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Bispo não é título que se pode atribuir a si mesmo

D. Walmor de Azevedo explica que o bispo da Igreja Católica é nomeado ‘dom’

BELO HORIZONTE, segunda-feira, 21 de junho de 2010 (ZENIT.org) – O arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, afirma que “bispo” é um título que uma pessoa não pode atribuir a si mesma, pelo simples fato de ser fundadora ou líder de determinado grupo de fiéis.

“O bispo da Igreja Católica, um sucessor dos apóstolos, daqueles apóstolos primeiros chamados pelo Mestre Jesus Cristo, assim constituídos por Ele, é nomeado de ‘dom’, uma titulação precedendo o seu nome de batismo”, explica o arcebispo, em artigo enviado a ZENIT na sexta-feira.

“A respeito desses primeiros apóstolos, o evangelista Marcos narra que ‘Jesus subiu a montanha e chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e para que os enviasse a anunciar a Boa Nova, com o poder de expulsar os demônios’”, recorda.

Dom Walmor explica que é chamado de dom “aquele que é bispo, tradição de dois mil anos, na Igreja do seu Mestre e Senhor”.

“Bispo, portanto, não é um título que alguém pode arvorar e definir para si, como fundador e líder de um grupo de fiéis que passam, ainda que por razão de práticas religiosas, a se definir como uma Igreja”, afirma o prelado.

Segundo Dom Walmor, a Igreja “nasce do querer e do coração do seu Mestre e Senhor Jesus. O querer é de Cristo, aquele que morreu e ressuscitou”.

“Dom não é, então, um simples título honorífico. Não é uma formalidade para nomear uma pessoa. Dom é referência a uma pessoa – consagrada para a missão que o Senhor Jesus deu àqueles onze primeiros chamados.”

“E que permaneceram com Ele – prossegue o arcebispo –, numa tradição sucessória ininterrupta, nestes dois mil anos de existência da Igreja Católica. Uma existência sustentada, em meio às vicissitudes do tempo e da história, pela fidelidade e obediência corajosa ao mandato do seu Mestre.”

O arcebispo afirma que a consagração no ministério de bispo “é compromisso não apenas de ser chamado dom, mas de ser, verdadeiramente, dom para todos”.

“Dom na tarefa de congregar na unidade, para além da administração. Dom na experiência de ser, nesta época moderna, sinal e inspirador da procura de sentido, no seguimento de Jesus Cristo, na condição de contemplativo presente no mundo, seu conhecedor e intérprete de suas perguntas.”

“Buscando respostas, servindo especialmente aos mais próximos, solidariamente próximo a todos”, afirma.

O Cientista e o Estudante

Um senhor de 70 anos viajava de trem, tendo ao seu lado um jovem universitário que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta.

Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia, e estava aberta no livro de Marcos. Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:

– O senhor ainda acredita nesse livro cheio de fábulas e crendices?

– Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?

– Mas é claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a História Universal. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião.

Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus tenha criado o mundo em seis dias.

O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.

– É mesmo? É o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia?

– Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.

O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário.

Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo, sentindo-se pior que uma ameba.

No cartão estava escrito:

Professor Doutor Louis Pasteur – Diretor do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França.

“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima” (Pasteur).

(Revista Pergunte e Responderemos n. 546, dezembro de 2007, pp. 537-538).

