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Para o homem a fé cristã é sempre um escândalo, afirma o Papa

FRIBURGO, 26 Set. 11 / 03:31 pm (ACI/EWTN Noticias)

Em seu discurso às associações católicas comprometidas com a Igreja e a sociedade na Alemanha, o Papa Bento XVI disse que “a fé cristã é para o homem sempre um escândalo, não só em nosso tempo”.

Ontem pela tarde na Konzerthaus de Friburgo, o Santo Padre agradeceu primeiramente o trabalho destas associações e fez uma reflexão sobre o fato que, ante a progressiva secularização da sociedade cada batizado, “cada cristão e a comunidade dos crentes estão chamados a uma conversão contínua”.

Este processo, explicou, deve considerar o “escândalo” da fé já que “acreditar que o Deus eterno se preocupe dos seres humanos, que nos conheça; que o Inexeqüível se converteu em um momento dado em acessível; que o Imortal tenha sofrido e morto na cruz; que tenha prometido aos mortais a ressurreição e a vida eterna; para nós os homens, tudo isto é verdadeiramente uma ousadia”.

Este escândalo, continuou, “que não pode ser suprimido se não quer anular o cristianismo, foi lamentavelmente escurecido recentemente pelos dolorosos escândalos dos anunciadores da fé”.

“Cria-se uma situação perigosa, quando estes escândalos ocupam o posto do skandalon primário da Cruz, fazendo-o assim inacessível; isto é quando escondem a verdadeira exigência cristã atrás da inépcia de seus mensageiros”, acrescentou.

O Papa disse logo que para cumprir com sua missão de anunciar ao mundo o Evangelho de Cristo para a salvação dos homens, é necessário como dizia Paulo VI, que a Igreja “’diferencie-se profundamente do ambiente humano no qual vive e ao qual se aproxima’. Para cumprir sua missão, ela tomará continuamente as distâncias de seu entorno, deve em certa medida ser desmundanizada”.

A Igreja, explicou Bento XVI, existe graças à vontade de Deus que ama todos sem distinção e respeita a liberdade de cada qual para segui-lo ou não, para responder livremente ao seu amor apesar de que “o homem não pode corresponder com nada equivalente”.

“Também a Igreja deve seu ser a este intercâmbio desigual. Não possui nada de autônomo diante d’Aquele que a fundou. Encontra seu sentido exclusivamente no compromisso de ser instrumento de redenção, de impregnar o mundo com a palavra de Deus e de transformá-lo ao introduzi-lo na união de amor com Deus”.

O Pontífice precisou que “a Igreja deve se abrir uma e outra vez às preocupações do mundo e dedicar-se a elas sem reservas, para continuar e fazer presente o intercâmbio sagrado que começou com a Encarnação”.

“No desenvolvimento histórico da Igreja se manifesta, entretanto, também uma tendência contrária, a de uma Igreja que se acomoda a este mundo, chega a ser auto-suficiente e se adapta a seus critérios. Por isso dá uma maior importância à organização e à institucionalização que à sua vocação à abertura”.

Ante esta situação, disse o Papa, e “para corresponder à sua verdadeira tarefa, a Igreja deve uma e outra vez fazer o esforço de separar-se do mundano do mundo. Com isto segue as palavras de Jesus: ‘Não são do mundo, como eu também não sou do mundo’”.

Em um certo sentido, continuou o Papa Bento, “a história vem em ajuda da Igreja através de distintas épocas de secularização que contribuíram de modo essencial à sua purificação e reforma interior”.

“Com efeito, as secularizações –seja que consistam em expropriações de bens da Igreja ou em cancelamento de privilégios ou coisas similares– significaram sempre um profundo desenvolvimento da Igreja, no qual se despojava de sua riqueza terrena ao mesmo tempo em que voltava a abraçar plenamente sua pobreza terrena”.

