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Fala último colega de João Paulo II no seminário clandestino

Por Chiara Santomiero

ROMA, segunda-feira, 9 de maio de 2011 (ZENIT.org) – “Era agosto de 1944: quando, em Varsóvia, começou a insurreição contra os nazistas, o cardeal Sapieha decidiu reunir os estudantes. Essa foi a primeira vez em que vi Karol Wojtyla.”

O Pe. Kazimierz Suder, nascido em 1922, lê com voz tranquila as lembranças anotadas com escrita minuciosa nas folhas brancas apoiadas na frente dele. Do outro lado da mesa, como estudantes à espera de uma prova, estavam os jornalistas que chegaram a Cracóvia para recolher o testemunho do último sobrevivente entre os 8 jovens que compunham o seminário teológico clandestino organizado – quando já estava em curso a guerra – pelo indômito arcebispo de Cracóvia, Adam Sapieha, o último bispo-príncipe da cidade.

“Durante a ocupação nazista – explicou o Pe. Suder -, quando um seminarista manifestava ao cardeal a intenção de ser sacerdote, ele recomendava a cada um que estudasse em casa, escondido. Nenhum de nós conhecia os outros.”

Era uma medida que tinha se tornado necessária depois de que os nazistas encontraram cinco jovens seminaristas que passavam a noite no seminário fechado por imposição deles: foram presos e fuzilados, enquanto os outros tinham sido deportados a Auschwitz. Por isso, Sapieha tinha decidido manter a clandestinidade total do seminário.

João Paulo II “era um bom companheiro – recordou. Não tinha problemas de comunicação; era modesto no falar, enquanto preferia escutar; dava seu parecer sobre as questões, mas não impunha; tentava compreender o outro e não mentia jamais”.

O jovem Wojtyla emprestava anotações (cada página dos seus cadernos estava marcada com as iniciais de Jesus e Maria) e ajudava com prazer os colegas no estudo, mas não nas provas; a um colega que lhe havia pedido respostas durante uma prova, respondeu: “Concentre-se um momento, peça ajuda ao Espírito Santo e depois tente dar sozinho as suas respostas”.

“Ele tinha um olhar sereno – afirmou o Pe. Suder – e um grande senso de humor; gostava de ouvir piadas.” Fiel à disciplina do seminário, estava muito atento às aulas e era capaz de sintetizar; os professores estavam muito satisfeitos com ele.

“Após o fracasso da insurreição de Varsóvia, chegaram ao bispado os sacerdotes que tiveram de fugir das cidades, razão pela qual nós, os seminaristas, tivemos de ceder nossos quartos e dormimos todos juntos na sala das audiências do cardeal, onde também aconteciam as aulas”, prosseguiu o Pe. Suder.

Este período de vida estreitamente comum, que se prolongou até a chegada dos russos à cidade, em janeiro de 1945, aproximou muito os jovens: “Eu soube que ele tinha nascido em Wadovice, que tinha chegado a Cracóvia junto a seu pai, após a morte dos seus, e que depois, em 1941, quando seu pai também morreu, ele concluiu que o objetivo da sua vida era o sacerdócio”.

Outra característica do jovem Wojtyla que permaneceu viva na memória de seus companheiros de estudo foi “a sensibilidade com relação ao sofrimento humano. Ele entregava aos pobres tudo o que recebia, mas com muita discrição, para não ostentar sua generosidade”.

“Sobretudo – recordou Suder -, ele tinha o dom de saber rezar.” Rezava quase sempre de joelhos, com o terço na mão e o escapulário carmelita no pescoço. “Não separava o estudo de teologia da oração: para ele, era tudo uma unidade. Depois da oração da noite, ele ficava na capela com um manual de teologia ou o caderno de anotações; o estudo ligado à oração – e vice-versa – era uma característica sua.”

Suder recorda esses anos distantes, a capela da rua Franciszkanska, onde frequentemente à noite os jovens viam o cardeal Sapihea, feroz opositor aos nazistas e catalisador da resistência polonesa, estendido no chão com os braços em forma de cruz; volta a pensar em seu antigo companheiro de estudos, cuja efígie sorri hoje da Basílica de São Pedro, e admite com humildade: “Nunca consegui chegar à sua concentração na oração”.

Wojtyla foi ordenado sacerdote em 1º de novembro de 1946; no dia seguinte, celebrou sua primeira Missa na capela de São Leonardo, da Catedral de Wawel, e, em 10 de novembro, na paróquia de Wadowice.

“Nessa mesma semana – recordou o Pe. Suder -, Karol partiu para Roma para fazer seu doutorado, depois de apenas dois anos de estudo no seminário.”

A grande aventura do homem que contribuiria para a transformação da história do seu país e do mundo tinha começado.

«Onde estava Deus?» – Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de Florianópolis (Brasil)

FLORIANÓPOLIS, sexta-feira, 23 de junho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos artigo de Dom Murilo S.R. Krieger, scj, arcebispo de Florianópolis (SC), enviado a Zenit pelo arcebispo essa quinta-feira.

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Onde estava Deus?