Barnabé, Silvano e Apolo

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Prosseguindo a nossa viagem entre os protagonistas das origens cristãs, dedicamos hoje a nossa atenção a alguns dos outros colaboradores de São Paulo. Devemos reconhecer que o Apóstolo é um exemplo eloquente de homem aberto à colaboração: na Igreja ele não quer fazer tudo sozinho, mas serve-se de numerosos e diversos colegas. Não nos podemos deter sobre todos estes preciosos colaboradores, porque são muitos. É suficiente recordar, entre outros, Epafras (cf. Cl 1, 7; 4, 12; Fm 23), Epafrodito (cf. Fl 2, 25; 4, 18), Tíquio (cf. Act 20, 4; Ef 6, 21; Cl 4, 7; 2 Tm 4, 12; Tt 3, 12), Urbano (cf. Rm 16, 9), Gaio e Aristarco (cf. Act 19, 29; 20, 4; 27, 2 Cl 4, 10). E mulheres como Febe (cf. Rm 16, 1), Trifena e Trifosa (cf. Rm 16, 12), Pérside, a mãe de Rufo da qual São Paulo diz: “Também é minha mãe” (cf. Rm 16, 12-13) sem esquecer casais como Prisca e Aquila (cf. Rm 16, 3; 1 Cor 16, 19; 2 Tm 4, 19). Hoje, entre esta grande multidão de colaboradores e colaboradoras de São Paulo dirigimos o nosso interesse a estas três pessoas, que desempenharam um papel particularmente significativo na evangelização das origens: Barnabé, Silvano e Apolo.

Barnabé significa “filho da exortação” (Act 4, 36) ou “filho da consolação” e é sobrenome de um judeu-levita originário de Chipre. Tendo-se estabelecido em Jerusalém, ele foi um dos primeiros a abraçar o cristianismo, depois da ressurreição do Senhor. Com grande generosidade vendeu um campo de sua propriedade entregando a quantia aos Apóstolos para as necessidades da Igreja (cf. Act 4, 37). Foi ele quem se fez garante da conversão de Saulo junto da comunidade cristã de Jerusalém, a qual ainda desconfiava do antigo perseguidor (cf. Act 9, 27). Tendo sido enviado a Antioquia da Síria, foi buscar Paulo a Tarso, onde se tinha retirado, e transcorreu com ele um ano inteiro, dedicando-se à evangelização daquela importante cidade, em cuja Igreja Barnabé era conhecido como profeta e doutor (cf. Act 13, 1). Assim Barnabé, no momento das primeiras conversões dos pagãos, compreendeu que tinha chegado a hora de Saulo, o qual se retirara para Tarso, sua cidade. Foi ali procurá-lo. Assim, naquele momento importante, quase restituiu Paulo à Igreja; deu-lhe, neste sentido, novamente o Apóstolo das Nações. Da Igreja antioquena Barnabé foi enviado em missão juntamente com Paulo, realizando o que classifica como primeira viagem missionária do Apóstolo. Na realidade, tratou-se de uma viagem missionária de Barnabé, sendo ele o verdadeiro responsável, ao qual Paulo se juntou como colaborador, chegando às regiões de Chipre e da Anatólia centro-meridional, na actual Turquia, com as cidades de Attalia, Perge, Antioquia de Psídia, Listra e Derbe (cf. Act 13-14). Juntamente com Paulo foi depois ao chamado Concílio de Jerusalém onde, depois de um aprofundado exame da questão, os Apóstolos com os Anciãos decidiram separar a prática da cincuncisão da identidade cristã (cf. Act 15, 1-35). Só assim, no final, tornaram oficialmente possível a Igreja dos pagãos, uma Igreja sem circuncisão: somos filhos de Abraão simplesmente pela fé em Cristo.

Os dois, Paulo e Barnabé, entraram depois em contraste, no início da segunda viagem missionária, porque Barnabé tinha em mente assumir como companheiro João Marcos, mas Paulo não queria, tendo-se separado o jovem deles durante a viagem anterior (cf. Act 13, 13; 15, 36-40). Portanto, também entre santos existem contrastes, discórdias, controvérsias. E isto parece-me muito confortador, porque vemos que os santos não “caíram do céu”. São homens como nós, com problemas também complicados. A santidade não consiste em nunca ter errado ou pecado. A santidade cresce na capacidade de conversão, de arrependimento, de disponibilidade para recomeçar, e sobretudo na capacidade de reconciliação e de perdão. E assim Paulo, que tinha sido bastante rude e amargo em relação a Marcos, no final encontra-se com ele. Nas últimas Cartas de São Paulo, a Filemon e na segunda a Timóteo, precisamente Marcos aparece como “o meu colaborador”. Portanto, não é o facto de nunca ter errado que nos torna santos, mas a capacidade de reconciliação e de perdão. E todos podemos aprender este caminho de santidade. Em todo o caso Barnabé, com João Marcos, partiu para Chipre (cf. Act 15, 39) por volta do ano 49. Daquele momento em diante perdem-se os seus vestígios. Tertuliano atribui-lhe a Carta aos Hebreus, ao que não falta a plausibilidade porque, pertencendo à tribo de Levi, Barnabé podia ter interesse pelo tema do sacerdócio. E a Carta aos Hebreus interpreta-nos de modo extraordinário o sacerdócio de Jesus.