O Papa destacou assim “os exemplos históricos mostram que o testemunho missionário da Igreja ‘desmundanizada’ resulta mais claro. Liberada de seu fardo material e político, a Igreja pode dedicar-se melhor e verdadeiramente cristã ao mundo inteiro, pode verdadeiramente estar aberta ao mundo. Pode viver novamente com mais soltura sua chamada ao ministério da adoração a Deus e ao serviço do próximo”.

Para obter isto, explicou Bento XVI, é necessário que a Igreja experimente a fé “no hoje vivendo-a totalmente precisamente na sobriedade do hoje, levando-a à sua plena identidade, tirando o que só aparentemente é fé, mas em realidade não são mais que convenções e hábitos”.

O Papa Bento XVI disse logo que “estar abertos às vicissitudes do mundo significa portanto para a Igreja ‘desmundanizada’ testemunhar, segundo o Evangelho, com palavras e obras, aqui e agora, a senhoria do amor de Deus”.

Ao final do seu discurso o Papa disse: “queridos amigos, resta só implorar para todos nós a bênção de Deus e a força do Espírito Santo, para que possamos, cada um em seu próprio campo de ação, reconhecer uma e outra vez e testemunhar o amor de Deus e sua misericórdia”.

Dar testemunho jubiloso da verdade do Evangelho, exorta o Papa

Vaticano, 20 Set. 11 / 06:17 pm (ACI/EWTN Noticias)

Papa Bento XVI enviou uma mensagem aos católicos do Reino Unido no aniversário de sua visita a esta nação. No texto ele alenta os fiéis a “darem um testemunho jubiloso da verdade do Evangelho”.

Na mensagem assinada pelo Secretário de estado, Cardeal Tarcisio Bertone, o Santo Padre expressou sua gratidão pelas “calorosas boas-vindas” que recebeu na Inglaterra, aonde foi beatificar o Cardeal John Henry Newman.

No domingo celebrou-se na Catedral de Westminster (Londres) uma Missa de ação de graças na qual participaram todos os bispos e os seminaristas locais, assim como alguns representantes anglicanos e do governo.

Em sua mensagem, o Papa expressou sua esperança de que a celebração “sirva como uma nova exortação a responder ao desafio lançado há um ano: dar um testemunho jubiloso da verdade do Evangelho, que liberta as mentes e ilumina os esforços por viver sabiamente e bem na sociedade”.

O Papa animou também os seminaristas “a terem o olhar fixo em Jesus Cristo”, para dedicar-se completamente à formação intelectual e espiritual, e para ser “firmes arautos da nova evangelização”.

O Papa também recordou a beatificação do Cardeal Newman. Naquela ocasião, em 19 de setembro de 2010, Bento XVI explicou que o lema deste sacerdote “cor ad cor loquitur” (o coração fala ao coração), “oferece-nos a perspectiva de sua compreensão da vida cristã como uma chamada à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o Coração de Deus”.

Liturgia da Palavra: “dar cumprimento à lei e aos profetas”

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração

SÃO PAULO, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o comentário à liturgia do próximo domingo – VI do Tempo Comum Eclo 15, 16-21; 1 Cor 2,6-10; Mt  5, 17-37 – redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes – São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assina os comentários à liturgia dominical, às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT.

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VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Eclo 15, 16-21; 1 Cor 2,6-10; Mt  5, 17-37

“Não penseis que eu vim para abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17).

Esta é uma afirmação fundamental de Jesus sobre sua missão; ao mesmo tempo é o cerne da profissão de fé da Igreja sobre a identidade e a função messiânica do próprio Jesus. É a chave hermenêutica a partir da qual devemos entender e viver a Boa-nova de Jesus. Nessa afirmação aparece bem como toda a história esteja ordenada ao Cristo e como nele ela encontra o seu centro e a sua plena realização. 

Ao longo do evangelho de Mateus ocorre com freqüência a frase “Isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor tinha dito pelo profeta” (cf. Mt 1, 22; 2,15.17.23). A intenção do evangelista está clara: Ele quer sublinhar que na vida e no ensinamento de Jesus está se revelando e cumprindo o desígnio de salvação de Deus, prometido e iniciado através dos acontecimentos dos patriarcas e das palavras dos profetas do AT, por meio da aliança e do dom da Torá.

