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10 razões pelas quais não sou protestante (Refutação da refutação)

Fonte: Veritatis Splendor

1- Não sou protestante porque o protestantismo não existe desde o princípio do Cristianismo. Surgiu 1500 anos depois da era Apostólica. Suas igrejas são locais, regionais ou nacionais, não existindo uma Igreja Universal.

R – Mas o Cristianismo existe e é dele que fazemos parte. O Cristianismo é Universal. O católico Martinho Lutero, um dos expoentes da Fé Reformada, teve a coragem de protestar contra a venda de indulgências, um comércio que estava denegrindo o Cristianismo. A partir daí, o Cristianismo, sob a graça de Deus, seguiu seu caminho livre das heresias.
A ruptura foi necessária num momento em que o catolicismo pretendia se estender por todo o mundo, sempre com a ameaça de colocar na fogueira seus opositores. Então o Cristianismo seguiu seu caminho com a verdade bíblica, tendo unicamente Jesus como Senhor, Mediador, Advogado e Intercessor, conforme as Escrituras.

Repare que, nesta refutação, os pastores não encaram o problema principal (aliás, esta é uma constante nestas refutações que eles resolveram fazer). Eles não enfrentam o fato de que, nos primeiros 1500 anos do cristianismo, simplesmente não haviam protestantes. Não havia “sola scriptura” (e nem poderia, visto que as cópias manuais da Bíblia eram extremamente raras). Chega a ser engraçada a afirmação implícita de que Deus fez surgir o protestantismo (com Lutero à frente) porque a Igreja ameaçava dominar o mundo. A Igreja sempre foi universal e já se havia espalhado por todo o mundo conhecido.

Gostaria de chamar a atenção para a frase “a partir daí, o Cristianismo seguiu seu caminho livre das heresias”. Ou seja, para esta tríade protestante, antes disto, o que existia era uma heresia. A promessa do Senhor de que as portas do Inferno não prevaleceriam contra a Igreja (cf. Mt 16,18-19) não passou, para eles, de uma fábula.

2 – Não sou protestante porque apesar da afirmação de que somente a Bíblia deve ser considerada como norma de fé e prática, eles não concordam entre si no tocante a pontos importantes, entrando assim, em contradições. São mais de 20.000 mil denominações diferentes. Cada uma pregando uma suposta verdade.

R – Ser a Bíblia a norma de fé e prática do cristão não é uma afirmação dos crentes; é uma declaração da própria Palavra de Deus (Rm 10.17; 2 Tm 2.15; 3.16-17 ;4.2). Há muitas denominações registradas em cartório, mas existe unidade na fé em Cristo Jesus. Desprezamos dogmas criados por homens. Não comemos pelas mãos dos outros. Cada crente examina as Escrituras, e debate, e troca opiniões, assim como faziam os primeiros cristãos.

Isto é absolutamente falso. A Bíblia jamais afirma ser a única norma de fé. E nem poderia ser, visto que a primeira geração de cristãos passou sem que qualquer livro do Novo Testamento tivesse sido escrito. Quase todos os apóstolos já haviam morrido antes que se escrevessem Hebreus, as Epístolas Joaninas, o Apocalipse e, segundo alguns exegetas, a Segunda Epístola de Pedro. Até o final quarto século, não havia definido o cânon bíblico. Os protestantes não se dão conta de que, se a “sola scriptura” fosse verdadeira, os primeiros cristãos (justamente aqueles que mais heroicamente deram a vida em testemunha de Cristo) não seriam cristãos legítimos, visto que não possuíam uma bíblia para examinar, debater e trocar opiniões (como os eles supõem que faziam…)

Veja-se que a “sola scriptura” não pode ser um ponto de fé genuinamente cristão pelo simples fato de que até o Concílio de Hipona (393 d. C.) ainda não havia uma “scriptura” para que os cristãos baseassem sua fé “sola” na mesma. Aliás, até a invenção da imprensa, os cristãos achariam ridícula a afirmação de que a Bíblia é a única norma de fé por dois motivos:

a) Havia pouquíssimas Bíblias, visto que a cópia era manual e muito demorada;

b) A quase totalidade dos cristãos era analfabeta, pelo que aos mesmos (que não podiam ler a Bíblia e dela retirar sua fé) só restava confiar naquilo que a única igreja de então ensinava.

Ou seja, o “sola scriptura” pode ser até tentador no dia de hoje, quando é fácil obter uma Bíblia e quando a maioria dos cristãos a podem ler (embora poucos tenham capacidade de a entender). Mas até algumas décadas antes de Lutero, isto teria sido considerado absurdo por todo o povo de Deus.

Para finalizar, se o que conta é a “uniformidade na fé em Cristo Jesus”, não há porque se separar da Igreja Católica, visto que “fé em Cristo Jesus” nós também temos…

Vejam: “Estes foram mais nobres do que os de Tessalônica, pois de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17.11). A Bíblia chama de “nobre” aquele que examina a Palavra e dela tira suas próprias conclusões. Somos uma só fé, uma só religião, uma só doutrina.

Esta afirmação seria engraçada se eles não estivessem falando sério. Uma só fé? Uma só religião? Uma só doutrina? Até parece que estão falando dos católicos…

É óbvio que, ou isto é uma mentira descarada, ou uma cegueira sem limites. São mais de trinta mil igrejas protestantes. Umas aceitam o sábado, outras o domingo, outras não aceitam dia algum de descanso. Umas somente batizam adultos; outras, crianças; umas entendem ser o batismo essencial para a salvação; outras, ser o mesmo um mero rito sem muito sentido; umas dizem que, para o batismo, basta a aspersão de águas; outras, dizem ser essencial a imersão; outras, afirmam que só é válido o batismo em águas correntes; outras, enfim, que as águas correntes devem ser fluvias… Umas dizem que ou se descansa aos sábados ou se tem a marca da Besta. Umas dizem que Cristo é Deus; outras, que Ele é uma mera criatura. Umas aceitam a existência de almas; outras, não. Poderíamos continuar ad nauseam com estes belos exemplos de unidade de fé, religião e doutrina…

Com relação ao trecho citado, os nobres protestantes (como qualquer adepto da “sola scriptura”) derraparam em interpretação enviezada. Os cristãos mencionados receberam oralmente a fé, creram pela autoridade apostólica de São Paulo e, depois de receberem a verdadeira e sã doutrina, foram às Escrituras (hebraicas, obviamente, visto que todo o Novo Testamento não havia, ainda sido escrito) apenas para verificarem a exatidão do ensinamento apostólico. Estes “nobres cristãos” não saíram, por aí, tirando suas próprias conclusões bíblicas. Apenas confirmaram, nas Escrituras, a fé que haviam recebido e aceitado.

Só adoramos o Santo dos santos, Aquele que morreu em nosso lugar. Não louvamos, nem adoramos, nem suplicamos a outros deuses (Mateus 4.10). Se alguma denominação ensina outro Evangelho, não faz parte do Corpo de Cristo, não é considerada cristã, não é Igreja de Jesus.

Aqui é óbvio que a tríade quis dizer que a Igreja Católica não é Cristã, pois, ao “adorar os santos” prega um evangelho diferente do aceito pelos três.

O fato é que, se a tríade estivesse certa, e, se todo cristão que venera os santos não participa do corpo de Cristo, então os reformadores, que veneravam Maria, não eram cristãos, e as Igrejas fundadas pelos mesmos também não eram. Ocorre que estes protestantes disseram que, com Lutero, a Igreja Cristã seguiu seu caminho livre de heresias. Incoerências protestantes… Se eles estivessem certos, Lutero e seus comparsas eram hereges, não somavam com Cristo e, portanto, dividiam. A Reforma seria obra do Demônio, e obra do Demônio seriam todas as Igrejas nascidas, direta ou indiretamente da mesma, já que os primeiros reformadores também veneravam os santos.

Não é fantástico? Por linhas tortas, chegaram à conclusão correta!

3- Não sou protestante porque atribuem a si próprios o direito de interpretar a Bíblia. Acreditam ter uma iluminação pessoal vinda do Espírito Santo sem intermediários, ou seja, sem a Igreja. O mais interessante é a diferença que o Espírito Santo manifesta em cada uma das centenas (talvez milhares) de ramificações do protestantismo.

R – Fazemos o que Deus quer que façamos, ou seja, que nos dediquemos à leitura de sua Palavra, e nela meditemos dia e noite (Salmos 1), pois sabemos que “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.16-17).

Sobre este famoso versículo da Segunda Carta a Timóteo, vou colar um texto que escrevi para uma protestante que, num debate, citou este trecho bíblico.

Vou terminar apenas comentando a famosa passagem “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra”. Com ela, os protestantes acham que provam a “Sola Scriptura” e a desnecessidade da Igreja. Não provam, pois Paulo não disse “apenas as escrituras divinamente inspiradas…”, como você interpreta. Eu concordo com Paulo e, no entanto, confortavelmente, aceito toda a Tradição da Igreja. Quando Paulo escreveu este trecho, boa parte do Novo Testamento não havia, ainda, sido escrito. Ainda que a tua interpretação deste trecho (na qual você coloca um “somente” onde não existe) fosse correta, ela só faria sentido se a Bíblia tivesse caído pronta do céu. Mas você sabe que não foi assim. Então, eu te pergunto: a que “escrituras” Paulo se refere? Vejamos as possibilidades.

1ª Possibilidade: Paulo está se referindo apenas aos escritos judaicos (ou seja, ao Antigo Testamento). Particularmente, é isto o que eu entendo. Se você concordar comigo, existem muitos problemas para a tua fé. Primeiramente, uma boa parte dos livros que você tem por inspirados não o seriam, e muitos versículos que você usa para atacar a Igreja seriam “tradições humanas”, como dizem os protestantes. Em segundo lugar (embora você negue isto atá a morte) Paulo era um judeu da diáspora, e, como todo judeu da diáspora, ao referir-se às escrituras judaicas pensava em todos os livros que, hoje, compõem o Antigo Testamento Católico. Em outras palavras, aceita esta primeira possibilidade, não apenas você lê livros não inspirados, mas, também há livros inspirados que você não lê. Creio que você não gostou muito, não é mesmo? Passemos à segunda possibilidade.

2ª Possibilidade: Paulo se referia aos escritos judaicos e a todos os escritos da era apostólica. Possivelmente, esta possibilidade é melhor que a primeira. Cuidado em aceitá-la, pois também traz dificuldades. Primeiramente, há escritos apostólicos que se perderam, pelo que nem toda “palavra inspirada e útil” estaria na Bíblia. Em segundo lugar, por que existem escritos da era apostólica que não compõem o cânon do Novo Testamento (e que provam que os cristãos primitivos já acreditavam em tudo aquilo que os protestantes insistem em dizer terem sido inventados por “Roma” séculos mais tarde), o que novamente nos conduz à negação da “Sola Scriptura”. Novamente, acho que você já deve ter rejeitado esta hipótese. Não tem problema, existem mais duas.