Outro companheiro de Paulo foi Silas, forma grecizada de um nome hebraico (talvez sheal, “pedir, invocar”, que é a mesma raiz do nome “Saulo”), do qual resulta também a forma latinizada Silvano. O nome Silas é confirmado só no Livro dos Actos, enquanto que o nome Silvano se encontra apenas nas Cartas paulinas. Ele era um judeu de Jerusalém, um dos primeiros que se fez cristão, e naquela Igreja gozava de grande estima (cf. Act 15, 22), sendo considerado profeta (cf. Act 15, 32). Foi encarregado de levar “aos irmãos de Antioquia, Síria e Cilícia” (Act 15, 23) as decisões tomadas no Concílio de Jerusalém e de as explicar. Evidentemente ele era considerado capaz de realizar uma espécie de mediação entre Jerusalém e Antioquia, entre judeus-cristãos e cristãos de origem pagã, e desta forma servir a unidade da Igreja na diversidade de ritos e de origens. Quando Paulo se separou de Barnabé, assumiu precisamente Silas como novo companheiro de viagem (cf. Act 15, 40). Com Paulo ele alcançou a Macedónia (com as cidades de Filipos, Tessalónica e Berea), onde permaneceu, enquanto Paulo prosseguiu para Atenas e depois para Corinto. Silas alcançou-o em Corinto, onde cooperou na pregação do Evangelho: de facto, na segunda Carta dirigida por Paulo àquela Igreja, fala-se de “Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo” (2 Cor 1, 19). Explica-se assim por que é que ele resulta como co-destinatário, juntamente com Paulo e Timóteo, das duas Cartas aos Tessalonicenses. Também isto me parece importante. Paulo não age “sozinho”, como indivíduo, mas juntamente com estes colaboradores no “nós” da Igreja. Este “eu” de Paulo não é um “eu” isolado, mas um “eu” no “nós” da Igreja, no “nós” da fé apostólica. E Silvano no final é mencionado também na Primeira Carta de Pedro, na qual se lê: “por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos” (5, 12). Assim vemos também a comunhão dos Apóstolos. Silvano serve Paulo, serve Pedro, porque a Igreja é uma e o anúncio missionário é único.

