Tag: O sangue de Cristo Page 1 of 3

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 19

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje São Gregório Magno, Eulógio de Alexandria, Isidoro de Sevilha e Bráulio de Saragoza].

GREGÓRIO MAGNO

Outro dos grandes Padres da Igreja ocidental. Nasceu em torno de 540. Chegou a ocupar o cargo de Prefeito ou Alcaide da cidade de Roma. Enviado pelo Papa a Constanstinopla como embaixador, foi eleito Papa e exerceu o pontificado entre 590 e 604. Conservam-se numerosas pregações de conteúdo bíblico e pastoral.

Comentando Jó 31,31 (“Por acaso não disseram os homens do meu povo: ‘Quem pode encontrar alguém que não tenha ficado saciado com a sua carne?'”), disse:

– “Esta frase também pode ser entendida misteriosamente na boca do Redentor, pois os varões do seu povo desejaram se saciar com as Suas carnes, quer os judeus perseguidores, quer os gentios fiéis. Isto porque aqueles tramaram extinguir o Seu corpo, como se O consumissem; e estes desejam saciar o seu espírito faminto com as Suas carnes no sacrifício diário da imolação” (Moralia 22,13,26).

É impressionante também – assim como vimos em muitos dos autores citados – o testemunho de Gregório Magno acerca da Eucaristia como recepção diária do sacrifício de Cristo.

EULÓGIO DE ALEXANDRIA

Patriarca de Alexandria de 580 a 607. Notável defensor da primazia da Igreja de Roma. Defensor da doutrina católica contra o Monofisismo e o Nestorianismo.

Estas palavras do orador do século VI respondem as objeções que ouvimos até hoje contra a Missa:

– “O venerando sacrifício que oferecemos do corpo do Senhor não é oblação com vítimas diferentes, mas memória do sacrifício que de uma vez por todas foi oferecido. Disse [Jesus]: ‘Fazei isto em minha memória'” (Homilia dos Evangelhos 14,1).

ISIDORO DE SEVILHA

Homem de vastíssima cultura, desempenhou um papel de protagonista na sociedade e Igreja do seu tempo. Presidiu o Concílio de Toledo de 633. Morreu em 636. Escreveu obras de caráter gramatical, histórico e enciclopédico, entre as quais se sobressai aquela intitulada “Etimologias”.

Falando sobre Melquisedec, diz:

– “Os fiéis [cristãos] já não oferecem aquelas vítimas judaicas como as que ofereceu o sacerdote Aarão, mas como aquelas que Melquisedec, rei de Salém, imolou, a saber, pão e vinho, que é o verdadeiríssimo sacramento do corpo e sangue do Senhor” (Da Fé Católica contra os Judeus 2,27,2).

– “A sabedoria de Deus – Cristo – fez para Si uma casa – a Santa Igreja – na qual sacrificou as hóstias do Seu corpo, na qual misturou o vinho do Seu sangue no cálice do sacramento divino (…) ‘Vinde: comei do Meu pão e bebei do vinho que misturei para vós’ (cf. Provérbios 9,5); isto é: ‘Tomai o alimento do corpo santo e bebei o vinho que misturei para vós’; ou seja: ‘Recebei o cálice do sangue sagrado'” (Da Fé Católica contra os Judeus 2,27,3).

Pregando sobre a necessidade de se conservar o jejum eucarístico (abter-se de comer antes de comungar), diz:

– “Na boca do cristão primeiro entra o corpo do Senhor, antes de todos os demais alimentos” (Do Ofício Eclesiástico 1,18,3).

BRÁULIO

Bispo de Saragoza. Exerceu grande influência nos governantes da Península [Ibérica]. Participou ativamente do Concílio de Toledo. Morreu em 651.

Em uma carta onde responde a algumas perguntas sobre supostas relíquias do sangue de Cristo, escreve:

– “Vamos ao que é verdadeiro e seguro; ao que nenhum cristão autêntico e retamente católico pode pôr em dúvida ou discussão, a saber: segundo as palavras do próprio Senhor e também conforme as Sagradas Escrituras ordenadas pelo Espírito Santo, o pão e o vinho oferecidos a Deus por nós no Sacramento é o corpo e o sangue verdadeiro de Cristo” (Carta 42; “Estudios Onienses”, vol. 1, 2ª ed., J. Madoz, p. 183).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 18

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Remígio de Reims, Cesário de Arles, Eusébio da Gália e Venâncio Fortunato].

REMÍGIO DE REIMS

Apóstolo dos francos, Bispo de Reims na primeira metade do século VI.

Mandou esculpir a seguinte inscrição em um cálice que consagrou:

– “Que o povo extraia daqui a Vida / do sangue sagrado nele colocado / daquilo que o Cristo eterno derramou de seu lado [aberto]” (Versos do Cálice; 125,1135).

CESÁRIO DE ARLES

Nasceu por volta de 470. Fez-se monge em Lérins e chegou a ser Abade e Bispo de Arles. Grande pastor, sobretudo entre os mais pobres, e prolífico teólogo.

Exorta diversas vezes em suas obras a que se consuma a Eucaristia para crescer na fé e vice-versa. Por exemplo:

– “Rogo e advirto: trabalhemos o quanto pudermos com o auxílio de Deus, para que naquele dia [de Natal] possamos nos aproximar do altar do Senhor com a consciência pura e sincera, com o coração limpo e o corpo casto, para que mereçamos receber o Seu corpo e sangue não para a condenação, mas para a saúde da nossa alma; porque a nossa vida consiste no corpo de Cristo, como o próprio Senhor disse: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós’. Portanto, quem quiser receber a Vida deverá mudar de vida” (Sermão 187,1).

