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A Virgem Maria e o Concílio Vaticano II

Entrevista com o Secretário da Academia Pontifícia “Mariana Internationalis”

ROMA, sexta-feira, 3 de junho de 2011 (ZENIT.org) – Neste sábado, 4 de junho, a Academia Pontifícia Mariana Internationalis organiza um seminário de estudos para preparar o 23º Congresso Mariológico Mariano Internacional, sobre “A mariologia a partir do Concílio Vaticano II: recepção, balanço e perspectivas”.

Considerando o grande interesse por Nossa Senhora que existe entre os cristãos e mesmo entre os não cristãos, ZENIT entrevistou o padre Stefano Cecchin O.F.M., Secretário da Academia Pontifícia Mariana Internationalis (http://accademiamariana.org).

ZENIT: Quem era Maria e qual era o papel dela na história da salvação, segundo a religião cristã?

Padre Cecchin: Maria era a mãe de Jesus. Mas, por explícito desejo de Cristo, manifestado na cruz, ela é a mãe de todas as pessoas que se converteram a Cristo: é a mãe dos verdadeiros discípulos de Jesus. O papel fundamental de Maria na história da salvação foi dizer “sim”. Então Cristo se encarnou, e foi por meio da encarnação que nós fomos salvos. Foi graças a ela que o Filho de Deus se tornou nosso irmão.

ZENIT: Apesar da natureza humana de Maria, os cristãos a colocam numa dimensão que vai além da santidade. Ela é invocada como a intercessora mais influente junto a Jesus. Por quê?

Padre Cecchin: A santidade está ligada à proximidade com Deus. E quem está mais perto de Deus do que ela? Ela carregou no ventre, durante nove meses, Aquele que vivia no seio do Pai (Jo 1,18)! Ou, como dizem os Padres da Igreja, “ela conteve em si mesma Aquele que nem os céus podem conter”. Então a santidade de Maria é considerada a maior, porque é a mais próxima de Deus, a mais íntima, porque “a carne de Cristo é a carne de Maria” (Santo Agostinho). Jesus e Maria viveram unidos não só no sangue, mas também nos sentimentos, na fé, na vida, na morte. Ela foi assunta na glória com o Filho e ao lado dele. Quem pode apresentar as nossas necessidades a Jesus melhor do que ela? O amor que temos pela mãe de Jesus nos infunde a confiança de que ela não pode deixar de ouvir as nossas orações, e que, estando ao lado de Jesus, a nossa prece será ouvida por ele com certeza.

ZENIT: Como é que Maria pode ser um exemplo de virtude para o nosso tempo? Muitas mulheres dizem que Maria está longe demais da realidade terrena.

Padre Cecchin: A devoção do passado revestia Maria com mantos preciosíssimos, coroas… esquecia pouco a pouco a humanidade dela. A reviravolta antropológica do Concílio Vaticano II nos fez redescobrir “a mulher de Nazaré” na sua plena humanidade. Encontramos nela, ao lado de Jesus, uma mulher plenamente realizada, mas só depois de ter aceitado a vontade de Deus, que se revelava a ela no seu constante caminho de fé, que a torna verdadeira discípula de Cristo. Em Maria nós achamos todas as expressões da humanidade que acolhe um filho, que a enche de responsabilidade, que o faz crescer, que o educa… Ela fica viúva, vê o filho sair de casa, ser amado mas incompreendido até chegar à cruz. O que pode ser mais terrível para uma mãe do que ver um filho inocente morrendo assim? Redescobrir a humanidade de Maria, a missão de educadora do homem Jesus, com todas as suas características psicológicas, nos faz confiar nela não só como uma amiga que entende a nossa situação humana, mas também como um modelo que nos mostra que é possível viver o evangelho em plenitude.

ZENIT: São inumeráveis os fenômenos de devoção a Nossa Senhora. Milhões de pessoas rezam a ela todo dia. Como o senhor encara fenômenos como o de Medjugorje?

Padre Cecchin: Todo dom de Deus é graça. Mas não pode ser um acréscimo ao dom da Revelação, que já está contido nas Sagradas Escrituras e que é retamente interpretado pela Igreja. Pessoalmente, eu encontro a Deus, Maria e os santos na liturgia da Igreja, que muitos deveriam descobrir como lugar normal em que Deus se manifesta! Depois, eu também amo os santuários, lugares de peregrinação que fazem muito bem para o espírito.