3ª Possibilidade: Paulo se referia aos escritos judaicos e mais alguns (inclusive várias de suas próprias cartas) que, por revelação divina (sonho, aparição, etc.), soube que, trezentos anos mais tarde, viriam a ser estabelecidos num concílio cristão. Novamente, acho que você terá problemas com esta possibilidade, pois este mesmo concílio estabeleceu, como sendo inspirados, todos os livros do Antigo Testamento que não fazem parte de sua Bíblia. Esta possibilidade te levaria a aceitar como bíblicos pontos de fé católicos que você rejeita (purgatório, intercessão, orações pelos mortos, etc.). Vejamos a última possibilidade.

4ª Possibilidade: É muito parecida com a terceira. Só que na revelação de Paulo, ele soube que, mil e duzentos anos após o citado concílio, um monge iria arrancar, do cânon deste concílio vários livros do Antigo Testamento. É a este conjunto de livros que Paulo se referia. Exatamente o mesmo conjunto de livros que você tem por inspirados. Ocorre que isto não apenas coloca 1500 anos do cristianismo no ostracismo histórico, como também torna inútil a recomendação que Paulo deu a Timóteo. Afinal, as escrituras inspiradas e úteis para ensinar somente estariam à disposição dos cristãos séculos mais tarde.

O acesso à Bíblia não é proibido na Igreja de Cristo. Qualquer um pode ler; tendo dúvida, pede ajuda aos mais entendidos. Para isso, há escolas dominicais e cursos teológicos. Todo crente deve saber manejar bem a palavra da verdade para apresentar-se a Deus aprovado (2 Tm 2.15). Deus não quer ignorantes de Sua Palavra.

Podemos recorrer também ao Espírito Santo que não está preso numa redoma de ouro e guardado num cofre; Ele está em nós (Sl 51.11; Lc 11.13; At 2.4; Ef 1.13; Rm 8.9; 1 Co 3.16,19) e nos ajuda em nossas fraquezas, pois Ele é uma Pessoa (Rm 8.16,26; Lc 12.12; 14.26; 1 Co 2.13). Temos iluminação pessoal? E Jesus não disse que somos a luz do mundo e sal da terra (Mt 5.13,14)?

A contradição é assombrosa! Ora, se temos o Espírito Santo; se Ele nos ajuda e nos inspira; se é tão simples ler a Bíblia, então, por que escolas dominicais, cursos bíblicos, livretos, pregações, etc.? O “sola scriptura” vivido coerentemente resumiria o cristianismo a leituras e meditações particulares da Bíblia, cada um em seu cantinho.

A lógica nos diz que, se não há um magistério infalível dado por Deus, então cada crente, ao ler e meditar a mesma Bíblia, iluminado pelo mesmo Espírito, deveria chegar às mesmas conclusões às quais chegaram os demais. Ou, então, este Espírito Santo, contradizendo-se, não é Deus. Como a uniformidade não ocorre( e, sabendo que o Espírito Santo é Deus), é lógico que o pressuposto adotado (a “sola scriptura”) está errado, o que nos conduz à necessidade da Igreja. E tal necessidade, por sua vez, é a ruína do protestantismo. Se a Igreja for necessária, não só os protestantes não cumprem a vontade de Deus como, também, lutam contra ela.

4- Não sou protestante porque a doutrina não tem unidade, as igrejas não são infalíveis em questões de moral e fé. Suas hierarquias não são rígidas, os preceitos são secundários. A salvação está em somente crer em Cristo, mas sabemos que não basta somente crer, pois, é preciso viver a fé, e vivê-la em santidade. Daí os Mandamentos. Daí a moral que a Igreja ensina. Dizer que a salvação vem somente do crer em Cristo, é continuar vivendo vida injusta ou dissoluta, é mentir à própria consciência.

R – E os papas são infalíveis? E as histórias repugnantes sobre diversos papas? E a diabólica Inquisição? E o perdão pedido aos chineses, aos aborígenes, a Galileu? Não é o reconhecimento de erros cometidos pelo catolicismo? A rigidez moral do catolicismo funciona?

Os protestantes confundem, sempre e sempre, infalibilidade com impecabilidade. Os papas pecaram, mas jamais erraram ao se pronunciarem, ex-cathedra, sobre doutrina e moral. Ou seja: dizer que os papas não são infalíveis porque pecaram é ou desconhecer o dogma da infalibilidade ou agir de má-fé. A tríade, em questão, parece conhecer o dogma da infalibilidade. Então…

Apenas para pôr os “pingos nos is”, o catolicismo jamais cometeu erro. Isto é teologicamente errado. Os filhos da Igreja erraram (e, às vezes, gravemente), mas a Igreja segue santa e imaculada, pois tais erros ocorreram apesar da Igreja.

Repare-se que, também aqui, eles não refutaram o fato apresentado por D. Estevão. Eles se limitaram à tentativa de provar que nós, católicos, somos tão ruins quanto eles… Aceitaram, ainda que sem perceber, o fato de que o protestantismo não possui qualquer autoridade infalível e que não há segurança doutrinária entre as mais diversas igrejas cristãs. Tal forma de agir (atacar para não ter que se defender de algo indefensável) confunde os leitores menos atentos. Mas o fato é que, implicitamente, reconheceram a veracidade daquilo que disse D. Estevao.

E o caso de assédio e violência sexual de sacerdotes católicos contra religiosas, em 23 países, para ficar só neste exemplo? Ensinamos o que ensina a Palavra. A fé no Senhor Jesus envolve arrependimento dos pecados; sem isso não há perdão nem salvação. A santidade faz parte da vida cristã. Quem nos convence do pecado é o Espírito Santo (João 16.8). As boas obras são decorrentes dessa fé salvífica.

Os protestantes adoram desviar o assunto. Como não têm resposta à evidência apresentada por D. Estevão (qual seja, no protestantismo não há autoridade infalível) tentam atacar o catolicismo. São muito tristes os escândalos sexuais envolvendo padres, mas, repita-se, são erros dos filhos da Igreja. Poderia, também, citar exemplos chocantes envolvendo protestantes, mas isto não vem ao caso.

QUEM NELE CRÊ NÃO SERÁ JULGADO; QUEM NÃO CRÊ JÁ ESTÁ CONDENADO, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus (palavras de Jesus (Jo 3.18). Vejam também Romanos 10.9. Acontece que o catolicismo ensina a salvação pelas obras; mas não somos salvos pelas obras, mas para as boas obras (Ef 2.8). Ademais, “o justo viverá pela fé” (Romanos 1.17)

Gostaria de saber de onde a tríade tirou esta informação de que, segundo o catolicismo, somos salvos pelas obras. Para a Igreja, é Cristo que nos salva pela Sua Cruz e Ressurreição, sendo que, pelas boas obras, cooperamos para que esta salvação ocorra. Aliás, o que esta afirmação gratuita e inverídica tem a ver como o tema proposto por D. Estevão? Absolutamente nada.

5- Não sou protestante porque apesar deles lerem a Bíblia (embora sem alguns livros e com interpretações diversas) não possuem nenhuma autoridade superior Infalível, para declarar que uma palavra tem tal sentido, e exprime tal verdade.

R – Qual seria a autoridade infalível na Terra? Só surgiu um homem assim: Jesus Cristo, porque não tinha a mancha do pecado. A Palavra diz: “Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso”, e que “não há um justo, nem um sequer” (Rm 3.4,10). Não temos um PAPA falível, mas temos um Papai do Céu infalível capaz de suprir todas as nossas necessidades (Fp 4.19). “O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará” (Salmo 23).

Novamente, a mesma confusão entre infalibilidade e impecabilidade. O Papa não é, digamos, “impecável”, mas infalível. Quem o diz é o próprio Cristo: “eu te darei as chaves do Reino dos Céus; o que ligares na Terra será ligado nos céus; o que desligares na Terra, será desligado nos céus” (Mt 16,19). E em outra passagem: “eis que eu estou convosco todos os dias, até o final do mundo” (Mt 28,20). Todos os papas pecaram; nenhum deles, contudo, jamais contradisse um seu antecessor ao usar do seu Magistério Infalível.

O questionamento de D. Estevão é muito contundente: os protestantes não possuem uma autoridade infalível, então, como saber qual das diversas interpretações que eles propõem é verdadeira? A tríade, novamente, não enfrentou o problema e desviou o assunto.

6 – Não sou protestante porque eles negam a Tradição oral. Sendo que na própria Bíblia, Paulo recomenda os ensinamentos de viva voz (Tradição) que nos foram transmitidos por Jesus e passam de geração em geração no seio da Igreja, sem estarem escritos na Bíblia. Confira em (2 Tim 1,12-14).

R – Negamos a Tradição Oral porque ela foi a maior fonte de problemas já na teologia do Antigo Testamento, torcendo as palavras já escritas na Torah; e ela também tem sido comprovadamente a maior fonte de heresias no meio da Igreja Romana. No caso do Antigo Testamento, dizia Jesus aos fariseus: “MC 7.9 – “E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição”.

Aqui, partem de uma visão bastante apriorística das coisas. Ao afirmarem que não adotam a tradição porque a mesma tem sido fonte de heresias, tomam por provado o que querem provar: que a Igreja Católica está repleta de erros. Primeiramente, eles deveriam comprovar que existem heresias na Igreja Católica para, depois, provar que a Tradição as gerou.

A “tradição” a que Jesus se refere não é a Tradição Oral que os judeus tinham por Palavra de Deus, mas a tradição dos fariseus que, para evitarem infrações ainda que involuntárias da Lei, criaram uma série de prescrições, assim como fazem os pastores protestantes, que proíbem os fiéis de jogar futebol, ver televisão, coisa que não foi ordenada por Deus. Tais prescrições acabaram por se tornar um peso.

A Tradição Oral é a matriz das escrituras. Por exemplo: entre Abraão e a escrita dos Gênesis houve um intervalo de 1000 anos, em que a história do Pai dos Crentes foi passada apenas oralmente. É a Tradição oral em ação, e, dela, bebe o escritor sagrado ao colocar por escrito esta estória. Quando os evangelistas começaram a escrever as primeiras linhas dos evangelhos, algumas décadas já se haviam passado desde a Ascensão de Cristo. Até então, as primeiras comunidades se formaram, exclusivamente sobre a Tradição Oral dos Apóstolos. Dizer que a Tradição Oral não é palavra de Deus equivale a afirmar que as palavras de Cristo somente se tornaram divinas décadas depois de Sua morte.

