MELBOURNE, quinta-feira, 14 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- O perfil da sociedade pós-moderna está impulsionando os jovens a uma busca, que representa o desafio de toda a igreja de acompanhá-los em seu itinerário, adverte o presidente do episcopado católico da Inglaterra e Gales.

O cardeal Cormac Murphy-O’Connor teve a oportunidade de refletir sobre a situação dos jovens em tal meio social durante a conferência que pronunciou, no final de agosto, em sua visita às três maiores dioceses australianas: Sydney, Melbourne e Brisbane.

«Tempo de crise» e «temporada alta» para todo tipo de futurologias, onde «tudo é possível, mas nada é certo»: é assim como se está vendo o novo milênio, disse o purpurado — arcebispo de Westminster.

«Na era pós-moderna, quase tudo se revolve e os perfis da sociedade — em outro tempo claros — se confundiram»; «nosso mundo contemporâneo cada vez está mais dominado pela escolha, pela preferência pessoal e pela imediatez», um contexto no qual até a religião «torna-se “a la carte”», constatou.

É um âmbito — seguindo ao cardeal Murphy O’Connor — no qual «a verdade já não se recebe, não precisa ser provada objetivamente porque não existe nada objetivo».

O purpurado se interrogou sobre situação dos jovens neste mundo pós-moderno, no qual, contudo, para muitos jovens ocidentais a vida pode ser bastante boa. Mas «a imagem e as perspectivas não são uniformemente positivas para a juventude», alertou.

E existe uma «crescente brecha entre ricos e pobres», e a tendência a uma «aspiração generalizada por mais e melhor», sendo esta «atiçada» pela cultura publicitária — «orientada deliberadamente aos consumidores mais jovens» — que o purpurado sintetizou na frase: «se você quer, você pode ter».

Em conjunto, são elementos que conduzem à «individualização da sociedade», e a «maior ameaça que brota do individualismo é que, em última instância, ameaça a coesão social, a família e a comunidade», apontou.

Um aspecto de extrema importância, portanto — afirmou — «nosso sentido de comunhão, de comunidade, é a parte fundamental de nosso ser humano», pois «ser humano significa estar em relação», enquanto a «concentração de indivíduos na sociedade contemporânea trouxe, ao passar, mais isolamento pessoal e solidão».

Fazendo uma leitura da atualidade, o purpurado percebe que há «muitos jovens que são parte de uma comunidade que está em busca, e que essa busca é um desafio para toda a Igreja para acompanhá-los» em seu caminho.

Em particular, os jovens empreendem tal itinerário em três frentes: «em primeiro lugar, estão buscando a Deus, mas não sempre sabem onde ir», reconheceu o cardeal Murphy O’Connor.

«Em segundo lugar, estão buscando pertencer, buscam Comunidade», insistiu.

Em terceiro lugar — seguiu — «buscam o Pobre, e como podemos chegar àqueles em maior necessidade».

Na sociedade pós-moderna — como apontava o purpurado ao início — existe desolação em «muitas pessoas», mas isso é «o começo de nossa busca de Deus».

«Suspeito que nossa sociedade pós-moderna está nos conduzindo de volta a Deus», concluiu.