O terceiro companheiro de Paulo, que desejamos recordar, é chamado Apolo, provável abreviação de Apolónio ou Apolodoro. Mesmo tratando-se de um nome de tipo pagão, ele era um fervoroso judeu de Alexandria do Egipto. Lucas no Livro dos Actos define-o “homem eloquente e muito versado nas Escrituras… cheio de fervor” (18, 24-25). A entrada de Apolo no cenário da primeira evangelização acontece na cidade de Éfeso: tinha ido ali para pregar e ali teve a ventura de encontrar o casal cristãos Priscila e Áquila (cf. Act 18, 26), que o introduziram a um conhecimento mais completo do “caminho de Deus” (cf. Act 18, 26). De Éfeso passou para a Acaia alcançando a cidade de Corinto: ali chegou com o apoio de uma carta dos cristãos de Éfeso, que recomendavam aos Coríntios que o acolhessem bem (cf. Act 18, 27). Em Corinto, como escreve Lucas, “pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; pois refutava energicamente os judeus, demonstrando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo” (Act 18, 27-28), o Messias. O seu sucesso naquela cidade teve um aspecto problemático, porque haviam alguns membros daquela Igreja que em seu nome, arrebatados pelo seu modo de falar, se opunham aos outros (cf. 1 Cor 1, 12; 3, 4-6; 4, 6). Paulo na Primeira Carta aos Coríntios expressa apreço pela obra de Apolo, mas reprova os Coríntios por dilacerarem o Corpo de Cristo dividindo-se assim em fracções contrapostas. Ele tira um importante ensinamento de toda a vicissitude: quer eu quer Apolo diz ele mais não somos do que diakonoi, isto é, simples ministros, através dos quais alcançastes a fé (cf. 1 Cor 3, 5). Cada um tem uma tarefa diferenciada no campo do Senhor: “Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento… Pois, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois a seara de Deus, o edifício de Deus” (1 Cor 3, 6-9). Tendo regressado a Éfeso, Apolo resistiu ao convite de Paulo para voltar imediatamente a Corinto, adiando a viagem para uma data posterior por nós desconhecida (cf. 1 Cor 16, 12). Não temos outras notícias suas, mesmo se alguns estudiosos pensam nele como possível autor da Carta aos Hebreus, da qual, segundo Tertuliano, seria autor Barnabé.

Estes três homens brilham no firmamento das testemunhas do Evangelho por um aspecto comum além das características próprias de cada um. Em comum, além da origem judaica, têm a dedicação a Jesus Cristo e ao Evangelho, juntamente com o facto de os três terem sido colaboradores do apóstolo Paulo. Nesta original missão evangelizadora eles encontraram o sentido da sua vida, e como tais estão diante de nós como modelos luminosos de abnegação e de generosidade. E, no final, voltemos mais uma vez a esta frase de São Paulo: tanto eu como Apolo somos ministros de Jesus, cada um a seu modo, porque é Deus que faz crescer. Esta palavra também é válida hoje para todos, quer para o Papa, quer para os Cardeais, os Bispos, os sacerdotes, os leigos. Todos somos humildes ministros de Jesus. Servimos o Evangelho na medida do possível, segundo os nossos dons, e rezamos a Deus para que faça crescer hoje o seu Evangelho, a sua Igreja.

Pregador do Papa adverte ante tentação de não reconhecer Jesus que passa

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingoROMA, sexta-feira, 7 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — sobre a liturgia do próximo domingo, XIV do tempo comum.

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Saiu dali e viu sua pátria

XIV Domingo do tempo comum (B)
Ezequiel 1, 13-15-2, 23-25; 2 Coríntios 12, 7-10; Marcos 6, 1-6

Quando já se havia tornado popular e famoso por seus milagres e seu ensinamento, Jesus voltou um dia ao seu lugar de origem, Nazaré e, como de costume, se pôs a ensinar na sinagoga. Mas dessa vez não suscitou nenhum entusiasmo, nenhum hosana! Mais do que escutar o que dizia e julgá-lo segundo isso, as pessoas se puseram a fazer considerações alheias: «De onde tirou esta sabedoria? Não estudou; nós o conhecemos bem; é o carpinteiro, o filho de Maria!». «E se escandalizavam dEle», ou seja, encontravam um obstáculo para acreditar nEle no fato de que o conheciam bem.

Jesus comentou amargamente: «Um profeta só em sua pátria, entre seus parentes e em sua casa carece de prestígio». Esta frase se converteu em provérbio na forma abreviada: Nemo propheta in pátria, ninguém é profeta em sua terra. Mas isso é só uma curiosidade. A passagem evangélica nos lança também uma advertência implícita que podemos resumir assim: cuidado para não cometer o mesmo erro que cometeram os nazarenos! Em certo sentido, Jesus volta a sua pátria cada vez que seu Evangelho é anunciado nos países que foram, em um tempo, o berço do cristianismo.