A comparação entre a Palavra de Deus e o corpo de Cristo que já tínhamos visto em Santo Inácio de Antioquia, Orígenes, Jerônimo, Agostinho e outros, encontramos também neste texto de São Cesário:

– “Vos pergunto, irmãos e irmãs: O que vos parece maior? A Palavra de Deus ou o corpo de Cristo? Dizei-me! Se quereis responder com a verdade, seguramente tereis que dizer que a Palavra de Deus não é menor que o corpo de Cristo. E, por isso, o mesmo cuidado que temos de não deixar cair no chão nada do corpo de Cristo que nos é administrado, devemos ter também para com a Palavra de Deus que nos é partilhada: nada dela pode se perdida no nosso coração por estarmos pensando ou falando outras coisas” (Sermão 78,2)[53].

EUSÉBIO GALICANO

É conservada uma coleção de homilias da época de Cesário de Arles sob o nome de “Eusébio Galicano”.

Resgatamos os seguintes textos de uma das suas homilias, que ecoam a fé de toda a Igreja primitiva:

– “Porque o sacerdote invisível (=Cristo), com sua palavra, com seu poder secreto, converteu as criaturas visíveis (=pão e vinho) na substância do Seu corpo e do Seu sangue, falando assim: ‘Tomai e comei: Isto é Meu corpo’; e repetindo a santificação: ‘Tomai e bebei: Isto é Meu sangue” (Homilia 17, Da Páscoa 6,2)[54].

– “Quando as criaturas (=pão e vinho) são colocadas sobre os sagrados altares para serem abençoadas com as palavras celestiais, antes de serem consagradas pela invocação do Nome Supremo, ali está a substância do pão e do vinho; porém, após as palavras de Cristo, são o corpo e o sangue de Cristo” (Homilia 17, Da Páscoa 6,8).

– “Quando subires ao venerável altar para seres saciado com o alimento, olha com fé para o sagrado corpo e sangue do teu Deus; admira-O com veneração; toca-O com a mente; toma-O com a mão do coração; e, sobretudo, bebe-O internamente” (Homilia 17, Da Páscoa 6,3).

– “E, assim, porque ia Se retirar da frente dos nossos olhos e levar para o céu o corpo que assumiu, foi necessário consagrar neste dia o sacramento do corpo e do sangue, para que Ele fosse continuamente venerado no mistério que de uma vez [por todas] ofereceu como preço; para que, da mesma forma que diária e incansavelmente ocorre a redenção para a salvação dos homens, também fosse perpétua a oblação da redenção, vivendo aquela Vítima perene na recordação e estando sempre presente na doação” (Homilia 17, Da Páscoa 6,1).

VENÂNCIO FORTUNATO

Um dos poetas mais importantes da língua latina. Nasceu em Treviso por volta de 530. Excelente conhecedor das Escrituras e dos Padres da Igreja, bem como dos escritores clássicos. Bispo de Poitiers a partir de 597. Morreu em 690. São-lhe atribuídos os hinos “Pange Lingua” e “Vexilla Regis”.

– “Pois o pedir o pão de cada dia [na oração do Pai Nosso] parece insinuar que, caso seja possível, deveremos reverentemente tomar todos os dias a comunhão do Seu corpo; pois Ele, nossa Vida, é alimento nosso etc.” (Exposição sobre a Oração do Senhor 54-55).

NOTAS:

[53] Compare-se [essa citação] com este texto do Concílio Vaticano II: “A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma que o próprio Corpo do Senhor, não deixando de tomar da mesa e de distribuir aos fiéis o pão da vida, tanto a palavra de Deus como o Corpo de Cristo, sobretudo na Sagrada Liturgia” (Dei Verbum 21). Isto é, “o pão da vida” é Jesus, a Palavra de Deus, e também é o Corpo de Cristo na celebração eucarística.

[54] É de se notar a expressão “converteu [o pão e o vinho] na substância do Seu corpo e do Seu sangue”. Transubstanciação no século VI? Sejam quais fores os termos técnicos adotados pela Igreja no decorrer dos tempo, a realidade da transubstanciação é tão antiga quanto a Fé Apostólica. Observe-se, no mesmo sentido, a citação seguinte.

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 17

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Romano, Eutíquio de Constantinopla, Fulgêncio de Ruspe e Verecundo de Junca].

ROMANO, O MELODISTA

Diácono, foi o hinógrafo mais importante da Igreja bizantina. Nasceu na Síria e passou a maior parte da sua vida em Constantinopla. Morreu em 560.

[Disse:]

– “Quando Cristo, com o Seu poder, manifestamente transformou a água em vinho, toda a gente se alegrou, considerando o seu gosto admirável. Hoje, todos nós nos alimentamos no banquete da Igreja, porque o vinho se transformou no sangue de Cristo e o bebemos com santa alegria, glorificando o grande Esposo” (Kontákion 18, Das Bodas de Caná 20).

– “Todos os anjos que estão nos céus ficam admirados com o que ocorre na terra: os seres humanos terrestres, que habitam abaixo [do céu], se elevam em espírito e alcançam o alto, feitos partícipes do Cristo crucificado; porque, todos juntos, comem do Seu corpo, adorando fervorosamente o pão da vida e aguardando Dele a salvação imortal. Embora simplesmente se veja o pão, espiritualmente Ele o santifica como pão celeste da imortalidade. O próprio Senhor foi o primeiro a ensinar isso a todos nós, pois quando se dirigia voluntariamente à Paixão, Cristo partiu o pão da salvação e disse aos Seus Apóstolos, como está escrito: ‘Vinde agora, comei isto e, comendo, recebereis a vida eterna, porque este alimento é Minha carne, já que Eu – a quem estais vendo – sou o pão celeste da imortalidade” (Kontákio 24, Da Multiplicação dos Pães 1-2: o Pão que tomamos é a carne do Emanuel).

