posição dos cientistas ateus, como Richard Dawkins:

“Essa perspectiva de Dawkins é cheia de presunção. Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. No ano passado foram lançados vários livros de cientistas renomados, como Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris, que atacam a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda existem. É o que nos cabe.”

Sobre os erros das religiões:

“Apesar de tudo o que já aconteceu, coisas maravilhosas foram feitas em nome da religião. Pense em Madre Teresa de Calcutá ou em William Wilberforce, o cristão inglês que passou a vida lutando contra a escravatura. O problema é que a água pura da fé religiosa circula nas veias defeituosas e enferrujadas dos seres humanos, o que às vezes a torna turva. Isso não significa que os princípios estejam errados, apenas que determinadas pessoas usam esses princípios de forma inadequada para justificar suas ações. A religião é um veículo da fé – essa, sim, imprescindível para a humanidade.”

Sobre o “design inteligente”:

“Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de “lacuna divina”. Lamento que o movimento do design inteligente tenha caído nessa cilada ao usar o argumento de que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe. Todos os sistemas complexos citados pelo design inteligente – o mais citado é o “bacterial flagellum”, um pequeno motor externo que permite à bactéria se mover nos líquidos – são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, que nada vai acontecer. Isso porque esses mecanismos se formaram gradualmente através do recrutamento de outros componentes. No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução.”

Sobre a compatibilidade da teoria da Evolução e Deus:

“Se no começo dos tempos Deus escolheu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para produzir criaturas que à sua imagem tenham livre-arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”

Sobre a Biblia:

“Santo Agostinho, no ano 400, alertou para o perigo de se achar que a interpretação que cada um de nós dá à Bíblia é a única correta, mas a advertência foi logo esquecida. Agostinho já dizia que não há como saber exatamente o que significam os seis dias da criação. Um exemplo de que uma interpretação unilateral da Bíblia é equivocada é que há duas histórias sobre a criação no livro do Gênesis, 1 e 2 – e elas são discordantes. Isso deixa claro que esses textos não foram concebidos como um livro científico, mas para nos ensinar sobre a natureza divina e nossa relação com Ele. Muitas pessoas que crêem em Deus foram levadas a acreditar que, se não levarmos ao pé da letra todas as passagens da Bíblia, perderemos nossa fé e deixaremos de acreditar que Cristo morreu e ressuscitou. Mas ninguém pode afirmar que a Terra tem menos de 10 000 anos a não ser que se rejeitem todas as descobertas fundamentais da geologia, da cosmologia, da física, da química e da biologia.”

Sobre a ressurreição, milagres, etc.:

“Eu acredito na Ressurreição. Também acredito na Virgem Maria e em milagres. A questão dos milagres está relacionada à forma como se acredita em Deus. Se uma pessoa crê e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está pelo menos em parte fora dessa natureza, então é totalmente aceitável que esse Deus seja capaz de intervir no mundo natural. Isso pode aparecer como um milagre, que seria uma suspensão temporária ou um adiamento das leis que Deus criou. Eu não acredito que Deus faça isso com freqüência – nunca testemunhei algo que possa classificar como um milagre. Se Deus quis mandar uma mensagem para este mundo na figura de seu filho, por meio da Ressurreição e da Virgem Maria, e a isso chamam milagre, não vejo motivo para colocar esses dogmas como um desafio para a ciência. Quem é cristão acredita nesses dogmas – ou então não é cristão. Faz parte do jogo.”

Sobre a genética comportamental:

“Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que permite sua sobrevivência e seu progresso, como sugerem os evolucionistas. Eles querem justificar tudo por meio da ciência, e isso acaba sendo usado para difundir o ateísmo. Há muitas teorias interessantes nessa área, mas são insuficientes para explicar os nobres atos altruístas que admiramos. O recado da evolução para cada um de nós é propagar o nosso DNA e tudo o que está contido nele. É a nossa missão no planeta. Mas não é assim, de forma tão lógica, que entendo o mundo, muito menos o altruísmo e a religiosidade. Penso em Oskar Schindler, que se sacrificou por um longo período para salvar judeus, e não pessoas de sua própria fé. Por que coisas desse tipo acontecem? Se estou caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa se afogar e decido ajudá-la mesmo pondo em risco a minha vida, de onde vem esse impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de certo e errado, a moral, que parece ser exclusiva da espécie humana.”

Fonte: http://www.cleofas.com.br/
Autor: Prof. Felipe Aquino
Data Publicação: 23/01/2007

Pregador do Papa: «Bem-aventurados os que choram»

I Pregação de Advento do Pe. Raniero Cantalamessa OFMCap.

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006 (ZENIT.org).- «“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). As bem-aventuranças evangélicas». Este é o tema das meditações que o padre Raniero Cantalamessa OFMCap., pregador da Casa Pontifícia, dirige ao Papa e a seus colaboradores da Cúria Romana.

Na presença de Bento XVI –na Capela «Redentoris Mater» do Palácio Apostólico vaticano–, esta sexta-feira aconteceu a primeira meditação de Advento; a segunda está programada para o próximo 22 de dezembro.

Como explica um comunicado da Casa Pontifícia, as bem-aventuranças são o auto-retrato de Jesus de Nazaré, pobre, manso, puro de coração e perseguido pela injustiça. Por isso, representam o caminho privilegiado a seguir para ter em si «os mesmos sentimentos de Cristo» (Fl 2, 5).

Já se aprofundou na bem-aventurança sobre os pobres de espírito tempos atrás. Assim que nas presentes meditações se busca refletir sobre as duas bem-aventuranças seguintes, a dos que choram e dos mansos, em especial consonância com o espírito litúrgico de Advento e necessárias para a Igreja na situação histórica atual.

Estes tempos de meditação estão abertos aos senhores cardeais, arcebispos e bispos, secretários das Congregações vaticanas, prelados da Cúria Romana e do Vicariato de Roma, e superiores gerais e procuradores das ordens religiosas que formam parte da Capela Pontifícia.

Publicamos a seguir o texto integral da primeira pregação deste Advento.

* * *

Pe. Raniero Cantalamessa
Primeira Pregação de Advento 2006

«Bem-aventurados os que choram!»
A bem-aventurança dos aflitos

Começamos com esta meditação um ciclo de reflexão sobre as bem-aventuranças que, se Deus quiser, prosseguiremos na próxima Quaresma. As bem-aventuranças têm conhecido, dentro do próprio Novo Testamento, um desenvolvimento e aplicações diferentes, segundo a teologia de cada evangelista ou as necessidades novas das comunidades. A elas se aplica o que São Gregório Magno diz de toda a Escritura, que ela «cum legentibus crescit» [1], cresce com aqueles que a lêem, revela sempre novas implicações e conteúdos mais ricos, de acordo com as instâncias e os questionamentos novos com os que se lê.

Manter a fé neste princípio significa que também hoje nós devemos ler as bem-aventuranças à luz das situações novas nas que nos encontramos vivendo, com a diferença, entende-se, de que as interpretações dos evangelistas estão inspiradas, e por isso normativas para todos e para sempre, enquanto que as de hoje não compartilham tal prerrogativa.

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