O próprio Jesus, para iluminar e sustentar a fé dos discípulos profundamente perturbados em razão dos trágicos acontecimentos da paixão e morte em Jerusalém, com carinho e vigor destaca: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. Então abriu-lhes a mente para que entendessem as escrituras” (Lc 24, 44-45).

Ao celebrar a memória da páscoa de Jesus, morto e ressuscitado, a cada domingo, a Igreja nos faz viver em maneira nova este encontro revelador com o Senhor ressuscitado. À sua luz se iluminam nossas angústias e nossas perguntas incessantes sobre nós mesmos e a nossa condição de seus discípulos, às vezes desanimados diante das incongruências da vida.

Ao escutar as palavras de Jesus no evangelho de hoje, podemos bem compreender que no centro do ensino proporcionado para os discípulos, assim como nas disputas acirradas com os escribas e os fariseus que o acusavam de não respeitar a Lei e as tradições dos antigos pais, não está simplesmente em jogo a questão da observância dos preceitos da Lei de Moisés ou dos costumes tradicionais, mas a relação profunda com a pessoa do próprio Jesus e com o projeto original de Deus para com Israel e a humanidade inteira. Um projeto de vida, de autenticidade e de libertação de toda dissimulação consigo mesmo, com os demais e com Deus.

Jesus, o “homem novo”, o “novo Adão” (cf. Rm 5, 15 -19), realiza o desígnio do Pai segundo seu projeto original sobre o homem/mulher, e abre o caminho para também nós entrarmos na dinâmica do homem novo. Da relação autêntica com a pessoa de Jesus, vivenciada na fé, brotam no discípulo, a energia vital e os critérios que orientam do interior o estilo novo da sua vida, moldada pelo Espírito no seu exemplo. Ao conhecer e ao amar a Jesus, os preceitos e os critérios novos para agir, brotam da raiz do coração renovado. Abrem um processo que antecipa a plenitude da vida divina em nós. “A fé – afirma São Boaventura – é o conhecimento de Jesus Cristo, donde se origina a firmeza e a compreensão de toda a escritura… Ela foi escrita não apenas para que crêssemos, mas para que possuíssemos a vida eterna, onde veremos, amaremos, e teremos satisfeitos todos os nossos desejos” (Brevilóquio, 5, 201; LH III, pg. 151; 152).

Quando a experiência espiritual amadurece assim, os mandamentos de Deus não são mais leis ditadas ou impostas do exterior ao discípulo. Elas estão inscritas pelo Espírito no tecido vivo da consciência, segundo a profecia de Jeremias sobre a nova aliança: “Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração. Então eu serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31, 33).

A partir da sua experiência pessoal de total adesão ao Pai na obediência do amor, Jesus, seguindo a linha dos grandes profetas, reivindica a interiorização da lei e do culto, a fim de que estes correspondam ao sincero compromisso na vida. Pois, infelizmente, pode acontecer o paradoxo de uma vida formalmente condizente com as leis e as “tradições sagradas”, mas de fato em contradição radical com as exigências elementares de uma autêntica relação com Deus: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições… Assim vós esvaziais a palavra de Deus com a tradição que vós transmitis” (Mc 7, 9.13).

Terrível esta admoestação de Jesus, que não acaba de ressoar na consciência dos discípulos! Pois a latente tensão entre formas exteriores e qualidade efetiva da vida acompanha o “homem religioso” em todo tempo. Palavras que constituem um ponto de referência substancial, para um constante exame de consciência individual e comunitário. Para um caminho de autêntica libertação.