No entanto os nobres apologistas protestantes esquecem-se que São Paulo também mandou guardar a Tradição Apostólica, isto é, o que os Apóstolos ensinaram e que não foi escrito: “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, SEJA POR PALAVRAS, seja por epístola nossa.” (2Tss 2,15)

Note-se que Deus não deixou nada escrito, tanto no Antigo Testamento como no Novo. Mas a existência de ESCRITURA deixada por Moisés e outros homens de Deus limitou todos os sermões de Jesus a somente o que estava escrito. Ele combatia tudo o que se afastasse do que estava escrito.

Isto é mais falso do que nota de vinte e cinco! Diversos sermões de Jesus são baseados nos ditos e nas tradições rabínicas dos fariseus, que se desenvolveram a partir da Tradição oral. Jesus, por exemplo, afirma: “ouvistes o que vos foi dito: amarás teu próximo e odiarás o teu inimigo.” Os pastores poderiam mostrar em que parte da Bíblia está escrito que devemos “odiar nossos inimigos”? Não o podem, pois isto vem da tradição rabínica de se afastar do am ha aretz, aquele que desconhece a Torá. Portanto, grande parte dos discursos de Jesus não se limitou “ao que estava escrito”, mas a toda Palavra Escrita e Oral aceita pelos judeus.

Paulo e os demais apóstolos podiam aconselhar os irmãos a seguir o que dissessem, pois estavam VIVOS e seu testemunho era real. Após suas mortes, tudo o mais que alguém poderá dizer que ouviu deles é mera especulação.

Notem a contradição nesta afirmação. Se após a morte dos apóstolos tudo que se diz e escreve é especulação, então porque crêem nos Evangelhos de Lucas e Marcos, na Epístola aos Hebreus, livros estes que não foram escritos pelos apóstolos e foram escritos após suas mortes? Como dizia Drummond: “E agora José?”

Se não haviam apóstolos vivos para legitimá-los, como então hoje são aceitos como canônicos? Negam a verdade clara e evidente de que a autoridade das Sagradas Escrituras deriva da autoridade da Santa Igreja.

Pobres protestantes que não aceitam o poder de Deus. Deus é potente para preservar Suas Palavras e evitar que se corrompam. Sejam tais palavras escritas, sejam orais. A Tradição Oral se preservou sem deturpações porque o próprio Deus prometeu que seria assim. Prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja; prometeu que o Papa teria as chaves do Reino dos céus; prometeu que estaria com os Seus até o fim do mundo. E apenas os católicos acreditam, realmente, que tais promessas se cumpriram.

Tome-se por exemplo a Igreja da Galácia: tinha sido evangelizada e fundada PESSOALMENTE pelo apóstolo (At 18:23), mas isso não impediu que os crentes ali logo perdessem a fé genuína para os judaizantes, obrigando Paulo a, POR ESCRITO, trazê-los de volta à verdadeira fé: “(GL 4:11) – Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco”. “(GL 4:18) – É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco” “(GL 5:7,8) – Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chamou”. E Paulo termina sua pregação, por estar ausente, por meio de documento escrito: “(GL 6:11) – Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão”.

Se isso aconteceu num curto período de tempo, ainda em vida do Apóstolo que evangelizou os gálatas pessoalmente e em sua ausência se perderam, o que não dizer de séculos de ignorância quando a Igreja de Roma inclusive PROIBIA a leitura da Bíblia por seus seguidores?

Aqui novamente são infelizes. Vejam que eles mesmos reconhecem que São Paulo escreve à Igreja dos Gálatas para exortá-los na Sã Doutrina. Ora, se os Gálatas não tivessem se afastado na fé, provavelmente o apóstolo não teria escrito a eles. Se isto tivesse acontecido significaria que o Apóstolo não deixou de viva voz sua doutrina aos Gálatas? Claro que não. A própria carta paulina mostra que São Paulo já havia pregado a esta comunidade, deixando então para eles a Tradição. No entanto, São Paulo em pleno exercício de sua ação pastoral escreve aos Gálatas não porque tinha que lhes deixar algo por escrito, mas porque como estava impossibilitado de estar com eles, lhes escreveu. Isto mostra mais uma vez que a preocupação principal dos apóstolos era pregar o Evangelho e não deixar sua doutrina por escrito. Como vemos o que foi escrito o foi em ocasiões muito especiais, em ocasiões esporádicas.

Poder-se-ia perguntar, à tríade acima: se a Tradição Oral não é confiável, como podem eles confiar nos Evangelhos? Como eu já disse, o Evangelho existiu, primeiramente, como Tradição Oral, para depois ser escrito. Como, então, ter certeza de que as palavras de Jesus não foram distorcidas nas décadas seguintes até serem escritas? Como se pode ter certeza de que Jesus realmente falou aquilo que está escrito? Pela lógica da tríade, não se poderia ter certeza, pois, em pouco espaço de tempo, a Tradição Oral se corrompe… Aliás, é justamente isto que afirmam os perseguidores do cristianismo: que os evangelistas, já distantes dos acontecimentos, não são dignos de confiança. Pelo menos estes perseguidores são coerente, o que não se pode dizer da tríade de pastores autora desta refutação.

Nós, católicos, confiamos nas promessas do Senhor: as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja. A assistência do Mestre é eterna, pelo que a Tradição Oral jamais se corrompeu. Assim, podemos ter certeza de que os Evangelhos dizem a verdade sobre Jesus; podemos ter certeza de que o restante da Tradição também o diz.

A maior prova da falha da tradição oral está na Cronologia dos Dogmas, com doutrinas humanas criadas em épocas muito tempo após a morte dos apóstolos, sendo que não se encontra nenhum documento anterior prescrevendo tal doutrina na Igreja Primitiva (tais como Purgatório, Assunção de Maria, Concepção Imaculada de Maria, Oração pelos mortos, etc).

Nossos queridos protestantes não sabem o que são dogmas… Pensam que a Igreja, ao dogmatizar um ponto de fé afirma algo do tipo: “a partir de agora, todos acreditaremos nisto”. Só que não é assim! A Igreja, ao dogmatizar algo, diz claramente: “os cristãos, sempre, desde os primórdios, e em todos os lugares, acreditaram nisto, pelo que não é lícito a nenhum católico duvidar que esta é a fé verdadeiramente cristã.” Portanto, importa muito pouco que um dogma tenha sido proclamado no século IV ou no século passado. O fato é que os cristãos sempre acreditaram neles. Aliás, os protestantes, ao citarem a “cronologia dos dogmas” sempre omitem que a divindade de Cristo e a Santíssima Trindade também foram proclamados pela Igreja Católica como dogmas de fé séculos após a era apostólica. Pela lógica da tríade, os cristãos, antes, não acreditavam que Jesus e o Espírito Santo são um com o Pai…

O Demônio é o pai da mentira. E é mentirosa a afirmação de que não existam escritos primitivos a apoiar os dogmas. Basta estudar patrística. Basta ler os escritos dos Pais da Igreja para se saber, com certeza, no que acreditavam os cristãos primitivos. E, com certeza, estes cristãos primitivos anatematizariam a tríade acima.

Acreditar na Tradição Oral que nunca foi registrada na Igreja do primeiro século é combater o próprio ensino de Paulo, que escrevia cartas e mandava que fossem lidas em todas as Igrejas, intercambiando com outras que já havia escrito: “CL 4:16 – E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também”. “1TS 5:27 – Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos”.

Não há, para os católicos, nenhum problema com esta passagem. Aceitamos que tudo na Bíblia é palavra de Deus, mas acreditamos (como os cristãos de todos os tempos) a Palavra é anterior às escrituras, perpassa as escrituras e vai além das escrituras.

E outra coisa importante: este argumento católico se baseia na carta a Timóteo, certo? Vejamos tal carta em sua totalidade:

1. Em todas as orientações que foram dadas sobre comunicação oral, os apóstolos ordenavam sobre pronomes pessoais: “palavras que de MIM tendes ouvido”;

2. Paulo nunca mandou alguém a obedecer quem não fosse apóstolo e queria que fosse ensinado o que saiu dele mediante TESTEMUNHAS: “(2Tm 2:2) – E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”.

3. Paulo recomenda a perfeição do obreiro de Deus pela Palavra escrita e não incluiu a tradição em pé de igualdade: “(2Tm 3:16,17) – Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

Costumo brincar dizendo (e passando por cima das regras de latim), que o “sola scriptura”, rapidamente, transforma-se num “sola” algumas partes da “scriptura”. Os protestantes, para defender os seus pontos de vista, apegam-se a alguns trechos bíblicos e ignoram todos os demais. Vejam-se as seguintes citações:

a) 2 Tm 1, 15: neste trecho, Paulo manda que Timóteo instrua terceiros que, por sua vez, passarão a fé às gerações futuras. É um exemplo de sucessão apostólica. Paulo, portanto, diz que estes terceiros deveriam obedecer Timóteo e que, por sua vez, as gerações futuras obedeceriam a estes terceiros. Como, então, a tríade diz que os apóstolos jamais afirmaram que se devesse obedecer a outros que não eles? E será que eles podem provar que durante estes 2000 anos de cristianismo não houve a Sucessão Apostólica? Nós podemos provar que sim. No entanto o ônus da prova é do acusador…

b) Tt 1, 5. Também aqui, Paulo confere autoridade apostólica a Tito: “Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei”. Ora, organizar as igrejas, estabelecer seus líderes (anciãos) não eram trabalho dos apóstolos? Se Tito não recebera autoridade apostólica de São Paulo, sendo assim seu legítimo sucessor, como poderia realizar tais obras?

É óbvio que Paulo usa “pronomes pessoais” porque, na Igreja primitiva, existiam apóstolos e apenas eles é que podiam ensinar. Os cristãos deveriam seguir os ensinamentos apostólicos, e rejeitar aqueles provenientes dos pastorezinhos hereges de então. A autoridade apostólica não se comunicava a todos os batizados, pelo que nem todos poderiam ensinar. Isto não quer dizer que esta autoridade apostólica encerrou-se com a morte do último apóstolo, pois, como demonstrado acima, a mesma foi transmitida. Aliás, leia-se a “História Eclesiástica” de Euzébio de Cesaréia para se ter certeza deste fato.

Mas chamo atenção para a gravidade das conclusões que estão implícitas na assertiva dos pastores. Eles afirmam que a Igreja Primitiva se construiu sobre autoridade apostólica, mas que, morrendo o último apóstolo, esta autoridade encerrou-se e, a partir de então, todos os crentes só podem confiar na Bíblia. Então:

a) Existiram duas Igrejas diferentes, com duas matrizes doutrinárias diferentes: a do primeiro século (eminentemente apostólica) e a dos séculos posteriores (exclusivamente “bíblica”). Quero vê-los citando qualquer versículo bíblico que apóie, ainda que remotamente, esta heresia!

b) O protestantismo não possui a mesma matriz doutrinária do cristianismo primitivo (do que não é capaz um protestante para defender seus devaneios…).

c) O catolicismo possui a mesma matriz doutrinária do cristianismo primitivo, mas, visto que os bispos não foram testemunhas oculares da vida de Cristo, esta matriz não é mais válida.

