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“O sentido do pecado se adquire redescobrindo o sentido de Deus”, afirmou o Papa

VATICANO, 13 Mar. 11 / 01:57 pm (ACI)

Não obstante a fria e nublada manhã, milhares de fiéis e peregrinos chegados de todas partes do mundo se reuniram na Praça de São Pedro para rezar o Ângelus dominical com o Papa Bento XVI, quem afirmou que não existe escravidão mais grave e mais profunda que a escravidão do pecado.

O Papa iniciou sua meditação recordando a todos o significado da Quaresma: “Tempo litúrgico de quarenta dias que constituem um itinerário espiritual de preparação para a Páscoa. Trata-se de seguir a Jesus que nos dirige decididamente para a Cruz, cume de sua missão de salvação”.

“Por que a Quaresma? Por que a Cruz?” – perguntou o Papa. “A resposta, em termos radicais, é esta: porque existe o mal, aliás, o pecado, que segundo as Escrituras é a causa profunda de todo mal, porém a palavra pecado não é aceita por muitos, porque pressupõe uma visão religiosa do mundo e do homem” – disse Bento XVI.

“Deus não suporta o mal, porque é Amor, Justiça e Fidelidade e por isso não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. Para salvar a humanidade, Deus intervém e nós vemos isso em toda a história do povo judeu, a partir da libertação do Egito. Deus está determinado a libertar os seus filhos da escravidão para conduzi-los à liberdade. A escravidão maior e mais profunda é a do pecado. Por isso, Deus mandou seu Filho ao mundo, para libertar os homens do domínio de satanás, origem e causa de todo pecado”, afirmou.

O Santo Padre foi muito claro em afirmar que “o sentido do pecado -muito diferente do ‘sentimento de culpa’ como é entendido pela psicologia- adquire-se redescobrindo o sentido de Deus”; em efeito “frente ao mal moral, a posição de Deus é a de opor-se ao pecado e salvar o pecador. Deus não suporta o mal, porque é Amor, Justiça e Fidelidade e por isso não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva”.

“Para salvar a humanidade, Deus intervém: vemo-lo em toda a história do povo hebreu, da liberação do Egito. Deus está determinado a liberar seus filhos da escravidão para conduzi-los à liberdade. E a escravidão mais grave e mais profunda é justamente aquela do pecado”, acrescentou.

Neste contexto o Pontífice explicou o sentido da vinda de Cristo ao mundo: “para liberar os homens do domínio de Satanás, ‘origem e causa de tudo pecado’. Enviou-o em nossa carne mortal para que fosse vítima de expiação, morrendo por nós na cruz. Contra esse plano de salvação definitivo e universal, o diabo se opôs com todas as suas forças, como mostra o Evangelho que nos fala sobre as tentações de Jesus no deserto, proclamado todos os anos no I Domingo da Quaresma”.

“Entrar neste Tempo Litúrgico -continuou- significa ficar sempre da parte de Cristo contra o pecado, enfrentar o combate espiritual contra o espírito do mal. Invoquemos por isso a maternal ajuda de Maria Santíssima para o caminho quaresmal que começou recentemente, para que seja rico de frutos de conversão”, concluiu o Pontífice.

“Joelhofobia”

No simbolismo litúrgico oficial da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, o ato de ajoelhar é o mais significativo gesto corporal de adoração à Nosso Senhor Jesus Cristo, Presente Verdadeiramente no Santíssimo Sacramento do Altar em Corpo, Sangue, Alma e Divindade (Catecismo da Igreja Católica, 1373-1381).

Tenho escutado, entretanto, repetidos relatos de situações que fiéis católicos tem passado tanto aqui no Brasil como em outros países, diante de sacerdotes e ministros da comunhão eucarística que tem negado ministrar o Corpo de Nosso Senhor à quem deseja recebê-Lo ajoelhado, muitas vezes determinando que o fiel se levante em plena fila da Sagrada Comunhão, fazendo-o passar por uma situação humilhante e constrangedora e gerando um escândalo enorme. Mas o que diz a lei da Santa Igreja à respeito disso?

