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Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 12

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Esta tradição [da transubstanciação] foi introduzida na Igreja por volta de 300 d.C. [e] tornou-se dogma de fé em 1215” (Marco de Vivo, evangélico).

– “Porque não recebemos estas coisas como se fossem pão comum e bebida comum, pois (…) nos ensinaram que o alimento convertido em Eucaristia (…) é a carne e o sangue Daquele Jesus que Se encarnou por nós” (São Justino, Mártir, século II).

– “Recebendo a palavra de Deus [na consagração, os dons do pão e do vinho] se convertem em Eucaristia, que é o corpo e o sangue de Cristo” (Santo Ireneu, Bispo, século II).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Teodoro de Mopsuéstia, Cirilo de Alexandria, Proclo de Constantinopla e Teodoreto de Ciro].

TEODORO DE MOPSUÉSTIA 

Bispo de Mopsuéstia, na Cilícia. Nasceu em 350 e morreu em 428. Com grandes talentos, tornou-se logo homem bastante versado nas Escrituras e na Teologia. Foi ordenado sacerdote. Escreveu muito contra todas as heresias do seu tempo. Foi ordenado Bispo de Mopsuéstia, na Ásia Menor. Participou do Concílio de Constantinopla. Conservam-se numeros escritos exegéticos, sermões, entre outros.

Este destacado pregador ensinava:

– “No entanto, é notável que, ao dar o pão, Ele não disse: ‘Isto é a figura (em grego, ‘tipos’) do Meu corpo’, mas: ‘Isto é o Meu corpo’. E o mesmo fez em relação ao cálice; não disse: ‘Isto é a figura (em grego, ‘tipos’) do Meu sangue’, mas: ‘Isto é o Meu sangue’. Isto porque Ele não quis que olhássemos para a natureza do pão e do vinho, que receberam a graça e a vinda do Espírito Santo, mas que os considerássemos como são: o corpo e o sangue do Senhor” (Homilias Catequéticas 15,10).

– “A oblação foi oferecida para que o que foi apresentado venha a ser, pela vinda do Espírito Santo, o corpo e o sangue de Cristo (…) Ainda que Ele venha até nós, dividindo-Se a Si mesmo [na distribuição do pão eucarístico], Ele está por inteiro em cada parte e próximo de todos nós. Ele se entrega a cada um de nós, para que O tomemos e O abracemos com todas as nossas forças e, assim, demonstremos o nosso amor para com Ele, no paladar de cada um de nós. Assim, o corpo e o sangue do Senhor verdadeiramente nos alimentam e nos fazem esperar sermos transformados em uma natureza imortal e incorruptível” (Homilias Catequéticas 16,25-26)[43].

CIRILO DE ALEXANDRIA

Doutor da Igreja, combateu eficazmente a heresia nestoriana. Foi bastante ativo durante o Concílio de Éfeso. Morreu em 444. Conservam-se numerosos escritos exegéticos, entre outros mais.

A ideia da presença real da carne do Senhor na Eucaristia é matéria frequente nas obras deste importante Padre Oriental. Vejamos alguns textos:

– “O Verbo vivificante de Deus, ao unir-Se à Sua própria carne – do modo que [só] Ele sabe – a tornou vivificante, pois Ele disse: ‘(…) Eu sou o pão da vida (…)’. Portanto, quando todos nós comemos a carne do Cristo Salvador e bebemos o Seu precioso sangue, temos Vida em nós e somos uma só coisa com Ele, permanecendo Nele e também Ele em nós” (Explicação do Evangelho de Lucas 22,19).

– “A verdadeira bebida é o precioso sangue de Cristo, que extirpa pela raiz toda corrupção e destrói a morte que existe na carne humana, já que não é o sangue de um homem qualquer, mas a própria Vida por natureza. Por isso, somos chamados ‘corpo e membros de Cristo’, porque recebemos pela Bênção (=a Eucaristia) o próprio Filho em nós” (Comentário do Evangelho de João 4,2,56).

– “Demonstrativamente, disse: ‘Isto é Meu corpo e isto é Minha carne’, para que não penses que tudo isso é figura, mas que, por razão de algo inefável do Deus todopoderoso, as oblações [do pão e do vinho] se transformam verdadeiramente no corpo e no sangue de Cristo. Ao participarmos delas, recebemos a força vivificante e santificante do Cristo” (Comentário do Evangelho de Mateus 26,27).

PROCLO DE CONSTANTINOPLA

Patriarca de Constantinopla, morreu em 446 ou 447. Conservam-se alguns sermões e cartas.

Comentando as palavras do Senhor em sua aparição ao Apóstolo São Tomé, exclama:

– “Felizes os que com fé enxergam o Invisível! Felizes vós, que em cada festividade O enxergais, O levais aos olhos, O beijais com os lábios e O comeis com os dentes, sem consumi-Lo! Ó extraordinários mistérios, ó tremendos mistérios! Aquele que está sentado à direita do Pai é também encontrado nas mãos dos fiéis! Aquele a quem os anjos louvam é sustentado por mãos impuras e levado pelos indignos de O levarem. Nossas mãos pecadoras não queimam; nossos dedos condenáveis não queimam; o Criador (…) não destrói o barro, mas Ele mesmo exorta, dizendo: ‘Tomai e comei. Tomai e bebei. Trazei vossas mãos e colocai-nas no meu lado [aberto]; consumí os meus membros, porque seja qual for o membro que tomardes, Eu estou nele por inteiro; Eu mesmo, a quem Tomé tocou'” (Homilia 33: In novam dominicam et in infidelitatem Thomae 14,52-55).

TEODORETO DE CIRO 

Bispo de Ciro, na Ásia Meridional. Nasceu em 393 e morreu em 457. Douto conhecedor de teologia e exegese bíblica. Grande missionário da sua Diocese e lutador incansável contra o Paganismo. Membro ativo na disputa contra Nestório.

Personagem bastante ativo nas controvérsias cristológicas, tratando da Eucaristia explica:

– “Gozando dos sagrados mistérios, não nos unimos em comunhão com o próprio Senhor, do qual afirmamos que são o corpo e o sangue, já que todos participamos do mesmo pão?” (Interpretação de 1Coríntios 10,16-17).

– “O próprio Senhor não prometeu dar para a vida do mundo uma natureza invisível, mas Seu [próprio] corpo (…) E na instituição dos divinos mistérios, tomando o símbolo, disse: ‘Isto é o Meu corpo” (Carta 131)[44].

– “[O símbolo místico] não se chama apenas ‘corpo’, mas também ‘pão da vida’. Assim o chamou também o Senhor, ensinando que não é um corpo humano comum, mas [corpo] de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus e homem, eterno e recente” (Eranistes 2).

NOTAS:

[43] Certa expressão de Teodoro de Mopsuéstia tem dado o que pensar sobre a clareza do seu pensamento acerca da presença real de Jesus na Eucaristia, mas tratam-se de palavras de difícil interpretação encontradas nos seus escritos de especulação teológica, jamais na pregação da Fé aos fiéis. O texto em questão diz: “Receberemos a imortalidade comendo do pão sacramental, visto que, embora o pão não seja de tal natureza, no entanto, quando recebeu o Espírito Santo e a graça que Dele provém, é capaz de guiar para o gozo da imortalidade aqueles que o comem. Isto não ocorre por sua natureza, mas em virtude do Espírito Santo que habita nele; do mesmo modo que Nosso Senhor, de quem este [pão eucarístico] é figura, por virtude do Espírito Santo recebeu a imortalidade e a deu aos demais, não a possuindo verdadeiramente pela Sua própria natureza”. Notemos que no pão eucarístico a imortalidade é recebida porque esse pão recebeu o Espírito Santo; o Espírito Santo habita nele, ainda que logo a seguir seja dito que esse pão é “figura” do Senhor. É óbvio que nem tudo é símbolo, mas realidade salvífica, ainda que seja apresentado como “figura” do Senhor. Considerando os outros textos de Teodoro – já citados -, que explicitamente negam que o pão eucarístico seja tão somente uma “figura”, estas palavras devem ser lidas segundo esse contexto e devem ser sempre interpretadas à luz do que dissemos anteriormente sobre a questão da “figura” e do “tipo-antítipo” nos Padres [primitivos]. Assim, a teologia típica de Teodoro – segundo a qual a realidade está nos céus e aqui na terra tudo o que se encontra é figura – deve ser enquadrada no processo histórico de ajustamento da linguagem sobre o mistério eucarístico. Obras que tratam detalhadamente dessa matéria: W. de Vries, “Der ‘Nestorianismus’ Theodors von Mopsuestia in seiner Sakramentenlehre”: Orientalia Christiana Periodica 7 (1941), pp. 91-148; J. Lécuyer, “Le Sacerdoce Chrétien et le Sacrifice Eucharistique selon Théodore de Mopsueste: Recherches de Science Religieuse 36 (1949), pp.481-516. Não custa repetir aqui o que dissemos antes, a saber: que inclusive esta linguagem “figurativa” não poderia ser empregada pelos atuais adversários da doutrina da presença real, pois continua sendo demasiadamente realista.