Em resumo: o protestantismo distanciou-se do cristianismo primitivo, mas é verdadeiro; o catolicismo manteve-se fiel, mas é falso. Seria brilhante se não fosse trágico. E, note-se, na primeira refutação da tríade eles afirmaram que o catolicismo afastou-se do cristianismo primitivo e o protestantismo, com Lutero, resgatou-o. Haja Espírito Santo para inspirar tanta incoerência!!!

Mais um detalhe: para ser apóstolo, deveriam existir dois requisitos básicos: “(At 1:20-22) – Porque no livro dos Salmos está escrito: Fique deserta a sua habitação, E não haja quem nela habite. Tome outro o seu bispado. É necessário, pois, que, dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição”.

Nenhum outro homem, além dos doze, merecia tal título. Paulo foi chamado Apóstolo dos Gentios devido ao seu chamado, não se considerava como um dos doze e depois dele nenhum outro homem mereceu este título, por não preencher os requisitos básicos do apostolado. Portanto, a autoridade apostólica morre com o último apóstolo, João, restando seus ensinamentos escritos, o que aliás foi o mais importante critério para determinação do Cânon do Novo Testamento pela Igreja Primitiva.

Estas regras para ser apóstolo foram criadas pela tríade. A Bíblia mostra claramente que os versículos acima citados profetizavam sobre a sucessão Apostólica de Judas, dando o episcopado a Matias (cf. At 1,26), mas segundo eles somente São Paulo merecia tal honra. Ora, se somente São Paulo merecia tal honra por quê então Matias foi escolhido como apóstolo? O problema é que além de se enganarem, enganam também a outros!

Impressiona-me como alguém pode ser tão incoerente sem maiores constrangimentos. Para ser apóstolo era necessário que o mesmo tivesse convivido com “apóstolos” (não é incrível?!) desde o batismo de Jesus. Isto, por si só, torna tudo impossível, pois, ao tempo do batismo de Jesus, não havia nenhum grupo de discípulos escolhidos. Ou seja, pela lógica brilhante acima, ninguém é apóstolo. E aquele que os protestantes chamam de “Apóstolo Paulo”? Este daí é um caso a parte, houve um chamado especial, etc, etc. Tudo perfeitamente conveniente. Se fizesse algum sentido, é claro!

O curioso é que, se apenas os apóstolos é que tinham autoridade para ensinar (oralmente e por escrito), os protestantes têm lido livros não inspirados e indignos de confiança. A carta aos Hebreus não foi escrita por nenhum dos doze (e nem por Paulo), nem o foram o Evangelho de Marcos e de Lucas; o apêndice do Evangelho de João; e, segundo estudiosos autorizadíssimos, também não o foram a epístola de Tiago e a segunda Epístola de Pedro. E agora? Como ficamos? O argumento acima (visando solapar a Tradição oral) joga no lixo boa parte da Bíblia. Mas, não estando a tríade preocupada com coerência, a mesma pode, novamente, ser incoerente e continuar seu ministério cristão.

Por outro lado, existem uma série de livros dos apóstolos que não fazem parte da Bíblia e outros, ainda, que se perderam. Adotado o ponto de vista dos pastores, temos que:

a) Eles não lêem e nem meditam uma série de livros divinamente inspirados e úteis para a formação cristã;

b) Uma outra série destes livros se perdeu e a Palavra de Deus estaria aleijada de sua plenitude. Deus teria falhado em preservar a totalidade do cristianismo e as portas do inferno teriam prevalecido contra a fé cristã.

É claro que os eles preferem não falar desta incoerência.

7- Não sou protestante porque algumas denominações batizam crianças, outras não as batizam; algumas observam o domingo; outras, o sábado; algumas têm bispos; outras não os têm; algumas têm hierarquia; outras entregam o governo da comunidade à própria congregação; algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo. Outras não se preocupam com isto, etc.

R – Se divergências operacionais ou de entendimento da Escritura fossem critérios para determinação de legitimidade, nunca a Igreja de Roma poderia ter tal título. O simples fato de ter um nome único de denominação não excluiu a verdade que os católicos possuíssem verdadeira bagunça doutrinária, ontem e hoje.

Exemplos: a Inquisição era considerada divina a seu tempo, hoje é considerada ignorância pelos próprios católicos; as ordens de padres têm, cada uma, estilos de vida próprios e ensinos de santidade diferentes, como os franciscanos, os dominicanos, os adeptos da Tradição, Família e Propriedade (que negam a submissão ao papa), a Renovação Carismática (que para muitos padres ainda é mal vista e tratada como facção).

Curiosamente, existe um livro chamado “Como Lidar com as Seitas”, do padre Paulo H. Gozzi, que diz textualmente, ao tratar das divergências internas da Igreja de Roma: “Há lugar para todo mundo na Igreja, para cada jeito de viver a fé e a comunhão. Há variedade de serviços, de dons, de atividades, mas o Espírito que dá essa diversidade é o mesmo.

Puxa que infeliz afirmação: “divergências operacionais ou de entendimento da Escritura” não são critério de legitimidade. Viram? Para eles a Igreja não precisa possuir unidade doutrinária. ISSO É UM ABSURDO! Como várias “verdades” dimetralmente divergentes podem ser o reflexo perfeito da Verdade Ùnica que é Nosso Senhor? Como fica então Ef. 4,5 que afirma ser um só Senhor, uma só Fé e um só Batismo” sinal da Verdadeira Igreja? Professar tamanha mentira é ofender a nossa inteligência e principalmente o Santo Espírito de Deus que é a fonte da Verdade Única e Imutável.

Outra coisa deve ficar muito clara: existe uma diferença entre disciplina e regras de vida (de um lado) e doutrinas (de outro). O que nós dizemos sobre o protestantismo é que as várias igrejas protestantes guardam, entre si, diferenças de doutrina. A fé das diversas igrejas é diferente. Um acredita que Jesus é Deus, o outro não; um acredita que o batismo é essencial à salvação, o outro não; um acredita que guardar o domingo é subjugar-se à Besta, o outro não; um acredita na presença de Jesus sob a espécie do pão, o outro não; um acredita na existência de uma alma imortal, o outro não. Quando se levanta este argumento, que fazem os protestantes? Apressam-se em dizer que, entre os católicos, existem diferenças de doutrina e (pasmem!), para provar este ponto de vista, citam diferenças de disciplina e de regras de vida que existem entre os diversos segmentos católicos. Todo católico crê nas mesmas coisas, mas cada um vive a sua fé de uma forma diferente. Este se volta para obras de caridade; aquele, para a contemplação; o outro, para a teologia. Este grupo vive uma espiritualidade litúrgica; aquele outro aprofunda-se na Bíblia; um terceiro enraíza-se nos sacramentos, e por aí vai. Mas todos crêem nas mesmas coisas (têm a mesma doutrina): transubstanciação, eficácia dos sacramentos, divindade de Cristo, mediação dos Santos; Assunção de Maria, etc.. E, se algum católico não crer em algum destes pontos, católico não é. Mas, por exemplo, se um protestante não crê na divindade de Cristo, segue sendo protestante.

As diferenças existem para o enriquecimento espiritual de uns e outros, jamais para dividir e separar uns dos outros. Quem não gosta do jeito de um grupo, não precisa participar dele, participe de outro. Quando é que vamos aprender a viver em paz e harmonia e pluralismo, aceitando o jeito diferente de cada um ser o que é, dentro da mesma Unidade?” (páginas 64 e 65 da referida obra, 4a. edição da editora Paulus).

Como foi dito acima, não existe unidade doutrinária dentro do protestantismo, e este é o problema. Não se trata de diversos ramos protestantes vivendo a mesma fé de formas diferentes. Trata-se, na verdade, de diversos protestantismos diferentes que existem em cada igreja. Ora, ou Deus permite uma segunda união entre casais ou não permite. Na lógica protestante, Ele a permite na igreja A e não a permite na igreja B. Ou Ele está presente na eucaristia ou não está. Para os protestantes, na igreja C Ele se faz presente e, na D, não. Ou Jesus é Deus ou não é. Mas, para os protestantes, Ele o é nesta igreja e não é naquel?outra. Ou existe uma alma imortal, ou não existe. Para os protestantes, o membro da igreja X possui uma alma imortal enquanto que o da igreja Y adormecerá até o dia do juízo final.

É bom mesmo que esse padre pense assim, pois ele diz na página 39, ao falar sobre o Saravá – o Baixo Espiritismo: “Não devemos fazer acusações injustas, achando que essas religiões são do demônio (…) E nessa cultura tribal foram criando mitos e lendas religiosas que explicam os mistérios da vida, passando tudo isso de pai para filho. Essas religiões africanas são belas, puras e merecem o nosso profundo respeito”.

Garanto que o Vaticano não pensa assim. Pelo menos três padres que conhecemos pensam BEM DIFERENTE disso… e onde está a unidade doutrinária, afinal não é um livro publicado por uma editora católica, que não imprime nada que seja protestante?

Até onde eu saiba, não existe nenhum dogma de fé que defina que o “baixo espiritismo” é uma religião demoníaca. Agora, o ensinamento da Igreja sempre foi o de que, nas religiões não-cristãs, existem as “sementes do Verbo”, ou seja, traços da Verdade e que aproxima seus praticantes de Deus.

Não vamos mais longe: e o Padre Quevedo, que diz que o diabo não existe e não existem possessões demoníacas, contrariando o próprio Evangelho? Onde está a orgulhosa unidade católica, já que um herege como este não é excomungado por chamar o próprio Jesus de mentiroso?

O Pe. Quevedo, ao dizer que o demônio não existe, está contrariando o ensinamento da Igreja e entrando em descomunhão com ela. Não é dado a nenhum católico duvidar da existência do demônio. Agora, se um protestante viesse com esta mesma heresia, desde que “aceitasse o senhorio de Jesus” (e, claro, desde que negasse a virgindade perpétua de Maria, a mediação dos santos, o primado de Pedro, etc., etc., etc.) , seria considerado um protestante como todos os outros. Para os outros protestantes, o demônio existe; para este aqui, não…

E, quanto ao hiato entre Cristo e os protestantes, temos a afirmar duas coisas:

1. Esse hiato existe doutrinariamente e historicamente somente com a Igreja Católica de Roma, pois Jesus nunca fundou denominação alguma com base em Roma (cuja fundação foi num concílio presidido por um imperador romano, 3 séculos depois de Cristo) e também o fundamento não foi Pedro, foi o próprio Cristo, segundo afirmação do próprio apóstolo em sua carta
(1PE 2:3,4,6) – “Se é que já provastes que o SENHOR é benigno; E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa”, Por isso também na Escritura se contém: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido”.

