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Bento XVI: A loucura da Cruz é converter o sofrimento em grito de amor a Deus

Bento XVI: A loucura da Cruz é converter o sofrimento em grito de amor a Deus BEIRUTE, 14 Set. 12 / 03:04 pm (ACI/EWTN Noticias).- No dia que a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz e ao assinar a exortação Ecclesia in Medio Oriente, o Papa Bento XVI assinalou que a loucura da Cruz é a “de saber converter nosso sofrimento em grito de amor a Deus”.

Na Basílica grego-melquita de São Paulo de Harissa o Santo Padre assinou o chamado documento, fruto da Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, realizado em outubro de 2010.

Em seu discurso ante as autoridades da Igreja Maronita (católica) no Líbano e em meio da alegria dos fiéis presentes fora e dentro da Basílica, o Papa disse que “agora é precisamente quando temos que celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, do serviço sobre o domínio, da humildade sobre o orgulho, da unidade sobre a divisão”.

“À luz da festa de hoje e tendo em vista uma aplicação frutuosa da Exortação, convido todos a que não tenham medo, permaneçam na verdade e a cultivem na pureza da fé. Esta é a linguagem da Cruz gloriosa”.

O Papa ressaltou que “Esta é a loucura da Cruz: a de saber converter os nossos sofrimentos em grito de amor a Deus e de misericórdia para com o próximo;e a de saber também transformar, seres atacados e feridos na sua fé e identidade, em vasos de barro prontos a serem cumulados pela abundância dos dons divinos mais preciosos que o ouro”.

Sobre o documento que acaba de assinar, Bento XVI indicou que este “quer ajudar cada um dos discípulos do Senhor a viver plenamente e a transmitir realmente aquilo que ele mesmo se tornou pelo batismo: um filho da Luz, um ser iluminado por Deus, uma lâmpada nova na escuridão tenebrosa do mundo para que das trevas brilhe a luz”.

“Este documento quer contribuir para despojar a fé daquilo que a ensombra, de tudo o que pode ofuscar o esplendor da luz de Cristo. Assim a comunhão é uma autêntica adesão a Cristo, e o testemunho é uma irradiação do mistério pascal que dá um sentido pleno à Cruz gloriosa. Nós seguimos e proclamamos Cristo crucificado (…) poder de Deus e sabedoria de Deus`”.

O Papa sublinhou também que “Ecclesia in Medio Oriente oferece elementos que podem ajudar a um exame de consciência pessoal e comunitário, uma avaliação objetiva do compromisso e desejo de santidade de cada discípulo de Cristo. A Exortação abre ao verdadeiro diálogo inter-religioso fundado na fé em Deus Uno e Criador”.

“Quer também contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo, na verdade e amor evangélicos, que vai buscar a sua força ao mandato do Ressuscitado: ‘Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até o fim dos tempos`”.

Bento XVI comentou logo que “É providencial que este ato tenha lugar precisamente no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, cuja celebração nasceu no Oriente em 335, na sequência da Dedicação da Basílica da Ressurreição sobre o Gólgota e o sepulcro de Nosso Senhor construída pelo imperador Constantino, o Grande, que venerais como santo”.

“Dentro de um mês, celebrar-se-ão os 1700 anos da aparição que lhe fez ver, na noite simbólica da sua incredulidade, o monograma cintilante de Cristo enquanto uma voz lhe dizia: «Por este sinal, vencerás!». Mais tarde, Constantino assinou o Édito de Milão e deu o seu nome a Constantinopla. Parece-me que a Exortação pós-sinodal pode ser lida e interpretada à luz da festa da Exaltação da Santa Cruz”, afirmou o Santo Padre.

Essa leitura, explicou o Papa, “conduz a uma descoberta autêntica da identidade do batizado e da Igreja e, ao mesmo tempo, constitui como que um apelo ao testemunho na comunhão e pela comunhão”.

“Porventura a comunhão e o testemunho cristãos não estão fundados no mistério pascal, na crucifixão, morte e ressurreição de Cristo? Não é aqui que encontram a sua plena realização? Existe um vínculo indivisível entre a Cruz e a Ressurreição, que não pode ser esquecido pelo cristão; sem este vínculo, exaltar a Cruz significaria justificar o sofrimento e a morte vendo neles apenas uma fatalidade”.

“Para um cristão, exaltar a Cruz quer dizer entrar em comunhão com a totalidade do amor incondicional de Deus pelo homem; é fazer um ato de fé. Exaltar a Cruz, na perspectiva da Ressurreição, é desejar viver e manifestar a totalidade deste amor; é fazer um ato de amor. Exaltar a Cruz leva ao compromisso de ser arauto da comunhão fraterna e eclesial, fonte do verdadeiro testemunho cristão; é fazer um ato de esperança.”.

O Papa disse também que a Exortação procura ser um chamado para que, em meio das dificuldades e da dor na região, se possa vencer a “tentação de ignorar ou esquecer a cruz gloriosa”.

Para concluir, Bento XVI fez um claro chamado aos católicos do Médio Oriente a vencer o temor: “Não temais, porque a Igreja universal vos acompanha com a sua solidariedade humana e espiritual”.

“Por intercessão da Virgem Maria, a Theotókos, invoco com grande afeto a abundância dos dons divinos sobre todos vós. Deus conceda a todos os povos do Médio Oriente viverem na paz, na fraternidade e na liberdade religiosa! Deus vos abençoe a todos”, terminou.

O Cristo sem Cruz, o Cristo voador, o Cristo sem Cruz nas Igrejas “nova moda”

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Pe. Juvan Celestino da Silva

Devemos de antemão nos lembrar que o Mistério de Cristo é inseparável do mistério da Cruz. Após Pedro responder que Jesus é o Messias (Mc 8,29); e para este título não se limitar a um triunfalismo imediato e próprio, Jesus acrescenta:

“O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morte e depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,320)

Um mundo sem Cruz sem o sinal da Cruz Salvadora de Jesus cairá facilmente numa idéia distorcida do cristianismo. Tornar –se – á em um cristianismo hedonista, e o Cristo tornar-se-á em um Cristo do prazer, um Cristo fashion.