A passagem do exterior ao interior coincide com a passagem progressiva da norma observada por dever ou medo do juízo de Deus, ao amor fonte de energia vital e lei suprema de ação. Toda observância de normas morais exige empenho, mas fica circunscrita dentro seus limites, como é na natureza de toda lei. Pelo contrário, a lei do amor é mais exigente, pois todo amor autêntico não conhece limites no seu compromisso. Mas o compromisso que nasce do amor, nasce e se exprime na liberdade e se torna libertador. Nenhuma norma é suficiente para conter as potenciais exigências do amor livre e generoso. O amor prevê e antecipa as necessidades do outro, assim como o cuidar deste com carinho.

Na vigília da sua total e definitiva dedicação ao Pai e aos discípulos, Jesus resume a revelação de si mesmo e seu ensino na entrega do mandamento único e novo, o mandamento do amor, em continuidade da sua mesma experiência: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34).

Padres comprovados da vida espiritual, como São Bento, se colocam na linha do exemplo e do ensino de Jesus. Destacam a função pedagógica das normas de vida e a necessidade de passar sempre mais da prática disciplinar das regras, úteis para iniciar o caminho espiritual e nos sustentar nos momentos de fragilidade, para a lei do amor, fonte da verdadeira liberdade dos filhos e filhas de Deus. “O caminho da salvação – escreve São Bento – nunca se abre se não por penoso início. Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração e com inenarrável doçura de amor corre-se pelo caminho dos mandamentos de Deus. De modo que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, em sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos de Cristo, a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino” (Regra dos monges, Prólogo, 49-50).

A passagem através da pedagogia das normas até chegar à liberdade exigente do amor é um autêntico êxodo e saída de si mesmo, uma morte ao homem velho para dar lugar ao homem novo, uma passagem pascal em Cristo e com Cristo. Antes de tornar-se fruto do esforço moral, a vida do Espírito é fruto da graça pascal de Cristo, acolhida na experiência sacramental da liturgia e no caminho sincero da conversão do coração ao Senhor.

A meta do caminho espiritual, identificado por São Bento com “a subida da escada da humildade”, em sintonia com a humildade do Verbo que esvaziou a si mesmo, é alcançar a lei do amor gratuito, na liberdade e na alegria do Espírito.

“Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor: por meio dela tudo o que observava antes, não sem medo, começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio bom costume e pela deleitação das virtudes” (Regra dos monges c. 7, 67-69).

Santo Agostinho, o homem que experimentou em si mesmo as radicais contradições entre os desejos mais profundos do coração humano e a incapacidade para segui-los com as própria forças, e que depois experimentou a explosiva energia renovadora da graça, chegará a cunhar a famosa frase que bem resume a raiz e o horizonte infinito do amor de Deus derramado no coração: “Ama e faz o que quiseres!”. Se alguém amar de verdade, não pode agir a não ser segundo a lógica do amor de Deus.

Esta é a verdadeira identidade cristã e o dinamismo da liberdade e responsabilidade do cristão, como filho e filha de Deus em Cristo.

Este é o caminho que Jesus abre novamente com seus gestos e palavras. Inevitavelmente muitas vezes elas vão embater com as atitudes míopes dos fariseus de todos os tempos. Na verdade o que Jesus põe novamente em primeiro lugar constitui o sentido do original projeto de Deus, revelado e doado a Israel na aliança e na Lei. Por isso nem os pormenores da Lei, assim entendida, deveriam ser arbitrariamente omitidos. Pois, também neles se manifesta a plenitude da lei. A lógica do amor é abrangente. Se os discípulos tem que estar dispostos a perder a vida por Jesus e pelo evangelho, para tornar-se dignos do reino de Deus ( Mt 10, 32-33), é também não menos verdade que “quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa” (Mt 10,42). No pequeno gesto está presente a plenitude do amor. Por isso toda vocação cristã tem em si mesma as potencialidades da santidade.

A lei de Deus não é constrangedora da dignidade da pessoa humana; é o contrário do que acontece nas mãos dos fariseus: por a terem manipulado e submetida às arbitrárias interpretações e tradições humanas, chegaram a ponto de até esvaziá-la e substituí-la com as próprias tradições.

Jesus indica a exigência que a relação dos discípulos com a lei, “a justiça” deles, seja “superior à dos fariseus e dos letrados”, prisioneiros do legalismo exterior (Mt 5, 20).