EUTÍQUIO DE CONSTANTINOPLA

Patriarca de Constantinopla. Nasceu na Frígia em 512 e morreu em 582.

Pregava assim o mistério eucarístico:

– “Misticamente Se imolou a Si mesmo quando, após a ceia, tomando o pão em Suas próprias mãos, tendo dado graças, o mostrou e o partiu, misturando-Se a Si mesmo no antítipo. Igualmente, misturando o cálice cheio do fruto da videira, tendo dado graças e apresentando-o a Deus, Seu Pai, disse: ‘Tomai e comei’; e: ‘Tomai e bebei’; ‘Isto é Meu corpo e isto é Meu sangue’. Portanto, todos tomam o santo corpo por inteiro e o precioso sangue do Senhor, ainda que apenas tomem uma parte deles” (Sermão da Páscoa e da Santa Eucaristia 2).

FULGÊNCIO DE RUSPE

Nasceu em Telepte, na África, em 467. Monge, presbítero e, pouco depois, Bispo de Ruspe. Insígne defensor da doutrina católica contra o Arianismo, em razão do qual sofreu o desterro.

[Sobre a Eucaristia, disse:]

– “Esta edificação espiritual do corpo de Cristo se faz através da caridade (…) Afirmo que esta edificação espiritual nunca é mais oportunamente pedida do que quando o próprio corpo de Cristo – que é a Igreja – oferece no sacramento do pão e do cálice o próprio corpo de Cristo e Seu sangue” (Ad Monimum 2,11,1).

VERECUNDO DE JUNCA 

Bispo de Junca, na África, em meados do século VI.

[Sobre a Eucaristia, escreveu:]

– “O sangue da uva (cf. Deuteronômio 32,14) é o sangue dos mártires ou, com certeza, o sangue da própria Paixão do Senhor, com o qual nos saciamos diariamente a partir dos altares sagrados; [sangue] que embriaga a nossa mente para que abandonemos o terreno e façamos uso do celeste” (Commentarii Super Carmina Ecclesiastica 2,14).

– “O Senhor nos nutre com alimentos não apenas corporais, mas também espirituais (…): indubitavelmente, com a Palavra das Escrituras, com a ciência para compreendê-las e com os víveres do corpo de Cristo e da bebida do sangue Daquele que todos os dias é [incruentamente] imolado nos santos altares” (Commentarii Super Carmina Ecclesiastica 2,18).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 16

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Isaac de Antioquia, Jacó de Sarub, Procópio de Gaza e Leôncio de Jerusalém].

ISAAC DE ANTIOQUIA

Prolífico escritor e poeta do século V.

Escreveu um belíssimo poema sobre a fé e a Eucaristia:

– “A fé me convidou a recuperar-me com as suas provisões / Fez-me sentar à Sua mesa (…) / Vi seu jarro misturado, que estava cheio de sangue ao invés de vinho / E, ao invés de pão, estava sobre a mesa o corpo imolado / Vi o sangue e me espantei / Vi o corpo sacrificado e o temor me invadiu (…) / Mostrou-me o corpo que havia sido morto / Pôs [parte] dele nos meus lábios e disse-me carinhosamente / ‘Olha o que comes!’ / A seguir, deu-me a pena do Espírito e exigiu que a pegasse na mão / Peguei, escrevi e confessei: ‘Isto é o corpo de Deus’ / Igualmente, tomei também o cálice e o bebi em Seu banquete / Então senti o aroma daquele calice, daquele corpo que havia comido / E o que eu disse sobre o corpo, que era ‘o corpo de Deus’ / atestei o mesmo agora sobre o cálice: ‘Isto é o sangue de nosso Salvador'” (Poema sobre a Fé; BKV 6,139-140).

JACÓ DE SARUG

Poeta sírio que morreu em 521.

Cantando em honra da Eucaristia, dizia:

– “O Esposo desce para ver a sua Esposa (=a Igreja) casada com Ele / Vai tu (=esposa) agora para a câmara nupcial, para que Ele te veja! / Não deixes a habitação do Esposo real, que desce para ver-te e traz as riquezas da casa de Seu Pai / O sacerdote que enviastes, O tem invocado [na consagração] / Espera-O, porque se vier e não te vir, ficará desgostoso / Com o sacerdote, toda a multidão suplica ao Pai para que envie o seu Filho / Para que desça e repouse sobre a oferenda [do pão e do vinho] / E o Espírito Santo faz Sua força habitar no pão e no vinho / e os santifica, e os torna corpo e sangue” (Homilia Métrica 95, Sobre a Recepção dos Santos Mistérios; ST 233,412).

– “Em um banquete nupcial, colocou seu corpo e seu sangue diante dos convidados / para que comam e vivam eternamente com Ele / No salão da festa, Nosso Senhor é comida e bebida / Bendito Aquele que deu Seu corpo e Seu sangue para comermos!” (Idem; ST 233,418).

– “Partiu o pão, o fez Seu corpo e o deu aos Seus Apóstolos / E o sabor do pão que contém a Vida estava nas suas bocas / No momento em que Ele o tomou [nas mãos] e chamou de ‘corpo’ / Já não era pão, mas corpo; e O comeram maravilhados” (Homilia Métrica 53, Sobre a Crucificação; ST 233,397).

PROCÓPIO DE GAZA

Poeta sírio, que também morreu em 521.

Em seus comentários bíblicos, coleta as exposições anteriores dos Santos Padres. Em seu comentário à primeira Páscoa (Êxodo 12), enxerga constantemente a Páscoa de Cristo. Neste contexto, escreve:

– “Ele quer nos dar o seu corpo como alimento. Por isso, sofre com que seu sangue seja derramado, por cuja aspersão faz com que o perseguidor e inimigo fuja; porque após sermos ungidos ou encharcados com o Seu sangue – isto é, após ter crido em Cristo – é que poderemos nos aproximar para comer da Sua carne” (Comentário sobre Êxodo 12,8)[52].