Quanto a este perigo o Apóstolo Paulo dá uma dura nos cristãos da comunidade de gálatas:

“Ó Gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vós ante olhos foi desenhada a imagem de Jesus Cristo crucificado?… sois tão insensatos que, tendo começado pelo espírito, agora acabais na carne?” (Gl 3,1-3)

Substituindo em nossas Igrejas a imagem do Crucificado por um Cristo triunfante, glorioso e sem a Cruz, corremos o risco de cairmos em uma heresia disfarçada que se nega a humanidade do Verbo Encarnado. Uma Igreja sem Cruz é uma Igreja herética, uma Igreja “protestantizada”. Devemos reconhecer com pesar que vivemos uma verdadeira crise na teologia da Cruz.

Já imaginaram celebrarmos uma Semana Santa sem Cruz? O que faremos na sexta-feira santa? O que apresentaremos ao povo do Cordeiro Imolado?

Pois na sexta-feira santa temos a adoração da Cruz, sim, por mais que nos soe estranho a Igreja diz: “A Adoração da santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Cf.: Missal Romano)

Portanto, a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo “é a única Cruz digna de adoração…”

Na verdade esta imagem, até deve ser apresentada no Domingo da Ressurreição, mas não serve para está no lugar do Cordeiro Imolado. São duas as experiência pelas quais Jesus passa: morte de Cruz e a ressurreição. Uma não existe sem a outra.

“Cristo voador” é um Cristo suspenso no ar, sem cruz sem razão de ser. Na verdade por mais que queiram representar o Cristo ressuscitado, a imagem foge totalmente da verdadeira experiência do cristão. Pois sem a Cruz na há salvação e como diz a carta aos hebreus:

“Segundo a Lei, quase todas as coisas se purificam com sangue; e sem efusão de sangue não há remissão” (Hb 9,22)

“Cristo voador” que estão pendurando no presbitério em algumas Igrejas é um Cristo lavado e sem sangue, um Cristo enxuto, uma imagem sem graça, sem gosto, ou melhor, de mau gosto, porque está no lugar errado e na hora errada. Pois sabemos que a Igreja militante, é a Igreja da Cruz, do combate… da luta. A Igreja gloriosa nos espera para além deste mundo.

Além do mais, a Cruz não é o lugar do Cristo glorioso, a experiência gloriosa da ressurreição se deu no sepulcro, e o Cristo glorioso é o Cristo da ascensão, a Cruz é o lugar do martírio, e por sinal um lugar desconfortante, é um “caminho contra a corrente” do mundo.

Embora saibamos pela fé, que a ressurreição aconteceu, ninguém a testemunhou, só o santo sudário guardou o momento exato da ressurreição do Senhor, a experiência cristã é a da aparição do ressuscitado, que fora crucificado. Então pintar um Cristo voador e querer compará-lo ao Cristo ressuscitado é no mínino fantasioso, para não dizer folclórico. Embora alguns querem associá-lo à ascensão.

Este Cristo voador que estão colocando em algumas Igrejas é algo ridículo, um passo a mais para se eliminar o símbolo da Cruz das Nossas Igrejas e das nossas vidas, pois das escolas e ambiente públicos aos poucos já estão tirando. O modismo do Cristo voador é um perigo para a fé.

A Igreja não deve esconder o crucificado, sem incorrer na acusação de sentir vergonha da Cruz do Senhor, e quem tem vergonha da Cruz de Cristo se torna seu inimigo.

“Pois há muitos dos quais muitas vezes vos disse e agora repito, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fl 3,18

São Paulo afirma que sem ressurreição “a nossa fé seria vã”, porém, sem a Cruz ela nem existiria. Pois sem a Cruz não haveria nem salvação nem a aurora da ressurreição. O anúncio de uma ressurreição que não passasse pela Cruz seria vazio. O túmulo está vazio, porque antes alguém esteve lá dentro. Sem a Cruz o Senhor não teria vencido a morte, o inferno, o mundo, o pecado e o medo. Portanto, “o Gólgota é a passagem obrigatória rumo à Ressurreição”.

O Primado de Pedro

Ubi Petrus, ibi Ecclesia.
(S. Ambrosio)

Introdução

Uma das grandes razões de divergência entre católicos e protestantes diz respeito à legitimidade para a interpretação das Sagradas Escrituras. Para os seguidores da reforma, qualquer pessoa poderia ler e entender corretamente a bíblia, sem o auxílio de ninguém senão do Espírito Santo, que guiaria cada um infalivelmente na busca do verdadeiro significado da palavra divina. É o chamado livre exame da Bíblia, proposto pelo ex-frade Lutero.

Para os católicos, o legítimo intérprete das Escrituras (e também da Tradição) é o papa, sucessor direto de São Pedro, pois Cristo confiou a ele esse ministério. Ao Papa, portanto, devem os católicos obediência em matéria de fé e moral, em função do poder divino a ele conferido.

Os protestantes, apesar de discutir as passagens discordantes da bíblia de forma crítica, acabam tendo que reconhecer que cada um, em conexão direta com Deus, tem a sua interpretação, a sua “verdade”, originando-se, dessa forma, o fenômeno da multiplicação das seitas que se constata a partir do século XVI, e que não cessou até hoje.

Cada seita seria uma manifestação de Deus; não importa se defende teses contrárias às das demais, desde que mantenha a “fé” em Cristo. Essa “fé” na verdade se traduziria por um “sentir Cristo”; portanto, trata-se de um ato da vontade e não da inteligência.

A doutrina católica, ao contrário, reconhece que a fé é a adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus. Sendo verdades, elas não podem variar nem segundo a pessoa que as interpreta, nem segundo a época, pois a verdade é imutável.

