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Cresce interesse pelos santos, diz porta-voz vaticano

Comenta as últimas canonizações

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 25 outubro de 2010 (ZENIT.org) – Os santos voltaram a estar na moda, afirma o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, ao constatar a extraordinária participação nas últimas canonizações presididas por Bento XVI.

O padre Federico Lombardi, S.J., analisa no último número de Octava Dies, semanário do Centro Televisivo Vaticano, a proclamação como santos de Stanislaw Soltys, André Bessette, Cândida Maria de Jesus Cipitria y Barriola, Mary of the Cross MacKillop, Giulia Salzano e Battista Camilla Varano.

Essas canonizações “foram um tanto particulares. Sobretudo dois destes novos santos mobilizaram um interesse muito especial em seus países”. O porta-voz refere-se à australiana Mary MacKillop e ao canadense André Bessette.

“Os outros santos e santas eram italianos, espanhóis e poloneses e, portanto, apesar de sua grandeza, não eram uma novidade absoluta. Mas a Austrália ainda não tinha uma santa e o Canadá tinha uma menor familiaridade com as canonizações”.

“Grupos de milhares de peregrinos enfrentaram viagens muito longas e dispendiosas para estar presentes na Praça de São Pedro; muitos jornalistas e equipes de televisão vieram a Roma para escrever artigos, fazer reportagens, entrevistas, transmissões ao vivo sobre a cerimônia e as outras celebrações”, recorda o padre Lombardi.

“Normalmente os meios de comunicação movem-se quando entendem que há um interesse popular amplo e difundido”, recorda.

“A Igreja propõe solenemente nos santos os modelos de vida cristã, mas o faz reconhecendo aquilo que o povo já entendeu: que certas pessoas encarnam o Evangelho de forma extraordinária, e assim se convertem para aqueles que os descobrem em amigos espirituais, fantásticos guias para chegar ao amor de Deus, à fé, à esperança.”

“Alguns santos são reconhecidos solenemente; a grande maioria não se faz universalmente famosa, mas difunde igualmente ao ser redor esperança e amor. Esta é a face mais bela da Igreja”, afirma.

Filipe

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Prosseguindo no delineamento das fisionomias dos vários Apóstolos, como fazemos há algumas semanas, hoje encontramos Filipe. Nas listas dos Doze, ele é sempre colocado no quinto lugar (assim em Mt 10, 3; Mc 3, 18; Lc 6, 14; Act 1, 13), portanto substancialmente entre os primeiros.

Apesar de Filipe ter origens hebraicas, o seu nome é grego, como o de André, e isto é um pequeno sinal de abertura cultural que não se deve subestimar. As notícias que temos sobre ele são-nos fornecidas pelo Evangelho de João. Ele provinha do mesmo lugar de origem de Pedro e de André, isto é, de Batsaida (cf. Jo 1, 44), uma pequena cidade pertencente à tetrarquia de um dos filhos de Herodes, o Grande, também ele chamado Filipe (cf.Lc3,1).

O Quarto Evangelho narra que, depois de ter sido chamado por Jesus, Filipe encontra Natanael e diz-lhe: “Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré” (Jo 1, 45). Natanael dá uma resposta bastante céptica (“De Nazaré pode vir alguma coisa boa?”), perante a qual Filipe não se desencoraja e responde com determinação: “Vem e verás!” (Jo 1, 46). Nesta resposta, breve mas clara, Filipe manifesta as características da verdadeira testemunha: não se contenta em propor o anúncio, como uma teoria, mas interpela directamente o interlocutor sugerindo-lhe que faça ele mesmo uma experiência pessoal do que foi anunciado. Os mesmos dois verbos são usados pelo próprio Jesus quando dois discípulos de João Baptista se aproximam dele para lhe perguntar onde mora. Jesus responde: “Vinde ver” (cf. Jo 1, 38-39).