LEÔNCIO DE JERUSALÉM 

Escreveu em meados do século VI.

Dele são estas palavras:

– “O Cristo glorificado – que para nós é Deus adorável e para vós [nestorianos] é apenas um homem – (…) apresenta aqui [na Eucaristia] seu próprio e verdadeiro corpo e carne, que foram atravessados pelos pregos e pela lança, visto que eram seus membros, dos quais diz: ‘Perfuraram as minhas mãos e os meus pés’. Mostrou também que a comunhão mística do pão da Eucaristia era a doação de Sua própria carne, dizendo: ‘Aquele que come a Minha carne e bebe o Meu sangue’; e, em outro lugar: ‘Isto é Meu corpo'” (Contra os Nestorianos 7).

NOTA:

[52] Coletando a Fé de toda a Igreja, o poeta cristão do séc. V não faz uma falsa dialética entre o “receber Cristo na fé” e o “recebê-Lo no sacramento”. É doutrina católica que ninguém pode aproveitar-se do Santíssimo Sacramento se não tiver fé e se primeiramente não recebeu Cristo na fé. Porém, este “recebê-Lo na fé” é renovado toda vez que é recebido sacramentalmente. A postura fundamentalista “evangélica” mostra-se particularmente míope neste tema, já que afirma que “o católico, por receber Jesus todo domingo na Eucaristia” teria perdido Ele durante a semana, por isso, precisa recebê-Lo novamente, como lemos em algum Site da Internet. Ora, se aceitarmos esta lógica totalmente preconceituosa, deveremos dizer também que quando o “cristão evangélico” vai cultuar o Senhor uma vez na semana, ou uma vez ao mês, ou uma vez ao ano na Santa Ceia é porque… teria se esquecido Dele durante todo esse tempo [entre uma Ceia e outra].

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 15

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje João Mandakuni, Marutas de Maipherkat, o poeta Balai e Rábula de Edessa].

JOÃO MANDAKUNI

Bispo e confessor da fé na Igreja da Armênia, no século V.

Propõe a fé da Igreja com toda a clareza:

– “No sacrifício comes o corpo do Filho de Deus” (Carta sobre a Penitência 13; BKV 58,67).

– “Tendes desprezado a santidade do corpo e sangue de Cristo que haveis recebido no tremendo e augusto altar” (Sermão sobre o Caráter dos Iracundos 9; BKV 58,155).

– “Porque tratas desrespeitosamente o tremendo e sublime Sacramento? Não sabes que, no momento em que o Santo Sacramento vem ao altar, o céu se abre e dele desce e nos chega o Cristo; que os coros dos anjos voam do céu à terra e rodeiam o altar onde está o Santo Sacramento do Senhor; e que o Espírito preenche a todos?” (Sermão sobre a Devoção e o Respeito ao se Receber o Santo Sacramento 5; BKV 58,226).

MARUTAS DE MAIPHERKAT

Testemunha da fé na Igreja da Síria, no século V.

– “Sempre que nos aproximamos do corpo e sangue de Cristo e o colocamos em nossas mãos, cremos que tocamos o [Seu] corpo e que já somos da Sua carne e dos Seus ossos, como está escrito, já que Cristo não nos chamou ‘tipo’ e ‘figura’, mas: ‘verdadeiramente isto é Meu corpo e isto é Meu sangue'” (Fragmento; em J.S. Assemani, Bibliotheca Orientalis 1, pp. 179-180)

BALAI

Poeta sírio da primeira metade do século V.

Expressa assim a sua fé na Eucaristia:

– “O altar está preparado, realmente coberto / Diante dele está o sacerdote, que acende o fogo / Toma o pão e dá o corpo / Toma o vinho e distribui o sangue” (Poema na Dedicação da Igreja de Qennesrin; BKV 6,65).

RÁBULA DE EDESSA

Nasceu na segunda metade do século IV, de pai pagão e mãe cristã. Converteu-se ao Cristianismo durante uma viagem à Palestina, fazendo-se batizar no rio Jordão por volta de 400. Viveu como monge na Síria. Foi eleito Bispo de Edessa. Participou amplamente do Concílio de Éfeso. Morreu por volta de 435.

– “Se alguém quer comparar o pão da proposição comido por Davi quando estava faminto com o corpo vivificante do Verbo Deus, devemos olhar para esse homem como pessoa sem juízo, pois não se compara o pão da proposição com o corpo e o sangue do Senhor” (Carta a Guemelino).

– “Qualquer partícula do santo corpo que cair no chão deverá ser procurada com cuidado. Se for encontrada, o lugar onde caiu deverá ser raspado; se for de terra, misture-se água a esta e seja dada a massa aos fiéis. Se não for encontrada, a região deverá ser igualmente raspada, como já dissemos. Igualmente, se for derramado algo do sangue: se o lugar onde caiu for de pedra, coloque-se sobre ele carvões acesos” (Cânones; PG 77,1475).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 14

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Pedro Crisólogo, São Leão Magno e um autor anônimo do século V].

PEDRO CRISÓLOGO

Brilhante e prolífico pregador da Palavra de Deus. Nasceu em Ímola, em 406, e morreu aí também, em 450. Bispo de Ravena, na Itália, entre 425 e 429. Notável defensor da primazia do Bispo de Roma sobre toda a Igreja. Conservam-se uns 170 sermões e escritos sobre temas bíblicos, litúrgicos, hagiográficos e teológicos.