A este respeito, a Sagrada Congregação para os Sacramentos e Culto Divino publicou, em Julho de 2002 um documento proibindo a atitude de sacerdotes que negam ministrar a Comunhão a quem deseja receber Nosso Senhor ajoelhado. Diz o documento: “A recusa da Comunhão a um fiel que esteja ajoelhado, é grave violação de um dos direitos básicos dos fiéis cristãos. (…) Mesmo naqueles países em que esta Congregação adotou a legislação local que reconhece o permanecer em pé como postura normal para receber a Sagrada Comunhão, ela o fez com a condição de que os comungantes desejosos de se ajoelhar não seria recusada a Sagrada Eucaristia. (…) A prática de ajoelhar-se para receber a Santa Comunhão tem em seu favor uma antiga tradição secular, e é um sinal particularmente expressivo de adoração, completamente apropriado, levando em conta a verdadeira, real e significativa presença de Nosso Senhor Jesus Cristo debaixo das espécies consagradas. (…) Os sacerdotes devem entender que a Congregação considerará qualquer queixa desse tipo com muita seriedade, e, caso sejam procedentes, atuará no plano disciplinar de acordo com a gravidade do abuso pastoral.” (Protocolo no 1322/02/L) Tal intervenção foi reiterada em 2003.

Também a instrução Redemptionis Sacramentum, instrução publicada pela mesma congregação em 2004, determina: “Qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.” (RS, 91)

Com efeito, a forma tradicional que a Santa Igreja tem de receber o Corpo de Nosso Senhor é de joelhos (e diretamente na boca), em sinal de adoração à Nosso Senhor. Se as normas litúrgicas atualmente permitem que se receba o Corpo de Nosso Senhor em pé, é preciso que tenhamos clareza que, se por um lado a concessão torna isso moralmente lícito, por outro lado isto é uma concessão à regra tradicional, e que aqueles que desejarem receber o Corpo de Nosso Senhor ajoelhados, em sinal de adoração, são livres para fazê-lo.

Vejo ainda muitos afirmarem que também na Consagração Eucarística deve-se permanecer em pé e não ajoelhado, e muitos afirmam inclusive que aprenderam isso em Cursos de Liturgia (!). Mas também quanto à isso à lei da Santa Igreja é clara em afirmar na Instrução Geral no Missal Romano determina que os fiéis estejam “de joelhos durante a consagração, exceto se razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote genuflecte após a consagração.” (IGMR, 43)

Temos então, nestas situações em que citamos, algo como se fosse uma “joelhofobia”, em desacordo com o senso litúrgico e em desobediência explícita à lei da Santa Igreja. E escuto para isso argumentações como: “Deve-se estar não de joelhos, mas em pé como sinal de prontidão”; ou “A Eucaristia é banquete e ninguém come ajoelhado”; ou ainda “A Eucaristia é para ser comida, não para ser adorada”. Ora, todas estas argumentações estão equivocadas!

A Consagração e a Comunhão Eucarística são, antes de qualquer coisa, momentos sublimes de adoração, pois a Hóstia Consagrada é a Presença Real de Nosso Senhor; já dizia Santo Agostinho, Doutor da Santa Igreja: “Ninguém coma desta Carne se antes não A adorou.” A Santa Missa é a Renovação do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, e embora tenha uma dimensão de banquete e ceia, é um banquete essencialmente sacrifical, que perde totalmente o sentido se não reconhecermos nele a dimensão de Sacrifício. Na Santa Missa não nos alimentamos de uma comida qualquer como em um banquete ou ceia comuns, mas sim do Carne e do Sangue de Nosso Senhor, escondidos sob a aparência do pão e do vinho. Por isso nos ensinou o saudoso Papa João Paulo II que não se pode esquecer que o “banquete eucarístico tem também um sentido primária e profundamente sacrifical” (Mane Nobiscum Domine, 15).