A partir da perspectiva da interioridade e da integridade do compromisso da pessoa na prática da vida cotidiana, destaca a lei suprema do amor como critério fundamental de vida na nova comunidade dos discípulos. Ao se colocar no patamar do projeto original de Deus, Jesus com sua autoridade soberana põe em luz as contradições e evidencia a exigência de descer às raízes de onde brotam os sentimentos e as ações. “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos… Eu porém, vos digo…”.

As três antíteses relativas ao preceito de não matar (v. 21 – 26), à proibição do adultério – divórcio (v. 27 – 32), e à proibição do juramento (v. 33 – 37), tocam as fundamentais relações com o próximo, consigo mesmo e com Deus. Jesus passa do aspecto exterior, mesmo aparentemente de pouca importância, como um olhar furtivo para uma mulher/homem, ou uma palavra desrespeitosa dirigida a um irmão, à raiz mais profunda dos pensamentos, dos desejos, da falsidade ou da integridade consigo mesmo e nas relações.

Até mesmo o ato de culto: quando aquele que oferece se encontra já diante do altar do Senhor, deve se submeter a verificar dos sentimentos do irmão em relação a si (Mt 5, 23-25). A relação com o irmão se torna critério fundamental da autenticidade da relação com o Senhor! A lei do amor não admite divisão e diferenciação ao relacionar-se com a vida. Como disse o próprio Jesus: “Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34). Se a pessoa está divida em si mesma, por desejos e atividades contrastantes com a exigência da integridade, é necessário enfrentar uma transformação radical desses elementos através de uma verdadeira morte e ressurreição pascal com Cristo (Mt 5, 29-30).

Junto com o evangelho encontramos na leitura semi-contínua da primeira carta de Paulo aos Coríntios (2a Leitura), palavras iluminadoras. Percebemos ainda mais claramente que o horizonte e o caminho proposto por Jesus pertencem ao mundo alternativo, outro: aquele da sabedoria da cruz e do mistério de Deus revelado em Jesus crucificado. Esta é a sabedoria que Paulo tem usado ao falar do evangelho de Jesus aos Coríntios, contando unicamente sobre a força persuasiva que vem do Espírito. Paulo recebeu de Deus esta surpreendente sabedoria divina através do Espírito, e ao próprio Espírito é preciso se submeter, para entrar no dinamismo da nova modalidade de viver.

Esta é a graça que a Igreja invoca como dom supremo do Pai para todo o povo que participa na celebração eucarística: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós”.

Como os primeiros cristãos celebravam o culto a Deus?

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Missa católica ou culto protestante?

Que culto os cristãos devem prestar a Deus, é uma questão presente em algumas discussões religiosas promovidas por círculos cristãos diversos. Com o crescimento das seitas no Brasil, desde o fim da década passada podemos verificar a soberba de muitos não-catolicos em afirmar que o culto ou liturgia que eles prestam a Deus são verdadeiros e solidamente legítimos, pois identificam-se com o culto que os primeiros cristãos tributavam a Deus, sendo seu culto bíblico; seria verdadeiro este argumento? Acusam que a Missa católica é invenção humana e não se trata de um culto a Deus, mais uma simples reunião social, cujo Deus não ouve ou aceita, sem base bíblica mais um sacrifício paganizado; verdade estas afirmações?

Vamos analisar a historicidade litúrgica do culto oferecido pela Igreja, que tipo de culto e ritos os cristãos prestavam a Deus na antiguidade, sabemos que os primeiros cristãos seguiram a doutrina ensinada pelos apóstolos e mais tarde guarnecida pelos Padres da Igreja, o próprio mandamento do Senhor diz como lembra Paulo: “Fazei isto em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a minha morte, e confessareis a minha ressurreição” (1 Cor 11,26) . Lembra também Jesus no Evangelho de João “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” Jo 6, 53.