[44] Teodoreto fala frequentemente de “símbolos do corpo” ao abordar a Eucaristia, porém, esta maneira de falar refere-se às espécies ou aparências do pão, de modo que “o símbolo é tomado”, “é fracionado”, “é distribuído” etc.

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 11

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Foi o Papa Pio III quem tornou o “sacrifício” da Missa um dogma oficial em 1215″ (Daniel Sapia, evangélico).

– “Quanto ao cálice – também tomado dentre as criatura como nós – confessou ser Seu sangue e ensinou que era o sacrifício do Novo Testamento” (Santo Ireneu de Lião. Bispo, século II).

– “Aceita, Pai, estes dons (=o pão e o vinho consagrados na Eucaristia) para a glória do Teu Cristo, e envia sobre este sacrifício o Teu Santo Espírito” (Tradição Apostólica, século III).

– “Porque aqueles [ouvintes em Cafarnaum [cf. João 6]] tramaram extinguir o Seu corpo, consumindo-o; e estes (=os fiéis cristãos) desejam saciar seu espírito faminto com as Suas carne no sacrifício diário de imolação” (São Gregório Magno, Papa, século V).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Severiano de Gábala, Cromácio de Aquileia, Gaudêncio e Teófilo de Alexandria].

SEVERIANO DE GÁBALA

Contemporâneo de Crisóstomo. Bispo de Gábala, na Síria. Escreveu vários comentários às Escrituras. Sua atividade mais conhecida é em Constantinopla, onde tomou parte contra Crisóstomo nas desavenças ocasionadas pelo governo imperial. Morreu nos primeiros anos do século V.

Em um de seus numerosos sermões, explica ao povo:

– “Cristo veio, instituiu uma mesa [na Última Ceia], propôs a Si mesmo como alimento e disse: ‘Tomai e comei’. E cessando a guerra, deu triunfo à paz (…) Cristo propõe a Si mesmo como comida” (In Ascensionem 11).

CROMÁCIO DE AQUILEIA

Bispo de Aquileia (na atual Itália). Morreu por volta de 407. Conserva-se a correspondência que manteve com Ambrósio de Milão e Jerônimo, que lhe dedicou diversas traduções e comentários feitos a pedido de Cromácio. Conservam-se também 18 tratados sobre textos do Evangelho de Mateus.

Seu realismo eucarístico aparece nestas palavras:

– “O fato de nosso Senhor e Salvador ser posto na manjedoura significa que seria alimento dos fiéis, pois a manjedoura é o lugar para onde os animais vão para se alimentar. Nós, que somos também animais, mas racionais, temos uma manjedoura celeste para onde nos dirigimos: nossa manjedoura é o altar de Cristo, aonde vamos todos os dias comer o corpo de Cristo, o alimento de salvação” (Sermão 32,3).

– “Comemos, portanto, a Páscoa com Cristo, pois Ele mesmo Se dá como alimento àqueles que quer salvar; pois foi Ele quem fez a Páscoa e também quem fez o mistério [da Eucaristia], o qual cumpriu a festividade desta Páscoa precisamente para nos restaurar com o manjar da Sua Paixão e para nos reanimar com a bebida da salvação” (Sermão 17-A,2).

GAUDÊNCIO

Bispo de Bréscia, na Itália. Morreu por volta de 410. Amicíssimo de João Crisóstomo e Ambrósio de Milão. Conservam-se vários sermões pascais.

Na noite da Páscoa, comentando o êxodo do povo de Deus, diz:

– “Na verdade, um morreu por todos e é o mesmo que, em cada uma das igrejas, no mistério do pão e do vinho, restaura imolado, vivifica ao ser crido, uma vez consagrado também santifica os consagrantes. Esta é a carne do cordeiro; este é o sangue; porque o pão que desceu do céu, disse: ‘O pão que Eu vos darei é a Minha carne, para a vida do mundo’. E também se expressa claramente sobre seu sangue na forma de vinho, visto que Ele diz no Evangelho: ‘Eu sou a verdadeira videira’; está declarando aí que o Seu sangue é todo o vinho que é oferecido em figura da Sua Paixão” (Tratado 2).

TEÓFILO DE ALEXANDRIA

Patriarca da igreja de Alexandria entre 385 e 412. Combateu duramente o Paganismo. Conservam-se algumas cartas, entre outros escritos menores.

Em um primeiro momento, Teófico foi amigo de vários monges origenistas, mas logo se converteu em um zeloso impugnador das teorias não-católicas de Orígenes. Entre elas, assinala a afirmação de que Cristo morreu não apenas pelos homens, mas também pelos demônios. Sua refutação é curiosa, pois reflete bem a fé na Eucaristia:

– “Quem sustenta algo, tem que admitir também as consequências. Assim, se afirma que Cristo foi crucificado em favor dos demônios, que mantenha também que deve ser dito a estes: ‘Tomai e comei: isto é Meu corpo’; e ‘Tomai e bebei: isto é Meu sangue’. Isto porque, se foi crucificado pelos demônios – como assegura esse afirmador de novidades – por qual privilégio ou por qual motivo será dado somente aos homens a comunhão no corpo e sangue de Cristo e não também aos demônios, se por estes Ele também derramou Seu sangue na Paixão?” (Carta Festal 16,11).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 10

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Receber Cristo a cada domingo? É claro que só podemos receber algo quando não temos esse algo (isto até me parece óbvio)” (Daniel Sapia, evangélico).

– “É certamente algo bom e proveitoso receber a Eucaristia todos os dias e assim participar do corpo e do sangue de Cristo” (São Basílio, Bispo, século IV).

– “Nossa manjedoura é o altar de Cristo, ao qual vamos todos os dias para comer o corpo do Senhor, alimento de salvação” (Cromácio de Aquileia, Bispo, século IV).

– “Ele é o pão que, semeado na Virgem, fermentado na carne, feito na Paixão, cozido no forno do sepulcro, preparado nas igrejas, levado aos altares, é dado diariamente aos fiéis como manjar celeste” (São Pedro Crisólogo, Bispo, século V).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje Gregório de Elvira, Optato de Milevi, Macário Magnes e João Crisóstomo].

GREGÓRIO DE ELVIRA

Em sua obra “De Viris Illustribus” (“Dos Homens Ilustres”), São Jerônimo o louvava como Bispo de Elvira. Morreu por volta de 392.

Comentando Cântico dos Cânticos 2,4 (“Introduziu-me na casa do vinho”), diz:

– “O que significa ‘a casa do vinho’ senão o mistério da Paixão? Porque este vinho é o sangue de Cristo, que a Igreja sempre dá aos fiéis; o mistério da Paixão do Senhor, como Ele disse: ‘Se não comerdes a carne do Filho do homem – isto é, o pão da vida – e se não beberdes o Seu sangue, não tereis vida eterna” (Tractatus de Ephitalamio 3,24).

E explicando os gestos do Batismo, Confirmação e Eucaristia, que através da carne agem no espírito, ensina aos seus fiéis:

– “A carne é lavada para que a alma seja limpa; a carne é ungida para que a alma seja consagrada; a carne é assinalada para que a alma seja salva; a carne é encoberta pela imposição das mãos para que [a alma] seja iluminada pelo Espírito Santo; a carne come e bebe o corpo e o sangue de Cristo para que a alma seja saciada de Deus” (Tractatus De Libris Sacrarum Scripturarum 17,26).

OPTATO DE MILEVI

Importante personagem na luta contra a heresia norte-africana denominada “Donatismo”. Poucos dados biográficos são-nos conhecidos. Nasceu em torno de 385. Foi Bispo da cidade de Milevi. Alguns de seus escritos foram conservados.

Os donatistas tinham destruído altares do culto católico; então, contra eles, escreve o Bispo Optato:

– “Porque o que é o altar senão a sede do corpo e do sangue de Cristo? (…) Em que vos ofendeu Cristo, cujo corpo e sangue habitavam ali [sobre o altar] em certos momentos? (…) Porém, conseguistes duplicar esse crime monstruoso quando quebrastes também os cálices que portavam o sangue de Cristo” (Contra Parmenianum donatistam 6,1-2).

Os modernos donastistas já não destroem os altares católicos, mas evitam a todo custo que os fiéis participem deles.

MACÁRIO MAGNES 

Apologista cristão de finais do século IV. Foi Bispo de Magnésia. Sabemos que participou do Sínodo de Oak de 413. Por volta de 400, escreveu uma defesa do Cristianismo contra uma personagem fictícia que representava as acusações dos pagãos.

Macário responde a diversas objeções dos pagãos de então, que – curiosamente – também se baseavam nos Evangelhos para atacar as doutrinas católicas universalmente aceitas pelas igrejas. Entre outras coisas, o Cristianismo era acusado de “monstruosidade”, por convidar seus fiéis a comer o corpo e beber o sangue do Senhor (as mesmas acusações que atualmente alguns “cristãos evangélicos” nos fazem). Respondendo a esta objeção, diz, entre outras coisas:

– “Com toda razão Cristo, tomando o pão e o vinho, disse: ‘Isto é Meu corpo e Meu sangue’, pois não é figura do corpo, nem figura do sangue [como dizem alguns em sua mente], mas verdadeiramente corpo e sangue de Cristo”.