Nossa Itália, e em geral a Europa, são, para o cristianismo, o que Nazaré era para Jesus: «o lugar onde foi criado» (o cristianismo nasceu na Ásia, mas cresceu na Europa, um pouco como Jesus havia nascido em Belém, mas foi criado em Nazaré!). Hoje correm o mesmo risco que os nazarenos: não reconhecer Jesus: A carta constitucional da nova Europa unida não é o único lugar do qual Ele é atualmente «expulso»…

O episódio do Evangelho nos ensina algo importante. Jesus nos deixa livres, propõe, não impõe seus dons. Aquele dia, ante a rejeição de seus conterrâneos, Jesus não se abandonou a ameaças e invectivas. Não disse, indignado, como se conta que fez Publio Escipión, o africano, deixando Roma: «Ingrata pátria, não terás meus ossos!». Simplesmente foi para outro lugar. Uma vez não foi recebido em certo povoado; os discípulos lhe propuseram fazer baixar fogo do céu, mas Jesus se virou e os repreendeu (Lc 9, 54).

Assim também hoje. «Deus é tímido». Tem muito mais respeito pela nossa liberdade do que temos nós mesmos uns dos outros. Isso cria uma grande responsabilidade. Santo Agostinho dizia: «Tenho medo de Jesus que passa» (Timeo Jesum transeuntem). Poderia, com efeito, passar sem que eu percebesse, passar sem que eu esteja disposto a acolhê-lo.

Sua passagem é sempre uma passagem de graça. Marcos disse sinteticamente que, tendo chegado a Nazaré no sábado, Jesus «se pôs a ensinar na sinagoga». Mas o Evangelho de Lucas especifica também o que ensinou e o que disse naquele sábado. Disse que havia vindo «para anunciar aos pobres a Boa Nova, para proclamar a liberdade aos cativos e a vista aos cegos; para dar a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor» (Lucas 4, 18-19).

O que Jesus proclama na sinagoga de Nazaré era, portanto, o primeiro jubileu cristão da história, o primeiro grande «ano de graça», do qual todos os jubileus e «anos santos» são uma comemoração.

Bento XVI convida fiéis a imitar prontidão e disponibilidade de resposta de São Tiago

VATICANO, 21 Jun. 06 (ACI) .- Milhares de peregrinos se reuniram esta manhã na Praça de São Pedro para assistir à Audiência Geral com o Papa Bento XVI, quem exortou os presentes a imitar a prontidão do São Tiago em responder ao chamado do Senhor.

Ao iniciar a catequese intitulada “São Tiago Maior”, o Santo Padre lembrou que “o apóstolo assim chamado é irmão de João, e nas listas dos nomes ocupa o segundo lugar imediatamente depois de Pedro, como em Marcos, ou o terceiro lugar depois de o Pedro e André nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Este Tiago pertence, junto com Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que são admitidos por Jesus em momentos importantes de sua vida“.

O Pontífice fez referência a dois momentos da vida deste apóstolo, e recordou que “pôde participar do momento da agonia de Jesus no horto do Getsêmani e do evento da Transfiguração de Jesus”.

“Trata-se ?prosseguiu? de situações muito diversas: em um caso, Tiago com os outros dois Apóstolos experimentam a glória do Senhor; no outro se encontra diante do sofrimento e da humilhação, vê com os próprios olhos como o Filho de Deus se humilha fazendo-se obediente até a morte”.

O Papa explicou que a segunda experiência “constituiu a ocasião para amadurecer na fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da primeira: ele teve que ver que o Messias, esperado pelo povo judeu como um triunfador, na realidade não estava somente rodeado de honra e glória, mas também de sofrimentos e de debilidades”.

Deste modo acrescentou a modo de síntese de ambas as experiências: “A glória de Cristo se realiza justamente na Cruz, na participação em nossos sofrimentos”.

Em seguida, Sua Santidade citou os Atos dos Apóstolos, onde se relata o martírio de Tiago, e afirmou que tal notícia “revela quão normal era para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida”.

Citando a tradição que afirma que o corpo do apóstolo estaria em Santiago de Compostela, Bento XVI destacou que “deste modo se explica a representação iconográfica de Tiago com o bastão do peregrino e o Evangelho na mão, características do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da ?boa notícia?, características da peregrinação da vida cristã”.