Sirvam estes textos, onde a presença real se soma ao aspecto sacrificial da Eucaristia. Comentando a Parábola do Filho Pródigo, afirma:

– “Por ordem do pai [na parábola], mata-se o bezerro; porque era impossível matar Cristo Deus, Filho de Deus, sem que existisse a vontade do Pai (…) Este é o bezerro que diária e perpetuamente é imolado para o nosso banquete” (Sermão 5,6).

E em outro sermão:

– “Ele é o pão que, semeado na Virgem, fermentado na carne, feito na Paixão, cozido no forno do sepulcro, preparado nas igrejas, levado aos altares, subministra diariamente o alimento celeste aos fiéis” (Sermão 67,7; Sermão 5,6).

LEÃO MAGNO

Também renomado Padre da Igreja, Papa de 440 a 461, testemunha da fé da Igreja “Romana” no século V. Conservaram-se numerosos sermões e escritos. Devemos a ele, em grande parte, a conservação da doutrina da realidade da natureza humana de Cristo.

No contexto doutrinário da defesa da realidade humana de Cristo contra Êutiques, o Bispo de Roma afirma:

– “Em que trevas de ignorância, em que letargia de desídia têm jazido até agora, que não ouviram, nem leram o que está na boca de todos na Igreja de Deus, com tamanha unanimidade que nem sequer as línguas das crianças calam a verdade do corpo e sangue de Cristo no sacramento da comunhão! Porque nesta mística distribuição do alimento espiritual é isto o que se dá, é isto o que se recebe: para que, recebendo a força do alimento celeste, nos transformemos na carne Daquele que Se fez nossa carne” (Carta 59 aos Constantinopolitanos 2).

– “Tendo dito o Senhor: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós’, tereis que participar da Mesa Santa de uma tal maneira que não duvideis, em absoluto, da verdade do corpo e sangue de Cristo; porque se toma com a boca o que se crê com o coração” (Tratado 91,3).

AUTOR ANÔNIMO DO SÉCULO V

Naquilo que parece ser uma homilia sobre a Eucaristia, este autor [desconhecido] da Igreja, onde hoje é a França, exorta aos seus ouvintes:

– “Enxergas, sem dúvida, pão e vinho, mas é ordenado que creias que são o corpo e o sangue do Senhor; e se não o crerdes, não te salvarás – porque Aquele que te manda crer é o próprio Salvador nosso, que antes da Paixão, ceando com os discípulos, tomou o pão etc. Portanto, isto que vês, atendendo ao que cremos, é o corpo: é o corpo que pela comunhão une a todos em um [só] corpo” (Homilia ‘Do Corpo e Sangue do Senhor’; PLS 4,1952).

– Digno de reverência foi aquele lugar (=o Monte Sinai), onde apareceu a majestade de Deus. Porém, tampouco é menos digno de reverência este [altar], onde Cristo é oferecido. Ali, a nuvem de Deus desceu; aqui, Cristo desce no mistério. Ali, a divindade devia ser ouvida; aqui, deve ser até tocada. Ali, se ia ao colóquio de Deus com temor; aqui, com temor deve-se aproximar do corpo do Senhor” (Idem).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 13

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Para os evangélicos [o pão eucarístico] ‘representa’ o corpo de Cristo; para os católicos, ‘é’ o corpo de Cristo” (Luis Romano, evangélico).

– “Não discuto agora se o ‘é’ equivale a ‘representa’. Basta-me o que Cristo diz: ‘Isto é Meu corpo’. Contra isto, nem o demônio pode. O que eu quero é não deixar as palavras ao meu arbítrio, mas ao arbítrio e ordem do Senhor” (Martinho Lutero).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Nilo de Ancira, São Jerônimo e Santo Agostinho de Hipona].

NILO DE ANCIRA

Morreu por volta de 430.

Expressa seu entendimento eucarístico deste modo:

– “Não nos aproximemos do pão eucarístico como se fosse um simples pão, já que é a carne de Deus: carne preciosa, adorável e vivificante, porque vivifica os homens que morreram em razão dos pecados. A carne comum não pode vivificar a alma e foi isto o que Cristo, o Senhor, disse no Evangelho: ‘a carne’ – isto é, a carne comum e simples – ‘para nada aproveita'” (Carta 3,39).

JERÔNIMO

É desnecessário apresentar a figura desta testemunha da Fé primitiva, uma das colunas mais importantes na transmissão do texto bíblico e na tradução das Escrituras. Nasceu na Dalmácia, em 340, e morreu em Belém, em 420.

Jerônimo atesta a fé oriental e ocidental ao ser um cristão que viveu de algum modo nos dois mundos.

– “Encerrada a Páscoa típica, após ter comido a carne do cordeiro com os Apóstolos, tomou o pão – que conforta o coração do homem – e passou para o verdadeiro sacramento da Páscoa, para que, como havia feito Melquisedec – sacerdote do Deus Altíssimo, que ofereceu pão e vinho como prefiguração – também Ele o apresentou verdadeiramente como Seu corpo e sangue” (Comentário de Mateus 4,26,26-27).

– “Tenhamos fome de Cristo e Ele nos dará o pão celeste; o pão nosso de cada dia Ele nos dá hoje (…) Alguém pensa que o pão celeste faz referência aos mistérios [eucarísticos] e assim o aceitamos, pois é verdadeiramente a carne de Cristo e verdadeiramente o sangue de Cristo” (Tratado sobre o Livro dos Salmos 145,7).

– “Nem foi Moisés quem nos deu o verdadeiro pão, mas o Senhor Jesus. Ele próprio é ‘convidado’ e ‘convite’; Ele próprio é quem come e quem é comido; bebemos o sangue Dele e sem Ele não podemos beber” (Carta 120).

