02 de abril de 2006
Juan Chapa

Entre as acusações mais antigas de judeus e pagãos contra Jesus está a de ser um ilusionista, um mágico. No século II, Orígenes contesta as imputações de magia que faz Celso a respeito do Mestre de Nazaré e daquelas a que se referem São Justino, Arnóbio e Lactâncio. Também, algumas tradições judáicas que remontam ao século II contêm acusações de feitiçaria. Em todos estes casos, não se afirma que ele não existiu nem que não realizou prodígios, mas que os motivos que o levaram a realizar estas coisas foram a busca de vantagens e de fama pessoais. Destas afirmações se depreende a existência histórica de Jesus e sua fama de taumaturgo, tal como mostram os evangelhos.Por isso, hoje em dia, entre as provasos dados que se apresentam como confirmadas confirmados sobre a vida de Jesus consta o fato de que realizou exorcismos e curas.

Não obstante, em relação a outras personagens da época, conhecidas por realizar prodígios, Jesus é único.Distingue-se pelo grande número de milagres que realizou e pelo sentido que lhes deu, completamente diferente dos prodígios que puderam realizar algumas dessas personagens (se é que realmente os realizaram). O número de milagres atribuídos aos outros taumaturgos é bastante reduzido, enquanto que nos evangelhos temos 19 relatos de milagres em Mt; 18 em Mc; 20em Lc e 8 em Jo; além disso, há referências nos evangelhos sinóticos e em João a muitos outros milagres que Jesus realizou (cf Mc 1,32-34; 3,7-12; 6,53-56; Jo 20,30). O sentido também é diferente de qualquer outro taumaturgo: Jesus fez milagres que implicavam comprometiam os favorecidos no reconhecimento da bondade de Deus e numa mudança de vida. Sua resistência em realizá-los demonstra que não buscava a sua própria exaltação ou fama. Daí que tenham um significado especial.

Os milagres de Jesus são compreendidos no contexto do anúncio do Reino de Deus: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulsos demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12,28). Jesus inaugura o Reino de Deus e os milagres são uma chamada a uma adesão pessoal a Deus.Isto é fundamental e característico nos milagres que Jesus realizou. Reino e milagres são realidades inseparáveis.

Os milagres de Jesus não eram fruto de técnicas (como um médico) ou da atuação de demônios ou anjos (como um mago), mas o resultado do poder sobrenatural do Espírito de Deus.

Portanto, Jesus fez milagres para confirmar que o Reino estava presente n’Ele, anunciar a derrota definitiva de Satanás e aumentar a fé em sua Pessoa. Não podem ser explicados como prodígios assombrosos mas e sim como atuações do próprio Deus, com um significado mais profundo que o próprio feito prodigioso.Os milagres sobre a Natureza são sinais de que o poder divino que atua em Jesus se esntende para muito além do mundo humano e se manifesta como poder de domínio também sobre as forças da natureza.Os milagres de cura e os exorcismos são sinais de que Jesus manifestou seu poder de salvar o homem do mal que ameaça a sua alma. Uns e outros são sinais de outras realidades espirituais: as curas do corpo – a libertação da escravidão da enfermidade – significam a cura da alma da escravidão do pecado; o poder de expulsar o demônio indica a vitória de Cristo sobre o mal; a multiplicação dos pães faz referência ao dom da Eucaristia; a tempestade acalmada é um convite para confiar em Cristo nos momentos tempestuosos e difíceis; a ressurreição de Lázaro anuncia que Cristo é a própria ressurreição e é a figura da ressurreição final, etc.

BIBLIOGRAFIA

Catecismo de la Iglesia Católica, nn. 541-550.
BALAGUER, v. (ed), Comprender los evangelios, Eunsa, Pamplona 2005
LATOURELLE, R. Milagros de Jesús y teología del milagro, Sígueme, Salamanca 1990 (2ª ed.)

Fonte: Opus Dei