Paulo disse a mesma coisa: 1Co 3:11 -” Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. EF 2:20 – “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina.

Bom, bastaria que a tríade estudasse os escritos patrísticos para se convencerem do contrário. Nunca houve hiato algum entre o catolicismo e Jesus Cristo. A Igreja Católica é a continuação natural daquela primeira comunidade de cristãos reunida no Cenáculo de Jerusalém. É um fato que pode ser verificado ou, simplesmente, ignorado (como fazem nossos queridos protestanes). A afirmação de que Constantino fundou a Igreja Católica é uma das maiores sandices que existe nos meios protestantes. É uma afirmação gratuita e gostaria de ver quais as provas das quais a tríade possui para as sustentar.

Veja, meu caro leitor. Os protestantes têm um problema. Há algumas coisas na Bíblia que os mesmos não podem aceitar, pois, se o fizessem, estariam confessando o despropósito histórico do protestantismo. Coisas claríssimas como o primado de Pedro, a real presença de Jesus na Eucaristia e a necessidade da Igreja para a salvação. Que fazem então? De uma maneira bastante apriorística, vão ver como poder-se-ia sustentar seus pontos de vista ainda que passando por cima de toda evidência. A afirmação de que Constantino fundou a Igreja Católica faz parte deste apriorismo todo. Às evidências, a Igreja Católica surgiu com a primeira comunidade cristã. Como os protestantes não podem aceitar este fato, recorrem à história para ver como a mesma sustentaria uma tese de que, à exemplo das igrejas protestantes, a Católica também teve um fundador humano séculos depois da Era Apostólica. Encontraram, na figura de Constantino, alguém que poderia ser este fundador, esquecendo-se que:

a) Constantino somente se fez batizar no leito de morte;

b) A Igreja teve sérios problemas com os pontos de vista de Constantino e os combateu;

c) Existe uma diferença enorme entre fazer cessar as perseguições aos católicos (que é o que Constantino fez) e fundar a Igreja católica (que é o que dizem que ele fez);

d) Que, ademais, os protestantes teriam que explicar alguns pontos. Como Constantino fundou a Igreja Católica? Por que o fez? Por que nenhum cristão da época se insurgiu contra este fato? O que aconteceu com a Igreja que existia antes de Constantino? E, principalmente, como explicar que todos os dogmas de fé da Igreja aparecem em escritos cristãos séculos antes de Constantino?

Comentarei, abaixo, a afirmação de que Jesus seria a única pedra da Igreja.

2. Mais importante que o hiato temporal, é o hiato Doutrinário, e nesse aspecto a Igreja Protestante ficou muito mais perto de Cristo ao voltar-se SOMENTE aos escritos apostólicos, recusando as dezenas de dogmas errados da igreja de Roma, mediante o lema “SOLA SCRIPTURA”.

O que os protestantes não dizem é que, enquanto que os escritos patrísticos provam que todos os pontos de fé dos católicos já eram cridos pelos primeiros cristãos, não há qualquer vestígio da “sola scriptura” antes do final da Idade Média. Ou seja, factualmente, existe um hiato entre a “sola scriptura” e o cristianismo.

8- Não sou protestante porque há passagens da Bíblia que eles não aceitaram como tais; a Eucaristia, por exemplo, Jesus disse claramente: Isto é o meu corpo (Mateus 26,26) e Isto é o meu sangue (Mateus 26,28).

R – Jesus também disse, claramente: “Eu sou a porta. Todo aquele que entrar por mim, salvar-se-á. Entrará e sairá, e achará pastagens” (Jo 10.9). Só um louco interpretaria literalmente essa palavra e admitiria que Jesus é uma porta e que os cristãos são ovelhas comedoras de capim. Ele disse: “Eu sou a videira verdadeira [fonte de vida espiritual], e meu Pai é o agricultor; vós sois os ramos” (Jo 15.1,2,5)

Nem por isso admitimos que Jesus é uma árvore, o Pai é um plantador de arroz, e os cristãos são ramos. Está claro que essas expressões são figurativas. Ao dizer “Isto é o meu corpo” estava dizendo, realmente “Isto representa o meu corpo”. Se levarmos em conta a interpretação literal, Jesus ao levantar o pão estaria levantando seu próprio corpo.

Nesta tentativa de refutação, torna-se muito claro o apriorismo protestante de que eu falei acima. Como os protestantes não podem aceitar a transubstanciação (que levaria à necessidade de sacerdotes, que, por sua vez, nos levaria à necessidade da hierarquia, que, por sua vez, levaria ao papado) buscam uma forma de sustentar o oposto com trechos bíblicos. A levar a sério o argumento acima, toda e qualquer afirmação de Jesus poderia ser uma simples metáfora, o que extermina com qualquer possibilidade séria de se entender o cristianismo.

Quando Jesus fala ser a porta ou a videira, ou quando afirma ser o pastor de ovelhas, as metáforas usadas são úteis. Ou seja, com tais metáfora, Jesus passa uma idéia com uma clareza tal que não conseguiria atingir de outra forma. Tanto é assim que não vemos ninguém, na Bíblia, entendendo estas afirmações literalmente. Não há ninguém acusando Jesus de estar louco e imaginando-se uma porta ou uma árvore.

Agora, quando Jesus diz “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue” o mesmo não está usando de nenhuma metáfora. Por quê? Porque tal metáfora não seria útil, visto que a idéia seria mais clara se o Mestre dissesse: “isto representa o meu corpo.” Ou seja, Jesus teria feito questão de ser pouco claro e confuso, tanto que muitos judeus o entenderam literalmente (e os católicos o entendem até hoje). Jesus estaria possuído pelo espírito de Babel, usando de uma linguagem pouco clara e gerando confusão. Os protestantes preferem acreditar nisto do que reconhecer a evidência…

O fato, portanto, é que a comparação dos protestantes não procede. Jesus usa de metáforas quando as mesmas são úteis para instruir-nos em Sua doutrina; quando não são, não as usa. No caso da última ceia, a metáfora não seria útil (alías, seria até inconveniente) e, portanto, as palavras de Jesus devem ser entendidas na sua literalidade.

No entanto enganando-se e conseqüentemente enganando a muitos desprezam o que diz a Bíblia, que eles dizem crer e obedecer:

‘”47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. 50 Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. 51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.” (Jo 6,47-51)

Jesus diz CLARAMENTE que seu corpo é o pão necessário à Salvação. E a Bíblia continua:

“52 A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?” (Jo 6,52)

Vejam que as palavras de Cristo foram tão CLARAS que causaram discussão entre os Fariseus. Cristo então, confirma LITERALMENTE suas palavras:

“53 Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6,53-54).

No entanto para a tríade protestante, Jesus queria dizer que o pão “representa” o seu corpo. No entanto, é o Próprio Cristo (a quem eles dizem adorar e crer) que lhes diz no Evangelho de João (que eles dizem conhecer, crer e observar):

“55 Pois a minha carne é VERDADEIRAMENTE uma comida e o meu sangue, VERDADEIRAMENTE uma bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6,55-56)

Ademais, naquela oportunidade, como todas as vezes por ocasião da ceia do Senhor, o pão continua com gosto e sabor de pão, bem como o vinho continua com o cheiro e sabor de vinho. Esses elementos não se transformam numa mágica no corpo de Jesus.

Como estamos vendo até aqui, as afirmações protestantes são na verdade um emaranhado de confusão e equívoco. Ora, uma coisa é ser acidentalmente e outra é ser essencialmente. Ora, a tríade protestante não crê que o Verbo se fez homem? Então por quê o Verbo não pode ser fazer pão? Antes da concepção por obra do Espírito Santo, Jesus era Espírito. Quando encarnou-se, Jesus mudou acidentalmente (não se parecia como era), mas não mudou essencialmente (continuava sendo Deus). Do mesmo modo na Eucaristia, o pão que é acidentalmente pão, mas é essencialmente o corpo do Senhor.

Se assim fosse, Jesus teria engolido a Si próprio. Jesus não entra em nós pela ingestão do Seu corpo, mas entra em nossa vida quando O aceitamos de todo o nosso coração como Senhor e Salvador (Rm 10.9).

A Bíblia não fala que Jesus comeu do pão (Ele o deu aos seus discípulos dizendo: tomai e comei; tomai e bebei), mas, se o comeu, ingeriu, sim, Seu próprio corpo. Assim como nós, ao participarmos da eucaristia, numa certa medida, ingerimos nosso próprio corpo, pois comungamos do corpo de Cristo do qual fazemos parte. A Deus, tudo é possível.

9- Não sou protestante porque os supostos intérpretes da Bíblia não aceitam a real presença de Cristo no pão e no vinho consagrado, sendo que em (João 6,51) Jesus afirma: O pão que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo. Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Pois a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira bebida.

R – A leitura e interpretação da Bíblia não devem ser privilégio de um grupo governante como na seita testemunhas-de-jeová e no catolicismo. Todos podem ler e interpretar livremente a Palavra de Deus, que é dirigida a todos indistintamente. Sobre o assunto eucaristia já falamos anteriormente.

O pão não se transforma no corpo de Cristo. Ademais, Jesus instituiu a ceia em MEMÓRIA, para recordação do Seu sacrifício na cruz. Vejam: “Fazei isto em memória de mim” (1 Co 11.24-25). O sacrifício de Jesus não pode e não deve ser RENOVADO TODOS OS DIAS. Vejam: “Pois Cristo padeceu uma única vez pelos pecados” (1 Pe 3.18). Ele não precisa morrer outras vezes.

Aqui, a tríade comete dois erros bastante grandes. Primeiramente, com o termo MEMÓRIA. Lembre-se, sempre, que Jesus estava celebrando o seder judaico e que, nas celebrações judaicas, fazer um memorial tem o sentido de tornar presente um fato já ocorrido. Quando, neste contexto, Jesus (após afirmar que o pão consagrado é o Seu corpo e que o vinho consagrado é o Seu sangue) diz “fazei isto em memória de mim”, os discípulos (todos judeus) não tinham dúvidas de que o Mestre estava invocando a longa tradição de memoriais judaicos. E que, a partir de então, cada vez que repetissem aquela ceia, os acontecimentos da morte e ressurreição de Cristo se fariam presentes.

O segundo erro cometido é acerca da doutrina católica sobre a missa. Jesus não morreu “outras vezes”. Ao contrário, ensina a Igreja que o sacrifício de Cristo é único, irrepetível e suficiente. Ocorre que, no Memorial, este sacrifício (ocorrido há quase dois mil anos) faz-se presente de forma incruenta. O fiel, com os próprios olhos, contempla a morte e ressurreição de Cristo, sacramental e verdadeiramente.

Então, o culto da ceia do Senhor não objetiva crucificá-LO outra vez, mas recordar a Sua morte expiatória.