Podemos pensar que Filipe se dirija também a nós com aqueles dois verbos que exigem um envolvimento pessoal. Também a nós diz o que dissera a Natanael: “Vem e verás”. O Apóstolo convida-nos a conhecer Jesus de perto. De facto, a amizade, o verdadeiro conhecer o outro, precisa da proximidade, aliás, de certa forma vive dela. De resto, não se deve esquecer que, segundo o que escreve Marcos, Jesus escolheu os Doze com a finalidade primária que “andassem com Ele” (Mc 3, 14), ou seja, que partilhassem a sua vida e aprendessem directamente dele não só o estilo do seu comportamento, mas sobretudo quem era Ele realmente. Com efeito, só assim, participando na sua vida, o podiam conhecer e depois anunciar. Mais tarde, na Carta de Paulo aos Efésios, ler-se-á que o importante é “aprender de Cristo” (4, 20), portanto, não só e não tanto ouvir os seus ensinamentos, as suas palavras, mas ainda mais conhecê-lo pessoalmente, a sua humanidade e divindade, o seu mistério, a sua beleza. De facto, Ele não é só um Mestre, mas um Amigo, ou melhor, um Irmão. Como poderíamos conhecê-lo profundamente permanecendo distantes? A intimidade, a familiariedade, o habitual fazem-nos descobrir a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Portanto: é precisamente isto que nos recorda o apóstolo Filipe. E convida-nos a “vir”, a “ver”, isto é, a entrar num contacto de escuta, de resposta e de comunhão de vida com Jesus dia após dia.

Depois, por ocasião da multiplicação dos pães, ele recebeu de Jesus um pedido específico e surpreendente: onde era possível comprar o pão para saciar a fome de todo o povo que o seguia (cf. Jo 6, 5). Então Filipe respondeu com muito realismo: “Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho” (Jo 6, 7). Vêem-se aqui a praticidade e o realismo do Apóstolo, que sabe julgar as reais consequências de uma situação. Depois, como correram as coisas nós sabemo-lo. Sabemos que Jesus tomou os pães e, depois de ter rezado, distribuiu-os.

Assim realizou-se a multiplicação dos pães. Mas é interessante que Jesus se tenha dirigido precisamente a Filipe para obter uma primeira indicação sobre o modo de resolver o problema: sinal evidente de que ele fazia parte do grupo limitado que o circundava. Noutro momento, muito importante para a história futura, antes da Paixão, alguns Gregos que se encontravam em Jerusalém para a Páscoa “foram ter com Filipe… e pediram-lhe: “Senhor, nós queremos ver Jesus!”. Filipe foi dizer isto a André; André e Filipe foram dizê-lo a Jesus” (Jo 12, 20-22). Mais uma vez, temos a indicação de um seu prestígio especial no âmbito do colégio apostólico. Sobretudo, neste caso, ele serve de intermediário entre o pedido de alguns Gregos provavelmente falava o grego e pôde disponibilizar-se como intérprete e Jesus; Mesmo se ele se une a André, o outro Apóstolo com um nome grego, é contudo a ele que aquelas pessoas desconhecidas se dirigem. Isto ensina-nos a estar também nós sempre prontos, tanto a ouvir pedidos e invocações, de onde quer que venham, como a orientá-los para o Senhor, o único que os pode satisfazer plenamente. Com efeito, é importante saber que nós não somos os destinatários últimos das orações de quem nos aproxima, mas é o Senhor: para ele devemos orientar todo aquele que se encontre em necessidade. Então: cada um de nós deve ser um caminho aberto para ele!

Há depois outra ocasião completamente particular, na qual Filipe entra em cena. Durante a Última Ceia, tendo Jesus afirmado que conhecê-lo significa também conhecer o Pai (cf. Jo 14, 7), Filipe pede quase ingenuamente: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!” (Jo 14, 8). Jesus responde-lhe com um tom de indulgente reprovação: “Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, “mostra-nos o Pai”? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?… Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim” (Jo 14, 9-11). Estas palavras são as mais nobres do Evangelho de João. Elas contêm uma profunda revelação. No final do Prólogo do seu Evangelho, João afirma: “A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer” (Jo 1, 18). Pois bem, aquela afirmação, que é do evangelista, é retomada e confirmada pelo próprio Jesus. Mas com uma nova característica. De facto, enquanto o Prólogo de João fala de uma intervenção esclarecedora de Jesus mediante as palavras do seu ensinamento, na resposta a Filipe Jesus faz referência à própria pessoa como tal, dando a entender que é possível compreendê-lo não só mediante o que diz, mas ainda mais mediante o que ele simplesmente é.