Cabe ao papa guiar os fiéis nos ensinamentos de Cristo confiados à Igreja em depósito, o qual não pode ser alterado até a consumação dos séculos.
Importa pois saber qual das duas visões corresponde à vontade divina, pois aí teremos resolvido o problema da interpretação da Bíblia Sagrada, que é motivo de divergência entre católicos e protestantes. Examinemos pois, em primeiro lugar, as Escrituras.

Os protestantes afirmam que, para defender a posição católica, só existiria uma passagem do Evangelho de São Mateus (XVI, 16-19), a qual não possui paralelo com os dois outros Evangelhos que descrevem a mesma cena, de interpretação duvidosa.

Pedro seria como os demais apóstolos, diferindo apenas no caráter agressivo, o que faria com que liderasse os demais, seguindo e obedecendo a Cristo. Entretanto, Nosso Senhor não teria conferido qualquer primado a Pedro entre os Apóstolos.

O que o Evangelho mostra, entretanto, é que Pedro ocupava um lugar de destaque no colégio Apostólico, e que Cristo fez a ele a promessa da primazia entre os apóstolos, para que, uma vez confirmado, confirmasse os seus irmãos (Lc XXII,32). Utilizaremos na maior parte da demonstração dessa verdade o esquema do livro Igreja, Reforma e Civilização, do Pe. Leonel Franca, Ed. Agir, 6a edição.

Pedro é o mais citado pelos Evangelistas

Podemos constatar a proeminência de São Pedro entre os Apóstolos, em primeiro lugar, pela quantidade de vezes que ele é nomeado nos Evangelhos: vários já fizeram notar que os evangelistas fazem referência a Pedro 171 vezes (114 nos evangelhos e 57 nos Atos dos Apóstolos), enquanto que do apóstolo amado, São João, fazem 46 citações.

É o que se poderia chamar de prova estatística, pois mostra como os Evangelistas consideravam a figura do príncipe dos apóstolos, destacada desde cedo pela autoridade de Cristo.
Veremos mais adiante que São Pedro não é apenas nomeado maior número de vezes, mas principalmente em citações que denotam importância, e que o critério numérico simplesmente serve para reforçar este.

Para impugnar esse argumento, alguns fazem notar que São Paulo é nomeado 160 vezes nos Atos dos Apóstolos, onde Pedro aparece 57 vezes, e que portanto, por esse critério, São Paulo teria mais direito ao título de papa.

Entretanto, o que importa demonstrar, com isso, é que houve um que foi destacado entre os doze apóstolos, designado por Cristo para guiar os demais.
Essa questão diz respeito aos primeiros seguidores de Cristo, e quando o Apóstolo das Gentes se converteu, ela já estava decidida. Só Nosso Senhor poderia nomear um seu representante com tal poder e autoridade.

Cristo muda o nome de Simão para Pedro

Outro destaque exclusivo de Pedro é que Cristo, ao chamá-lo a uma nova e superior vocação, lhe atribui curiosamente um novo nome, que carrega o significado poderoso de, ao mesmo tempo, chefe e fundamento da nova sociedade que terá por missão espalhar os ensinamentos do Mestre pelos quatro cantos do mundo. “Este (André) encontrou primeiro seu irmão Simão, e disse-lhe: Encontramos o Messias. E levou-o a Jesus. E Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro (Pedra)” (S. João, I, 41-42).

Analisemos em primeiro lugar a mudança do nome: quantas vezes, em toda a Escritura, Deus muda o nome de alguém? Se são poucas as vezes, conclui-se que esse ato é solene, dada a sua excepcionalidade, que faz concluir a gravidade daquilo que o motivou.

Ora, em toda a Sagrada Escritura Deus muda apenas três vezes o nome de homens, sempre para destacar a dignidade de uma vocação superior: primeiro, muda o nome de Abrão para Abraão, tornando-o o patriarca fiel a Deus e recompensado com a Antiga Aliança e a promessa de uma descendência pujante (Gênesis, XVII, 5-8). O segundo eleito é Jacó, a quem Deus nomeia Israel, renovando as promessas feitas ao avô em relação ao povo judeu. A mais nenhum Deus concede esse privilégio, nem a Reis nem a Profetas, que foram tantos e com tal Santidade! No Antigo Testamento, Deus sela a Aliança com seu povo escolhendo e mudando o nome dos Patriarcas, mostrando de forma inequívoca que unge – separa – seus eleitos.

Nosso Senhor então, na plenitude dos tempos, quando a humanidade se encontra preparada para a grande obra da Redenção, vai novamente distinguir aqueles com quem firmará a Nova e Eterna Aliança, mudando o nome do seu Patriarca, que deverá apascentar seus cordeiros e ovelhas pelos séculos, prometendo-lhe Sua assistência infalível. E muda seu nome não para um qualquer, mas para Pedro (Cefas, que em aramaico – língua falada por Nosso Senhor – quer dizer Rocha), mostrando que sua Igreja não seria fundada sobre areia.

Esse é um fato muitas vezes esquecido, ou relegado a um plano inferior, porém tem uma importância enorme, pois demonstra que Pedro deveria ter entre os Apóstolos uma distinção de honra, incompatível com uma idéia de igualdade entre os doze. Notemos que nem São Paulo mereceu tal honra.

Cristo prefere a barca de São Pedro

Outro aspecto interessante da distinção de Pedro diz respeito a sua barca, que desde muito cedo foi interpretada pelos Santos Padres como símbolo da Igreja, unicamente na qual podem se salvar os homens.

Cristo, na sua pregação evangélica, prefere invariavelmente a barca de Pedro. Na verdade, não se nomeia expressamente outra barca de que Cristo tenha se servido.
É na barca de Pedro que ocorre a pesca milagrosa, de uma simbologia extremamente significativa (S. Lucas, V, 3-6). Outra pesca milagrosa irá ocorrer após a ressureição, no lago de Tiberíades, de novo na barca de Pedro (João, XXI, 3,7, 11). A barca de Pedro é chamada de “a barca”, por antonomásia, em outras passagens (Mateus, VIII, 23; XIV, 22; Marcos, IV, 36; VI, 45), em oposição às “outras barcas” (Marcos, IV, 36)

Tiremos a conclusão obrigatória: fora da Barca de Pedro não se acha Cristo.