Algumas semanas atrás, o Papa Bento XVI visitou o campo de concentração de Auschwitz ? símbolo do que de pior produziu o regime nazista. Ali, tendo diante de si inúmeras cruzes, que lembram mortos de várias nacionalidades, fez algumas perguntas que correram o mundo: ?Onde estava Deus naqueles dias? Por que ele silenciava? Como pôde tolerar este excesso de destruição, este triunfo do mal?? As reações foram imediatas, e em vários tons: alguns o ridicularizaram, não entendendo tais perguntas na boca de um papa; outros o condenaram com palavras ácidas; e há os que foram mais objetivos: procuraram ler todo o seu discurso. Descobriram, então, que tratava-se de perguntas que se costuma chamar de ?retóricas?: o orador as lança para despertar o interesse do ouvinte. A partir delas, expõe suas idéias sobre o tema. Os salmistas, no Antigo Testamento, usavam muito esse recurso ? por exemplo: ?Desperta, Senhor, por que dormes? Desperta e não nos rejeiteis para sempre. Por que escondes a tua face e te esqueces de nossa miséria e tribulação?? (Sl 44,24-25)

Em seu discurso, Bento XVI lembrou que nosso grito a Deus deve ser ao mesmo tempo um grito que penetra nosso próprio coração, para que aquele poder que ele ali colocou não seja coberto e sufocado em nós pela lama do egoísmo, do medo, da indiferença e do oportunismo. Devemos gritar a Deus, sim, para que impulsione os homens a arrepender-se, para que reconheçam que a violência não cria a paz, mas suscita apenas outra violência ? uma espiral de destruição, na qual todos no fim de contas só têm a perder. ?Nós rezamos a Deus e gritamos aos homens… para que a razão do amor e do reconhecimento da força da reconciliação e da paz prevaleça sobre as ameaças circunstantes da irracionalidade ou de uma falsa razão, separada de Deus.?

Não por acaso, o Papa terminou suas palavras em Auschwitz rezando o salmo 23, como a dizer: Deus está em toda parte como Bom Pastor; se lhe permitirmos, nos conduzirá por caminhos retos e para verdes pastagens, mesmo que tenhamos que atravessar vales tenebrosos.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de Florianópolis

«Que a humanidade não se esqueça de Auschwitz!», clama Papa ao regressar da Polônia

Faz um balanço de sua segunda visita apostólica internacional durante a audiência geral

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 31 de maio de 2006 (ZENIT.org).- «Que a humanidade de hoje não se esqueça de Auschwitz e das demais ?fábricas da morte? nas quais o regime nazista tentou eliminar a Deus para tomar seu lugar!», exclamou Bento XVI nesta quarta-feira, ao fazer um balanço de sua viagem apostólica à Polônia.

Como costumava fazer João Paulo II, o Papa dedicou a intervenção durante a audiência geral desta quarta-feira a repassar os momentos mais significativos de sua segunda peregrinação internacional, que teve como meta as terras de Karol Wojtyla, de 25 a 28 de maio.

Concluiu seu balanço, junto a 35.000 peregrinos convocados na praça de São Pedro em uma manhã de sol, evocando a emocionante visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, que aconteceu no domingo, pouco antes de tomar o avião de volta a Roma.

Recordando aquela tragédia, o pontífice explicou: «Hitler exterminou seis milhões de judeus. Em Auschwitz-Birkenau morreram também cerca de 150.000 poloneses e dezenas de milhares de homens e mulheres de outras nacionalidades».

Segundo o Papa, «ante o horror de Auschwitz, não há outra resposta que a Cruz de Cristo: o Amor que descende até o abismo do mal para salvar o homem em sua raiz, onde sua liberdade pode rebelar-se contra Deus».

E exclamou: «Que a humanidade de hoje não se esqueça de Auschwitz e das demais ?fábricas da morte? nas quais o regime nazista tentou eliminar Deus para tomar seu lugar!».

«Que os homens voltem a reconhecer que Deus é Pai de todos e que chama a todos em Cristo a construírem juntos um mundo de justiça, de verdade e de paz!», insistiu.

O restante de sua intervenção recolheu notas de viagem de Bento XVI por terras polonesas para alentar na fé o povo no qual nasceu Karol Wojtyla.

Evocou sua visita à capital, Varsóvia, seus momentos de oração nos santuários amados por João Paulo II, o santuário nacional polonês de Jasna Gora em Czestochowa, o da Virgem de Kalwaria Zebrzidowska e o da Divina Misericórdia, assim como sua visita a Wadowice, cidade natal de seu predecessor, e a Cracóvia.

Na cidade da qual Karol Wojtyla foi arcebispo, o pontífice culminou sua viagem com uma missa na qual deixou a mensagem central que quis transmitir aos poloneses: «Permanecei firmes na fé!».

«Esta foi a mensagem que deixou aos filhos da querida Polônia, motivando-os a perseverarem na fidelidade a Cristo e à Igreja para que não falte nunca na Europa e no mundo a contribuição de seu testemunho evangélico», reconheceu.

«Todos os cristãos têm de se sentir comprometidos a dar esse testemunho para evitar que a humanidade do terceiro milênio possa conhecer de novo horrores semelhantes aos que são evocados tragicamente pelo campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau», concluiu.

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