Para nos expressarmos segundo o paradoxo da Encarnação, podemos dizer que Deus se conferiu um rosto humano, o de Jesus, e por conseguinte de agora em diante, se verdadeiramente queremos conhecer o rosto de Deus, devemos contemplar o rosto de Jesus! No seu semblante vemos realmente quem é e como é Deus!

O evangelista não nos diz se Filipe compreendeu plenamente a frase de Jesus. Sem dúvida, ele dedicou-lhe totalmente a própria vida. Segundo algumas narrações posteriores (Actos de Filipe e outros), o nosso Apóstolo teria evangelizado primeiro na Grécia e depois na Frígia onde enfrentou a morte, em Herápoles, com um suplício descrito diversamente como crucifixão ou lapidação.

Desejamos concluir a nossa reflexão recordando a finalidade para a qual deve tender a nossa vida: encontrar Jesus como o encontrou Filipe, procurando ver nele o próprio Deus, o Pai celeste. Se este compromisso viesse a faltar, seríamos remetidos sempre e só para nós como num espelho, e estaríamos cada vez mais sós! Ao contrário, Filipe ensina-nos a deixar-nos conquistar por Jesus, a estar com Ele e a convidar também outros a partilhar esta companhia indispensável. E vendo-o, encontrando Deus, encontrar a verdadeira vida.

Tiago Maior

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Prosseguimos a série de retratos dos Apóstolos escolhidos directamente por Jesus durante a sua vida terrena. Falámos de São Pedro e de seu irmão, André. Encontramos hoje a figura de Tiago. Os elencos bíblicos dos Doze mencionam duas pessoas com este nome: Tiago, filho de Zebedeu, e Tiago, filho de Alfeu (cf. Mc 3, 17.18; Mt 10, 2-3), que são comummente distinguidos com os nomes de Tiago, o Maior e Tiago, o Menor. Sem dúvida, estas designações não querem medir a sua santidade, mas apenas distinguir o realce que eles recebem nos escritos do Novo Testamento e, em particular, no quadro da vida terrena de Jesus. Hoje dedicamos a nossa atenção à primeira destas duas personagens homónimas.

O nome Tiago é a tradução de Iákobos, forma helenizada do nome do célebre patriarca Tiago. O apóstolo assim chamado é irmão de João, e nos elencos acima mencionados ocupa o segundo lugar logo depois de Pedro, como em Marcos (3, 17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e André no Evangelho de Mateus (10, 2) e de Lucas (6, 14), enquanto que nos Actos vem depois de Pedro e de João (1, 13). Este Tiago pertence, juntamente com Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que foram admitidos por Jesus em momentos importantes da sua vida.

Dado que faz muito calor, gostaria de abreviar e mencionar aqui só duas destas ocasiões. Ele pôde participar, juntamente com Pedro e Tiago, no momento da agonia de Jesus no horto do Getsémani e no acontecimento da Transfiguração de Jesus. Trata-se portanto de situações muito diversas uma da outra: num caso, Tiago com os outros dois Apóstolos experimenta a glória do Senhor, vê-o no diálogo com Moisés e Elias, vê transparecer o esplendor divino de Jesus; no outro encontra-se diante do sofrimento e da humilhação, vê com os próprios olhos como o Filho de Deus se humilha tornando-se obediente até à morte. Certamente a segunda experiência constitui para ele a ocasião de uma maturação na fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da primeira: ele teve que entrever que o Messias, esperado pelo povo judaico como um triunfador, na realidade não era só circundado de honra e de glória, mas também de sofrimentos e fraqueza. A glória de Cristo realiza-se precisamente na Cruz, na participação dos nossos sofrimentos.