Brilhante! De fato, a eucaristia não visa crucificá-lO novamente, mas fazer o MEMORIAL da Sua morte e ressurreição. Lembre-se que Memorial no sentido semita é REPETIR e não somente LEMBRAR. Como eu já disse, é sempre delicioso ver o quão desinformados sobre o catolicismo estão aqueles que o combatem.

“Comer a minha carne e beber o meu sangue” não pode ser interpretado literalmente, pois Deus não aprovaria um ato de antropofagia (comer carne humana com suas vísceras, cabelos e unhas). Nem sempre o significado de um texto é o significado literal, como mais acima foi explicado.

Como acima tentou-se enganar, mas que as próprias palavras do Cristo desmentiram-nos.

Cristo é o verdadeiro Cordeiro Pascal, e, gostem disto os protestantes ou não, o cordeiro pascal deve ser comido por inteiro (com vísceras e tudo). Comungamos, sim, do corpo de Cristo, sem que sejamos antropófagos por isto. Aliás, interessante comparação protestante, visto que os primeiros cristãos também eram acusados de comer a carne de um homem chamado Cristo! Não alimentamos nosso corpo com carne humana (como fazem os canibais), mas, comungando, tornamo-nos (sacramental e verdadeiramente) um com Cristo, fortalecendo nosso espírito para os combates. Caro leitor, sabe por que o protestantismo nunca produziu um Francisco de Assis, uma Tereza de Lisieaux, um Vicente de Paula, uma Tereza de Calcutá, um Tomás de Aquino, etc.? Porque os protestantes, não comendo da carne de Cristo, e não bebendo de seu sangue, não se tornam um com Ele e não têm a vida dentro de si. Foram advertidos pela própria Bíblia disto, mas, lendo, não entendem e geram sua própria condenação. São eles os fariseus de hoje, que mesmo de posse das Sagradas Letras, não entendem e não reconhecem o Cristo.

Quando lemos que Ele é a pedra angular, o real fundamento da Igreja (1 Co 3.11; Ef 2.20) não podemos entender que Jesus seja realmente uma pedra. São figuras de linguagem. Vejamos os comentários de Norman Geisler em seu Manual Popular de Dúvidas: “Há muitas indicações em João 6 de que Jesus literalmente queria dizer que a sua ordem para comer a sua carne deveria ser considerada de uma maneira figurada.

Primeiro, Jesus afirmou que a sua declaração não deveria ser tomada com um sentido materialista, quando ele disse: “as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6.63).

Uai! Que uma coisa tem a ver com a outra? De fato, Jesus falava de coisas espirituais (a eucaristia fortalece o espírito). Isto não quer dizer que, falando de coisas espirituais, Ele estivesse falando em sentido figurado. Podemos falar de coisas espirituais usando palavras em sentido literal e, ao mesmo tempo, falar de coisas materiais usando palavras em sentido figurado. A confusão de conceitos é patente.  Notem ainda caro leitor que os defensores da “sola scriptura” precisam recorrer a fontes extra-bíblicas para fundamentarem seus erros doutrinários. Que coerência há nisto?

Segundo, seria um absurdo e um canibalismo considerá-la com um sentido físico.

Já comentado acima.

Terceiro, Ele não estava falando da vida física, mas da “vida eterna” (Jo 6.54).

Já comentado acima.

Quarto, ele chamou a si de “o pão da vida” (Jo 6.48) e contrastou esse pão com o pão físico (o maná) que no passado os judeus comeram no deserto (Jo 6.58).

Novamente, a mesma confusão. O maná (pão físico) é figura da eucaristia (que usa o sinal do pão físico), mas esta é superior àquele (pois alimenta o espírito). Não há nada aí que mostre que o Senhor falava figuradamente, conforme já provamos.

Quinto, Ele usou a figura do “comer” a sua carne paralelamente à idéia de “permanecer” nele (cf.Jo 15.4-5), que representa outra figura de linguagem.

Afirmar é fácil, provar é difícil. Se não comermos da carne do Senhor, não permanecemos nEle pois não nos tornamos um com Ele. Aqui DESCARADAMENTE desprezam Jo 6,55.

Sexto, se comer a sua carne e beber o seu sangue fosse tomado literalmente, isso seria contradizer outros mandamentos das Escrituras, que ensinam a não comer carne humana nem sangue (cf. At 15.20)”.

Talvez esta afirmação fosse menos infeliz se estivesse embasada em Gen 9,3-4Deut 16,15-16 ou ainda Lev 3,17. No entanto At 15,20 fala de carne sacrificada aos ídolos, o que não é o caso. A Eucaristia não é carne humana sacrificada aos ídolos, mas, verdadeiramente, o corpo do Salvador, sacrificado por nós. Portanto, o versículo bíblico usado não é útil para defender a tese da tríade.

Os versículos que sugeri proíbem a ingestão de sangue exatamente porque nele há vida. Ora, se bebemos o Sangue de Cristo, temos a Vida de Cristo em nós mesmos, que é exatamente o desejo do Senhor!

Ademais, a salvação não está em comer o corpo de Jesus, mas em crer e obedecer (Jo 3.18,36; 5.24; 6.35; 7.38; 11.25; Atos 10.43; 13.39;16.31; Rm 1.16;10.9).

Aqui, nossos queridos protestantes cometem um erro de petição. Estão tomando por provado o que querem provar: que a salvação vem de crer em Jesus. E, assim fazendo, passam por cima daquilo que disse o Senhor: que devemos comer sua carne e beber o seu sangue para termos a vida em nós.

Aliás, segundo os entendidos em grego Koiné (língua na qual grande parte do Novo Testamento foi escrita), Jesus usou o verbo troglo, que significa “mastigar, triturar com os dentes”. Mais literal do que isto é impossível.

10- Não sou protestante porque os mesmos não reconhecem o primado de Pedro, sendo que o próprio Jesus disse;Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta pedra (Kepha) edificarei a minha Igreja; (Mateus16,18).

R – “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt. 16.13-20). O catolicismo vale-se dessa passagem para afirmar que os papas são sucessores de Pedro. Nenhum dos modos de entender essa passagem dá suporte à posição católica.

Chamo atenção para o fato de que, também aqui, funcionará o velho apriorismo protestante. A afirmação de que “nenhum dos modos de entender esta passagem dá suporte à posição católica” chega a ser engraçada. Para não se enxergar, na passagem, o primado de Pedro é necessária uma verdadeira ginástica mental à qual os protestantes recorrem para não se darem por vencidos.

Outra coisa, a Igreja Católica não se vale deste versículo para demonstrar que os Papas são os legítimos sucessores de Pedro, porque isso é um fato histórico, e na história não dá para passar a borracha! A Santa Igreja Católica apenas mostra aí que a Bíblia dá testemunho do Primado de Pedro.

“Sobre esta pedra” poderá referir-se à firme declaração de Pedro, de que Jesus era “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16).
Admitida a hipótese de a referência ser a pessoa de Pedro, este (Petros, pedra, em grego) seria apenas uma pedra no fundamento apostólico da Igreja (Mt 16.18), não a rocha. Pedro admitiu que Cristo é a principal pedra, a pedra principal, angular, preciosa, de esquina (1 Pe 2.7-8).

A tríade não tem problema algum com a incoerência. Recorrem a ela com muita tranqüilidade. A afirmação básica do protestantismo é que Pedro não poderia ser a pedra da Igreja porque tal função cabe apenas a Cristo. Pois bem. Como na passagem acima Jesus não pode estar falando de si mesmo, os protestantes afirmam que, nesta passagem, a pedra (que até agora há pouco seria o próprio Jesus) é a afirmação petrina!!! Fácil, não?! Isto é o que eu chamo de boa hermenêutica!

Cristo é a pedra da Igreja, mas, visivelmente dá esta função aos Papas. Cristo é a única Rocha; os Papas (que fazem parte do corpo de Cristo) fazem este papel de maneira visível.

E mais:

a. No primeiro concílio em Jerusalém, Pedro apenas introduziu o assunto (At 15.6-11). Tiago teve participação mais importante: assumiu a reunião, deu seu parecer e fez um pronunciamento final (At 15.13-21).

Santo Deus!!! Esta afirmação é absurda. Pedro presidiu aquele concílio, foi dele a palavra que pôs ordem à discussão que reinava. Ele falou e toda a Assembléia se calou. Quando Tiago tomou a palavra, o mesmo teve que pedir para ser ouvido (e, frise-se, o Concílio ocorreu na diocese de Tiago). No entanto, para a tríade, é de Tiago o papel preponderante. Coisas do livre exame…

De qualquer forma, é importante o fato de que eles reconheceram que houve um concílio em Jerusalém para resolver o problema da observância ou não da Lei Mosaica. E reconheceram que este concílio tinha autoridade. Pois bem: a Igreja Católica, desde o princípio, resolveu seus problemas através de concílios, apontando, com clareza, quais os pontos de fé a serem cridos. E as igrejas protestantes? Bem, elas preferem resolver seus problemas doutrinários de outra forma: quem concorda fica e quem discorda que funde outra igreja! Vê-se, pois, o quão distantes elas estão do cristianismo primitivo…

b. Paulo não diz que Pedro é a coluna da Igreja, mas que as “colunas” (no plural) são “Tiago, Cefas e João” (Gl 2.9);

Tiago e João também são chamados de coluna (juntamente com Pedro), mas nunca são chamados de Pedra. Eles também eram apóstolos, também tinham importância, mas não foram constituídos chefes de toda a Igreja e nem lhes foi dada a chave do Reino dos Céus. Durante séculos, ao lado do Bispo de Roma e imediatamente abaixo do mesmo, os bispos de Antioquia, Jerusalém e Alexandria (todas Igrejas petrinas) tinham enorme influência em toda a Igreja. Ainda hoje em dia, além do Papa, são muitos os que têm influência decisiva nos destinos da Igreja. Pode-se citar, por exemplo, o Cardeal Raztinger, verdadeira coluna da Igreja nos dias atuais, ao lado da rocha que é João Paulo II. Isto em nada arranha o Papado.