A casa de Pedro em Cafarnaum e o tributo

Dois fatos aparentemente corriqueiros da vida de Cristo se juntam às evidências até aqui acumuladas, e dizem respeito à proximidade do mestre a Pedro. Primeiro, observa-se pelos Evangelhos que, quando Cristo se demora em Cafarnaum, é na casa de Pedro que se hospeda. “Ao sair da Sinagoga, Jesus e os que o seguiam se dirigiram à casa de Pedro e André …” (Marcos, I,29; Mateus, VIII, 14; Lucas, IV, 38), e que mais tarde, à porta da casa (de Pedro) Jesus fazia milagres. São Marcos, em outras ocasiões, sem mencionar outra casa, diz simplesmente que o Mestre se dirigiu “à casa” e “para casa” (Marcos, II,1; III,20; IX, 32).

É curiosa a diferença nas narrações de São Marcos e São Mateus desse mesmo episódio: este usando artigo – na casa; aquele sem o usar – em casa.
O sentido da primeira expressão é o mesmo que tem, para os franceses, o chez moi, ou seja, em minha casa. Seria um fato estranho São Marcos falar de sua casa, se não soubéssemos ter sido o evangelista discípulo de Pedro. Ao repetir o que ouviu do Apóstolo, ele utiliza a expressão de quem falava da própria casa. São Mateus fala da casa não com sentido próprio, pois falava da casa de outrem. Curioso ainda é que quando os evangelistas falam da casa de Cristo, se referindo à de Nazaré, usam ambos o artigo, evidenciando o detalhe sutil e extremamente probatório da passagem.
Portanto, o Evangelho de S. Marcos demonstra que, em Cafarnaum, Cristo se hospedava na casa de Pedro.

O segundo fato, que está estreitamente ligado ao primeiro, é que Cristo manda pagar o tributo do templo por si e por Pedro, quando os coletores de impostos vão à casa deste cobrar pelo Mestre ” … vosso mestre não paga a didracma? Ele (Pedro) respondeu-lhes: sim. E depois que entrou em casa , Jesus o preveniu, dizendo: Que te parece Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o censo? De seus filhos ou de estranhos? E Ele (Pedro) respondeu: dos estranhos. Disse-lhe Jesus: logo são isentos os filhos. Todavia, para que os não escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro peixe que subir toma-o, e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estater: tira-o e dá-lho por mim e por ti.”(Mateus, XVII, 24-27).
Esse é um sinal tão distintivo da preferência de Nosso Senhor pelo apóstolo, que os demais, logo que Pedro se afasta, cercam o mestre para saber quem seria o maior no reino dos céus (Mateus, XVIII, 1).

Sobre esse texto, Clemente de Alexandria exclamava: “Bem aventurado Pedro, o escolhido, o preferido, o primeiro dos discípulos, único pelo qual Cristo pagou tributo.” (Qui dives Salvetur, 21, Migne, Patrologia serie Grega, IX, 625. – citado pelo Padre Leonel Franca).

A lista dos Apóstolos

Todas as vezes que os evangelistas nomeavam os doze apóstolos, o faziam invariavelmente começando por Pedro e terminando por Judas, com os demais ocupando lugares diferentes (S. Mateus, X, 2-4, S. Marcos, III, 16-19, S. Lucas, VI, 14-16, Atos, I, 13).

Se não é difícil imaginar o porquê do último lugar ao traidor, também não o é o primeiro para Pedro. São Mateus é explícito: “Primeiro, Simão que se chama Pedro.” (S. Mateus, X, 2-4).
Primeiro em quê? Em idade, em chamado para a vocação? Nem um, nem outro.

Se fosse correta a primeira hipótese, a ordem dos demais seria sempre a mesma, e se o fosse a segunda, André e outro discípulo seriam os primeiros nas listas (S. João, I, 35-42).
Em ocasiões excepcionais da vida de Cristo, três apóstolos sempre O acompanhavam: Pedro e outros dois. Na ressureição da filha de Jairo, na manifestação de sua onipotência, na agonia do jardim das oliveiras, no mistério de suas dores, eles estiveram presentes (Marcos, V, 37; IX, 1; XIV, 33 e outros paralelos).

Às vezes, todo o Colégio Apostólico segue a Pedro numa expressão coletiva: “Pedro e os que o acompanhavam” (Marcos, I, 36).
Lemos também no evangelho de S. João que é Pedro quem responde por todos na questão da explicação de Cristo sobre a necessidade de se comer sua carne e beber o seu sangue (portanto, da presença real de Cristo na hóstia), ocasião em que alguns discípulos abandonaram o Mestre.
Depois que Pedro se pronuncia, ninguém mais abandona Cristo.

A grande promessa

Um dos motivos da grande resistência à primazia de Pedro é o fato dele não ter exercido nenhum poder entre os Apóstolos mesmo após as palavras de Cristo que lhe teriam dado esse poder.
O que não entendem os inimigos do papado é que Cristo fez uma promessa a Pedro, e não uma nomeaçao imediata. Não faria sentido Cristo designar Pedro para que guiasse as almas enquanto Ele estivesse no mundo.

Se os Apóstolos e Discípulos se questionavam quem seria o primeiro, ou o maior no reino, era porque pouco entendiam do que Nosso Senhor ensinava por serem almas toscas, e não porque haveria dúvida acerca da primazia. Essa questão já estava definida.

Para que se compreenda, vejamos o seguinte fato: que verdade estaria mais clara para os discípulos de Cristo, do que o caráter transcendental do seu reino? Nosso Senhor continuamente lhes dizia que seu reino não era deste mundo; no entanto, pouco antes da Ascensão aos Céus, um discípulo pergunta se Cristo iria restituir o reino de Israel naquele momento (Atos, I, 7)!