Esta maturação da fé foi realizada pelo Espírito Santo no Pentecostes, de forma que Tiago, quando chegou o momento do testemunho supremo, não se retirou. No início dos anos 40 do século I o rei Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, como nos informa Lucas, “maltratou alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (Act 12, 1-2).

A notícia tão limitada, privada de qualquer pormenor narrativo, revela, por um lado, quanto era normal para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida e, por outro, como Tiago ocupava uma posição de relevo na Igreja de Jerusalém, também devido ao papel desempenhado durante a existência terrena de Jesus. Uma tradição sucessiva, que remonta pelo menos a Isidoro de Sevilha, narra de uma sua permanência na Espanha para evangelizar aquela importante região do Império Romano.

Segundo outra tradição, ao contrário, o seu corpo teria sido transportado para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela. Como todos sabemos, aquele lugar tornou-se objecto de grande veneração e ainda hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da Europa mas de todo o mundo. É assim que se explica a representação iconográfica de São Tiago que tem na mão o cajado do peregrino e o rolo do Evangelho, típicos do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da “boa nova”, características da peregrinação da vida cristã.

Portanto, de São Tiago podemos aprender muitas coisas: a abertura para aceitar a chamada do Senhor também quando nos pede que deixemos a “barca” das nossas seguranças humanas, o entusiasmo em segui-lo pelos caminhos que Ele nos indica além de qualquer presunção ilusória, a disponibilidade a testemunhá-lo com coragem, se for necessário, até ao sacrifício supremo da vida. Assim, Tiago o Maior, apresenta-se diante de nós como exemplo eloquente de adesão generosa a Cristo. Ele, que inicialmente tinha pedido, através de sua mãe, para se sentar com o irmão ao lado do Mestre no seu Reino, foi precisamente o primeiro a beber o cálice da paixão, a partilhar com os Apóstolos o martírio.

E no final, resumindo tudo, podemos dizer que o caminho não só exterior mas sobretudo interior, do monte da Transfiguração ao monte da agonia, simboliza toda a peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e os confortos de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus como São Tiago, sabemos, também nas dificuldades, que seguimos o caminho justo.

André

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.

O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens”” (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como “o cordeiro de Deus” (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o “Cordeiro de Deus”. O evangelista narra: eles “viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia” (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.

A narração continua com uma anotação significativa: “André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: “Encontramos o Messias” que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus” (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente “primeiro chamado”. E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.

As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: “mas o que é isto para tantas pessoas?” (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar” (Mc 13, 1-4).

Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.

Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: “Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (12, 23-24).

O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o “grão de trigo morto” símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.

Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.

Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada “cruz de Santo André”. Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intitulada Paixão de André: “Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.

Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso… Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!… Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!”.

Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.

Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d’Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n’Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.

Bento XVI convida fiéis a imitar prontidão e disponibilidade de resposta de São Tiago

VATICANO, 21 Jun. 06 (ACI) .- Milhares de peregrinos se reuniram esta manhã na Praça de São Pedro para assistir à Audiência Geral com o Papa Bento XVI, quem exortou os presentes a imitar a prontidão do São Tiago em responder ao chamado do Senhor.

Ao iniciar a catequese intitulada “São Tiago Maior”, o Santo Padre lembrou que “o apóstolo assim chamado é irmão de João, e nas listas dos nomes ocupa o segundo lugar imediatamente depois de Pedro, como em Marcos, ou o terceiro lugar depois de o Pedro e André nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Este Tiago pertence, junto com Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que são admitidos por Jesus em momentos importantes de sua vida“.

O Pontífice fez referência a dois momentos da vida deste apóstolo, e recordou que “pôde participar do momento da agonia de Jesus no horto do Getsêmani e do evento da Transfiguração de Jesus”.