Ocorre que, na atual crise doutrinária e litúrgica que vivemos, muitos “católicos” ditos “progressistas” negam ou obscurecem a Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento do Altar e o caráter sacrifical da Santa Missa, vivendo-a como se fosse um simples banquete, ceia, festa ou reunião social. Sobre isso, lamenta o saudoso Papa João Paulo II na sua fabulosa encíclica Ecclesia de Eucharistia: “As vezes transparece um compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrifical, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesma. Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que se fundamenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia do anúncio. (…) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um Dom demasiadamente grande para suportar ambiguidades e reduções.” (EE 10) Consequência natural disso é a desvalorização e o desaparecimento, em muitos lugares, do sinais e símbolos litúrgicos que expressam a fé católica no que diz respeito ao Santo Sacrifício da Missa, tais como: os paramentos litúrgicos, as velas, o incenso, a genuflexão, o dobrar os joelhos e assim por diante.

É necessário uma nova tomada de consciência entre os católicos, para que, em obediência ao Sumo Pontífice Gloriosamente Reinante – o Papa Bento XVI -, o Santo Sacrifício da Missa seja conhecido e valorizado em sua essência, seus sinais e símbolos sejam também valorizados e as leis litúrgicas sejam, de fato, obedecidas, contrapondo-nos à isto que é como se fosse uma “joelhofobia” e à todos os demais abusos litúrgicos, para a Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.

A riqueza da liturgia beneditina

Entrevista com o presidente do Pontifício Instituto Litúrgico de Roma

SANTO DOMINGO DE SILOS, domingo, 1 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Existe uma liturgia beneditina? Em uma conversa com o monge beneditino Juan Javier Flores –presidente do Pontifício Instituto Litúrgico de Roma (no Ateneu Pontifício Santo Anselmo)– Zenit explorou esta questão, sumamente atual desde a eleição de Bento XVI.

O padre Juan Javier Flores, da Abadia Beneditina de Santo Domingo de Silos, explica nesta entrevista a influência dos monastérios beneditinos na vida litúrgica da Igreja.

–Pode-se falar especificamente de uma liturgia beneditina ou é uma expressão inadequada?

–P. Flores: Não existe uma «liturgia monástica», como não existe uma liturgia beneditina, nem nunca existiu; existe um modo monástico ou beneditino de celebrar a sagrada liturgia. Porque a liturgia pertence à Igreja e é pensada, atuada e vivida para todos os cristãos.

Os monges não se separam da liturgia da Igreja, mas a aproveitam e vivem dela, posto que a liturgia é da Igreja.

Com este princípio como base, penso que a liturgia nos mosteiros de hoje deve ser uma liturgia que reflita o espírito e a letra dos livros litúrgicos renovados após a reforma litúrgica.

Sem nostalgias nem voltas a um passado romântico, os mosteiros estiveram na vanguarda do movimento litúrgico e, em linha com ele, deverão continuar sendo lugares onde se celebra e se vive a liturgia de hoje com o espírito de sempre.

A Regra de São Bento não tem nenhuma peculiaridade a respeito da Eucaristia ou ao restante dos sacramentos. É um documento do século VI; logo reflete a situação eclesial do momento.

Só no referente ao ofício divino –que agora chamamos de liturgia das horas– tem uma grande peculiaridade e originalidade. Ao largo do tempo e até hoje, têm existido na Igreja latina dois tipos de ofícios, o monástico e o ofício catedral ou clerical.

O ofício beneditino se funda em princípios de tradição monástica anterior, reúne e ordena elementos litúrgicos que em seu tempo aparecem no uso em diferentes igrejas. Tanto em seu conjunto como em inumeráveis detalhes o ofício divino da Regra beneditina tem uma grande originalidade.

Por que comemora-se o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro?