A mãe de Tiago e João pede um lugar de destaque no reino para os filhos (S. Mateus, XX, 24); quando os discípulos disputavam para ver quem era o maior, Cristo os repreendeu dizendo que “Entre os gentios, os reis exercem dominação sobre os súditos. Entre vós, não há de ser assim; antes, o que é maior entre vós faça-se como o menor, e o que manda como o que serve.” (S. Lucas, XXII, 25-27).
Com isso Cristo ensina uma nova forma de exercer a autoridade, mais perfeita, e não pretende combater a primazia daquele que manda, pois aplica a regra de humildade a si mesmo; em outra passagem (S. João, XIII, 13), o mesmo Cristo se diz Mestre e Senhor; aquele pois, que é mestre, sirva para dar o exemplo e praticar a humildade, e não para deixar de ser mestre.

O “Tu es Petrus”

Se todos esses episódios nos servem para reconstituir o quadro da predileção por Pedro, a passagem da grande promessa é o momento solene da confirmação dessa vocação singular. Cristo dirige-se a Pedro, após sua maravilhosa profissão de fé (“Que dizem os homens de mim (…) que dizeis vós?” “Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo”!), e confirma sua promessa: “Bem aventurado és Simão Barjona, porque não foi a carne e o sangue que a ti revelou, mas sim meu Pai que está nos céus, e eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus”(S.Mateus, XVI, 16-19)
Nunca houve texto mais deturpado, mais recortado e refeito, na busca desesperada de alterar-lhe o sentido, que se apresenta simples. Para os protestantes, Cristo estaria falando de duas pedras. A primeira pedra (“tu és pedra”) não é pedra; no máximo, é uma pedra menor, diferente da segunda (“sobre esta pedra”). A primeira é Pedro, a segunda, Cristo, ou a confissão de Pedro, conforme o examinador.

Porém, o texto se dirige todo a Pedro – “tu és Pedro…”; “eu te darei as chaves…”; “tudo que (tu) ligares…” – em resposta à sua confissão, como um prêmio pela sua defesa pública da fé. O texto não traz qualquer interrupção lógica, para passar a se referir a Nosso Senhor. Se assim fosse, a frase ficaria sem sentido: “tu és Pedro, mas não edificarei a minha Igreja sobre ti, senão sobre mim; as chaves do céu porém te darei.”

Ora, é impossivel admitir que a Sabedoria Divina tenha se expressado de forma tão confusa, ainda mais se nos lembrarmos da mudança do nome de Pedro. Lembremos ainda que Cristo falava em aramaico, língua em que Pedro e pedra significam, ambos, Cefas. Não resta qualquer espaço para dúvidas.

Mas, dirão ainda os protestantes: em várias passagens se diz que Cristo é a pedra, o fundamento! Não há dúvida. Mas só Cristo é pedra? Vejamos o que Nosso Senhor diz:”eu sou a luz do mundo” (S. João, VIII, 12) e depois: “Vós sois a luz do mundo”, dirigindo-se aos apóstolos (Mateus, V, 15).

Duas luzes? Sim. Há, portanto, luz e luz, pedra e pedra. Uma luz fonte, outra luz reflexo; uma pedra fundamento invisível, causa e fim dos homens, outra pedra fundamento visível, rocha de sustentaçao da Igreja indefectível e guia infalível dos homens.

Mas não é necessário prolongar a explicação de algo tão evidente, que mesmo alguns protestantes mais honestos já reconheceram. Reproduzimos apenas uma citação feita pelo padre Franca – P. F. Jalaguier, em seu L’Eglise, Paris 1899, p. 219: “Nous nous plaçons encore ici sur le terrain qui leur est le plus favorable (aos católicos) parce qui’ll est à nos yeux le seul vrai; et nous admettons que ce passage renferme une promesse spéciale fait à Saint Pierre” [“Nós nos colocamos ainda aqui num terreno que lhe é mais favorável (aos católicos) porque ele é, a nossos olhos, o único verdadeiro; e nós admitimos que essa passagem contém uma promessa especial feita a Pedro”] .

As chaves do reino dos céus

As doação das chaves indica o poder conferido a alguém de abrir ou cerrar o acesso da casa, da cidade, do reino, sendo costume entre os orientais o suspender as chaves aos ombros em sinal de autoridade.

Não há dúvida de que Cristo confere a Pedro um poder singular, que sempre foi entendido na Igreja como poder infalível (o que ligar na terra, será ligado no céu) e condicionado à vontade divina (o papa não força Deus a ligar ou desligar, mas só pode ligar ou desligar o que Deus quer no céu), e que foi ratificado no Concílio Vaticano I, no século XIX, com a solene proclamação do dogma da Infalibilidade Papal.

Os protestantes freqüentemente atacam esse dogma por desvirtuarem estas duas verdades – o ligar e desligar condicionado, e a ratificação (e não invenção) do dogma;
Na verdade, Cristo não poderia ter agido de outra forma, se quisesse que sua Igreja triunfasse durante os séculos, senão conferindo ao pastor universal, Seu representante na Terra, um poder infalível.

Se esse poder fosse falível, como esperar que não perecesse?

É exatamente o que ocorre com as seitas derivadas do movimento reformador de Lutero, surgindo e desaparecendo aos borbotões.

O “Pasce oves mea”

Como se isso tudo não bastasse, temos ainda o trecho soleníssimo em que Cristo confia o seu rebanho a Pedro, dando-lhe portanto seu poder de jurisdição sobre os cristãos.
A Pedro, e a ninguém mais, é confiado o pastoreio das ovelhas e dos cordeiros, a que nosso Senhor pede três vezes a confirmação de Pedro, e três vezes o confirma: “Disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Respondeu-lhe Pedro: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe outra vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Ficou triste Pedro, porque pela terceira vez, disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta as minhas ovelhas.” (S. João, XXI, 15-17)

Ora, Cristo não possuía nem cordeiros nem ovelhas. O que Ele confia a Pedro é seu rebanho de almas, constituindo-o seu pastor.
Aqui novamente temos Pastor e pastor, pois Nosso Senhor é o bom pastor. Alguns tentam reduzir esse episódio a uma mera reconciliação do Apóstolo com Cristo, após a tríplice negação de Pedro na casa de Anás e Caifás, antes da crucificação de Cristo. Porém, esquecem-se que após a Ressurreição, é a Pedro que Cristo aparece primeiro (São Lucas XXIV, 34), mostrando que a traição não fizera Pedro perder sua primazia: Cristo continua considerando Pedro o primeiro.