Os textos acima citados não dão margem a dúvidas sobre a sua fé na verdade e realidade do corpo e sangue de Cristo na Eucaristia. Jerônimo possui também um texto que me parece particularmente útil e educativo pelo seguinte motivo: os modernos adversários da doutrina da presença real insistem em dizer que “comer a carne e beber o sangue do Senhor” se refere a “crer Nele”. Quanto a isso, devemos notar que a imagem de “comer o corpo e beber o sangue” de alguém nunca é, nas Escrituras, uma imagem de crer nessa pessoa. Tampouco desconheço qualquer literatura extrabíblica em que essa imagem receba tal interpretação. Em outras palavras: a imagem usada por Jesus não faz com que alguém pense, em primeiro lugar, “comê-Lo através da fé”. Tendo isto em mente, notamos que na História da Igreja muitas vezes os pregadores (até o dia de hoje) têm estendido a imagem, dando-lhe um sentido mais amplo e simbólico, sem que com isto queiram negar o sentido primeiro e realista da intenção de Jesus. E este texto de Jerônimo é um bom exemplo disso:

– “Lemos as Santas Escrituras: imagino que o corpo de Jesus é o Evangelho; e imagino que as Santas Escrituras sejam os Seus ensinamentos. E quando diz: ‘Aquele que não come a Minha carne e não bebe o Meu sangue’, ainda que possa também ser entendido quanto ao mistério [eucarístico], não obstante diz respeito à palavra das Escrituras, ao ensinamento do Senhor, pois é verdadeiramente corpo de Cristo e sangue Seu. Quando vemos o mistério [da Eucaristia, quem já é cristão entende:] se uma migalhinha cair [no chão], já ficamos angustiados; então, quando ouvimos a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus e o corpo de Cristo e o Seu sangue entram por nossos ouvidos, sendo que estamos [distraídos] pensando em outras coisas, em que perigo nos colocamos?” (Tratado sobre o Livro dos Salmos 147,14).

Observe-se que Jerônimo pressupõe o respeito pelo corpo do Senhor na Eucaristia e o toma como ponto de partida para acrescentar também que o Evangelho é “corpo de Jesus”, pelo qual devemos dedicar-lhe o mesmo respeito que dedicamos ao Seu corpo eucarístico (=”se uma migalhinha cair [no chão], já ficamos angustiados”). Tenho usado pessoalmente este ideia, com as mesmas palavras ou semelhantes, no ministério da pregação e nem por isso tenho querido anular o sentido eucarístico das palavras “o corpo e o sangue de Cristo” enquanto comida ou pão da vida, ainda que possam ser tomadas em sentido amplo, como “ensinamentos de Jesus” e, deste modo, por consequência, o “comer seu corpo e beber seu sangue” se referirão a crer Nele. Mas pelo que Jesus predisse e realizou, pelo que Paulo nos transmitiu e pelo que a Igreja entendeu, aqui existe um mistério mais profundo do que uma mera imagem da fé em Jesus: trata-se de uma comida real e uma bebida real, consistentes no corpo e no sangue do Senhor, como o próprio Jerônimo pressupõe no texto acima citado[45].

AGOSTINHO DE HIPONA

Como no caso anterior, basta recordar que se trata de um dos Padres da Igreja mais importantes e mais aceitos no mundo cristão. Nasceu em 354 e morreu em 430.

A doutrina eucarística de Santo Agostinho logo deu margem a diversas interpretações, que continuam até os nossos dias[46]. Não vou tratar de toda essa complexa temática, mas agrupar alguns textos em torno de algumas sínteses que são seguras:

a) Agostinho admite que o pão e o vinho eucarísticos são verdadeiramente o corpo e o sangue de Cristo. Comentando o Salmo 98,5, pergunta como é possível adorar o escabelo de Seus pés quando, segundo a Escritura (Isaías 66,1), o escabelo dos Seus pés é a Terra e, em outra parte, a Escritura (Deuteronômio 6,13) proíbe a adoração do que quer que seja, a não ser do próprio Deus. E responde:

– “Volto-me para Cristo, pois é Ele a quem busco aqui; e verifico que, sem cair na impiedade, adora-se o terrestre, e sem impiedade adora-se o escabelo dos Seus pés. Porque Ele tomou a terra da Terra, visto que a carne provém da terra; e tomou a carne da carne de Maria. E porque na própria carne caminhou por aqui, deu-nos de comer Sua própria carne, para a salvação; e como ninguém come essa carne sem adorá-La primeiro, descobrimos como se adora esse escabelo dos pés do Senhor; e não apenas não pecamos adorando-O, como também pecamos ao não adorá-Lo” (Comentário ao Salmo 98,9).

Em certo dia da Páscoa, pregava:

– “O que estais vendo é o pão e o cálice; é também o que vos diz os vossos olhos. Porém, naquilo que vossa fé pede para ser instruída, o pão é o corpo de Cristo e o cálice, o sangue de Cristo” (Sermão 217).

E, em outro momento, dizia aos fiéis reunidos para a Eucaristia:

– “Logo ocorre o que se pede nas preces sagradas, que estais a ouvir: para que, vindo a Palavra, faça-se o corpo e o sangue de Cristo. Isto porque, suprimindo a Palavra [da consagração], é pão e vinho; acrescentando a Palavra, já é outra coisa. É o que é essa ‘outra coisa’? É o corpo de Cristo e o sangue de Cristo” (Sermo Denis 6,3)

Mais alguns textos:

– “Cristo era carregado em Suas mãos quando, entregando Seus próprio corpo, disse: ‘Isto é Meu corpo’, pois tinha esse corpo em Suas mãos” (Comentário ao Salmo 33,1º,10)[47].

– “Cristo quis, por estas coisas, entregar o seu corpo e o seu sangue, o qual derramou por nós para o perdão dos pecados” (Sermão 227).