E um pouco depois:

– “O corpo de Deus, que é terreno, conduz à vida eterna aqueles que o comem. Cristo, portanto, deu aos fiéis o seu próprio corpo e sangue, introduzindo neles a medicina vital da divindade” (Apocrítico 3,23).

JOÃO CRISÓSTOMO 

Sem dúvida, é o mais renomado representante da Patrística Grega. Nasceu entre os anos 344 e 354 na Antioquia. Recebeu o Batismo por volta dos 18 anos, das mãos do Bispo de Constantinopla. Desde então, dedicou-se ao estudo das Escrituras, em particular das Cartas de Paulo, que chegou a reter de memória. Após algum tempo como ermitão nas proximidades de Antioquia, foi ordenado sacerdote. Pregou na principal igreja dessa cidade por 12 anos, onde mereceu o apelido “Boca de Ouro” (=”Crisóstomos”). Foi nomeado Bispo de Constantinopla, onde trabalhou incansavel e compromissadamente pela reforma dos costumes, o que lhe rendeu a perseguição por parte da Corte Real e dos clérigos a ela ligados. Morreu em 407, no desterro. Uma grande quantidade de suas obras foram conservadas.

Os textos de Crisóstomo acerca da Eucaristia são numerosos. Menciono aqui apenas alguns. Dirigindo-se aos recém-batizados no dia da Páscoa (de 390), lhes fala da ideia de combate ao demônio, devendo viver como cristãos com as armas dadas pelo Senhor:

– “Porém… O quê? Será que preparou apenas armas? Não, mas também preparou um alimento mais poderoso que qualquer arma, para que não te canses durante a luta, para que venças o inimigo com gosto. Pois basta que te veja voltar da Ceia do Senhor (=a Eucaristia), [o demônio] foge mais rápido que o vento, como se tivesse visto um leão saindo da tua boca. E se mostrares a língua tingida com o precioso sangue, nem poderá conter-se; se lhe mostras a boca vermelha de púrpura, fugirá mais rápido que uma fera” (Catecheses Ad Illuminandos Octo, Homilia 3,12).

E um pouco depois:

– “Então o anjo exterminador viu o sangue marcando as portas e não se atreveu a entrar. Agora, se o demônio já não vê a figura do sangue assinalando as portas, mas o verdadeiro sangue marcando as bocas dos fiéis – que são as portas do templo portador de Cristo – não irá com muito mais razão se deter? Porque se o anjo, ao ver a figura, se deteve, então muito mais o demônio fugirá ao ver a verdade” (Catecheses Ad Illuminandos Octo, Homilia 3,15).

Observamos antes que alguns Padres identificam o corpo eucarístico de Jesus com Seu corpo histórico, sempre de modo sacramental, jamais canibalístico. Crisóstomo ensina o mesmo. Em diversas obras, diz:

– “Feito filho, gozas também de uma mesa espiritual, comendo a carne e o sangue que te regenerou” (Exposição ao Salmo 144,1).

– “Porque o que disse foi isto: que o que está no cálice é aquilo que emanou do lado [aberto de Cristo]; e disso participamos” (Sobre 1Coríntios, Homilia 24,1).

– “Todos nós que participamos do corpo, todos nós que provamos deste sangue, devemos pensar que participamos do corpo que não difere em nada e nem se distingue daquele [corpo histórico de Jesus]” (Sobre Efésios, Homilia 3,3).

– “Elias deixou o manto com seu discípulo, mas o Filho de Deus, ao subir [aos céus], nos deixou Sua própria carne. Elias desnudou-se dele, mas Cristo nos deixou [Sua carne] e também subiu [aos céus] com ela” (De Statuis, Homilia 2,9).

– “Eu te mostro [na Eucaristia] não anjos, nem arcanjos, nem céus, nem céu dos céus, mas o próprio Senhor disso tudo. Percebes como estás vendo a mais preciosa de todas as coisas da Terra e que, não apenas a estás vendo, como também a tocas; e que não apenas a tocas, mas também a comes e, levando-a [em ti], voltas para a tua casa?” (Sobre 1Coríntios, Homilia 24,5).

– “Quantos dizem agora: como eu gostaria de ver a Sua forma, a Sua figura, as Suas vestes, os Seus calçados. Pois aqui [na Eucaristia] O estás vendo, O tocas, O comes. Desejas ver Suas vestes? Ele mesmo Se dá a ti, não só para que O veja, mas também para que O toques e O comas, e O recebas dentro de ti” (Sobre Mateus, Homilia 82,4).

– “Não é o homem quem faz que as coisas ofertadas (=o pão e o vinho) se convertam no corpo e sangue de Cristo, mas o próprio Cristo que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e graça provêm de Deus. ‘Isto é Meu corpo’ – diz. Esta palavra transforma as coisas ofertadas” (Prod. Jud. 1,6).

A tradicional relação entre Eucaristia e Encarnação resta, assim, afirmada com toda clareza:

– “O que há de igual na economia realizada para nós? Pois Aquele (=Jesus) que era para Ele (=o Pai) o mais precioso de todos os seres, o Filho unigênito, a Esse O deu por nós, seus inimigos. E não apenas O deu, como também, depois de O ter dado, nós coloca Ele também como alimento” (Sobre Mateus, Homilia 25,4).

– “[Cristo diz:] ‘Quis fazer-Me vosso irmão. Por vós, participei da carne e do sangue. Novamente vos dou hoje a mesma carne e o mesmo sangue, pelos quais cheguei a ser parente vosso'” (Sobre João, Homilia 46,3).

– “E em muitos lugares repete a mesma coisa, deixando bem claro que o que se recebe na Eucaristia não é uma recordação de Jesus, mas que na recordação Dele se recebe ‘o próprio Filho de Deus’, ‘o Rei do Universo’, ‘o Senhor do Mundo’, ‘o próprio Cristo’, ‘Sua própria carne’, ‘aquela que brotou do Seu lado [aberto]'”[41].

O sr. Guillermo Hernández Agüero, no artigo que publica no site “Conoceréis la Verdad”, traz as seguintes palavras de Crisóstomo para defender a permanência da substância do pão após a consagração:

– “O pão após a consagração é digno de ser chamado ‘o corpo do Senhor’, mesmo quando a natureza do pão permanece nele” (Carta a Cesário).

Em primeiro lugar, esta obra não provém da pena de João Crisóstomo; é apócrifa (atribuída a Crisóstomo), mas de outro autor na verdade (possivelmente Teodoreto de Ciro).

Em segundo lugar, a frase completa é esta:

– “Do mesmo modo que o pão, antes de ser santificado, é chamado ‘pão’, mas uma vez que tenha sido santificado pela graça divina, através do sacerdote, perde o nome ‘pão’ e é digno de ser chamado ‘corpo do Senhor’, embora a natureza de pão permaneça nele, dizemos, no entanto, que não há dois corpos do Filho, mas apenas um” etc. (texto em Migne 52,758).

Em terceiro lugar, [está claro que o texto] supõe que algo ocorre durante a consagração (ou “santificação”) feita pelo “sacerdote”, de modo que o pão pode ser apropriadamente chamado de “corpo do Senhor” (coisa que os inimigos da presença real jamais fizeram e nem falam de modo semelhante; a “santificação” do pão por obra de Deus através do “sacerdote”, que permite que possamos chamar esse pão de “corpo do Senhor”, todo este vocabulário pertence ao culto católico e de modo algum ao culto “evangélico”).

Em quarto lugar, o texto – independentemente de quem tenha sido o seu autor – afirma que após a consagração o pão continua conservando todas as suas propriedades (coisa que é definida como “a natureza” do pão) e que, bem entendido, não afasta a doutrina da presença real. Não devemos esquecer que o mistério eucarístico foi precisando aos poucos as palavras que o expressam, de modo que seria anacronismo exigir que um autor do século V ou VI empregasse as categorias filosóficas e hermenêuticas que se desenvolveram muito depois na teologia eucarística. Poderíamos dizer muito bem hoje – por exemplo, durante uma homilia – que “o pão conserva sua natureza de pão” desde que se entenda por isto não “a substância” do mesmo, mas todos os seus acidentes naturais: odor, sabor, cor etc. Em outras palavras: é possível compreender muito bem este texto no sentido católico.

Em quinto lugar, devemos saber que o autor menciona esse tema muito de passagem e como exemplo para um outro assunto que está abordando em profundidade, no caso, as duas naturezas de Cristo. É importante saber isto para estimar a importância do texto.

Por fim, se se quer ver neste texto uma expressão favorável [de João Crisóstomo] à presença simbólica, dever-se-ia afirmar também que destoa de todos os demais textos eucarísticos deste mesmo autor.