Finalmente o Papa convidou os presentes a imitar São Tiago em sua “prontidão para acolher o chamado do Senhor quando nos pede deixar o ?barco? de nossas seguranças humanas, o entusiasmo no segui-lo pelas ruas que Ele nos indica além de cada uma de nossas presunções ilusórias, a disponibilidade a testemunhá-lo com valor, e se necessário, até o sacrifício supremo da vida”.

Bento XVI: Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja

Intervenção na audiência geral de quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 7 de junho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção de Bento XVI pronunciada durante a audiência geral desta quarta-feira, dedicada a comentar o tema «Pedro, a rocha sobre a qual Cristo fundou a Igreja».

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Queridos irmãos e irmãs:

Reiniciamos as catequeses semanais que começamos nesta primavera. Na última delas, há quinze dias, tínhamos falado de Pedro como o primeiro apóstolo; hoje queremos voltar a falar mais uma vez sobre esta grande e importante figura da Igreja. O evangelista João, ao narrar o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André, constata um dado singular: «Jesus, fixando seu olhar nele, disse-lhe: ?Tu és Simão, o filho de João, tu te chamarás Cefas?, que quer dizer, ?Pedra?» (João 1, 42). Jesus não costumava mudar o nome de seus discípulos. Com exceção do apelido de «filhos do trovão», dirigido em uma circunstância precisa aos filhos de Zebedeu (cf. Marcos 3, 17), e que depois não utilizará, nunca atribuiu um novo nome a um de seus discípulos. Contudo, ele o fez com Simão, chamando-o de Cefas, nome que depois foi traduzido em grego como «Petros», em latim «Petrus». E foi traduzido precisamente porque não era só um nome; era um «mandato» que Petrus recebia desse modo do Senhor. O novo nome, «Petrus», voltará a aparecer em várias ocasiões nos Evangelhos e acabará substituindo seu nome original, Simão.

Este dado alcança particular importância se levamos em conta que, no Antigo Testamento, a mudança de nome anunciava em geral a entrega de uma missão (cf. Gênesis 17, 5; 32,28ss, etc). De fato, a vontade de Cristo de atribuir a Pedro um especial destaque dentro do colégio apostólico se manifesta através de numerosos indícios: em Cafarnaum, o Mestre se hospeda na casa de Pedro (Marcos 1, 29); quando a multidão se reúne na margem do lago de Genezaré, entre as duas barcas amarradas, Jesus escolhe a de Simão (Lucas 5, 3); quando em circunstâncias particulares Jesus só fica em companhia de três discípulos, Pedro sempre é recordado como o primeiro do grupo: assim sucede na ressurreição da filha de Jairo (cf. Marcos 5, 37; Lucas 8, 51), na Transfiguração (cf. Marcos 9, 2; Mateus 17, 1; Lucas 9, 28), e por último durante a agonia no Horto do Getsêmani (cf. Marcos 14, 33; Mateus 16, 37). A Pedro se dirigem os arrecadadores de impostos para o Templo, e o Mestre paga por ele e por Pedro, e não apenas por ele (cf. Mateus 17, 24-27); foi o primeiro a quem Jesus lavou os pés na última Ceia (cf. João 13, 6), e só reza por ele, para que não desfaleça na fé e possa confirmar depois nela os demais discípulos (cf. Lucas 22, 30-31).