“Trata-se ?prosseguiu? de situações muito diversas: em um caso, Tiago com os outros dois Apóstolos experimentam a glória do Senhor; no outro se encontra diante do sofrimento e da humilhação, vê com os próprios olhos como o Filho de Deus se humilha fazendo-se obediente até a morte”.

O Papa explicou que a segunda experiência “constituiu a ocasião para amadurecer na fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da primeira: ele teve que ver que o Messias, esperado pelo povo judeu como um triunfador, na realidade não estava somente rodeado de honra e glória, mas também de sofrimentos e de debilidades”.

Deste modo acrescentou a modo de síntese de ambas as experiências: “A glória de Cristo se realiza justamente na Cruz, na participação em nossos sofrimentos”.

Em seguida, Sua Santidade citou os Atos dos Apóstolos, onde se relata o martírio de Tiago, e afirmou que tal notícia “revela quão normal era para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida”.

Citando a tradição que afirma que o corpo do apóstolo estaria em Santiago de Compostela, Bento XVI destacou que “deste modo se explica a representação iconográfica de Tiago com o bastão do peregrino e o Evangelho na mão, características do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da ?boa notícia?, características da peregrinação da vida cristã”.

Finalmente o Papa convidou os presentes a imitar São Tiago em sua “prontidão para acolher o chamado do Senhor quando nos pede deixar o ?barco? de nossas seguranças humanas, o entusiasmo no segui-lo pelas ruas que Ele nos indica além de cada uma de nossas presunções ilusórias, a disponibilidade a testemunhá-lo com valor, e se necessário, até o sacrifício supremo da vida”.

Papa destaca importância da Cruz de Cristo como aquela que dá sentido às cruzes cotidianas

VATICANO, 14 Jun. 06 (ACI) .- Milhares de fiéis estavam nesta manhã na Praça de São Pedro e participaram da Audiência Geral com o Papa Bento XVI, quem em sua catequese titulada “André o Protoclito” destacou que nossas cruzes só tomam sentido quando são consideradas e acolhidas como parte da cruz de Cristo. Ao iniciar sua catequese sobre o irmão de Pedro, o Apóstolo André, o Pontífice fez notar como “a primeira característica que chama a atenção em André é o nome: não é hebreu, como se esperava, mas sim grego, sinal não gratuito de uma certa abertura cultural de sua família“.

Fez também referência a André enquanto discípulo de Batista e indicou como isto “nos mostra que era um homem que procurava, que compartilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança”.

Deste modo explicou que André é honrado pela liturgia Bizantina como o Protóklitos já que foi “o primeiro dos Apóstolos a ser chamado a seguir a Jesus”.

Seguidamente recordou três episódios evangélicos onde podemos conhecer mais deste homem: “a primeira é aquela da multiplicação dos pães na Galileia. Merece ser destacado o realismo de André”.

Sobre a segunda ocasião recordou que o Senhor, diante de uma pergunta do apóstolo, “pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém, sobre o fim do mundo, convidando seus discípulos a ler com astúcia os sinais dos tempos”.

A terceira iniciativa se dá quando Jesus disse a André e Felipe, e por eles ao mundo grego: “chegou a hora de que seja glorificado o Filho do homem. Em verdade em verdade lhes digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece sozinho; se morrer, dará muito fruto?”.

Mais adiante destacou como “tradições muito antigas vêem em André o apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam Pentecostes; fazem-nos saber que durante o resto de sua vida foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego”.

Finalmente, citando uma antiga escritura de inícios do século VI titulada Paixão do André, fez ver aos presentes a existência de “uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não somente um instrumento de tortura mas sim um meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo caído em terra. Nossas cruzes adquirem valor se são consideradas e acolhidas como parte da cruz de Cristo. Somente desde aquela Cruz também nossos sofrimentos são enobrecidos e adquirem seu verdadeiro sentido”.

Terminada a catequese o Santo Padre leu resumos em vários idiomas, entoou o Pater Noster e deu a Bênção Apostólica.

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