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Questionando os Protestantes – II

Tem a Bíblia um índice de Livros inspirados? Ou contém a Bíblia uma lista que declara autoritariamente quais livros devem fazer parte dela?

Não, não tem. A lista dos livros que compõem o Cânon do Novo Testamento foi discutida durante os primeiros quatro séculos da história cristã.

O Apocalipse, Hebreus, Tiago, 2Pedro e Judas são alguns dos livros cuja canonicidade foi controvertida. Em adição, alguns cristãos primitivos julgaram que obras como a Didaqué, a Epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas e a Epístola de Clemente eram inspiradas. Não foi senão quase no século V (Concílio de Cartago, ano 397) que o Cânon oficial foi definido. Isto quanto ao Novo Testamento, mas quanto ao Antigo Testamento? Foi também tema de discussões definir quais os livros pertenciam ao Cânon do Antigo Testamento. [O próprio Concílio de Cartago tratou do assunto]. Santo Agostinho sustentou que os Apócrifos (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1-2Macabeus e adições gregas a Ester e Daniel) eram canônicos, enquanto que São Jerônimo não os considerava como canônicos. De fato, o nome “Apócrifos” foi dado por São Jerônimo quando se empenhava no trabalho da Vulgata (tradução latina das Escrituras). Na versão hebraica das Escrituras, os Apócrifos eram comumente deixados de lado, enquanto que na versão grega (a Septuaginta) os Apócrifos foram incluídos.

Desde aproximadamente o século V, os Apócrifos foram considerados Escrituras, embora não tivesse havido uma declaração que pusesse um ponto final.

Tudo isso mudou quando os Reformadores determinaram o seu Cânon das Escrituras e rejeitaram os Apócrifos. Como resposta, a Igreja Católica, no Concílio de Trento, declarou a canonicidade dos livros Apócrifos, chamando-os “Deuterocanônicos”, ou seja, do Segundo Cânon.

Por fim, sabemos que o eminente teólogo protestante Dr. RC Sproul os denomina “uma coleção falível de livros infalíveis”. Atualmente, os Luteranos não têm um Cânon estabelecido das Escrituras. São livres para considerar Hebreus, Tiago, 2 Pedro e São Judas (Epístolas) como não canônicos, e estão, também, livres para aceitar alguns livros Deuterocanônicos do Antigo Testamento como canônicos. Lutero originalmente chamou o livro de Tiago uma “epístola de palha” e não a aceitou como canônica. Quando os Reformadores Presbiterianos surgiram com sua lista canônica, usaram dois critérios: autoria apostólica e testemunho interior do Espírito.

Desde que bons cristãos através dos tempos (Jerônimo e Agostinho, justamente esses dois) discordaram sobre quais livros eram inspirados, “o testemunho interior” de canonicidade não parece ser uma boa medida para determinar a canonicidade. Para a Cristandade histórica, o ensinamento da Igreja, que é “a coluna e o fundamento da Verdade”, é considerado como a autoridade para determinar quais dos escritos primitivos fazem parte do Cânon das Escrituras.

A menos que você tenha uma fonte infalível para determinar quais livros compõem a Bíblia, que autoridade ela pode ter?

Fonte: Site “Glory to Jesus Christ!”. Tradução: José Fernandes Vidal.

Timóteo e Tito

Por Papa Bento XVI
Tradução: Vaticano
Fonte: Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Depois de ter falado longamente sobre o grande apóstolo Paulo, hoje tomamos em consideração os seus dois colaboradores mais estreitos: Timóteo e Tito. São dirigidas a eles três Cartas tradicionalmente atribuídas a Paulo, das quais duas são destinadas a Timóteo e uma a Tito.

Timóteo é um nome grego e significa “que honra Deus”. Enquanto Lucas nos Actos o menciona seis vezes, Paulo nas suas cartas faz referência a ele dezassete vezes (além disso encontrámo-lo uma vez na Carta aos Hebreus). Deduz-se que aos olhos de Paulo ele gozava de grande consideração, mesmo se Lucas não considera que deva narrar tudo o que lhe diz respeito. De facto, o Apóstolo encarregou-o de missões importantes e viu nele quase um alter ego, como resulta do grande elogio que dele traça na Carta aos Filipenses: “É que não tenho ninguém com igual disposição (isópsychon), que tão sinceramente se preocupe pela vossa vida” (2, 20).

Timóteo tinha nascido em Listra (cerca de 200 km a nordeste de Tarso) de mãe judia e de pai pagão (cf. Act 16, 1). O facto que a mãe tivesse contraído um matrimónio misto e não tivesse feito circuncidar o filho deixa pensar que Timóteo tenha crescido numa família não estrictamente observante, mesmo se foi dito que conhecia as Escrituras desde a infância (cf. 2 Tm 3, 15). Foi-nos transmitido o nome da mãe, Eunice, e também o da avó, Loide (cf. 2 Tm 1, 5). Quando Paulo passou por Listra no início da segunda viagem missionária, escolheu Timóteo como companheiro, porque “era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icóneo” (Act 16, 2), mas fê-lo circuncidar “por causa dos judeus existentes naquelas regiões” (Act 16, 3).