Cristo, sem dúvida, fez Pedro compreender o horror do pecado e o perigo de não se fugir da ocasião de pecado. O Evangelho nos conta que Pedro chorou amargamente. De fato, que dor não deve ter experimentado o Apóstolo, ao cair num pecado justamente contrário à virtude que mais vemos presente nele: a defesa pública da verdade, o desafiar o respeito humano. Aliás, essa virtude ele que irá praticar em grau heróico a partir de então, dando sua vida pela expansão da Igreja.

Unicamente em relação a Pedro, portanto, vemos a significativa mudança do nome, a sempre testemunhada primazia entre os Apóstolos, o pagamento do tributo, o uso exclusivo de sua casa em Cafarnaum e de sua barca, a promessa solene de ser fundamento da Igreja, a entrega das chaves do reino dos céus, a nomeação para o pastoreio dos fiéis.
E há aqueles ainda que não vêem diferenças entre os doze apóstolos!

Para esses, resta a esperança da promessa de Cristo, de que poderia das pedras fazer filhos de Abraão. Para isso, porém, terão que aceitar que Cristo, de um filho de Abraão, fez Pedra.
São Pedro, após a ascensão de Cristo, assumirá seu dever de pastor universal, conduzindo a Igreja nascente. Após sua morte, será substituído, no decorrer dos séculos, pelos seus legítimos sucessores, os papas, até a consumação dos tempos, sob a assistência infalível de Cristo.
Da qual trataremos num próximo artigo.

Fonte: MONTFORT Associação Cultural

“Tu és meu filho e hoje te gerei”: Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo

Fonte: Ecclesia Una

Após o ciclo de quatro semanas propostas pela Igreja no tempo do Advento, celebramos hoje a Solenidade que faz maravilhar nossos corações: o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus entra no espaço e no tempo dos homens. Fá-lo para realizar plenamente a salvação daqueles que estavam carregados com o julgo do pecado.

Apparuit enim gratia Dei salutaris omnibus hominibus – Manifestou-se a graça salvadora de Deus a todos os homens” (Tt 2, 11). Esta é a festa da gloriosa manifestação da graça santificante. Somos envoltos na luz da misericórdia e do amor de Deus, um Deus que faz-se um de nós assumindo o rebaixamento da nossa condição humana. Esse amor não aparece, mas manifesta-se. Manifesta-se, pois já existia, e porque já existia manifestou-se. Mas que coisa é para nós hoje esta manifestação? O que ela representa aos nossos dias atribulados pela valorização de coisas efêmeras, de guerras, de ódios, de divisões? Vemos com grande tristeza a perda dos valores natalinos. Enfeitamos as casas, os comércios, os, porém, corações continuam despreparados para acolher o Menino Deus que vem para libertar-nos do pecado. Os símbolos natalinos perdem seu valor e em nada traduzem o espírito natalino quando são privados de exalar o perfume de Cristo. A Igreja não cessa de convidar os católicos para que, profundamente tomados pela força revigoradora do Cristo, possam manifestar ao mundo que o verdadeiro espírito do Natal não há de consistir apenas nos presentes, pois hoje nos é dado o maior presente; também não há de consistir apenas na árvore de Natal, pois os céus se abrem hoje para manifestar que a Árvore da Vida implanta-se no mundo para nos guiar até o céu.

A manifestação daquele recém-nascido envolto em panos é também o grito de tantas crianças colocadas à margem da sociedade e que nesta noite, tomadas pela escuridão e pelo frio que as cercam não estão incluídas em seios familiares. A elas também dirijo o meu pensamento e peço que não se sintam abandonadas, mas que sintam a presença do Menino Jesus que as ama e com elas permanece sempre.

O Senhor faz-se pequeno para que a o gênero humano pudesse ser engrandecido, e o homem, tomado em sua totalidade, visse a manifestação da glória de Deus, mas não somente a visse como também a experimentasse, tocasse, por assim dizer, pudesse fazer parte dela. Só desta forma os homens poderiam sentir-se abraçados pelo grande amor de Deus, por Aquele que, a princípio, por ser grande e estar infinitamente acima de nós parecia-nos distante e inalcançável.

Na manifestação humilde do Filho de Deus o mundo encontra uma resposta a todas as suas angústias, a todos as suas interrogações. Só Deus pode responder verdadeiramente aos anseios do homem e só d’Ele provém a felicidade eterna e verdadeira, que não se restringe a um instante mas é algo novo, diferente. A alegria que provém de Deus não muda somente o estado de espírito do ser humano; ela vai além: muda o modo de viver, muda o coração e também os objetivos que deseja alcançar. Esta, e só esta, é a felicidade divina.

Na sua maravilhosa obra Confissões, Santo Agostinho irá manifestar um triângulo de relacionamentos em um parágrafo que considero um dos mais belos. Diz ele: “Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade! Tu és o meu Deus, por ti suspiro dia e noite. Desde que te conheci, tu me elevaste para ver que quem eu via, era, e eu, que via, ainda não era. E reverberaste sobre a mesquinhez de minha pessoa, irradiando sobre mim com toda a força. E eu tremia de amor e de horror. Vi-me longe de ti, no país da dessemelhança, como que ouvindo tua voz lá do alto: ‘Eu sou o alimento dos grandes. Cresce e me comerás. Não me mudarás em ti como o alimento de teu corpo, mas tu te mudarás em mim’”.