Notem aí caro leitor a incoerência protestante. Eles acabaram afirmando que Tiago e João eram colunas da Igreja como Pedro. Ora, como eles podem dizer isso se para eles é a Bíblia o ÚNICO FUNDAMENTO da fé? Vejam que sutilmente acabam professando as Verdades de fé Católicas, que dizem que “A Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15). Notem aí que a autoridade sobre todos os cristãos é da Igreja, que era comandada pelos apóstolos nos princípio. Foi da Igreja que os primeiros cristãos receberam a fé, e foi através de Sua Autoridade é que sabiam o que era certo e errado e não da Bíblia, que ainda nem existia. Não pensem que estou diminuindo a Bíblia, longe disto, mas a Bíblia sem a Igreja é como o Código de Defesa do Consumidor se PROCON, como Código de Trânsito sem o DETRAN, como Código Penal sem os Magistrados e etc.

c. Paulo declarou que a Igreja é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Jesus Cristo, a pedra angular” (Ef 2.20);

d. Pedro não instituiu o celibato, pois era casado (Mt 8.14);

A Bíblia dá a entender que Pedro já era viúvo quando foi instituído chefe da Igreja (afinal, foi a sua sogra que serviu Jesus após ser curada, e não a sua esposa como seria de se esperar). De qualquer forma, o celibato não é requisito essencial para qualquer ordenação. É um requisito apenas circunstancial que pode deixar de existir quando a Igreja o desejar.

e. Pedro não era e não se considerava infalível, pois foi advertido por Paulo porque ele não procedia “corretamente segundo a verdade do Evangelho” (Gl 2.14);

Os protestantes adoram citar Gl 2,14 para provar que Pedro não era infalível. Novamente, confundem infalibilidade com impecabilidade, pelo que este argumento é falso. Tanto Pedro era infalível que foi ele quem resolveu o maior problema doutrinário da primeira geração de cristãos. O partido dos judaizantes (tendo Tiago à frente) opunha-se frontalmente à soterologia de Paulo, pela qual a salvação repousava exclusivamente nos méritos de Cristo e não na observância da Lei Mosaica. O conflito entre os dois grupos foi bastante tenso e pode ser visto em At 15. No meio da discussão, levanta-se Pedro, afirma que a razão estava com Paulo “e toda a assembléia (Tiago também) ficou em silêncio”, passando a ouvir o que Paulo tinha a dizer. Pedro falou, Tiago retariu-se. Nunca mais os cristãos tiveram dúvidas sobre a questão.

Foi pouco tempo depois disto, que se passou a cena descrita em Gl 2. Paulo, de fato, tinha toda a autoridade para condenar a atitude de Pedro porque o mesmo não agia de acordo com a doutrina que ele, infalivelmente, já havia definido como dogma de fé. Em At 15, temos a infalibilidade de Pedro (como Papa que era); em Gl 2, assistimos a um seu pecado (como homem).

Aliás, bem entendido o contexto da carta aos Gálatas, vemos como a cena descrita por Paulo reforça a idéia de que Pedro foi, realmente, o primeiro Papa. A comunidade dos gálatas não aceitava, pacificamente, a autoridade de Paulo e, nesta esteira, também não aceitava a ortodoxia de sua doutrina. Paulo, então, para defender esta ortodoxia, cita um caso em que o próprio Pedro curvou-se à mesma. Como que dizendo: se Pedro (que é Pedro) reconheceu este evangelho que vos prego, como podeis vós duvidar do mesmo?

Sobre isto, leiam um outro artigo meu, deste site, intitulado “A Epístola aos Gálatas e o Primado de Pedro.”

f. A Bíblia diz que Cristo é o fundamento da igreja cristã, e que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11);
A Igreja primitiva perseverou na “doutrina dos apóstolos”, e não na de Pedro (At 2.42). Finalmente, Pedro não aceitava adoração (o beija-mão, o ajoelhar-se aos pés) conforme Atos 10.25-26.

De fato, não existe uma doutrina de Pedro, nem uma doutrina dos apóstolos. A doutrina da Igreja é a doutrina de Cristo. É aquela recebida do Senhor e transmitida pelos apóstolos (com Pedro à frente). A frase, “doutrina dos apóstolos” (isto é, transmitida por eles) é uma referência claríssima à tradição oral que eles transmitiam às comunidades e que se preservou apenas dentro do catolicismo. Para que a “sola scriptura” fizesse sentido, o texto deveria dizer “perseveravam na doutrina bíblica”.

Na mais recente investida do ateísmo, o nada produziu por si mesmo o Universo!

Fonte: Apostolado Spiritus Paraclitus

Querem expulsar Deus do Universo. Vã tentativa. Sem o Criador de todas as coisas, absolutamente não se consegue explicar coisa alguma. Desejando viver sem Deus, o homem moderno pretende colocar-se em seu lugar e ser como que um deus. Entretanto, a verdadeira felicidade nesta Terra consiste em contemplar a imagem ou semelhança de Deus existente em todos os seres por Ele criados.

Antonio Augusto Borelli Machado

“Olhai os lírios do campo, como crescem: não trabalham nem fiam. Contudo digo-vos que nem Salomão em sua maior glória jamais se vestiu como um deles. Se pois Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé!” (Mt 6, 28-29).

Esta lição de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma obra-prima de poesia, que os literatos não cessam de utilizar para produzir efeitos da mais elevada expressão estética. Além de bela em si mesma, contém ensinamentos de confiança em Deus, relativos não só às penúrias materiais, mas também aos socorros espirituais que a todo momento necessitamos. De modo especial, aplica-se àqueles que tudo abandonaram para se entregar inteiramente ao serviço de Deus, seja na carreira eclesiástica ou na vida religiosa consagrada, seja no campo específico do apostolado dos leigos: “Instaurare omnia in Christo” (Restaurar todas as coisas em Cristo), segundo a famosa perícope de São Paulo (Ef 1, 10), que São Pio X tomou como dístico de seu pontificado.

Assim, a frase “Olhai os lírios do campo!” salienta a dependência em que todas as criaturas se encontram em relação ao seu Criador, que dispôs as coisas de modo a que cada uma atinja o fim para o qual foi criada. Em outros termos, cada ser é formado de tal modo que seus elementos constitutivos já são ordenados em função desse fim, e sua felicidade consiste em alcançar esse fim. É claro que só os seres dotados de alma racional têm consciência plena dessa felicidade. Os animais irracionais sentem apenas o bem-estar resultante de todas as suas partes estarem em ordem ao seu fim; quando algo lhes falta, sofrem. Os vegetais não têm nenhuma consciência de seu ser, mas manifestam a boa ordem neles reinante pelo viço com que resplandecem. Daí a beleza do lírio, para a qual Nosso Senhor chamou a atenção. Essa beleza nos remete ao Criador, que criou o homem à sua imagem e semelhança, e colocou em toda criatura um reflexo de sua perfeição divina (vide texto de São Boaventura no quadro abaixo).

A visão que se desprende destas considerações é a de um Universo todo ordenado, que tem sentido, significado e finalidade. Se tirarmos Deus desse panorama, tudo fica sem sentido, e não há maior tormento para o homem do que perceber que sua vida perdeu o sentido, a razão de ser.

As primeiras noções do Catecismo

Muitas vezes os grandes sábios não entendem o que, no entanto, era ensinado com simplicidade e concisão aos meninos e meninas que outrora se preparavam para a Primeira Comunhão. Considera-se hoje “atrasado” o velho sistema de perguntas e respostas, mas na verdade era muito pedagógico, pois ele inculcava na mente das crianças as verdades eternas que lhes serviriam de guia para o resto da vida. Não bastava decorar, e a explicação era feita concomitantemente, antes ou depois de os catecúmenos decorarem as respostas. Porém, decorando-as, fixava-se nas mentes e nos corações o que mais importava reter.

Permitimo-nos lembrar algumas dessas perguntas antes de tratar da questão que nos propusemos neste artigo. Ensina o Primeiro Catecismo da Doutrina Cristã, aprovado pelos bispos da província meridional do Brasil, reunidos no santuário de Nossa Senhora Aparecida em 3 de setembro de 1903 (Vozes, Petrópolis, 69ª ed., 1951):

— Quem é Deus?
— Deus é um espírito perfeitíssimo, eterno, criador do céu e da terra.
— Por que Deus é eterno?
— Deus é eterno, porque sempre existiu, não teve princípio e não terá fim.
— Por que Deus é criador?
— Deus é criador, porque só ele criou e pode criar todas as coisas, e por ninguém foi criado.
— Como criou Deus o mundo?
— Deus criou o mundo com um simples ato de sua vontade, e pode criar muitos outros mundos, porque é onipotente.
— De que fez Deus o mundo?
— Deus fez o mundo do nada.

Nestas cinco perguntas está explicado todo o enigma da existência do Universo. Ele cabe na cabeça de uma criança, porém não na cabeça de muitos sábios. Assim, um cientista de renome mundial escreveu recentemente um livro para provar que não é preciso recorrer a Deus para explicar a existência do Universo. E partiu precisamente da idéia do nada, afirmando que o nada produziu por si mesmo o Universo!

Ao falarmos de cientistas, assustamos logo de entrada muitos leitores, que se julgam — com razão, em grande número de casos — ignorantes em matéria de ciência. Mas tranqüilizem-se: a ciência avançou tanto no último século, que, salvo um pequeníssimo número de especialistas, a grande maioria dos mortais é mesmo ignorante dos grandes desenvolvimentos científicos. E o próprio autor deste artigo, embora tenha curso universitário, se coloca entre os que não conseguem acompanhar as novas teorias que em todo momento aparecem. Isto não o impede de abordar a questão proposta, pois, apesar da complexidade da matéria, os estudos dos cientistas desfecham em apreciações da realidade que estão ao alcance de nossos olhos, ou apelam para princípios universais que mesmo uma criança pode perceber se estão certos ou errados. E é para pessoas de cultura comum, como a maioria dos leitores desta revista, que preparamos este artigo.

“Se quiserem, podem chamar ‘Deus’as leis da ciência”…

O físico inglês Stephen Hawking “é um cientista de grande fama, conhecido por sua terrível desgraça, até pelo público que não se interessa por astrofísica. Mais de uma vez foi visto na televisão com o seu pobre corpo devastado por uma doença degenerativa do sistema nervoso, que o obriga a andar numa cadeira de rodas e lhe permite comunicar-se apenas através de um sintonizador” (Stefano Zecchi no “Il Gornale”, de Milão, 3/9/2010). O fato de nos condoermos com sua situação pessoal não implica em concordarmos com suas teses científicas.

Hawking nem sempre foi tão radical quanto se revela no livro O projeto grandioso (The Grand Design), recém-publicado em co-autoria com Leonard Mlodinov, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia). O jornal “Times”, de Londres, apresentou dele largos extratos no início de setembro, antes que o volume chegasse às livrarias.

No seu livro anterior, de 1988, intitulado Uma breve história do tempo, Hawking já se questionava sobre a compatibilidade entre um Deus criador e a compreensão científica do Universo, porém sem afirmá-la nem negá-la: “Se o Universo é contido em si mesmo, sem borda ou fronteira, não teria começo ou fim: simplesmente seria. Neste caso, qual o lugar de um criador?”. E acrescentava: “Se descobrirmos uma teoria completa, filósofos, cientistas e o público leigo tomariam parte na discussão de por que o Universo e nós existimos. Se encontrarmos a resposta, seria o grande triunfo da razão humana, pois então conheceríamos a mente de Deus” (apud Marcelo Gleiser, Hawking e Deus: relação íntima, “Folha de S. Paulo”, 12-8-2010, pág. A23).