É interessante notar o “modus agendi” de pessoas como Hernández Agüero: o leitor desprevenido, ao ler a expressão do autor “evangélico”: “Existem alguns Padres que podem nos dizer algo sobre o nosso tema”, poderá pensar que efetivamente está diante de material patrístico abordando a Eucaristia… Mas isso é verdade? Muito pelo contrário! Citar quatro expressões de dois Padres (um dos quais nem sequer sabemos realmente quem foi) e apresentar isso como “o que alguns Padres podem nos dizer” – sabendo que o que eles “podem nos dizer” sobre a Eucaristia enche dois enormes volumes[42] – é lorota pura e simples. E isto não nos surpreende, já que as duas únicas citações escolhidas pretendem ser contrárias à doutrina católica… Honestidade intelectual? O leitor pode encontrar o que “alguns Padres podem nos dizer sobre o nosso tema” em publicações católicas (das quais o nosso trabalho é apenas mero resumo), jamais nos autores “evangélicos” que temos citado aqui. Nestes [autores], a verdade em relação ao que toda a Igreja acreditou por dois milênios brilha, infelizmente, por sua ausência.

NOTAS:

[41] Por exemplo: Sobre Mateus, Homilia 25,4; Sobre 1Coríntios, Homilia 24,2; Sobre 2Coríntios, Homilia 11,2; Sobre Efésio, Homilía 3,5, etc.

[42] Na edição de Jesús Solano são dois grossos volumes mas, com certeza, não se trata de um trabalho exaustivo.

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 9

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “[Durante a Santa Ceia,] a igreja (=corpo de fiéis) em que o Senhor está presente (cf. Mateus 18,20), participa – recordando através do pão e vinho, que simbolizam o corpo e sangue de Cristo – do sacrifício perfeito de Jesus na cruz do Calvário” (Guillermo Hernández Agüero, evangélico).

– “Assim, com absoluta segurança, participamos do corpo e do sangue de Cristo, porque na figura do pão te é dado o Corpo, e na figura do vinho te é dado o sangue, para que, participando do corpo e do sangue de Cristo, sejas feito concorpóreo e consanguíneo de Cristo” (São Cirilo de Jerusalén, Bispo, Século IV).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje, Cirilo de Jerusalém, Dídimo o Cego e Ambrósio de Milão].

CIRILO DE JERUSALÉM

Testemunha insígne da fé da Igreja de Jerusalém no século IV, em particular através de suas “Catequeses Mistagógicas”.

Instruindo os recém-batizados, ensinando a fé e a vida da Igreja, comenta o relato paulino da instituição da Eucaristia; e recitando as palavras de Jesus durante a instituição, as comenta desta maneira:

– “Quando Ele mesmo declarou e disse do pão: ‘Isto é Meu corpo”, quem se atreverá a duvidar? E quando Ele mesmo garantiu e disse: ‘Isto é Meu sangue’, quem duvidará, afirmando que não é Seu sangue?” (Catequese Mistagógica 4,1).

– “Em certa ocasião, por um mero desejo Seu, converteu água em vinho durante as bodas de Caná, na Galileia. Não é digno de se crer então que Ele converte o vinho em Seu sangue?” (Catequese Mistagógica 4,2).

– “Portanto, com absoluta segurança participamos do corpo e do sangue de Cristo, porque na figura do pão se te é dado o corpo, e na figura do vinho se te é dado o sangue, para que, participando do corpo e do sangue de Cristo, sejas feito concorpóreo e consanguíneo de Cristo; pois assim somos também portadores de Cristo: tendo Seu corpo e Seu sangue distribuídos por nossos membros. Logo, segundo São Pedro, somos consortes da natureza divina” (Catequese Mistagógica 4,3).

– “Não vejas, portanto, o pão e o vinho como coisas comuns, porque são – segundo a declaração do Senhor – corpo e sangue. Pois ainda que os sentidos te sugiram isso, a Fé te assegura o contrário. Não os julgues pelo gosto, mas pelo o que a Fé te assegura indubitavelmente, tu que foste digno do corpo e do sangue de Cristo” (Catequese Mistagógica 4,6).

– “Com a certeza de que o aparente pão não é pão – ainda que o seja segundo o paladar – mas corpo de Cristo; e que o aparente vinho não é vinho – ainda que o paladar o aponte – mas sangue de Cristo (…), fortifica o teu coração, participando Dele como de um pão espiritual, rejuvenecendo a face da tua alma” (Catequese Mistagógica 4,9).

– “Após nos termos santificado através desses hinos espirituais, invocamos ao bom Deus para que faça descer o Espírito Santo sobre os dons presentes, para que o pão venha a ser o corpo de Cristo e o vinho, o sangue de Cristo” (Catequese Mistagógica 5,7).

– “Não deixeis o juízo à vossa garganta corporal, mas à Fé indubitável, porque quando [ao ter recebido a sagrada comunhão] a estais ingerindo, não é pão e vinho o que ingeris, mas o antítipo do corpo e sangue de Cristo” (Catequese Mistagógica 5,20).

As passagens acima citadas tornam totalmente impossível qualquer dúvida acerca do realismo eucarístico de Cirilo de Jerusalém. Por isso, as últimas palavras somente podem ser entendidas assim: as espécies eucarísticas (o que aparece como pão e vinho) são símbolos que nos levam à realidade que nos é dada, isto é, o corpo e o sangue do Senhor; é o que afirma um texto anteriormente citado: “na figura de pão se dá o corpo”. Esta passagem confirma a interpretação “realista” que fornecemos em outra ocasião, ao tratar dos textos que contêm a difícil expressão grega “antítipo”.

DÍDIMO O CEGO

Monge de Alexandria, mestre dos mestres. Nasceu em 313 e morreu por volta de 398. Apesar de ter perdido a visão aos 4 anos de idade, converteu-se em um dos homens mais sábios do seu tempo. Foi colocado à frente da Escola de Alexandria por Santo Atanásio. Viveu sempre como leigo na periferia de Alexandria.

Em um escrito seu, recentemente encontrado, lemos:

– “Mais condenável e abertamente prejudicial é o jejum praticado por aqueles que se afastam do pão da vida e da carne de Jesus, que são o pão da vida, o pão da verdade descido do céu. Sendo alimento da vida, não convém de maneira nenhuma abster-se dele” (Sobre Zacarias 2,121).

AMBRÓSIO DE MILÃO

Um dos mais importante Padres do Ocidente. Nasceu por volta de 339 e morreu em 397. Tendo recebido uma boa educação, chegou a ser cônsul da região italiana de Ligúria e Emília, tendo estabelecido sua residência em Milão. Quando ainda era catecúmeno, foi eleito para a sé episcopal de Milão, cargo que aceitou em razão do pedido quase que unânime dos fiéis da Diocese. Foi então batizado e ordenado sacerdote e bispo. De vida exemplar, soube conduzir os civis e os governantes segundo o Evangelho. Escreveu numerosos hinos para a celebração da liturgia. Seus sermões e seu exemplo de vida foram responsáveis pela conversão de Agostinho à Fé cristã.

São conservadas muitas expressões acerca da doutrina de Ambrósio sobre a real presença de Cristo na Eucaristia. Proponho aqui apenas algumas:

– “‘Minha carne verdadeiramente é comida e meu sangue, bebida’: Ouvís carne; ouvís sangue; conheceis os mistérios da morte do Senhor e caluniais a divindade? (…) Sempre que nós recebemos os mistérios [na celebração eucarística], que pelo mistério da sagrada oração [eucarística] se transfiguram em carne e sangue, anunciamos a morte do Senhor” (Da Fé 4,10,124).

– “Cristo é alimento para mim; Cristo é bebida; a carne de Deus é comida para mim e o sangue de Deus é bebida. Já não espero as colheitas anuais para saciar-me; Cristo me é servido todos os dias” (Exposição ao Salmo 118,15,28).

A alguém a quem poderia parecer que o milagre do maná não era superado por nada na Igreja, e que ainda poderia imaginar que na celebração eucarística o pão é um pão comum, responde:

– “Porém, esse pão é pão antes das palavras dos mistérios; quando sobrevém a consagração, do pão se faz carne de Cristo. Vamos prová-lo: como é que o pão pode ser corpo de Cristo? Pois, na consagração, com quais palavras e de quem são essas palavras? Do Senhor Jesus (…) É a palavra de Cristo que produz este sacramento” (Dos Sacramentos 4,4,14).

E oferece ainda uma resposta final:

– “Não era corpo de Cristo antes da consagração; mas depois da consagração, te digo que já é o corpo de Cristo. Ele o disse e assim Se fez; ordenou isto e Se criou” (Dos Sacramentos 4,4,16).

Prova com vários exemplos a eficácia da palavra divina e conclui:

– “Sabeis, pois, que do pão se faz o corpo de Cristo e que do vinho, que se encontra com água no cálice, se faz sangue pela consagração celeste. Direis, talvez: ‘Eu não enxergo aparência de sangue’. Mas se assemelha, pois como recebestes o símbolo da morte [mediante o Batismo], assim também bebeis o símbolo do precioso sangue, para que não tenhais horror [ao ver] sangue e, deste modo, seu efeito produza o preço da redenção. Sabeis, pois, que o que recebeis é o corpo de Cristo” (Dos Sacramentos 4,4,19-20).

Ao inegável realismo do corpo e sangue do Senhor é acrescentado aqui uma palavra de terminologia simbólica: “similitudo”, “símbolo”. Partindo da semelhança natural do vinho com o sangue, ao vinho consagrado chama “símbolo do sangue de Cristo”, não porque Ele não esteja ali realmente (não se esqueça que essa bebida, segundo Santo Ambrósio, produz efeitos redentores), mas para que a aparência do vinho evite a repugnância natural que qualquer pessoa teria de beber sangue (a objeção do catecúmeno era: “Eu não enxergo aparência de sangue”).

Mais adiante, alude às palavras da anáfora eucarística e torna a insistir:

– “Antes de consagrá-lo, é pão; mas quando sobrevêm as palavras de Cristo, é o corpo de Cristo (…) Também antes das palavras de Cristo, o cálice está cheio de vinho e água; mas quando atuaram as palavras de Cristo, ali se encontra o sangue Daquele que redimiu o povo. Vede, pois, de quantas formas a palavra de Cristo pode mudar tudo. Finalmente, o próprio Senhor nos atestou que o que recebemos é o Seu corpo e o Seu sangue. Devemos duvidar da autoridade do Seu testemunho?” (Dos Sacramentos 4,5,23).

Em vários de seus sermões Ambrósio nos oferece um exemplo claro de outro aspecto que é importante considerar na hora de compreender os escritos dos antigos Padres da Igreja e, assim, poder deduzir no que realmente acreditavam. Refiro-me à “disciplina do arcano”. O Pe. Ott assim a explica: “Existia então a ‘disciplina arcani’, que era um lei que obrigava os fiéis dos primeiros tempos da Igreja a guardar segredo acerca dos mistérios da fé, e de maneira particular, da Eucaristia. Era uma precaução lógica que tinha por objetivo evitar as calúnias dos pagãos, que podiam tergiversar o sentido da nova doutrina (=a Fé cristã); cf. Orígenes, Sobre Levítico, Homilia 9,10”. Em outras palavras: os cristãos dos primeiros séculos tentavam não tornar pública a doutrina eucarística exatamente porque acreditavam na presença real de Cristo, coisa que, se fosse conhecida dos pagãos, seria objeto de ironia ou perseguição. Um texto de Ambrósio ilustra isso muito bem; falando aos que tinham recebido recentemente o Batismo, após uma longa e consciente instrução, lhes diz:

– “Agora já é tempo de falar dos sagrados mistérios (=a Eucaristia) e explicar-vos o significado dos Sacramentos, coisa que, se o tivéssemos feito antes do Batismo, seria mais apropriadamente uma violação à disciplina do arcano do que uma instrução” (Dos Mistérios 1,7; SC 25bis,156-158).

Em sua explicação dos sacramentos cristãos, tratando da Eucaristia, propõe novamente a objeção: “Talvez direis: ‘Eu enxergo outra coisa. Como me dizes que estou recebendo o corpo de Cristo?’ É isso o que nos resta provar”. Depois de acumular exemplos onde a natureza das coisas foi alterada mediante a intercessão dos santos, responde à objeção:

– “Pois se tanto poder teve a bênção humana que mudou a natureza, o que diremos da própria consagração divina, quando o que age são as próprias palavras de Nosso Salvador? Porque o sacramento que recebeis é feito com as palavras de Cristo. E se a palavra de Elias teve tanto poder para fazer descer fogo do céu, não teria poder a palavra de Cristo para alterar a natureza dos elementos? (…) A palavra de Cristo que pôde fazer do nada o que não existia, não poderá alterar o que existe naquilo que não era [isto é, converter o pão em corpo de Cristo]? É óbvio que a Virgem deu à luz fora da ordem natural; pois também aquilo que consagramos é o corpo nascido da Virgem (…) Sem dúvida nenhuma, foi a verdadeira carne de Cristo que foi crucificada e sepultada; portanto, [a Eucaristia] é verdadeiramente o sacramento da Sua carne” (Dos Mistérios 9,50-53)[39].

E, no final de seu discurso:

– “É o próprio Senhor Jesus quem clama: ‘Isto é Meu corpo’. Antes da bênção com as palavras celestes, chama-se outra coisa [=”pão”]; após a consagração, temos o corpo. Ele mesmo disse que é Seu sangue. Antes da consagração, chama-se outra coisa [=”vinho”]; após a consagração, chama-se “sangue”. E tu dizes: “Amém”, ou seja, “É verdade”. O que a tua boca diz, confesse também o teu espírito. O que soam as palavras, sinta também o afeto” (Dos Mistérios 9,54).

Este impressionante realismo eucarístico não apenas foi expresso constantemente pelo Bispo de Milão, como também ensinado, provado e exigido por ele aos seus fiéis, como pertencente à Fé Cristã. Logo, não há razão para ser obscurecido por uma frase como esta: “Que esta oferenda Te seja agradável, porque é figura do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Dos Sacramentos 4,5,21). Isto porque:

1º) Parece que se trata de uma citação extraída por Santo Ambrósio de uma outra obra;

2º) Ambrósio nunca emprega a palavra “figura” para designar os ritos sagrados, preferindo “similitudo” ou “semelhança” e “símbolo”, deixando a palavra “mistério” para a realidade profunda que encerram essas “similitudo” do pão e do vinho, ou da água e do azeite etc. Recorde-se aqui o que dissemos sobre Cirilo de Jerusalém e outros Padres acerca do emprego das palavras “tipo”, “antítipo” etc.

Uma última citação:

– “É por isso também que a Igreja, tendo em suas mãos tão imensa graça, exorta os seus filhos e amigos a reunirem-se para receber os Sacramentos, dizendo: ‘Comam, meus amigos. Bebam e embriaguem-se, irmãos’ (…) Nesse sacramento [da Eucaristia] Cristo está [presente], pois é o corpo de Cristo; não é, portanto, comida corporal, mas espiritual (…) porque o corpo de Cristo é o corpo do Espírito divino (…) E, finalmente, essa comida fortalece o nosso coração; essa bebida alegra o coração do homem, como anunciou o Profeta” (Dos Mistérios 9,58).

Sirvam estas explicações do século IV também a aqueles que em pleno século XXI interpretam a Eucaristia católica como “canibalismo”, ou como um convite para comer “fibras, músculos, derme (…) plaquetas, plasma, glóbulos”, ou que creem possuir licença para supor que o convite à recepção frequente da Eucaristia – como, p.ex., o de Ambrósio de Milão, no séc. IV – é “mecanismo” para “um truque”[40]. Deve-se manter os dois extremos do mistério, sem destruir nenhum: a presença do corpo de Jesus na Eucaristia é real (não simbólica), ainda que seja dado de comer de maneira espiritual. (…)

NOTAS:

[39] Em seu artigo sobre “a teoria da transubstanciação”, Daniel Sapia menciona as palavras de um sacerdote argentino que, ao mostrar a hóstia consagrada, antes da comunhão, disse: “Este É o corpo de Jesus, O MESMO que nasceu da Santa Virgem Maria (…) Felizes os convidados para o banquete celestial”. O autor batista fica escandalizado com estas palavras, escritas sobre um momento especial, inclusive acrescentando uma breve filmagem desse instante, em que é possível ver e ouvir o referido sacerdote. Curiosamente, Ambrósio de Milão, testemunha indiscutível da Igreja primitiva, não inventou nada (está apenas transmitindo a fé recebida) e diz, dezesseis séculos antes: “[Na Eucaristia] o que consagramos é o corpo nascido da Virgem”. E se Ambrósio for considerado testemunho tardio, vamos regredir então ao século II e interpelar um discípulo dos Apóstolos: Inácio de Antioquia ensinava que a Eucaristia “é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, aquela que padeceu por nossos pecados”. É claro que a expressão do sacerdote argentino está em perfeita sintonia com o que a Igreja primitiva sempre acreditou, enquanto que o autor batista está em sintonia não com a Fé da Igreja primitiva, mas com a heresia doceta, contra a qual São João Evangelista tanto lutou em suas cartas. Inácio de Antioquia nos afirma claramente: “Da Eucaristia e da oração [os docetas] se afastam, porque não confessam que a Eucaristia é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo, aquela que padeceu pelos nossos pecados; aquela que, por Sua bondade, o Pai ressuscitou”.

[40] As expressões entre aspas são de Daniel Sapia. Segundo a doutrina católica, o corpo que se recebe na Eucaristia é o corpo glorioso de Cristo, o corpo que se levantou no sepulcro. Trata-se do próprio corpo de Cristo, embora transformado, glorificado, que adquire dimensões que o nosso corpo atualmente não possui, mas que virá a ter por ocasião da ressurreição da carne. Tentando evitar possíveis incongruências, Sapia chega ao extremo de negar que o corpo do Cristo Ressuscitado tivesse sangue. Suas palavras são estas: “O novo corpo de Cristo, no qual Ele agora reside à direita do Pai no céu, não possui sangue”. Acredito que este “ex abrupto” teológico tenha surgido para explicar, entre outras coisas, como as “fibras, músculos, derme (…) plaquetas, plasma, glóbulos” fizeram para ingressar na casa onde estavam os discípulos com as portas fechadas. Porém, levantamos esta questão: É possível sustentar que o Ressuscitado era o próprio corpo de Cristo se, por outro lado, não possuía sangue? O que teria este “corpo” para ser realmente o corpo de Cristo? Ou por acaso o Corpo Ressuscitado foi uma simples ilusão de ótica dos Seus discípulos? Isto não é realmente negar a realidade? Ou teria mesmo sido uma farsa? O que Tomé tocou na segunda aparição aos Apóstolos? Se o que viu e tocou não era um fantasma, isto se deve ao fato de ter tocado um corpo real, com sangue e tudo o mais que um corpo possui, ainda que sob nova dimensão: a dimensão do Ressuscitado. Quem comeu diante dos Apóstolos não foi a alma de Cristo, mas Seu corpo real (Lucas 24,39 e seguintes não dá margem a fantasias). Comeu mesmo Jesus com seus discípulos após Sua ressurreição? Aceitará também o “cristianismo evangélico” – do qual Sapia se autocoloca implicitamente como porta-voz nesta questão que agora nos ocupamos – esta doutrina da não-identidade real do corpo de Cristo antes e depois da ressurreição?

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 8

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Jesus jamais ensinou a transubstanciação aos seus discípulos, isto é, que o pão literalmente se converteria no Seu corpo” (Guillermo Hernández Agüero, evangélico).

– “Não se trata – como ensina a doutrina da transubstanciação – que o pão se converta em Cristo, mas que Ele é como um pão que dá a vida eterna” (Fernando Saraví, evangélico).

– “Contudo, esse pão é pão antes das palavras dos mistérios; quando ocorre a consagração, do pão se faz a carne de Cristo” (Santo Ambrósio, Bispo, Século IV).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje, os quatro grandes doutores da Igreja Oriental: Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesareia, Gregório de Nanzianzo e Gregório de Nissa].

ATANÁSIO

A grande figura de Santo Atanásio (295-373) preenche uma boa parte do século IV. Como diácono e secretário de seu Bispo, Alexandre, participou do Concílio de Niceia. Foi nomeado Bispo de Alexandria. Por defender a doutrina de Niceia, foi exilado cinco vezes pelas autoridades do Império.

Contrapondo a antiga Pácoa com a celebração pascal cristã, diz:

– “Então (=nos dias do Antigo Testamento) celebravam a festa comendo um cordeiro irracional e afugentavam o [Anjo] exterminador untando os dentes com seu sangue. Mas agora, quando comemos o Verbo do Pai e assinalamos os lábios de nossos corações com o sangue do Novo Testamento, conhecemos a graça que o Salvador nos deu” (Cartal Festal 4,3).

– “O próprio Salvador nosso, passando do figurado para o espiritual, lhes prometeu que de então em diante não comeriam a carne do cordeiro, mas a sua própria [carne], dizendo: ‘Tomai e comei; isto é o Meu corpo e o Meu sangue” (Carta Festal 4,4).

– “Verás os levitas (=os sacerdotes cristãos), que levam os pães e o cálice com o vinho, e os põem sobre o altar. E enquanto não são feitas as orações e invocações, é apenas pão e vinho; mas quando terminam as magníficas e admiráveis preces, então o pão se faz corpo e o cálice [se faz] sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. E novamente: ocorre a realização dos mistérios. Este pão e este cálice, antes das orações e invocações, são puros [pão e vinho]; mas quando sobrevêm as magníficas preces e as magníficas invocações, o Verbo desce ao pão e ao cálice, e se faz o seu corpo” (Sermão aos Batizandos [fragmento]; PG 26,1325)[37].

Tratando dos frutos da comunhão eucarística, escreve:

– “Nos divinizamos, não participando do corpo de um homem qualquer, mas tomando o corpo do próprio Verbo” (Carta a Máximo 2; PG 26,1088).

BASÍLIO

Um dos líderes mais importantes da Igreja da Capadócia. Nasceu por volta de 330. Contam-se em sua família diversos mártires e santos. É considerado um dos fundadores do monaquismo oriental.

Escrevendo a um cristão acerca do proveito da comunhão frequente, diz:

– “É certamente bom e proveitoso receber diariamente a Eucaristia e, assim, participar do corpo e sangue de Cristo, porque Ele diz com toda a clareza: ‘Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue possui a vida eterna’. E quem pode duvidar que participar frequentemente da Vida é a mesma coisa que possuir vida em abundância? Eu comungo quatro vezes por semana: no Dia do Senhor (=Domingo), na 4ª-Feira, na 6ª-Feira e no Sábado; e também em qualquer outro dia, se acontecer a comemoração de algum santo” (Carta 93)[38].

Em outros lugares, fala de “receber o corpo e o sangue de Cristo” e de “participar do santo corpo e sangue de Cristo” (Regra Moral 21,1-2; Regra Breve, Tratado 172).

GREGÓRIO NANZIANZENO

Outro dos grandes Padres Capadócios. Nasceu em 330 e morreu em 389. Trabalhou em grande sintonia com São Basílio e o irmão de Basílio, São Gregório de Nissa. Seu pai foi Bispo de Nanzianzo. Foi ordenado sacerdote em 362. Nomeado Bispo de Niceia, renunciou à esta sé por problemas canônicos. Foi Bispo de Nanzianzo por alguns anos, até que se aposentou, e passou a viver em solidão e oração até sua morte. Seus escritos são de imensa profundidade teológica.

Tratando da celebração eucarística, exorta aos fiéis:

– “Se desejais a Vida, comei o Corpo e bebei o Sangue sem temor e sem dúvidas” (Discurso 45, na Santa Páscoa 19).

E em uma carta:

– “Ó piedosíssimo: não te canses de pedir e advogar por nós, quando por tua palavra fizeres baixar o Verbo; quando pelo fracionamento incruento, usando a voz no lugar da espada, cortares o Corpo e o Sangue do Senhor (=exato momento da fração do pão eucarístico na Missa)” (Carta 171, a Anfilóquio 3).

GREGÓRIO DE NISSA

Irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nanzianzeno. Nasceu em 335 e morreu em 394. Grande místico, teólogo e escritor. Foi consagrado Bispo de Nissa, na Capadócia.

Ensinando aos seguidores de Cristo como se deve entender as Escrituras, diz-lhes:

– “Cremos que também agora o pão santificado pela palavra de Deus se transforma no corpo do Verbo de Deus” (Discurso Catequético 37).

E em outro lugar:

– “Inicialmente, o pão é comum; mas quando o mistério o consagrou, chama-se e se faz corpo de Cristo” (In Diem Luminum; PG 46,581).

Afirma também que Cristo Se ofereceu em sacrifício antes mesmo do Calvário, e diz:

– “Quando se deu isso? Quando aos que estavam com Ele lhes fez Seu corpo ao pão e, à bebida, Seu sangue. Porque é totalmente manifesto que os homens não podem comer um cordeiro se anteriormente não se dá a morte disto que comem. Ele, que deu Seu corpo como comida aos Seus discípulos, manifestou abertamente que já se tinha cumprido o sacrifício do cordeiro” (Discurso 1, na Santa Páscoa; PG 46,612).

NOTAS:

[37] Alguns colocam este texto em dúvida, não obstante a maioria dos críticos hoje o tenham como um escrito autêntico de Atanásio.

[38] Compare-se o escrito de São Basílio Magno com estas expressões de Sapia no artigo já citado (com as ênfases do original): “Este sacerdote [católico] disse [ao terminar uma Missa]: ‘Queridos irmãos: vos convido a retornar todo domingo para receber Cristo, que por sua grande humildade Se transforma em hóstia por amor a nós…’ Pergunto: Receber Cristo todo domingo? É claro que somente podemos receber algo quando NÃO TEMOS esse algo (o que me parece óbvio). Significa, então, segundo se depreende das palavras do sacerdote, que Cristo ‘abandona’ o católico em algum momento da semana, já que no domingo [seguinte] deverá assistir à Missa para novamente recebê-Lo… e assim sucessivamente ao longo de toda a sua vida… Isto não apenas é antibíblico como também ilógico. No entanto, os fiéis católicos aceitam, creem e obedecem a isto… Eles creem na Igreja Católica Romana e isso os conforma para supor que estão cumprindo [seus deveres para] com Deus. O verdadeiro cristão recebe Cristo UMA ÚNICA VEZ em sua vida: no instante de reconhecê-Lo como seu único e suficiente Salvador, entregando-Lhe seu coração e todo o seu ser; o que a Bíblia chama de “nascer de novo” (algo que dificilmente ocorre com quem supõe receber Cristo pela ingestão de uma hóstia)”. É claro que cada um tem uma visão diferente do que significa “receber Jesus” e não necessariamente coincidirá com a definição de tipo dogmático expressa por Sapia, sobre como “o verdadeiro cristão” recebe a Cristo (leia-se: ele e os que pensam como ele); como se existisse uma única forma de “receber” Jesus! Entretanto, o que eu quero apontar aqui é que a fé do evangélico batista é diferente da Fé da Igreja primitiva, daquela Fé que coincide com a daquele sacerdote católico que convida os fiéis a regressarem à Igreja todo domingo para “receber a Cristo”. Vemos então que São Basílio Magno, na distante Capadócia, naquele já distante século IV, “cria na Igreja Católica Romana” e isso “o conformava para supor que estava cumprindo [seus deveres para] com Deus”. Há outros testemunhos neste artigo onde os Padres recomendam ou louvam a recepção diária da Eucaristia.

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 7

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “No caso do suposto milagre da hóstia, nosso sentido nos diz que esse elemento continha sendo o mesmo pão, de modo que a nossa vista e qualquer um dos nossos sentidos não percebem o suposto milagre na substância. Nossa fé não é cega” (Guillermo Hernández Agüero, evangélico).

– “O aparente pão não é pão (ainda que o seja para o paladar), mas corpo de Cristo; e o aparente vinho não é vinho (ainda que o paladar o queira), mas sangue de Cristo” (São Cirilo de Alexandria, Bispo, Século IV).

– “O que vedes é o pão e o cálice, que é também o que dizem os vossos olhos; porém, naquilo que vossa fé pede para ser instruída, o pão é o corpo de Cristo e o cálice, o sangue de Cristo (Santo Agostinho, Bispo, Século IV).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje, brevemente, os testemunhos dos Papas Dâmaso I e Sirício I, e também o antigo documento conhecido como Ambrosiaster].

DÂMASO

Papa, ocupou a sé de Pedro de 366 a 384. Encomendou a São Jerônimo a tradução [latina] das Escrituras. Poeta, são conservados numerosos epitáfios que compôs para os túmulos dos mártires.

Para o túmulo do jovem mártir da Eucaristia, São Tarcísio, mandou escrever estas palavras:

– “Quando uma mão insana oprimia São Tarcísio, / portador dos sacramentos de Cristo, / para que os expusesse ao profano, / ele preferiu dar a sua vida em meio aos ferimentos / do que entregar aos cães raivosos os membros celestes” (Epigrammata Damasiana, ed. A. Ferrua, 15, PL 13,392).

SIRÍCIO

Eleito papa em 384. Grande amigo de Santo Ambrósio. Consagrou a  basílica de São Paulo em Roma.

No ano 385 proibiu os apóstatas de se aproximarem dos sacramentos eucarísticos, dizendo-o desta forma:

– “Ordenamos que estes (=os apóstatas) se afastem do corpo e do sangue de Cristo, pelos quais, em outro tempo, ao renascerem, tinham sido redimidos” (Epístola a Himério 3,4).

AMBROSIASTER

Assim é conhecido um autor cujo nome autêntico é para nós desconhecido. Comentou todas as cartas de São Paulo, com exceção a dos Hebreus. É considerado um dos melhores comentários até a época do Renascimento. Sua doutrina, salvo as inclinações milenaristas, sempre foi tida por ortodoxa por toda a Igreja.

Comentando o texto de Paulo sobre a Eucaristia, escreveu:

– “Já que fomos libertados pela morte do Senhor, recordando esta realidade, ao comermos e bebermos a carne e o sangue que foram oferecidos por nós, queremos significar que neles adquirimos o Novo Testamento” (Sobre 1Coríntios 11,26,1).

– “Recebemos o místico cálice de sangue para a defesa do nosso corpo e alma, pois o sangue do Senhor redimiu o nosso sangue, isto é, salvou o homem inteiro; pois a carne do Salvador para a salvação do corpo e do sangue foi derramado pela nossa alma” (Sobre 1Coríntios 2).

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

Adoração ao Santíssimo

A Presença Real de Cristo na Eucaristia – Parte 6

Autor: Pe. Juan Carlos Sack
Fonte: http://www.apologetica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Cristo nos deixou a sua carne [na Eucaristia] e também subiu [ao céu] com ela” (São João Crisóstomo, Bispo, séc. IV).

– “A Fé diz que Deus pode muito bem e de algum modo, manter o corpo de Cristo no céu e fazer também, de outro modo, que esteja no pão” (Martinho Lutero; W26,414,4-6).

– “Uma fantasia sugere que cada uma das milhões de hóstias é o corpo físico do Cristo completo, íntegro e inteiro, anterior à crucificação, enquanto, ao mesmo tempo, Cristo estaria no céu, com seu corpo ressuscitado” (Daniel Sapia, evangélico).

[Dando continuidade a esta Série, abordaremos hoje os testemunhos de Cirilonas de Edessa, Juvenco da Espanha, Eusébio de Cesareia e Hilário de Poitiers].

CIRILONAS

Temos poucos dados biográficos sobre este autor, embora vários de seus poemas sejam conservados. Suas obras foram escritas em Edessa, no final do século IV.

Os textos que nos chegaram desta testemunha da fé cristã das igrejas que tinham sido fundadas pelos Apóstolos são de um forte realismo eucarístico.

– “Pôs-se de pé [no Cenáculo], elevou-se a Si mesmo por amor e manteve Seu próprio corpo levantado em Suas mãos. Sua [mão] direita era um altar sagrado; Sua mão erguida, uma mesa de misericórdia” (Homilia sobre a Páscoa 1; in: BKV 6,33 [Ausgewählte Schriften der Syrischen Dichter]).

Põe nos lábios de Jesus as seguintes palavras, incentivando Seus discípulos e fiéis a receberem a Eucaristia:

– “Vinde, discípulos meus; recebei-Me. Quero pôr-Me em vossas mãos. Vede: estou aqui, de pé, em inteira verdade; porém, comei também [o Meu corpo] em inteira verdade” (Homilia sobre a Páscoa 1; in: BKV 6,37).

– “Este memorial não deve cessar entre vós até o fim do mundo. Portanto, meus irmãos, deveis fazê-lo em todos os tempos e lembrar-vos de Mim. Comestes o Meu corpo; não Me esquecereis. Bebestes o Meu sangue; não me desprezareis” (Homilia sobre a Páscoa 1; in: BKV 6,38)[31].

JUVENCO

Testemunha da fé da Igreja da Espanha no início do século IV. Chegaram até nós diversas obras poéticas cristãs escritas em latim. Suas obras datam de 330, aproximadamente. São Jerônimo o menciona em vários escritos.

Narrando a instituição da Eucaristia, diz:

– “Dizendo isto, começou a partir o pão com Suas mãos. E, depois de orar santamente, ensinou aos discípulos que dessa forma estariam comendo o Seu próprio corpo. A seguir, o Senhor tomou o cálice cheio de vinho e o santificou com ação de graças, e o deu a beber, ensinando que o que lhes tinha distribuído era o Seu sangue; e disse: ‘Este sangue redimiu os pecados do povo'” (Evangeliorium 4,4,447-453).

EUSÉBIO DE CESAREIA

Considerado o pai da historiografia eclesiástica. Nasceu na Cesareia da Palestina em 263. Discípulo do presbítero Pânfilo e, através deste, de Orígenes. Em 313 foi nomeado Bispo da Cesareia. Durante a disputa ariana, nem sempre se mostrou católico, por desejo de conciliar as duas partes e alcançar a paz. Chegou a ser excomungado pelo Sínodo da Antioquia de 325. Neste mesmo sentido, teve problemas com o Concílio de Niceia, porém finalmente assinou a declaração dogmática da grande Assembleia contra Ário. Sua obra mais importante, sem dúvida alguma, foi a “História Eclesiástica”, que escreveu entre os anos 300 e 325. Muito apreciado como historiador e acadêmico, menos porém como teólogo, por diversas de suas impressões doutrinárias.

Eusébio possui expressões que podem muito bem ser tomadas como “simbólicas” em relação à presença de Jesus na Eucaristia. Falando dos pães da proposição, dizendo que eram “símbolo e imagem” do pão da vida, acrescenta:

– “Por isso, sabendo Davi (Salmo 33,6) de quem era a imagem do pão da proposição, nos convida a aproximar-nos não daquele pão corpóreo, mas do pão que é representado no corpóreo. Assim, nós que estamos na terra, participamos do pão que desceu do céu e do Verbo que Se esvaziou a Si mesmo e Se abreviou”[32].

Retenhamos o vocabulário: os pães da proposição são “símbolo e imagem” do pão da vida, que é o Verbo que desceu do céu. No mesmo ambiente tipológico, Eusébio comenta Gênesis 49,11 (“Lavará suas vestes no vinho e seu manto no sangue da uva”); Eusébio enxerga aqui uma insinuação da Paixão:

– “Através do vinho, que era símbolo do Seu sangue, purifica os que são batizados no Seu sangue”.

Do versículo seguinte (“Seus olhos estão alegres pelo vinho e seus dentes são mais brancos que o leite”), pensa que expressa de maneira obscura os mistérios do Novo Testamento de Nosso Senhor e, em particular…

– “…a alegria do vinho místico que Ele entregou aos Seus discípulos, dizendo-lhes: ‘Tomai e bebei: este é Meu sangue’ (…) e o esplendor e pureza do alimento místico, porque novamente Ele entregou aos Seus discípulos os símbolos da divina economia, ordenando que se fizesse a imagem do Seu próprio corpo”.

O vinho que é “símbolo” do Seu sangue não é o vinho eucarístico, mas o vinho do texto que Eusébio está comentando. O corpo e o sangue do Senhor são a realização dos símbolos profetizados, que por isso mesmo são chamados de “imagem”, isto é, “reprodução do que foi profetizado”[33].

O mesmo se pode encontrar em outra passagem, onde o sacrifício de Cristo vem para cumprir as figuras dos antigos sacrifícios judaicos. Os cristãos receberam o mandato de celebrar sobre o altar a memória desse sacrifício…

– “…através dos símbolos de Seu corpo e de Seu sangue salvador, segundo a instituição do Novo Testamento” (Demonstração Evangélica 1,10).

O pão e o vinho têm aqui, como símbolos, uma função de memória em relação com o sacrifício de Cristo[34].

Por outro lado, se Eusébio tivesse tido um conceito simbólico da Eucaristia que excluísse a doutrina católica da presença real do Senhor, então jamais poderia ter dito o seguinte, ao tratar da celebração da Eucaristia:

– “Nós, que pertencemos ao Novo Testamento, celebrando a nossa Páscoa a cada domingo, sempre nos saciamos com o corpo do Salvador; sempre participamos do sangue do Cordeiro” (Da Solenidade Pascal 7).

Em relação a certas passagens patrísticas que podem dar margem a interpretações simbólicas, creio que seja oportuno observar o seguinte: a doutrina católica sobre a presença real de Jesus exclui toda espécie de apresentação grosseira do mistério eucarístico, como a chamada “cafarnaítica”, segundo a qual a carne literal de Jesus será dada de comer aos fiéis. Esta foi a interpretação que despertou escândalo entre os ouvintes de João 6. Esta interpretação é a que se pretende inculcar nos católicos quando se lhes perguntam, por exemplo: “[Jesus] estava realmente ensinando que devemos comer a Sua carne (fibras, músculos, derme) e beber o Seu sangue (plaquetas, plasma, glóbulos)?”[35].

Jesus tinha outra coisa em mente, segundo a qual daria a comer e a beber: sim, Seu próprio corpo e Seu próprio sangue (“Meu corpo é verdadeira comida e Meu sangue é verdadeira bebida” [João 6,55]), mas de tal maneira que seus discípulos simplesmente comeriam pão e beberiam vinho, evitando assim todas as ridicularizações a que recorrem até hoje os inimigos da presença real[36]. Neste sentido, visto que o pão continua sendo apresentado simples e empiricamente como pão e o vinho como vinho, é possível se referir a eles como “símbolos” do corpo e do sangue do Senhor, pois apesar de serem mostrados como pão e vinho, são indicadores de uma realidade invisível que os transcendem; no pão e no vinho eucarísticos, após o relato da instituição da Eucaristia pelo sacerdote, são verdadeiramente, realmente e substancialmente o corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que as aparências continuem sendo as do pão e vinho. E enquanto aparências, são símbolos de uma realidade diferente, a saber: de Jesus, o Pão da Vida. Isto explica o fato de que em alguns textos que vimos e ainda veremos, alguns Padres falem de certo simbolismo do pão e do vinho em relação ao corpo e sangue do Senhor e, a seguir, ensinem que na Eucaristia o próprio Jesus Cristo é recebido.

HILÁRIO DE POITIERS

O “Atanásio do Ocidente”, assim conhecido por sua defesa das doutrinas anti-arianas do Concílio de Niceia. Converteu-se à Fé cristã após o estudo do Antigo e do Novo Testamento. Embora casado, os sacerdotes e os fiéis de Poitiers, na França, o elegeram como seu Bispo em 350. Sofreu muito pela Fé verdadeira, sobretudo ao ser desterrado. Morreu em 367 e é considerado uma das colunas do triunfo da Fé Nicena contra o Arianismo. Foi proclamado “Doutor da Igreja” pelo Papa Pio IX, em 1851.

Em pleno ambiente anti-ariano, Hilário arguiu a realidade da Eucaristia (indiscutivelemente vivida na Igreja) à verdade da natureza divina de Cristo e escreveu, ao comentar João 17,22-23:

– “Como Cristo está hoje em nós: por verdade da natureza ou por concordância de vontade? Porque se o Verbo verdadeiramente Se fez carne e nós, no alimento do Senhor, verdadeiramente comemos o Verbo feito carne, como se concluirá que Ele não permanece naturalmente conosco? Ele que nasceu do homem, tomou a natureza da nossa carne, inseparável Dele, e, no mistério que nos comunica a Sua carne, uniu a natureza da Sua carne com a natureza da Sua divindade” (Da Trindade 8,13).

– “Porque Ele mesmo disse: ‘Minha carne é verdadeiramente comida e Meu sangue é verdadeiramente bebida. Aquele que come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele’. Sobre a verdade da carne e do sangue, não há lugar para dúvidas, pois agora, pela profissão do Senhor e pela nossa fé, é verdadeiramente carne e verdadeiramente sangue. E quando essa carne é comida [para o fiel] e o sangue é bebida, então fazem com que permaneçamos em Cristo e Cristo em nós” (Da Trindade 8,14).

– “Recordamos todas essas coisas porque os hereges, mentindo ao dizer que somente existe unidade de vontade entre o Pai e o Filho, empregavam o exemplo da nossa união com Deus, como se estivéssemos unidos ao Filho e pelo Filho ao Pai, apenas por nossa submissão e vontade religiosas e, assim, não se concedera qualquer propriedade de união natural ao sacramento da carne e do sangue. Sendo assim, que o mistério da verdadeira e natural unidade [entre Cristo e aqueles que recebem este sacramento] seja proclamado pela honra que supõe para nós a doação do Filho; e pela permanência segundo a carne do Filho em nós, já que estamos corporal e inseparavelmente unidos a Ele” (Da Trindade 8,17).

NOTAS:

[31] Os adversários da presença real costumam afirmar que Jesus pediu para que a Eucaristia fosse celebrada “em Minha memória”, como se essa “memória” fosse contrária à “presença” de Jesus. Nos Padres da Igreja, como também na doutrina católica, os conceitos de “memória” e “presença” não se opõem: em memória de Jesus celebramos “isto” (segundo as palavras do Senhor: “Fazei isto em Minha memória”) e “isto” faz também referência à oferta do Seu corpo e do Seu sangue (“Isto é o Meu corpo entregue por vós”).

[32] Comentário ao Salmo 33,6.

[33] Para maiores informações sobre o tema, veja-se Dufort, “Le Symbolisme Eucharistique aux Origines de l’Église”, pp. 33-35.

[34] Veja-se a obra de J. Betz, “Die Eucharistie in der Zeit der Griechischen Väter”, tomo 1/1 (Freiburg 1955), que é fonte obrigatória para o estudo da linguagem eucarística dos Padres gregos.

[35] Daniel Sapia, em seu artigo “A Teoria da Transubstanciação”. Esta ridícula apresentação que o Webmaster batista quer colocar na boca da Igreja nunca foi doutrina católica, como demostram, entre outros, Santo Agostinho, ao assinalar que “eles (=os ouvintes de Jesus em João 6) entenderam a carne como aquela que se solta de um cadáver, ou como aquela que é vendida no mercado, não a que se encontra animada pelo Espírito”; e: “entenderam-No carnalmente e imaginaram que o Senhor iria cortar algumas partes do Seu corpo para dar a eles”; ou São Cirilo de Alexandria, quando pregava que “quando ouviram [Jesus] dizer: ‘Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, se não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós’, imaginaram que estavam sendo convidados para algo cruel, próprio das feras: que desumanamente seriam obrigados a comer carne e a beber sangue; que seriam obrigados a fazer coisas que, só de ouvir, qualquer um já estremece”; ou o próprio Martinho Lutero, que afirmava: “Os judeus pensaram que deveriam comer Cristo, do mesmo modo que se come o pão e a carne do prato, ou como um leitãozinho assado”. A Igreja rejeita toda apresentação grosseira do mistério eucarístico e entende o comer a carne de Cristo no sentido real, porém sacramental e místico, não como que extraído de um cadáver ou como se fosse um leitãozinho assado.

[36] A ridícula acusação de canibalismo, por exemplo.

Leia também as outras partes da série especial sobre a Eucaristia

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