São estas belíssimas palavras que nos levam a contemplar novamente esta novidade que vem do alto. Sim, Deus é uma verdade eterna, imutável. Em um mundo que necessita exercitar seu empirismo para acreditar, a Igreja nos exorta novamente a abandonarmos esta mentalidade. Busquemos Aquele pelo qual acreditamos não por vermos e necessitarmos tocar, mas acreditamos pelo Amor, um amor incondicional que instiga-nos a caminharmos em direção do próximo, do que necessita nosso amparo e nosso amor, dos que sofrem por não amarem. A estes o Senhor faz um convite incansável: Não temam em abrir-se para o amor! Não temam em abrir-se a Mim!

Se eterna é a verdade, a caridade há de ser, então, verdadeira. Só a verdade pode levar o homem a sair de si mesmo e com Cristo, humilhar-se, e em Cristo, ser unido a Ele sem jamais deixar-se atribular por qualquer pressão do mundo. Renuncieis a esta vida e tereis a vida eterna. Renunciai a vida eterna e nem mesmo esta vida tereis, pois não existe maior desgraça para o homem do que afastar-se de seu Criador e colocar-se na condição de um ser autossuficiente, senhor de si e de seus desejos, podemos confirmá-lo nos vários sistemas políticos de autoritarismo.

A união com Cristo, como lembrará o Santo Bispo ao final de sua colocação, não é algo que assemelhá-Lo-á a mim, mas eu assemelhar-me-ei a Ele. A iniciativa foi dada por Cristo: Ele veio ao nosso encontro; tomemos agora a iniciativa de irmos ao encontro d’Ele, de sairmos das trevas, de amá-lo sem reservas. Indubitavelmente a falta de amor no mundo é consequência da falta de Deus, não porque Ele tenha se afastado do mundo, mas o mundo afastou-se d’Ele.

“O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Assim escutamos nesta noite santa por meio do Profeta Isaias. Também o mundo de hoje caminha em meio a uma forte escuridão. A cultura moderna está impregnada por “sombras da morte”. Nós parecemos não enxergar nenhum sinal que venha nos animar, parecemos atordoados pelas fadigas derivadas do peso que a sociedade impõe. Nosso Senhor, no entanto, sempre aparece como Aquele que conforta-nos e soluciona as nossas tribulações. Confiemos em Deus! Não perece quem confia em Deus, mas aquele que nele não põe sua esperança logo será abatido pelos ventos contrários. Em quem colocamos a nossa confiança? Em Deus ou no mundo? No bem ou no mal? No que fortalece ou no que atribula?

Dominus dixit ad me filius meus es tu ego hodie genui te – O Senhor me disse: Tu és meu filho e hoje te gerei” (Sl 2, 7). Essas palavras a Igreja canta no Introito da Santa Missa da Noite Santa de Natal. Sim, “gerado, não criado; consubstancial ao Pai”, assim professamos no símbolo de fé niceno-constantinopolitano. Gerado desde toda a eternidade, Jesus, cumprindo o salvífico desígnio do Pai, restaura a condição humana decaída pelo pecado, reata os laços do homem com Deus, cortados por Adão e Eva.

“Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito” (Lc 2, 6). Com esta frase, absolutamente sóbria, São Lucas narra o maravilhoso acontecimento que teve lugar na manjedoura. Mas que significado tem aqui o termo “primogênito”? Indicaria uma sucessão de filhos? A primogenitura, deste ponto de vista da Sagrada Escritura, na Antiga Aliança, não significa uma sucessão de filhos, mas é um título de honra. Jesus é sim o primogênito de Deus, de Maria e da História. Nele Deus concretiza o seu desígnio em relação a sua graça salvadora na humanidade. São Paulo usará desta palavra ao afirmar que Cristo é “o primogênito de toda a criatura” (Cl 1, 15). Sim, tendo cumprido a sua obra salvífica podemos afirmar que Ele torna-se também o primogênito de muitos irmãos. Maria, assim, poderíamos associar como mãe de muitos filhos. Aqui estão os outros filhos de Maria! Derivam da filiação adotiva, daquele que é Filho de Deus por excelência: Jesus Cristo.

“Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7). Não havia lugar para o Senhor e para sua mãe naquela época. Também hoje muitos corações estão fechados à receptividade do Reino de Deus que vem na pessoa desta frágil criança. No frio daquela noite de Belém nasce Aquele que iria aquecer todos os corações com a chama do seu amor misericordioso. Pedimos que os corações sejam abertos a este menino salvador. Abram-se os corações e possam acolher aquele que a dois mil anos foi rejeitado.

Que lugar Jesus ocupa em nossos corações hoje? Esta pergunta deve fazer com que possamos melhor vivenciar o verdadeiro espírito natalino. Muitos corações estão endurecidos à mensagem que esta noite tem a transmitir-nos a Igreja. Enquanto a efemeridade e o secundário forem postos como necessários os homens não encontrarão a paz tão almejada. Não pode abrir-se ao mundo e aos irmãos quem antes não estiver aberto a Deus, quem não se tornar portador de sua Palavra e fizer de sua vida um Evangelho.

“Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho” (Lc 2, 8). Quem eram os pastores? Por que a eles o anúncio é dirigido primeiramente? Devemos dizer, em primeiro lugar, que os pastores eram pessoas humildes, tidas à margem da sociedade. Eram desconhecedores da Lei e, portanto, não a vivenciavam-na; andavam com suas ovelhas por diversos campos, inclusive campos pagãos; por tudo isso, eram julgados pelos fariseus e considerados impuros e indignos de participar das cerimônias de culto.

Mas se por um lado lhes pesava o fardo da exclusão, por outro, todo este sacrifício deu-lhes uma consolação maior que qualquer outra: Contemplar a face do Salvador feito homem; contemplar um Deus que é tão pequeno, tão humilde, tão frágil e quis necessitar do nosso amor. Não há na mitologia grega e nos deuses romanos nenhum Deus que tenha se feito homem; mas há para nós, homens e mulheres, testemunhas do Evangelho. O nosso Deus não constitui parte de uma literatura mítica. Ele existe! Ele vive! E hoje Ele inclina-se dos altos céus não para condenar-nos, mas para nos mostrar quão grande é o seu amor; um amor capaz de doar-se, capaz de não apenas inclinar-se para olhar-nos, mas descer para estar conosco.