– “Cristo não foi imolado uma única vez em Si mesmo? No entanto, quanto ao Sacramento [da Eucaristia] – que se imola pelos povos não só em todas as solenidades da Páscoa, mas também todos os dias – não mente aquele que responde, caso lhe seja perguntado, que ‘há imolação'” (Carta 98,9)[48].

– “Reconhecei no pão [eucarístico] Aquilo que pendeu da Cruz; e no cálice, Aquilo que emanou do Seu lado [aberto]” (Sermo Denis 3,2).

– “Grande é a mesa em que os alimentos são o próprio Senhor da mesa. Nenhum dos convidados dá de comer a si próprio; isto quem faz é o Cristo, o Senhor. É Ele quem convida; é Ele o alimento e a bebida” (Sermão 329,1)[49].

– “Não quis ser reconhecido senão aí [na fração do pão, no caminho de Emaús]; por nós, que não iríamos vê-Lo na carne e, no entanto, iríamos comer a Sua carne (…) A ausência do Senhor não é ausência: tem fé e estará contigo Aquele a quem não vês” (Sermão 235,2,3).

– “Comeis aquela carne, da qual a própria Vida disse: ‘O pão que Eu vos darei é a Minha carne” (Sermo Denis 3,3).

– “Quando esta vida tiver passado (…) não teremos mais que receber o sacramento do altar, porque ali estaremos com Cristo, cujo corpo recebemos [aqui]” (Sermão 59,3,6).

– “Cristo Se dá a Si mesmo no pão [sacramental]; reserva-Se a Si mesmo no prêmio [celeste]” (Sermo Guelferbytanus 9,4).

Estes textos – que não são exaustivos – não nos permitem duvidar da doutrina agostiniana da Eucaristia como presença real de Cristo.

b) No entanto, Santo Agostinho, no mesmo contexto dessas frases, afirma com frequência que o corpo de Cristo na Eucaristia são os fiéis que recebem o Sacramento. Eis alguns exemplos:

– “Por isso, também porque padeceu por nós, nos entregou neste sacramento o Seu corpo e o Seu sangue, fazendo também que fôsseis vós mesmos. Isto porque também nós fomos feitos Seu corpo e, por Sua misericórdia, somos o que recebemos” (Sermo Denis 6,1)

– “Se, portanto, vós sois corpo de Cristo e membros Seus, vosso mistério está colocado sobre a mesa do Senhor (=o altar eucarístico); recebestes [na comunhão eucarística] o vosso mistério” (Sermão 272).

– “Tomai e comei o corpo de Cristo; vós fostes também feitos membros de Cristo. Tomai e bebei o sangue de Cristo; não vos vás dissolver. Comei o vosso vínculo”  (Sermo Denis 3,3)

– “Se O recebestes bem, sois vós o que recebestes” (Sermão 227).

A intenção do Pregador nestes textos é clara: recordar aos fiéis que se aproximam do corpo e do sangue do Senhor na Eucaristia que eles também são corpo de Cristo e que, portanto, a perfeição de suas vidas cristãs e o amor fraterno devem ser preparação e fruto da comunhão eucarística, sem o quê a recepção meramente carnal do Senhor lhes seria de pouco proveito. Mais uma vez, a interpretação realista da presença eucarística não apenas não exclui como provoca outras interpretações perfeitamente sintonizadas com a doutrina da presença do corpo e sangue do Senhor nas ofertas consagradas e ofertadas aos fiéis. Esta é a ideia que a Igreja sempre transmitiu sobre o sacramento eucarístico como sacramento de unidade. Este também é o motivo pelo qual aqueles que não estão em comunhão com a Igreja não podem se aproximar da Eucaristia que ela celebra. Recorde-se da prática da Igreja primitiva de nem sequer permitir a participação integral na celebração eucarística daqueles que ainda não tinham sido batizados.

c) Santo Agostinho prossegue e contrapõe uma participação do corpo de Cristo que se faz “in sacramento” a outra que se faz “in veritate”. Por exemplo:

– “Para que não comamos a carne de Cristo e o sangue de Cristo apenas no sacramento – como fazem muitos ímpios – mas comamos e bebamos até alcançar a participação do Seu espírito, de modo a permanecermos como membros no corpo do Senhor” (Tratado sobre o Evangelho de João 27,11).

– “Isto – ou seja – o corpo e sangue de Cristo, será vida para cada um, quando aquilo que se toma visivelmente no sacramento seja comido e bebido espiritualmente, na própria verdade” (Sermão 131).

A ideia é clara e forte: a mera recepção do sacramento (que é “o corpo e o sangue de Cristo”) não ajudará aqueles que não o recebem com fé e com as disposições devidas. Se expressa ainda mais claramente em outra oportunidade:

– “Comer aquela carne e beber aquele sangue é isto: permanecer em Cristo e, tendo-O, permanecer Nele. E, por isso, quem não permanece em Cristo e em quem Cristo não permanece, sem dúvida alguma nem come Sua carne, nem bebe Seu sangue; ao contrário, come o sacramento, algo tão enorme, para a sua própria condenação” (Tratado sobre o Evangelho de João 26,18).[50]

A contraposição que existe nestes textos não se refere ao conteúdo do sacramento, claramente afirmado em tantas passagens, mas à recepção frutuosa do mesmo. E mais: a insistência na coerência de vida é sustentada por Agostinho no fato de o crente que recebe a Eucaristia estar recebendo nada menos que “o corpo e o sangue Cristo” e não uma mera “figura” deles.

d) Há, por fim, outros textos, nos quais Agostinho comenta João 6, expressando-se desta maneira:

– “‘Entendei espiritualmente o que Eu disse: não comereis este corpo que estais vendo, nem bebereis o sangue que irão derramar aqueles que Me crucificarão. Vos confiei um sacramento; entendendo-o espiritualmente, vos vivificará; e ainda que seja preciso ser celebrado visivelmente, no entanto deve ser entendido espiritualmente'” (Comentário ao Salmo 98,9).