Por outro lado, o próprio Pedro é consciente dessa posição particular que tem: é ele quem fala com freqüência, em nome dos outros, pedindo explicações ante uma parábola difícil (Mateus 15, 15), ou para perguntar o sentido exato de um projeto (cf. Mateus 18, 21) ou a promessa formal de uma recompensa (Mateus 19, 27). Em particular, é ele quem supera o impacto de certas situações, intervindo em nome de todos. Deste modo, quando Jesus, ferido pela incompreensão da multidão após o discurso sobre o «pão da vida», pergunta: «Também vós quereis ir?», a resposta de Pedro é rápida: «Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna» (Mateus 16, 15-15). Jesus pronuncia então a declaração solene que define, de uma vez por todas, o papel de Pedro na Igreja: «E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. A ti darei as chaves do Reino dos Céus; o que atares na terra será atado nos céus, e o que desatares na terra será desatado nos céus» (Mateus 16, 18-19). As três metáforas às quais recorre Jesus são em si muito claras: Pedro será o cimento de rocha sobre o qual estará o edifício da Igreja; terá as chaves do Reino dos céus para abrir e fechar a quem lhe pareça justo; por último, poderá atar e desatar, ou seja, poderá estabelecer ou proibir o que considere necessário para a vida da Igreja, que é e continuará sendo de Cristo. É sempre a Igreja de Cristo e não de Pedro. Descreve com imagens plásticas o que a reflexão sucessiva qualificará com o termo «primado de jurisdição».

Esta posição preeminente que Jesus quis entregar a Pedro se constata também depois da ressurreição: Jesus encarrega às mulheres que levem o anúncio a Pedro, distinguindo-o entre os demais apóstolos (cf. Marcos 16, 7); acode correndo a ele e a João a Madalena para informar que a pedra foi removida da entrada do sepulcro (cf. João 20, 2), e João lhe cederá o passo quando os dois cheguem ante o túmulo vazio (cf. João 20, 4-6); Pedro será depois, entre os apóstolos, a primeira testemunha da aparição do Ressuscitado (cf. Lucas 24, 34; 1 Coríntios 15, 5). Este papel , sublinhado com decisão (cf. João 20, 3-10), marca a continuidade entre a preeminência no grupo dos apóstolos e a preeminência que continuará tendo na comunidade nascida com os acontecimentos pascais, como testifica o livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 1, 15-26; 2, 14-40; 3, 12-26; 4,8-12; 5,1-11.29; 8, 14-17; 10, etc). Seu comportamento é considerado tão decisivo que é objeto de observações e também de críticas (cf. Atos 11, 1-18; Gálatas 2, 11-14). No assim chamado Concílio de Jerusalém, Pedro desempenha uma função diretiva (cf. Atos 15 e Gálatas 2, 1-10), e precisamente pelo fato de ser a testemunha da fé autêntica, o próprio Paulo reconhecerá nele um papel de «primeiro» (Cf. 1 Coríntios 15, 5; Gálatas 1, 18; 2,7 seguintes, etc). Também, o fato de que vários dos textos chaves referidos a Pedro possam ser marcados no contexto da Última Ceia, na qual Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os irmãos (cf. Lucas 22, 31 seguintes), mostra como a Igreja, que nasce do memorial celebrado na Eucaristia, tem no ministério confiado a Pedro um de seus elementos constitutivos.

Este contexto do Primado de Pedro na Última Ceia, no momento da instituição da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido último desse Primado: para todos os tempos: Pedro tem que ser o custódio da comunhão com Cristo; tem que guiar até a comunhão com Cristo, de forma que a rede não se rompa, mas que sustente a grande comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro consiste em garantir assim a comunhão com Cristo, com a caridade de Cristo, guiando até a realização dessa caridade na vida de todos os dias. Rezemos para que o primado de Pedro, confiado a pobres seres humanos, seja sempre exercido neste sentido original desejado pelo Senhor, e para que o possam reconhecer cada vez mais em seu significado verdadeiro os irmãos que ainda não estão em comunhão conosco.

[Traduzido por Zenit. Ao final da audiência, o Papa saudou os peregrinos de língua portuguesa:]

Amados peregrinos de língua portuguesa, uma cordial saudação de boas-vindas para todos, nomeadamente para o grupo referido de Portugal! Viestes a Roma para revigorar a vossa fé cristã e os vínculos de amor e obediência à Igreja, que Jesus quis fundar sobre Pedro. Que as vossas vidas, fortes na fé, sempre possam irradiar o amor de Deus, e as suas bênçãos desçam abundantes sobre vós e vossas famílias!

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