Precisamente esta impressão, pela qual hoje somos tomados, acometeu os pastores que contemplaram maravilhados o menino. Deixaram tudo, ao escutar o anúncio do anjo. Certamente houve um grande temor por parte deles, afinal não lhes era comum ver aquele personagem vindo do céu. O que os pastores nos ensinam? Esta resposta nos é dada pelo Papa Bento XVI: “Deles queremos aprender a não deixar-nos esmagar por todas as coisas urgentes da vida de cada dia. Deles queremos aprender a liberdade interior de colocar em segundo plano outras ocupações – por mais importantes que sejam – a fim de nos encaminharmos para Deus, a fim de O deixarmos entrar na nossa vida e no nosso tempo. O tempo empregue para Deus e, a partir d’Ele, para o próximo nunca é tempo perdido. É o tempo em que vivemos de verdade, em que vivemos o ser próprio de pessoas humanas” (Homilia do Natal do Senhor, 2009). Ademais ensinam-nos que só o amor pode nos dar coragem para vencer o medo. Só o amor nos dá coragem para seguir a Cristo. Quem tem uma fé fraca e deixa-se abalar pelas coisas do mundo ainda não está apto para tal seguimento. Por vezes há momentos de queda, mas a força que vem de Deus dá-nos a certeza de que não estamos abandonados. Deus está conosco!

Deixemos tudo, como fizeram os pastores. Coloquemo-nos a caminho de Belém e enquanto caminhamos, rezemos: Vem, ó Senhor! Toca os corações endurecidos; renova os nossos corações; dissipa o ódio e o mal da face da terra; reafirmai vossa primazia e poder sobre todos os homens e em todos os tempos. Renovai vosso ardente desejo de sermos Evangelhos vivos para os homens de nossos dias. Revigora o ânimo dos entristecidos; conforta os tristes; curai os enfermos; acolhei os abandonados. Tornai-nos corações vigilantes na expectativa de que, habitando Cristo em nossos corações, possamos abitar igualmente no coração amoroso d’Ele. Concede paz ao mundo dilacerado pela guerra, paz verdadeira e duradoura. Paz a todos os cristãos nos mais diversos países, perseguidos por causa do vosso nome. Livrai-nos da tentação de colocar-Vos em último lugar, mas que possais crescer enquanto nós, assim como João Batista, possamos diminuir.

A todos os meus votos de um Feliz e Santo Natal. Que a luz de Cristo resplandeça em vossos corações e em vossas famílias.

Igreja é última realização da vontade divina

«Pecados da Igreja nunca anularão a fidelidade de Jesus Cristo», diz cardeal

LISBOA, segunda-feira, 15 de março de 2010 (ZENIT.org).- O Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, afirmou nesse domingo que a Igreja “é a última realização” da vontade divina antes do final dos tempos e que ela é também, para Deus, “a última esperança” de ter um povo que lhe seja fiel.

Na quarta catequese quaresmal deste ano, proferida na Sé Patriarcal – segundo informa Agência Ecclesia – Dom José Policarpo sublinhou que todos os membros da Igreja são chamados de “povo sacerdotal” porque “a santidade da sua vida é o verdadeiro culto que Deus espera”.

Deus quer que a Igreja seja mediadora entre Ele e toda a humanidade, favorecendo a “realização última” do desígnio divino, isto é, o desejo “de reunir, no fim, todos os homens num só Povo, que o louvem, contemplem a sua glória e experimentem a alegria do amor”.

Para Dom José Policarpo, a revelação da vontade divina para a humanidade é uma “manifestação da persistência de Deus”, que “não desiste de vir um dia a ter esse povo que Ele deseja, que O louve com toda a sua vida”.

“Os pecados da Igreja nunca anularão a fidelidade de Jesus Cristo”, acrescentou o purpurado.

“Não há perigo de mais uma desilusão para Deus, porque a Igreja é Cristo, identifica-se com Cristo, a sua fidelidade é a de Cristo, a força que a move é o próprio Espírito de Cristo.”

Como resposta à ação divina, Deus espera da Igreja uma “atitude sacerdotal”, que contribua para que os seus membros possam “sentir já na história a alegria da intimidade com Ele”.

Mobilização no Facebook contra proibição dos crucifixos na Espanha

Nasce o grupo “Sim ao crucifixo”

MADRI, quarta-feira, 19 de agosto de 2009 (ZENIT.org).- O anúncio do ministro da Justiça, Francisco Caamaño, da intenção do Governo espanhol de proibir a presença dos símbolos religiosos nos centros educativos públicos provocou a mobilização no Facebook.

Com este motivo se criou o grupo “Sim ao crucifixo”, que no momento do fechamento desta edição contava com cerca de 700 usuários na rede social, pouco depois de ter sido criado.

“O sinal da cruz é o sinal universal do amor e da paz”, dizem os promotores no Facebook.

O grupo é promovido pelo site da revista Ecclesia.

Nos foros de discussão, alguns dos participantes retomaram as declarações que emitiu esta terça-feira o cardeal Eduardo Martínez Somalo, carmalengo emérito e antigo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.

Após a reunião com Pedro Sanz, presidente do Governo de La Rioja, o purpurado espanhol reconheceu que “não entende” por que o Governo espanhol propõe mediante uma lei tirar crucifixos dos colégios públicos.

O cardeal confessou que desconhece “a quem os crucifixos podem agredir”, “ainda que não seja católico”. Não se entende, disse, como “para chegar à pluralidade e para ter uma autêntica democracia tenha de suprimir um elemento da pluralidade, que é o catolicismo, ou não respeitar a grande maioria, que são crentes”.

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