Estas palavras não comprometem os demais textos citados, exceto se enxergarmos em Agostinho um pregador esquizofrênico. Algumas frases antes desta, comentando o escândalo dos ouvintes de Jesus, diz:

– “Consideraram-No nesciamente; entenderam-No carnalmente e imaginaram que o Senhor iria cortar algumas partes do Seu corpo para dar a eles” (Idem).

Fica claro que não era esse o sentido das palavras de Jesus, como irresponsavelmente querem atribuir à Igreja certos defensores da interpretação simbólica, quer antigos quer contemporâneos. Neste sentido, Agostinho precisa que a comida e a bebida do corpo do Senhor não será um ato de canibalismo, mas se realizará espiritualmente; ou, como já foi dito repetidas vezes, “in sacramento”. É precisamente esta forma “sacramental” que distingue a Eucaristia de toda espécie de ingestão do corpo do Senhor, forma que não possui paralelo em nenhuma outra manifestação humana, razão pela qual resta difícil compreendê-la. Dizer que a comida será “espiritual”, por outro lado, não significa que não será real, mas que não será um ato de antropofagia. “Espiritual” opõe-se a “carnal” e não a “real”; e refere-se não ao corpo de Cristo, mas ao modo sacramental da Sua presença. Por isso, afirma comentando a cena do discurso de Jesus em João 6: “Como se irá comer e qual será a forma de comer este pão, não o sabeis” (Tratado sobre o Evangelho de João 26,15). Saberemos – podemos nós acrescentarmos – por ocasião da Última Ceia, ainda que o mistério tenha permanecido[51].

NOTAS:

[45] Já Inácio de Antioquia sustentava que a carne de Cristo foi a que sofreu pelos nossos pecados (p.ex., na Carta aos Esmirniotas 7,1), porém, disse também que a carne de Cristo é o Evangelho (p.ex., na Carta aos Filadelfos 5,1). Não há aqui oposição, nem exclusão.

[46] Os textos eucarísticos de Santo Agostinho foram muito bem coletados por H. Lang, “S. Aurelii Augustini Episcopi Hipponensis Textus Eucharistici Selecti”, Florilegium Patristicum 35 (Bonn, 1933). Entretanto, existem diversas obras sobre o tema.

[47] Em outro lugar, explica de uma maneira um pouco diferente: “Ele mesmo, de algum modo, Se elevava a Si mesmo…” (Comentário ao Salmo 33,2º,2), onde o “quodam modo”  refere-se à incerteza de como tal coisa pode ocorrer; não negando o fato, mas afirmando-o. O mesmo se pode dizer deste outro texto: “De algum modo, o sacramento do corpo de Cristo é o corpo de Cristo; [e] o sacramento do sangue de Cristo é o sangue de Cristo” (Carta 98,9). Este “Cristo elevar-Se a Si mesmo em Suas mãos” é considerado “uma fantasia” por Daniel Sapia, coisa esta que jamais pareceu à Igreja. Que Santo Agostinho não inventou esta doutrina fica claro por todos os textos anteriores e posteriores.

[48] Mais uma objeção “evangélica”: a Missa não pode ser a oblação de Cristo porque esta foi feita “de uma vez por todas” (Hebreus 7,27). Em primeiro lugar, a doutrina da Carta aos Hebreus foi ensinada pela Igreja Católica desde o início até o dia de hoje, e assim o fará até a consumação dos tempos. Agostinho explica aquilo que certamente é um grande mistério, dizendo que a imolação de Jesus realizou-se “em Si mesmo” uma vez, porém essa imolação “sacramentalmente” ou “no sacramento” se perpetua até o fim dos tempos. Temos visto nos textos citados de muitíssimos Padres dos primeiros quatro séculos a doutrina da Eucaristia como “oferta” ou “sacrifício” (“thusia”, em grego), mesmo que não tenhamos procurado textos sobre esse aspecto da Eucaristia, atendo-se somente à presença real. Cabe ao leitor julgar a exatidão destas palavras de Sapia: “Foi o Papa Pio III quem fez do ‘sacrifício’ da Missa um dogma oficial em 1215”. Agostinho prega isso em fins do século IV, isto é, cerca de 800 anos antes da data proposta pelo autor batista! O “dogma oficial” nada mais faz do que repetir a doutrina católica de todos os séculos. Se o “dogma oficial” não surgiu antes é porque até então não se negava a sacrificialidade da Eucaristia.

[49] “Qual é a grande mesa, senão aquela da qual tomamos o corpo e o sangue de Cristo?” (Sermão do Antigo Testamento 31,2).

[50] É o que Paulo afirma em 1Coríntios 11,28-29: “Cada um examine a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice. Porque aquele que come e bebe sem discernir corretamente o corpo do Senhor, come e bebe do juízo de condenação para si mesmo”. A comida e bebida de salvação não devem ser tomadas sem o devido discernimento e preparação, do contrário pode ser motivo de condenação. Paulo entendia a Eucaristia como um mero símbolo? Pode a relação com um símbolo ser causa de condenação?

[51] Já mencionamos a questão das interpretações “cafarnaíticas”, ao falar anteriormente de Eusébio de Cesareia. Santo Agostinho aborda bastante esta questão e quer educar os seus ouvintes no entendimento espiritual – embora real – das palavras de Jesus em João 6, e não em “chave cafarnaítica”, chave esta que não é doutrina da Igreja, mas uma paródia da mesma. Agostinho chama essa interpretação distorcida de “a primeira heresia” (Comentário ao Salmo 54,23 etc.).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Page 1 of 3

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén