O demônio está bastante presente na pregação do Papa Francisco. Mas, afinal, qual a importância de se falar sobre o diabo e o inferno hoje?
Referência constante em seus discursos, o diabo é um inimigo contra o qual o Papa Francisco insiste em convocar os cristãos a lutar. Na homilia de sua primeira Missa como Pontífice, ele disse que, “quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio”. Em uma de suas reflexões matutinas, no mês de maio, Francisco falou do “ódio do príncipe deste mundo àqueles que foram salvos e redimidos por Jesus”.
A espontaneidade com que o Pontífice fala de Satanás lembra Jesus Cristo. Desagradando aos “politicamente corretos” e adeptos de uma teologia pouco preocupada com a transcendência, o Santo Padre imita ninguém menos que nosso Senhor: de fato, só nos Evangelhos sinóticos, são mais de 40 referências ao anjo caído; inúmeras delas, relatos de autênticos exorcismos, comprovando que o demônio, longe de ser uma mera produção fantasiosa, é uma realidade viva e atuante no mundo.
Hoje, no entanto, pregadores que falem com veemência do diabo e do inferno são acusados de instalarem o medo e angústia entre os fiéis, como se a prédica da Igreja devesse refletir a preocupação apenas com as coisas deste mundo, e não com as realidades eternas.
Mais do que isso: várias destas realidades eternas chegam mesmo a ser negadas, inclusive por aqueles que nelas e por elas deveriam crer e guiar suas vidas. O demônio, por exemplo, é tratado por muitos como uma mera “força negativa” ou simplesmente como uma metáfora para designar o mal físico. O inferno não passaria de um recurso retórico para ajudar as pessoas na luta contra as mazelas deste mundo. Reduz-se, assim, a categorias materiais aquilo que, de acordo com a doutrina perene e constante da Igreja, é uma autêntica realidade espiritual.
Com efeito, o Catecismo, recordando que “a existência dos (…) anjos, é uma verdade de fé”, ensina que alguns destes anjos caíram. São os que comumente chamamos de demônios. Eles “foram por Deus criados bons em natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa”, segundo uma lição do IV Concílio de Latrão. O Catecismo também destaca que a Escritura por diversas vezes “atesta a influência nefasta” do diabo, que tentou o próprio Senhor quando ele jejuava no deserto (cf. Mt 4, 1-11).
Ao se falar sobre estas coisas, não se pretende fazer do diabo o centro da pregação cristã. Deseja-se, outrossim, instruir os fiéis sobre o perigo de se manter indefeso ou indiferente aos assaltos do maligno. São João Crisóstomo declarava, aos fiéis de Antioquia: “Não é para mim nenhum prazer falar-vos do diabo, mas a doutrina que este tema me sugere será muito útil para vós”. A importância deste tema está relacionada ao próprio fundamento espiritual de nossa fé, posto que, como já dizia o Papa Francisco, antes de ser eleito Pontífice, talvez o maior sucesso do demônio “tenha sido nos fazer acreditar que ele não existe, que tudo se arranja em um plano puramente humano” 01.
A Igreja não pode, em nome do bom-mocismo, calar estas verdades de fé, tão importantes para os nossos tempos, sob a alegação de que causariam medo entre as pessoas. De fato, nem todo temor é mau. O medo de perder a Deus e, consequentemente, a nossa alma é, por assim dizer, um “temor sadio”, que deve não só ser pregado pelos sacerdotes, mas cultivado por todos os fiéis. Uma sentença atribuída a São João Crisóstomo diz que “devemos nos afligir durante toda a nossa vida por causa do pecado”. O cristão deve criar em seu coração um verdadeiro medo de ofender a Deus, fazendo seu o lema do jovem São Domingos Sávio: “Antes morrer do que pecar”.
Uma resposta em “O demônio não é uma superstição”
Não é à toa que um dos dons do Espírito Santo é o temor.