Os cristãos primitivos então viviam:

Na comunhão do pão e na oração perseveravam os primeiros cristãos convertidos após a Ressurreição de Cristo, como atestado na Igreja primitiva (At 2, 42), celebrando os santos mistérios sacramentais, e no inicio do II séc.  usando a disciplina do Arcano¹, onde os mistérios cristãos eram celebrados secretamente para que não se paganizassem e se mantivessem no seio da Igreja, vivos, os gentios não participavam, os que podiam gozar de tais mistérios os “sacramentos” eram os já catequizados e batizados e não os catecúmenos. No serviço litúrgico (At 13, 2); reunidos na casa de membros da comunidade ou em lugares ocultos (como catacumbas), devido à perseguição, nos tempos primitivos muitos apóstolos ministraram a “liturgia”, ou seja, o oficio ou serviço de adoração a Deus, em suas casas edificações que ficaram conhecidas como Domus Eclesiae que mais tarde virá a se tornar Domus Dei edifícios só para o culto cristão.

Celebravam no primeiro dia depois do sábado (o Domingo, segundo São João, Ap. 1, 10), quando S. Paulo diz para partir o pão (At. 20,7), os cristãos cultuavam a Deus mais frequentemente. Faziam à leitura dos profetas, das epístolas dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas. Estas leituras eram explicadas, conforme S. João, que, conduzido a Éfeso, limitou-se a esta exortação: “Meus filhos, amai-vos uns aos outros”. Desta prática de explicar o que era lido no Texto Sagrado, deriva a realização das homilias e sermões.

Vejamos os primeiros registros sobre a liturgia o que dizem os Pais Apostólicos da Igreja

S. Justino Mártir, (103-167) filósofo pagão que se convertera , tornando-se sacerdote e mártir, contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor Jesus Cristo), de S. Inácio, de Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu, discípulos de Policarpo em sua obra Apologia 2, escreve: “No chamado dia do Sol todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo” e sobre a reunião dos primeiros cristãos para culto ele descreve.

“Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos”. “Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão, vinho e água”.

“O sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem!”. “Distribui-se os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta comunhão aos ausentes”.

“Os que possuem bens e riquezas dão uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas as necessidades”.

“Celebramos nossas reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos”.

Outro atestado é de;

S. Inácio de Antioquia, (†110) terceiro bispo de Antioquia, sucessor de S. Pedro e de Evódio, contemporâneo dos apóstolos quando muito jovem, que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado; Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas as igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna. E nesta aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.

“Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou.” (Epístola aos Esmirnenses: Cap. VII; Santo Inácio de Antioquia).

S. Ireneu de Lião, (130-202) eminente teólogo ocidental, confirma-nos o sacrifício que era prestado pelos primeiros cristãos figurado no sacrifício de Cristo, em outra obra ele ressalta a importância e a transubstanciação na Eucaristia.

“(Nosso Senhor) nos ensinou também que há um novo sacrifício da Nova Aliança, sacrifício que a Igreja recebeu dos Apóstolos, e que se oferece em todos os lugares da terra ao Deus que se nos dá em alimento como primícia dos favores que Ele nos concede no Novo Testamento. Já o havia prefigurado Malaquias ao dizer: Porque desde o nascer do sol, (…) (Malaquias, I, 11). O que equivale dizer com toda clareza que o povo primeiramente eleito (os judeus) não havia mais de oferecer sacrifícios, senão que em todo lugar se ofereceria um sacrifício puro e que seu nome seria glorificado entre as nações.” (Adversus haereses, São Ireneu de Lion).