02 de abril de 2006
Juan Chapa

Provavelmente, os primeiros cristãos não comemoravam aniversários (cf. Orígenes, PG XII, 495). Comemoravam o die natalis, dia da entrada na pátria definitiva (cf. Martírio de Policarpo 18,3), como participação na salvação realizada por Jesus ao vencer a morte com sua paixão gloriosa. Recordavam com precisão o dia da glorificação de Jesus, o 14/15 de Nisan, mas não a data de seu nascimento, sobre o qual nada nos dizem os relatos evangélicos. Até o século III, não temos informações sobre a data do nascimento de Jesus. Os primeiros testemunhos de Padres e escritores eclesiásticos assinalam diferentes datas. O primeiro testemunho indireto de que a natividade de Cristo foi em 25 de dezembro partiu de Julio Africano no ano 221. A primeira referência direta de sua celebração aparece no calendário litúrgico filocaliano do ano 354 (MGH, IX, I, 13-196): VIII kal. Ian. natus Christus in Betleem Iudeæ (?no dia 25 de dezembro nasceu Cristo em Belém da Judéia?). A partir do século IV, os testemunhos deste dia como data do nascimento de Cristo tornam-se comuns na tradição ocidental. Na oriental, prevalece a data de 6 de janeiro.

Uma explicação bastante difundida é a de que os cristãos optaram pelo dia porque, a partir do ano 274, em 25 de dezembro celebra-se em Roma o die natalis Solis invicti, o dia do nascimento do Sol invicto, a vitória da luz sobre a noite mais longa do ano. A liturgia de Natal e os Padres da época estabeleciam um paralelismo entre o nascimento de Jesus Cristo e expressões bíblicas como ?sol de justiça? (Ml 4, 2) e ?luz do mundo? (Jo 1, 4ss.) No entanto, não há provas de que isto foi assim e parece difícil imaginar que os cristãos quisessem adaptar festas pagãs ao calendário litúrgico, especialmente quando acabavam de experimentar a perseguição. É possível, todavia, que com o transcorrer do tempo, a festa cristã absorvesse a festa pagã.

Outra explicação mais plausível faz a data do nascimento de Jesus depender da data de sua encarnação, que, por sua vez, está relacionada com a data de sua morte. Em um tratado anônimo sobre solstícios e equinócios, afirma-se que ?Nosso Senhor foi concebido no dia 8 das calendas de abril no mês de março (corresponde ao nosso 25 de março), que é o dia da paixão do Senhor e de sua concepção, pois foi concebido no mesmo dia que morreu? (B. Botte, Lês Orígenes de la Noel et de l?Epiphanie, Louvain 1932, 1. 230-33). Na tradição oriental, apoiando-se em outro calendário, a paixão e a encarnação do Senhor celebram-se em 6 de abril, data que condiz com a celebração de Natal em 6 de janeiro. A relação entre paixão e encarnação está em consonância com a mentalidade antiga e medieval, que admirava a perfeição do universo como um todo, em que as grandes intervenções de Deus estavam vinculadas entre si. Trata-se de uma concepção que também encontra raízes no judaísmo, em que a criação e a salvação se relacionam com o mês de Nisan. A arte cristã refletiu esta mesma idéia ao longo da história ao pintar na Anunciação da Virgem o menino Jesus descendo do céu com uma cruz. Assim, é possível que os cristãos vinculassem a redenção realizada por Cristo com sua concepção, e esta determinou a data de nascimento. ?O mais decisivo foi a relação existente entre a criação e a cruz, entre a criação e a concepção de Cristo? (J. Ratzinger, El espíritu de la liturgia, 131).

BIBLIOGRAFIA

RATZINGER, Josef El espíritu de la liturgia. Una introducción (Cristiandad, Madrid, 2001).
TOLLEY, Thomas J. The origins of the liturgical year, 2nd ed., Liturgical Press, Collegeville, MN, 1991 (tradução italiana: Le origini dell?anno liturgico, Queriniana, Brescia, 1991).

Fonte: www.opusdei.org.br

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