ZENIT: A sua academia está preparando o 23º Congresso Mariológico Mariano Internacional sobre a mariologia a partir do ConcílioVaticano II. Pode nos falar dos conteúdos e da finalidade?

Padre Cecchin: Neste dia 4 de junho vamos ter um seminário na Universidade Pontifícia Antonianum (Via Merulana, 124, Roma), como preparação para esse evento, que é chamado também de “Concílio dos peritos em mariologia”. A cada quatro anos, os mariólogos do mundo inteiro se encontram nesse congresso para juntar os resultados dos seus estudos sobre a Virgem Maria. Neste seminário nós vamos preparar o tema e o foco, para delinear os campos de estudo futuro da mariologia.

Antonio Gaspari

Os 800 Mártires de Otranto

Por Elizabeth Lev

ROMA, domingo, 23 de agosto de 2009 (ZENIT.org) .- Em 1480, a Itália celebrava a festa da Assunção com liturgias espetaculares, procissões e, claro, banquetes. Com a exceção de Otranto, uma pequena cidade na costa do Adriático, onde 800 homens ofereceram suas vidas a Cristo. Eles foram os Mártires de Otranto.o.

Poucas semanas antes, a frota turca atracara em Otranto. Sua chegada era temida há muitos anos. Desde a queda de Constantinopla, em 1454, era apenas uma questão de tempo até que os turcos otomanos invadissem a Europa.

Otranto está mais próxima do lado leste do Adriático controlado pelos otomanos. São Francisco de Paula reconheceu o perigo iminente para a cidade e seus cidadãos cristãos e pediu reforços para proteger Otranto. Ele predisse: “Ó, cidadãos infelizes, quantos cadáveres vejo cobrindo as ruas? Quanto sangue cristão vejo entre vocês?”

A 28 de julho de 1480, 18.000 soldados turcos invadiram o porto de Otranto. Eles ofereceram condições de rendição aos cidadãos, na esperança de ganhar sem resistência este primeiro ponto de apoio na Itália e completar a conquista da costa adriática. O sultão Mehmed II havia dito ao Papa Sisto IV que levaria seu cavalo para comer sobre o túmulo de São Pedro.

O Papa Sisto, reconhecendo a gravidade da ameaça, exclamou: “pessoas da Itália, se quiserem continuar se chamando de cristãos, defendam-se!”

Apesar de suas advertências terem-se esquecido nos ouvidos da maioria das cabeças coroadas da península –estavam muito ocupadas brigando entre si– o povo de Otranto escutou.

Pescadores, não soldados; eles não tinham artilharia. Eram menos de 15 mil, incluindo mulheres, crianças e idosos. Mas, por comum acordo, eles decidiram guardar a cidade, lançando-se ao combate das forças turcas.

A sofisticada artilharia turca danificava as muralhas de defesa, mas os cidadãos consertavam rapidamente os estragos. Detrás dos muros, os turcos encontraram cidadãos impávidos, determinados a defender as muralhas com óleo fervendo, sem armas, e às vezes usando as próprias mãos.

Os cidadãos de Otranto frustraram o plano do Sultão de um ataque surpresa e deram à Itália duas semanas de tempo precioso para organizar e preparar suas defesas para repelir os invasores. Mas a 11 de agosto os turcos venceram os muros e açoitaram a cidade.

O exército turco foi de casa em casa, promovendo saques, pilhagens e, em seguida, ateando fogo. Os poucos sobreviventes refugiaram-se na catedral. O arcebispo Stefano, heroicamente calmo, distribuiu a Eucaristia e sentou-se entre as mulheres e crianças de Otranto, enquanto um frade dominicano conduzia os fiéis em oração.

O exército de invasores arrombou a porta da catedral e a posterior violência contra mulheres, crianças e o arcebispo –que foi decapitado no altar– chocou a península italiana.