Outro Registro é o:

Didaqué um catecismo cristão que fora escrito por volta do ano 120 d.C. um dos mais antigos registros do cristianismo, fala nos do culto cristão e da celebração dos primeiros crentes após transcrever regras a respeito da celebração da eucaristia; diz:

“Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: “Não dêem as coisas santas aos cães”. (Didaqué, Cap. IX, Nº 5)

Também diz sobre a reunião dos crentes;

“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro” (Didaqué, Cap. XIV, nº 1)

O que tem em comum estes testemunhos do fim do I séc. e inicio do II século, comprovam a liturgia católica como herdeira, da liturgia dos primeiros cristãos oferecidas em suas reuniões, mais tarde no séc. III conhecidas pelo termo Missa, que Procede do latim “mitere”, que quer dizer “enviar, mandar, despedir”. Missa é o particípio que adquira o sentido de substantivo; “missão, despedida, dispensa,” é, pois a despedida na partida. Podemos observar que eles perseveravam na comunhão e na celebração eucarística então onde ficam os cultos protestantes? Os gritos, os longos sermões, e as musicas e estilos exagerados e sentimentais, além dos pseudo-exorcismos e das tidas manifestações do “Espírito”? Se não tem embasamento histórico, bíblico ou nas reuniões dos primeiros cristãos? Trata-se de invenções humanas posteriores a antiguidade cristã.

Notas:

Disciplina do Arcano¹: Disciplina do Segredo, ou Lei do Arcano, é o termo teológico para expressar o costume que prevaleceu na Igreja primitiva, na qual o conhecimento dos mistérios da religião cristã era, por medida de prudência, cuidadosamente mantido oculto aos gentios, aos não-iniciados e até mesmo aos que se submetiam à instrução na fé, para evitar que aprendessem algo que pudessem fazer mau uso, o costume pendurou-se até o séc. VI.

Fonte: Veritatis Splendor

Questionando os Protestantes – V

A Ceia do Senhor é Apenas Simbólica?

Em uma palavra: Não.

Se há uma doutrina da Igreja histórica que tem sido firme durante dois milênios, é a da presença real de Cristo na Eucaristia (a Ceia do Senhor). Mas essa posição histórica não é como canibalismo? Se você pensa assim, não está sozinho. De fato, quando Jesus falou:

“Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu der, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6,48-51).

Muitos dos ouvintes ficaram estarrecidos. Ouviram com seus próprios ouvidos que Jesus disse que eles deveriam comer Sua carne. Depois de escutar isso, e interrogando-se uns aos outros, Jesus acaso disse aos ouvintes: “Desculpa, Eu estava falando simbolicamente…”? Não, ao invés disso, Ele foi ainda mais direto:

“Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida” (Jo 6 55).

Após dizer isto, muitos daqueles que o haviam seguido ficaram desapontados. Se fosse um simples mal entendido, por que Jesus não emendou suas palavras para torná-las claras? A verdade é que Jesus estava sendo claro, cristalinamente claro. O povo entendeu seu significado, mas não o pôde aceitar. No que acreditou a Igreja Apostólica sobre este assunto? São Paulo escreveu:

“O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?” (1Cor 10,16)

Em lugar de “comunhão” outras traduções usam a palavra “participação”. Por que o apóstolo não explicou e disse que isso era meramente simbólico? Mais tarde, ele diz:

“Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” (1Cor 11,29)

Se é um simples símbolo, por que a linguagem sobre “distinguir o corpo do Senhor”? Finalmente, vejam os seguintes Padres da Igreja: Inácio de Antioquia (ano 110), Justino mártir (ano 151), Ireneu de Lião (ano 189), Ambrósio (ano 390), Agostinho (ano 411); todos eles fazem eco ao que a Igreja Apostólica sempre ensinou: o Corpo de Cristo e seu sangue estão presentes na Eucaristia. Não foi senão na Reforma que este assunto foi posto em discussão, com Lutero acreditando na presença física de Cristo na Eucaristia, Calvino acreditando na presença espiritual de Cristo na Eucaristia, e Zwínglio chamando-a apenas de um “memorial”. O que é mais verdadeiro: o consistente ensinamento da Igreja, durante dois milênios, ou as opiniões conflitantes dos três Reformadores?

A presença real de Cristo na Última Ceia é uma doutrina fundamental cristã que consta nas Escrituras e foi ensinada permanentemente através da história.

Fonte: Site “Glory to Jesus Christ!”. Tradução: José Fernandes Vidal.

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