Juntamente com Paulo e Silas, Timóteo atravessou a Ásia Menor até Tróade, de onde passou à Macedónia. Além disso, estamos informados de que em Filipos, onde Paulo e Silas foram envolvidos na acusação de espalhar desordens públicas e foram aprisionados por se terem oposto à exploração por parte de alguns indivíduos sem escrúpulos de uma jovem mulher como maga (cf. Act 16, 16-40), Timóteo foi poupado. Depois, quando Paulo foi obrigado a prosseguir até Atenas, Timóteo alcançou-o naquela cidade e ali foi enviado à jovem Igreja de Tessalónica para ter notícias e para a confirmar na fé (cf. 1 Ts 3, 1-2). Foi ter depois com o Apóstolo em Corinto, levando-lhe boas notícias sobre os Tessalonicenses e colaborando com ele na evangelização daquela cidade (cf. 2 Cor 1, 19).

Reencontramos Timóteo em Éfeso durante a terceira viagem missionária de Paulo. Dali provavelmente o Apóstolo escreveu a Filemon e aos Filipenses, e nas duas cartas a Timóteo resulta co-autor (cf. Fm 1; Fl 1, 1). De Éfeso, Paulo enviou-o à Macedónia juntamente com um certo Erasto (cf. Act 19, 22) e depois também a Corinto com o cargo de levar uma carta, na qual recomendava aos Coríntios que o acolhessem calorosamente (cf. 1 Cor 4, 17; 16, 10-11).

Encontrámo-lo ainda como co-autor da Segunda Carta aos Coríntos, e quando de Corinto Paulo escreve a Carta aos Romanos une nela, juntamente com as dos demais, as saudações de Timóteo (cf. Rm 16, 21). De Corinto o discípulo partiu de novo para alcançar Tróade na margem asiática do Mar Egeu e ali aguardar o Apóstolo que ia para Jerusalém na conclusão da terceira viagem missionária (cf. Act 20, 4). A partir daquele momento sobre a biografia de Timóteo as fontes antigas dão-nos apenas uma referência na Carta aos Hebreus, na qual se lê: “Sabei que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se vier depressa, irei ver-vos com Ele” (13, 23). Em conclusão, podemos dizer que a figura de Timóteo sobressai como a de um pastor de grande relevo. Segundo a posterior História eclesiástica de Eusébio, Timóteo foi o primeiro Bispo de Éfeso (cf. 3, 4). Algumas das suas relíquias encontram-se desde 1239 na Itália na Catedral de Termoli no Molise, provenientes de Constantinopla.

Depois, quanto à figura de Tito, cujo nome é de origem latina, sabemos que era grego de nascença, isto é, pagão (cf. Gl 2, 3). Paulo levou-o consigo a Jerusalém para o chamado Concílio apostólico, no qual foi solenemente aceite a pregação aos pagãos do Evangelho, que libertava dos condicionamentos da lei moisaica. Na Carta a ele dirigida, o Apóstolo elogia-o definindo-o “meu verdadeiro filho na fé comum” (Tt 1, 4). Depois da partida de Timóteo de Corinto, Paulo enviou Tito a essa cidade com a tarefa de reconduzir aquela indócil comunidade à obediência. Tito restabeleceu a paz entre a Igreja de Corinto e o Apóstolo, que lhe escreveu nestes termos: “Deus, porém, que consola os humildes, consolou-nos com a chegada de Tito, e não só com a sua chegada mas também com a consolação que ele tinha recebido de vós.

Contou-nos ele o vosso vivo desejo, a vossa aflição, a vossa solicitude por mim… Foi por isso que ficámos consolados” (2 Cor 7, 6-7.13). Tito foi enviado de novo a Corinto por Paulo que o qualifica como “meu companheiro e colaborador” (2 Cor 8, 23) para ali organizar a conclusão das colectas em favor dos cristãos de Jerusalém (cf. 2 Cor 8, 6). Ulteriores notícias provenientes das Cartas Pastorais qualificam-no como Bispo de Creta (cf. Tt 1, 5), de onde, a convite de Paulo, alcançou o Apóstolo em Nicópoles no Éfiro (cf. Tt 3, 12). Não possuímos outras informações sobre os deslocamentos seguintes de Tito e sobre a sua morte.

Para concluir, se consideramos Timóteo e Tito unitariamente nas suas duas figuras, apercebemo-nos de alguns dados significativos. O mais importante é que Paulo se serviu de colaboradores para o desempenho das suas missões. Ele permanece certamente o Apóstolo por antonomásia, fundador e pastor de muitas Igrejas. Contudo é evidente que ele não fazia tudo sozinho, mas apoiava-se em pessoas de confiança que partilhavam as suas fadigas e as suas responsabilidades. Outra observação refere-se à disponibilidade destes colaboradores. As fontes relativas a Timóteo e a Tito põem bem em realce a sua disponibilidade para assumir vários cargos, que muitas vezes consistiam em representar Paulo também em ocasiões não fáceis.

Numa palavra, eles ensinam-nos a servir o Evangelho com generosidade, sabendo que isto obriga também a um serviço à própria Igreja. Por fim, aceitemos a recomendação que o apóstolo Paulo faz a Tito na carta a ele dirigida: “desejo que tu fales com firmeza destas coisas, para que os que acreditaram em Deus, se empenhem na prática de boas obras, pois isso é bom e útil para os homens” (Tt 3, 8). Mediante o nosso compromisso concreto devemos e podemos descobrir a verdade destas palavras, e precisamente neste tempo de Advento sermos nós também ricos de obras boas e assim abrir as portas do mundo a Cristo, o nosso Salvador.

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