Mas no livro The Grand Design “a tese é radical: não há necessidade de um Deus para se compreender a formação do Universo e de nossa presença nesta Terra” – comenta Zecchi em seu artigo do “Il Giornale”. Hawking rejeita a teoria de Isaac Newton segundo a qual o Universo não teria podido formar-se de modo espontâneo, mas teria sido posto em movimento por Deus.

Em junho deste ano, durante uma série televisiva do Canal 4 da Inglaterra, Hawking declarou não acreditar na existência de um Deus pessoal: “A questão é: a forma pela qual o Universo teve origem resulta de uma escolha feita por Deus por razões que não podemos compreender, ou foi determinada pelas leis da ciência? Eu creio na segunda hipótese. Se quiserem, podem chamar ‘Deus’as leis da ciência, mas não será um Deus pessoal com o qual [os homens] poderiam se encontrar, e ao qual poderiam apresentar pedidos”(apud Pietro Vernizzi, site Il Sussidiario, 3-9-2010).

Seria uma forma peculiar de panteísmo, que não estaria propriamente no Universo, mas nas leis da ciência que o regem; e que, segundo ele pensa, pré-existem em relação ao Universo e permitem que ele surja espontaneamente do nada. Hawking afirma: “A criação espontânea é a razão pela qual existe alguma coisa e não o nada, pela qual o Universo existe, pela qual nós existimos. Graças à lei da gravidade, o Universo pode criar-se e se cria do nada. É inútil, portanto, apelar para Deus como causa, para fazê-lo mover o céu e acionar a mola do mecanismo do Universo”.

O “nada” de onde tudo vem…

Em dois artigos na “Folha de S. Paulo”, o brasileiro Marcelo Gleiser, professor de Física teórica no Dartmouth College (Hanover, EUA), rebate as teses de Hawking do ponto de vista científico. No artigo de 12 de setembro, já citado, ele indica a procedência dessas teses:

“Hawking afirma que tem novos argumentos que colocam Deus para escanteio de vez. Será?

“A idéia dele, que já circula desde os anos 70, vem do casamento da relatividade [de Einstein] e da mecânica quântica para explicar a origem do Universo, isto é, como tudo veio do nada.

“Primeiro, usamos as propriedades atrativas da gravidade para mostrar que o cosmo é uma solução com energia zero (o ‘nada’ de onde tudo vem) das equações que descrevem sua evolução.

“Segundo, como na mecânica quântica (que descreve elétrons, átomos etc.) tudo flutua, o Universo pode ser resultado de uma flutuação de energia nula a partir de um universo que ‘contém’todos os universos possíveis, o multiverso”.

Gleiser comenta:

“É lamentável que físicos como Hawking estejam divulgando teorias especulativas como quase concluídas. A euforia na mídia é compreensível: o homem quer ser Deus.

“O desafio das teorias a que Hawking se refere é justamente estabelecer qualquer traço de evidência observacional, até agora inexistente. Não sabemos nem mesmo se essas teorias fazem sentido. Certas noções, como a existência de um multiverso, não parecem ser testáveis”.

Ora, uma teoria científica só pode ser aceita se forem apresentadas comprovações experimentais. Por isso, conclui Gleiser nesse artigo: “A existência de uma teoria final é incompatível com o caráter empírico da física, baseado na coleta gradual de dados. Não vejo como poderemos ter certeza de que uma teoria final é mesmo final. Como nos mostra a história da ciência, surpresas ocorrem a toda hora. Talvez esteja na hora de Hawking deixar Deus em paz”.

Gleiser toca num ponto para o qual acenamos aqui apenas de passagem: Sendo a inteligência do homem limitada, por mais que avancem os estudos da física, jamais o homem chegará à compreensão final, última, da matéria, do fenômeno da vida, da alma espiritual; numa palavra, do Universo criado. Só a mente divina compreende tudo até o fim. Por mais que o homem progrida nos seus conhecimentos, desfechará sempre no mistério, que lhe abrirá novas portas para a investigação, sem que jamais chegue à compreensão total e final.

Com Deus é diferente. Não só foi capaz de criar este mundo, com todas as suas complexidades, como poderia criar muitos outros mundos, porque é onipotente. Isso, que desconserta os sábios, as crianças aprendem no Catecismo…

Nossa Terra não seria um fenômeno raro no Universo

Em sua recensão do livro de Hawking, Stefano Zecchi observa que ele apresenta uma segunda ordem de argumentos para tentar mostrar que não há nenhum intuito sapiencial que postule a intervenção de um ser divino na existência do Universo: “Hawking recorda a descoberta, em 1992, de um planeta que orbita uma estrela de modo semelhante ao da Terra em torno do Sol. Isto confirma, a seu juízo, que o caso terrestre não é único. Ora, considerando que é altamente provável que não só existam outros planetas semelhantes à Terra, mas inclusive outros universos, Hawking se pergunta: se Deus tivesse querido criar o Universo com a finalidade de criar o homem, que sentido teria acrescentar todo o resto?”.

É precisamente a este tema que Marcelo Gleiser consagra o segundo artigo que escreveu, sob o título “Quão rara é a vida?” (“Folha de S. Paulo”, 19-9-2010, pág. A23). Diz ele:

“Outro argumento que Hawking usou é que o Universo é especialmente propício à vida, em particular à vida humana. Mais uma vez vejo a necessidade de apresentar um ponto de vista contrário. Tudo o que sabemos sobre a evolução da vida na Terra aponta para a raridade dos seres vivos complexos. Estamos aqui não porque o Universo é propício à vida, mas apesar de sua hostilidade.

“Note-se que, ao falarmos sobre vida, temos de distinguir entre vida primitiva (seres unicelulares) e vida complexa. Vida simples, bactérias de vários tipos e formas, deve mesmo ser abundante no Cosmos”.

Gleiser aceita, portanto, a existência de seres unicelulares espalhados pelo Cosmos. Mas não há nenhum fato que comprove isso, posto que, como ele mesmo admite e é óbvio, “o único exemplo de vida que conhecemos” é aqui na Terra. Em todo caso, ele prossegue:

“Devemos lembrar que seres multicelulares são mais frágeis, precisando de condições estáveis por longos períodos. Não é só ter água e a química correta. O planeta precisa ter uma órbita estável e temperaturas que não variem muito. Só temos as quatro estações e temperaturas estáveis porque nossa Lua é pesada. Sua massa estabiliza a inclinação do eixo terrestre (a Terra é um pião inclinado de 23,5°), permitindo a existência de água líquida durante longos períodos. Sem a Lua, a vida complexa seria muito difícil.

“A Terra tem também dois ‘cobertores’ que a protegem contra a radiação letal que vem do espaço: o seu campo magnético e a camada de ozônio. Viver perto de uma estrela não é moleza. Precisamos de seu calor, mas ele vem com muitas outras coisas nada favoráveis à vida.

“Quem afirma que o Universo é propício à vida complexa deve dar uma passeada pelos outros planetas e luas do nosso Sistema Solar.

“Ademais, o pulo para a vida multicelular inteligente também foi um acidente dos grandes. A vida não tem um plano que a leva à inteligência. A vida quer apenas estar bem adaptada ao seu ambiente. Os dinossauros existiram por 150 milhões de anos sem construir rádios ou aviões. Portanto, mesmo que exista vida fora da Terra, a vida inteligente será muito rara. Devemos celebrar nossa existência por sua raridade, e não por ser ordinária”.

Não deixa de causar perplexidade que uma mente tão privilegiada como a de Hawking não tenha presente dados tão conhecidos como os que Gleiser recorda. E nem mesmo se pergunta como é que da matéria inanimada se passou para os primeiros seres vivos unicelulares, e daí todo o resto, até chegar à vida racional. Não trataremos aqui da explicação dada pela teoria de Darwin, pois nos desviaria desta temática. Os interessados por esta questão podem ler o artigo de Luis Dufaur, intitulado Evolucionismo: Teoria sem fundamento científico — Rejeição e ultraje ao Criador, publicado nesta revista (Nº 705, setembro/2009)

De qualquer modo, termina aqui a explanação de Gleiser, sem dúvida por desejar permanecer no seu campo próprio de cientista e não ser acusado de adentrar pela filosofia e teologia. Mas nós, que não estamos adstritos ao campo das ciências naturais, podemos — e devemos — fazê-lo, posto que elas não esgotam a explicação do Universo.’

Finalidade do homem: a contemplação sacral do Universo

Após mencionar a pergunta de Hawking sobre por que Deus criou todo o Universo, se seu intuito fosse apenas colocar o homem num planeta adequado para a vida humana, Stefano Zecchi observa judiciosamente: “Qual o sentido, qual o significado do Universo, do homem? A pesquisa científica tenta (sempre tentou) prender numa jaula esse fastidioso, cientificamente inoportuno significado [do Universo] e jogar fora a chave. Mas enquanto existir o homem, essa jaula nunca poderá ser trancada, porque, enquanto existir o homem, que tem o lume da razão, ele não renunciará a perguntar-se sobre o significado da vida e da morte, do mal e da beleza”.

Aí está a resposta para a pergunta de Hawking: Deus não fez o mundo apenas para atender às necessidades vegetativas e animais do homem, mas para que ele, contemplando o Universo, conhecesse, amasse e servisse o seu Criador, e nessa contemplação sacral alcançasse o grau de felicidade possível nesta Terra, prelúdio da felicidade eterna no Céu.

O leitor encontrará valiosíssimas considerações sobre o assunto no livro A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira (Artpress, São Paulo, 2008, 320 pp.), cuja leitura recomendamos vivamente. É desse livro que extraímos o trecho de São Boaventura, no quadro acima).

É uma pena que este livro não esteja ainda publicado em inglês, para enviarmos um exemplar ao professor Stephen Hawking. Poderia ajudá-lo a resolver o problema criteriológico em que se debate, o qual é muito mais grave que a doença neurológica atroz que o atormenta. Que Deus tenha pena de sua alma e de seu corpo!

E aqui entra mais uma vez o papel da teologia, que soube compendiar os mais altos princípios em fórmulas lapidares, e as oferece às crianças a partir do despertar da razão. No Catecismo de preparação para a Primeira Comunhão, uma pergunta fundamental e uma resposta simples:

— Para que fim foi criado o homem?

— O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e depois gozá-lo para sempre no outro.

Isto é, na vida eterna e bem-aventurada, vendo a Deus Uno e Trino face a face, convivendo com os anjos e os santos; especialmente com aquela Virgem coroada de doze estrelas, Maria Santíssima, que junto ao supremo Senhor Jesus Cristo — a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade — reinará com Ele por todos os séculos sem fim.

CATOLICISMO. Deus criou o universo do nada. São Paulo: Padre Belchior, Nov. 2010.

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