Os turcos tinham tomado a cidade, destruído casas, escravizado o povo e transformado a catedral em mesquita. Cerca de 14.000 pessoas morreram na tomada de Otranto, na maior parte seus próprios cidadãos, mas um pequeno grupo de 800 sobrevivera, então os turcos tentaram o domínio completo, forçando a conversão.

A opção era o Islã ou a morte. Oito centenas de homens, acorrentados, sem casa e família, pareciam totalmente subjugados aos turcos vitoriosos.

Um dos 800, um trabalhador têxtil chamado Antonio Primaldo Pezzula, passou de artesão humilde a líder heróico nesse dia. Antonio voltou-se para seus companheiros de Otranto e declarou: “Vocês ouviram o que vai custar salvar o que resta de nossas vidas! Meus irmãos, lutamos para salvar nossa cidade, agora é tempo de lutar por nossas almas!”

Os 800 homens com idades acima dos 15, de forma unânime, decidiram seguir o exemplo de Antonio e ofereceram suas vidas a Cristo.

Os turcos, que esperavam por um momento de propaganda triunfante, tentaram evitar o massacre. Eles ofereceram o retorno das mulheres e crianças que estavam prestes a ser vendidas como escravos, em troca da conversão dos homens, e eles ameaçaram com a decapitação em massa se isso não fosse aceito. Antonio recusou, seguido pelo resto dos homens.

Na vigília da Assunção, os 800 foram levados para fora da cidade e decapitados. A tradição conta que Antonio Pezzula foi decapitado em primeiro lugar, mas seu corpo sem cabeça permaneceu de pé até que o último otrantino estivesse morto.

Um dos carrascos, um turco chamado Barlabei, ficou tão impressionado com esse prodígio que se converteu ao cristianismo, e também foi martirizado.

Os restos foram cuidadosamente recolhidos, e são mantidos até hoje na Catedral de Otranto. No aniversário de 500 anos de sacrifício dos otrantinos, o Papa João Paulo II visitou a cidade e prestou homenagem aos mártires.

Bento XVI reconheceu oficialmente o martírio em 2007, trazendo Antonio Pezzula e seus companheiros um passo mais perto da canonização.

Esta “hora dos leigos” em Otranto, separados de nós por meio milênio, ainda ressoa como exemplo de testemunho do amor a Cristo. Poucos de nós serão chamados ao mesmo sacrifício de Antonio Pezzuli e seus companheiros, mas como poderíamos responder a sua exortação: “Permanecei fortes e constantes na fé: com esta morte temporal nós ganharemos a vida eterna”.

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Elizabeth Lev ensina arte e arquitetura cristã no campus italiano da Universidade de Duquesne e na Universidade São Tomás.

Consultor da Santa Sé analisa «Ditadura do relativismo»

Stefano Fontana, no encerramento do Curso de Doutrina Social da Igreja
MADRI, quinta-feira, 13 de setembro de 2007 (ZENIT.orgVeritas).- Um consultor do Conselho Pontifício Justiça e Paz e diretor do Observatório Internacional Cardeal Van Thuan, Stefano Fontana, encerrou nesta quinta-feira o XVI Curso de Doutrina Social da Igreja, com uma palestra titulada «O relativismo ocidental como questão ética e política. Resposta da fé cristã».

O palestrante fez um percurso pelo pensamento moderno até a ditadura do relativismo e expressou que «a única verdade do moderno racionalismo consiste em que não existe nenhuma verdade», sublinhando que «ao cristianismo corresponde propriamente salvar a humanidade do homem; à fé, salvar a razão; e à caridade, salvar a justiça».

O consultor do Conselho vaticano abordou a situação atual da ditadura do relativismo e expressou que «a absolutização da razão, privada da purificação da fé, converte-se inevitavelmente em niilismo e em cultura da morte».

Segundo Fontana, «o racionalismo é uma fé, porque crê que a razão não está corrompida; a laicidade da modernidade é uma fé, porque crê firmemente que pode construir-se por si mesma; o gnosticismo é uma fé, porque crê sem duvidar que o conhecimento pode salvar e salvar por si só».

Fontana comparou a cultura dos direitos com uma «cultura dos deveres» que permita a abertura ao transcendente: «a estação dos direitos terminou e agora é necessária uma nova cultura e uma política dos deveres que reabra espaço à indispensabilidade, não só à utilidade».

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